Doce Sonho

Capítulo 20: A procura de uma saída.


Fiquei surpresa quando vi Osen-chan naquela sala. Depois de ter partido, não esperava que ela viesse me visitar, ainda mais sabendo o quanto ela não gostava de Kazama-san.


– Ora, não faça essa cara, Chizuru-chan! - dizia ela, animada – Não é comum querer visitar uma amiga?


– Mas...mas...eu pensei que não me visitaria tão cedo...


– Deve estar sendo difícil para você, não é? Depois de tudo... pensei que pelo menos até a criança nascer, poderia lhe fazer companhia...


– Mas e o seu clã? Pode mesmo deixá-lo e ficar aqui?


– Tenho permissão para ficar aqui o tempo que for preciso.


– Kazama-san já sabe disso?


– Não, ele só sabe que vim visitá-la. Mas logo falarei com ele...posso resolver isso... - falava ela, parecendo despreocupada - Então! Conte-me as novidades! Como estão sendo esses últimos meses? Aposto que está cansada!


– Sim...diria que apesar de temer a dor do parto, estou ansiosa para ver essa criança, e também para perder essa barriga que tanto me atrapalha!


Continuamos ali naquele lugar conversando por um bom tempo. Tomoko as vezes voltava trazendo um chá ou alguma coisa para comermos. Eu estava um pouco menos desanimada agora que tinha mais alguém para conversar.


Porém...ainda achava estranho uma coisa...

Aquela explicação de Osen-chan, o motivo de estar ali, de alguma maneira não havia me convencido. Ainda mais por ter ficado meses sem falar comigo e agora aparecer dizendo que poderia ficar ali...



Capítulo 20: A procura de uma saída.



Naquela manhã ouviu-se o choro de uma criança. Era pequena, indefesa, havia acabado de chegar ao mundo. Agora precisaria de toda atenção e cuidado. Eu faria o possível para que não faltasse nada.


– Veja, Chizuru-chan!!Não é lindo?! - ouvi a voz de Osen-chan e apenas balancei a cabeça, concordando. O cansaço já tomava conta de meu corpo. Mesmo assim estava feliz. Finalmente podia ver o rosto de meu filho.


– Então, é mesmo um garoto! - exclamou Tomoko-san, naquele momento sentia meus olhos se encherem de lágrimas – E esses olhos...é uma cor realmente bonita!



“Será um menino”

“Não há garantias de que seja mesmo.”

“Não, eu tenho certeza.”

Ele estava certo.


Aquele momento voltou mais uma vez a minha mente. Era inevitável. Cada vez que olhava para aquela criança, mais a achava parecida com o pai.


– E o nome? Já decidiu? Será aquele mesmo?


– Claro. Ele se chamará Kaoru...em homenagem ao meu irmão.


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Era um belo dia. Fazia sol, não havia qualquer sinal das nuvens. O vento abafado entrava pela janela e batia em meu rosto. Era agradável, um ótimo clima.


Apesar disso eu não tinha vontade de sair. Nem mesmo queria me levantar dessa cama ou sair de meu quarto, eu só queria mais alguns minutos de descanso...eu precisava disso...

Desde quando o bebê nasceu, eu não tive muita folga. Ainda que Tomoko me ajudasse, não era o bastante.


Ouvi as batidas na porta, e suspirei pesadamente. Logo Osen-chan apareceu, sorrindo.


– Kaoru está chorando de novo?


– Sim. Aliás, aquela oni me pediu para que eu a chamasse...


– Diga para Tomoko-san que logo eu vou lá.


– Hm...mas não somente sobre isso que vim falar. - afirmou Osen-chan, ficando mais séria -Você não anda se alimentando muito bem, Chizuru-chan. E também parece mesmo cansada... Eu entendo que não esteja acostumada com a criança e que dê realmente bastante trabalho, mas pelo estado que você está...


– Eu não ando dormindo muito... -admiti.


– Teria motivos para isso?


– Osen-chan, você sabe, não é? Agora que se passaram algumas semanas...eu preciso cumprir aquilo que combinei com Kazama-san...


– Isso ainda a preocupa?


– Ele ainda não tentou nada, mesmo assim já acordei algumas noites com a sensação de estar sendo observada. Não consigo ficar tranquila se estou no mesmo ambiente que ele... Ele não diz nada, não sei o que está planejando...


– Ora, ele pode até ser um imbecil, mas acho que ele dará um tempo para você se recuperar apropriadamente. Tente se preocupar agora apenas com a criança, ok? Se ele tentar alguma coisa quando eu estiver por aqui, juro que o mato.


– Obrigada Osen-chan! -e sorri um pouco - acho que se você não estivesse aqui tudo seria muito mais pesado.


– Eu disse daquela vez, você deveria ter desistido dessa proposta idiota e ter ficado na minha mansão!


– Mas isso traria problemas para você, não é? E você sabia disso...


– Não é essa a questão!! Eu posso colocar sempre meu clã em primeiro lugar, mas por se tratar do clã Chikage, que a algum tempo é nosso inimigo, não teria problema de confrontá-los a mantendo segura.


– Mesmo assim, eu teria que retornar de qualquer forma, tinha que falar com ele.


–V ocê é muito teimosa isso sim!


– Ha ha...você também é Osen-chan! - pensei em dizer “até mais do que eu”, mas pensei duas vezes antes - ...mas, diga, andei pensando nisso por um tempo, você não está aqui apenas para garantir que ele não me fará nada ou para me fazer companhia, certo?


– Sim, está certa...também vim por outro motivo, mas por hora não devo lhe contar. -disse ela, já andando para sair do quarto - As paredes tem ouvidos, sabia? Mas se quiser saber mais, posso dar um jeito de informá-la mais tarde.


Osen-chan então se retirou do quarto. Voltei a observar o jardim, já que era a única coisa que andava fazendo nos últimos tempos, além de cuidar de meu filho. Estava curiosa, queria respostas... mas acho que terei que esperar mais um pouco...


Mas logo teria que me levantar e ver Kaoru...


Apenas penso...como seria minha vida se Hijikata-san ainda estivesse vivo? Teria como eu ter um futuro diferente? Havia algum jeito de impedir ele naquele dia?

Naquela época eu apenas pensava na minha felicidade e a única coisa que queria era que nossa história tivesse um final feliz depois de todos os problemas que tivemos.


Mesmo assim a felicidade de Hijikata-san estava em outro lugar. Para os homens talvez seja mais importantes a honra, morrer em nome do país do que continuar vivo e ter uma vida tranquila e feliz ao lado da família.


Talvez fosse uma coisa que eu nunca compreendesse. Achava que todos do Shinsengumi se sacrificariam, mas cada um deles seguiu seu caminho. E Hijikata-san continuou sozinho o seu. Eu não entendia aquela escolha.


Seja como for, tinha que pensar no presente e futuro agora. Se eu continuasse a pensar em Hijikata-san, certamente ficaria mais abatida. E isso eu não posso ficar nesse momento.


Me levantei e sai do quarto. Tomoko apareceu na outra ponta do corredor já me chamando. Iria cuidar de meu filho novamente.


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Resolvi sair um pouco e ir para o jardim. O dia estava acabando, o sol já se despedia e o céu tornava a ficar alaranjado. Sentei-me na grama, debaixo de uma daquelas árvores e fechei os olhos. Ainda que fosse por pouco tempo, tentaria aproveitar e descansar.


Mas meu momento de descanso durou pouco mesmo. Logo na minha frente, do nada, apareceu um vulto. Assustei-me e levantei o olhar com olhos arregalados. Logo me acalmei quando vi a figura conhecida.


– Kimigiku-san... o que faz aqui?


– Senhime me contou. A criança finalmente nasceu, não é? Parabéns!


– Já faz algumas semanas... -disse e sorri um pouco - Agora, o que a trás aqui? Veio ver como Osen-chan está?


– Não exatamente...tenho assuntos a tratar com o dono da mansão, ela pediu para que eu viesse, pois seria mais seguro. Mas não é esse o caso agora, você gostaria de saber o que Senhime realmente veio fazer aqui, certo?


– Sim. Ela não pode me contar naquela hora...


– Estamos negociando e se tudo der certo, talvez você possa ficar livre desse trato e sair dessa mansão.


– Mesmo?


Por um minuto comecei a ter esperanças. Talvez fosse bem sair dessa mansão, ou pelo menos ficar livre desse trato...


–Bem, agora tenho que ir. Já está escuro, é melhor que entre também.


– E-Espere!!


– Hm?


– Eu quero saber...a verdadeira história... por que Osen-chan detesta tanto Kazama-san?! O que ele fez pra ela?!


– É uma história um pouco longa, mas vou resumir...está disposta a ouvir?


– Sim!


– Na verdade...Senhime foi noiva de Kazama.


Arregalei os olhos, espantada. Eu imaginava que alguma coisa havia acontecido no passado, mas não que...tivessem tido algum relacionamento!


– O que?!


– É verdade. Quando nasceram, seus pais decidiram que deveriam se casar. Estava tudo certo, até que o clã Chikage resolveu cancelar o acordo.


– Por que fariam isso, se estava tudo acertado?


– Com a possibilidade de casar o jovem Kazama com a herdeira do clã Yukimura, eles simplesmente resolveram cancelar. O clã de Senhime teve que procurar outro noivo para ela. Mas com a extinção de vários clãs e sem encontrar um pretendente a altura, o clã começou a entrar em decadência. O que fez aumentar a raiva e amargura por Kazama.


– Eu...realmente não sabia disso, sobre meu clã...Osen-chan teria até motivos para me odiar...


– Não. Ela sabe que isso foi uma decisão do clã Chikage. O problema foi Kazama não ter dito nada depois de tudo. Ele aceitou a decisão dos pais sem nem se importar. Na época ele e Senhime trocavam cartas, mas ele parece ter perdido completamente o interesse nela e não fez questão de manter contato.


– Por isso, então...


– Logo após isso ela se apaixonou por um humano, mas seu clã foi contra. Anos se passaram e diria que ela mudou bastante. Agora parece colocar seu clã sempre em primeiro lugar...


– Isso é triste... mas então, ela veio aqui para?


– Com a queda do clã Yukimura, o clã Chikage veio a ficar sem expectativas. E não foi falada em uma união entre o clãs por muitos anos. Mas agora, recentemente, a proposta começo a parecer interessante.


– Ela pretende ainda se casar com ele?


–Sim.


–Mesmo o detestando?


–Isso não importa, é como se fosse um contrato. E com isso, você estaria livre. O acordo beneficiaria a todos.


– Eu não entendo! Ela sempre falou que eu não devia jogar minha felicidade fora me casando com ele e agora é exatamente isso que ela está fazendo!!


– Isso é porque...ela não pode ser feliz, por isso não quer ver outros fazendo o mesmo que ela...


– Osen-chan...esse tempo todo...eu não sabia de nada...


Eu ainda não acreditava que ela havia escondido isso esse tempo todo. Eramos amigas, não? Eu contava tudo para ela, pensava que ela faria o mesmo...


– Ela escolheu assim e não há nada que a faça mudar de ideia agora. Ela não queria preocupá-la, já que você estava para ter a criança.


– Isso não é justo...tentando me poupar...eu acabaria sabendo disso em algum momento.


–Bem, tenho que ir lá agora. -disse Kimigiku-san, já se retirando. Mas antes de sair completou - Se está espantada com isso, saiba que é normal casamentos arranjados no mundo dos onis. Ainda mais líderes de clãs, estes raramente ficam com alguém que amam. Pode ter sido uma verdadeira tragédia o fim de seu clã, mas por um lado foi bom. Hoje você pode escolher o destino que quer ter, como se fosse uma humana.


“É o sangue que determina o destino que vamos ter”


Por um segundo lembrei dessa frase de Kazama-san e também da conversa que tive com Osen-chan a meses atrás. As folhas começaram a se agitar e Kimigiku-san desapareceu antes que eu pudesse dizer algo.


– Ah...entendo...


Osen-chan não tem escolha. E mesmo sabendo disso ela não está desesperada, parece olhar para o futuro com determinação e não tristeza. Ela era mesmo admirável!


Se esse acordo der certo, eu estarei livre e a prosperidade voltaria ao seu clã dela. Não era totalmente satisfatório, mesmo assim talvez tivéssemos encontrado uma saída.



Continua...