Doce Sacrifício

Capítulo 14 - The first scare


Musica tema: Forever Halloween [The Maine]

Emily já estava cansada daquela festa. Vanessa não desgrudava de Raphael e, do jeito que o relacionamento deles estava indo, era melhor deixá-los aproveitar. Emy observa os alunos dançarem na pista improvisada no meio do ginásio. Ela não estava a fim de ir dançar também.

Num canto, ela encontra Matt pegando alguns doces da mesa encostada à parede. Ela decide ir até ele. Talvez ele tivesse algo pra ela.

– Hei Matty – ela dá seu melhor sorriso enquanto ele vira-se e a olha por um instante, sem expressar reação alguma.

Matthew observa a garota morena à sua frente. Ela usava um vestido fino sem mangas, branco com detalhes em dourado, que batiam um pouco abaixo de seus joelhos, e sandálias de tiras. Era fácil reconhecer sua fantasia. Emily estava como uma deusa grega, literalmente. Tão linda que deixaria até Afrodite com inveja.

– Resolveu lembrar que eu existo agora? – ele dá um sorriso sarcástico e ela revira os olhos.

– Não começa Matt – ela aproxima-se ainda mais, voltando a sorrir e passando as mãos pelo colete de couro marrom da fantasia dele. – Eu estava pensando se você não teria alguma coisa aí pra mim.

– Não vou te dar nada, Emily. Estamos no colégio.

– Nem vem! Eu vi você vendendo antes.

– Mas eu tenho certeza que nenhuma daquelas pessoas estava grávida.

– Qual é Matty! Só um não vai matar! – ele a olha incrédulo e ela percebe a burrada que disse. “Força de expressão errada Pieterse”.

– Você sabe que pode sim Emily!

– Tudo bem, eu compro do Taylor. Tenho certeza que ele não se importa – ele não queria assumir aquela coisa mesmo, talvez nem visse problemas em vendê-la algo. Ela dá as costas a Matt, mas este segura seu braço, impedindo-a de ir.

– Você não vai fazer isso.

– Nem tente me impedir Fitch. Isso não é da sua conta.

Ela nota seus olhos azuis ganharem um brilho diferente e então ele faz algo que Emily com certeza não esperava: ele a ergue e a coloca sobre o seu ombro, como um saco de batatas, e deixa o ginásio. Só quando estão no meio do gramado, ele resolve ouvi-la e coloca-a de volta no chão. Emily distribui tapas por seus braços e tronco.

– O que você pensa que está fazendo? – ela continua a lhe desferir tapas o mais forte que conseguia, mas eles não pareciam surtir efeito. Matthew consegue segurar os braços da garota e se aproxima com uma expressão séria, quase tocando a ponta de seu nariz ao dela. Os dois ficam se encarando por alguns segundos, em silêncio. Até Emily perceber que isso não estava indo por um bom caminho.

– Me solta Matthew, agora – e ele assim o faz, mas não se afasta. Matt sorri e Emily fica ainda com mais raiva dele por ter um sorriso tão lindo e estar tão perto.

– Acho melhor levá-la pra casa... antes que acabe fazendo alguma besteira.

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– David?

O coração do garoto quase salta pra fora do peito ao ouvir seu nome sendo chamado. Ele olha para a porta e encontra uma garota de cabelos roxos e camiseta laranja: Jessica.

– Está tudo bem? – ela questiona, passando os olhos pela sala escura e andando até ele. Agora que estava mais perto, ela pôde notar o seu rosto machucado. – O que aconteceu com você?

– Foi muito bizarro, eu ainda estou tentando processar.

Assim que ele termina de falar, seus celulares tocam, avisando que receberam uma nova mensagem:

Happy Halloween! –G

Logo em seguida, Jessica recebe mais um torpedo:

Você é uma péssima salva-vidas

E embaixo da frase, uma foto de um policial acompanhando a Rainha de Copas: Josh e Naomi saindo do colégio.

– Cadela – Jessica fala baixo, na esperança de que David não percebesse nada, mas ele a escuta e toma o celular de sua mão (educação mandou um “oi”).

Dav franze o cenho ao ver a imagem. Joshua estava com uma fantasia de policial. Rachel não mencionara que fora levada àquela sala por um policial? Isso não podia ser uma simples coincidência.

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Ali fecha a porta, que range com o movimento, e olha ao seu redor com um pouco de dificuldade, pois aquele lugar estava um breu. Ela anda pelo corredor central, passando uma das mãos pelas poltronas a sua direita, e fica de frente para o palco, onde uma fraca lâmpada fora deixada acessa.

Por entre as coxias, Fitzgerald vê um vulto vermelho passar, provavelmente a garota que ela vira entrar ali minutos antes. Ali espalma a mão no piso do palco, impulsionando-se, e o sobe. Com passos cautelosos, ela passa pelas cortinas, procurando pela garota do vestido vermelho.

–G queria que ela fosse até o teatro, bem, ela estava ali. E agora?

Sua pergunta foi respondida quase que imediatamente:

– Alison – a garota tem um sobressalto ao ouvir seu nome sendo chamado. – Alison – ela olha para a porta a sua frente com olhos arregalados, a voz vinha dali. Com a mão tremula, ela gira a maçaneta e abre a porta.

– Alison – uma boneca de longos cabelos loiros encaracolados, calça jeans e camiseta laranja estava posicionada no centro de uma mesa no meio do pequeno cômodo. Um círculo de fogo ardia ao seu redor, mas a pequena boneca continuava a chamar o nome da garota. Ainda em choque, Alison nota a jarra de vidro posta na estante ao seu lado. Sem pensar duas vezes, ela joga a água de dentro do recipiente e apaga as chamas antes que estas consumissem a roupa da boneca, que para de falar. Provavelmente estragou por estar encharcada.

Alison respirava pesadamente, ainda fitando o brinquedo e, pela segunda vez naquela noite, seu coração para ao ouvir o toque de um celular, que dessa vez era o da própria. Ela o tira de seu bolso e abre a mensagem que acabara de receber:

Eu estou de volta, vadia. E dessa vez você é a caça. Happy Halloween –G

Com mais um olhar assustado, Fitzgerald encara sua boneca pela última vez e sai correndo do teatro. E ela só para de correr quando chega ao estacionamento do colégio, onde encontra Jessica e David em frente ao seu carro.

Jessica olha preocupada para a amiga que tentava recuperar o fôlego à sua frente.

– Você está bem?

– Eu ‘to legal – Ali ajeita sua camiseta laranja e olha para David, ela faz uma careta ao vê-lo. – O que aconteceu com seu rosto?

– Longa história. Conto no caminho pra casa.

~”~

Sete e dez da manhã. O despertador de Alexandra toca, acordando a garota que dormia aconchegantemente em sua cama. Com todo seu mau humor matinal, ela afasta seu edredom com os pés e levanta da cama. Ainda usava seus fones de ouvido (a única forma de conseguir dormir sem ter de ouvir certas coisas) e os tira, colocando-os sobre o criado-mudo ao lado da cama. Ir morar com sua mãe e o namorado dela talvez não tenha sido uma ideia tão boa. Ela anda sonolenta até o despertador que berrava. Lexi o desliga e bufa. Ela odiava acordar cedo.

Alexandra desce as escadas, ainda de pijamas, e vai até a cozinha, onde encontra sua mãe e Brian.

– Bom dia querida – Tiffany sorri para a filha e volta sua atenção para a cafeteira. Lexi resmunga um “bom dia” e senta-se à mesa, de frente para Brian. Ele a olha, para lhe cumprimentar também, mas acaba se distraindo com a imagem à sua frente.

– Mãe! Ele está olhando pros meus peitos!

Tiff olha para as vestes da garota: um pequeno short de flanela e uma blusinha de alcinha e decotada.

– Também querida, com essa roupa – Tiffany coloca uma xícara em frente a Brian e senta-se ao seu lado. Ele toma um gole de seu café e não ousa olhar para nenhuma das mulheres ali presentes. Ele não tinha planejado olhar para os dotes de Alexandra, mas como Tiff havia dito: era praticamente impossível não notar com aquela roupa.

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Ashley não queria ir para o colégio, não hoje. Mas como a desculpa de estar doente não funcionava com sua mãe, lá estava ela na frente do Roundview High School. A alguns metros de distância, ela vê Cassie e Nicole conversando. Instantaneamente, na mente de Ashley, o uniforme azul e branco de Cassie se transforma para uma estampa camuflada em verde musgo, igual a que ela usara noite passada. Ash meneia a cabeça, para livrar-se daquele pensamento, e volta a andar ao lado da irmã. Tudo o que aconteceu ontem foi total e exclusivamente culpa do MDMA* que ela tomara. Só isso. Ela não se permitiria pensar de outra forma.

~”~

Raphael esforçava-se para manter os olhos abertos. De quem foi a brilhante ideia de dar aulas no dia seguinte a uma festa?

O garoto escora sua cabeça no pilar ao lado do banco em que estava sentado e considera a ideia de dormir um pouco, somente alguns minutinhos. Seus olhos começam a pesar e ele os fecha, entretanto quando ele pensou que teria o seu momento de paz o sinal toca, quase o fazendo cair do banco devido ao barulho que o pegara de surpresa.

Rapha faz uma careta, em desapontamento, e olha para a garota ao seu lado. Vanessa estava tão concentrada no que escrevia que nem notara seu quase cochilo. Ela fecha seu livro e os dois levantam-se.

– É melhor você ir agora, não vai querer chegar atrasada na aula do Sr. Snicket, vai?

– Não. Até depois – ela lhe dá um beijo. – Te amo.

– Ótimo – ele sorri amarelo, lhe dá um beijo na testa e segue até a sua sala de aula.

Ótimo? Que tipo de resposta é essa Duncan?

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Meredith Hastings, a rígida diretora do Roundview, estava em pé ao lado do pequeno cômodo atrás do palco do teatro, junto a uma equipe de policiais e bombeiros.

As paredes estavam todas chamuscadas e o chão coberto por cinzas, o lugar estava uma bagunça. A Sra. Hastings respirava pesadamente, tentando se acalmar. Mas o gesto era em vão, afinal o cheiro das cinzas invadia suas narinas, fazendo-a voltar para a calamidade daquele teatro.

– Algum progresso? – Doug, o vice-diretor, aparece ao seu lado, olhando atentamente o trabalho dos bombeiros.

– Não, tudo o que sabemos é que o incêndio começou nesta sala – Meredith aponta para a salinha a sua frente.

– Ainda pretende interrogar os alunos?

– Mas é claro! Tenho certeza que isso foi alguma brincadeira de mau gosto daquelas pestes.

– Interrogar a todos eles vai levar muito tempo, diretora!

– Eu sei, é por isso que você é quem vai fazê-lo – Sra. Hastings lhe dá as costas, batendo seu salto na madeira do palco. Doug suspira indignado, mas não surpreso, o trabalho pesado sempre sobrava para ele.