Do you have to let it linger?

Ele era o tipo de garoto que fazia por diversão


Kevin era o tipo de garoto que jogava latinhas na cabeça de nerds por diversão. Não que ele fosse um sádico nem nada, é que eles o lembravam alguém que ele queria detestar. E também, não é dizer que ele não gostava de ser elogiado pelos outros garotos populares da faculdade.

Ele era calouro e passou no segundo ano tentando bolsa por causa de futebol. Porque sejamos francos, nas provas de admissão ele nunca passaria sem ter esse “quê”. O curso? O curso não importava, aceitou o primeiro que veio na frente, que foi Administração. Tanto fazia se isso significasse que ele não teria que ficar mendingando, pulando de emprego pra outro como seu pai. E também, sua amiga de infância, Naz, era sua veterana, o ajudaria a entender o que diabos ele está fazendo.

Naz era o tipo de garota que reunia os amigos para ver maratona de filmes por diversão.

O garoto do boné vermelho chegou com duas malas estilo “esportivo” no prédio dos alojamentos onde iria passar a morar. Se sentiu tão pequeno, mesmo que confiante a ansiedade não dava sossego.

Finalmente estava saindo da vizinhança em que cresceu, onde poucos dos seus antigos amigos permaneciam. Só restava o Du e o Johnny. Alguma das Kankers engravidou e foi embora também, mas delas é melhor distância mesmo, “respirar o mesmo ar pode trazer alguma DST”, como Kevin pensava. Até o Rolf foi embora. Seu melhor amigo foi estudar Agronomia em outra cidade.

Os outros Eduardos também foram embora. O caloteiro foi expulso de casa, pegou carona de qualquer um na estrada e sabe-se lá aonde foi parar. O esquisitinho foi convidado por uma faculdade ainda no 3º ano do Ensino Médio. Também não voltou mais e não se sabe do paradeiro.

Era isso que Kevin sempre quis, não saber mais dele. Do esquisitinho, quero dizer. Ele confundia sua mente, fazia com que Kevin pensasse em coisas muito erradas e reprováveis. Seu pai sempre dizia que como homem, ele só podia achar mulheres bonitas. Se achasse um homem bonito, era uma aberração.

— Mas pai, eu sinto algo estranho no peito quando brinco com ele.

— Não me venha dizer que é amor, porque isso é papo de mulherzinha e você é o que?

— Um homem?

— Não, um homem e ponto. Como homem você tem que ser imponente, sensibilidade é para garotas – repetia seu pai.

Mas acontece que não adiantava colocar isso na cabeça. Ele sabia o que achava do Dudu. E isso fazia dele uma aberração. E ele era angustiado por isso, portanto devia odiar Dudu, pois por culpa dele Kevin era uma aberração. Por isso ele tentava compensar e encaminhar os sentimentos para Naz. Mas óbvio que isso nunca iria dar certo.

E ele nunca conseguiu namorar. Sempre que ele pensava em tentar, a imagem do tal esquisitinho surgia na cabeça. Em sonho, observando de longe ou as vezes ele até enxergava a cara dele na menina. Mas isso não importava agora, fazia dois anos que estavam longe e ele iria conhecer várias pessoas novas.

A hipnose sobre a paisagem acabou quando Kevin enxergou Naz acenando de longe. Ela deixou o cabelo crescer por uns meses mas ao que parece perdeu a paciência e já cortou de novo. Ela o guiou até o quarto especificado no papel de inscrição e depois foram passear pelo campus. Colocar a conversa em dia, etc. Mas não tinha tanto a se falar, Naz sempre voltava pra casa no verão, então não é como se fosse tão grande reencontro.

As aulas começariam dali à uma semana e como ninguém – que não estivesse desesperadamente ansioso – aparecia no primeiro dia, no último dia da semana livre acontecia uma festa e Naz convidou Kevin.

Nos dias que foram se passando sem ter o que fazer, Kevin desbravava o campus sozinho e fazia exercícios, além de conversar com seu colega de quarto. Nat era o tipo de garoto que manipulava o cenário ao redor por diversão.

Nat era alto, magro, cabelo curto verde bebê. Muito cara de pau e com orgulho, diga-se de passagem. Ia começar a fazer Publicidade esse semestre. Devemos acrescentar a vaidade ou já ficou implícito? Ele também iria entrar para o time. Papo vai, papo vem, eles se deram super bem, até que Nat comenta que é gay e já é bom deixar claro. Isso perturbou um pouco Kevin, mas esse não disse nada. Ficou pensando em como seu pai passou a vida dizendo que “viados” são doentes, pessoas ruins, mal da sociedade, ruína dos bons costumes. Que eram ciganos desprovidos de confiança e decência. E aí ele olhava para Nat e via uma pessoa normal.

— Mas fica tranquilo porque você não faz o meu tipo – disse Nat, com a maior naturalidade. “Nem você o meu”, Kevin pensou.

Mas o que era ter um tipo? Francamente a única pessoa que ele já havia se interessado era o Dudu. Como colocar uma etiqueta nisso? O tipo dele era nerds baixinhos com transtorno obsessivo compulsivo?

Chegado o dia da tal festa, Kevin foi com Nat mas este sumiu em 2 segundos. Depois de um tempo encostado numa parede com uma garrafa numa mão e o celular – fingindo estar fazendo algo para não ter que ficar com cara de peixe morto encarando o horizonte – na outra, Naz aparece.

— Nunca soube que você era emo – por que ele não podia gostar da Naz? Ela era bonita, legal, popular...

Kevin grunhiu. Ela deu um sorriso e o puxou pela mão do celular.

— Vamos, meu namorado deve estar me esperando – essa era novidade, porque ela nunca tinha mencionado um namorado.

Quanto mais foram afastando a multidão, pra abrir caminho fosse lá onde Naz queria chegar, Kevin enxergou uma pessoa sorrindo para outras três pessoas, com um cigarro na mão e uma touca listrada preta na cabeça. A puberdade passou e não levou embora a falha nos dentes dele.

— K-kevin? – finalmente a atenção do guri foi desviada daqueles desconhecidos para ele. Não sabia se ficava feliz por ter sido reconhecido ou chateado pela surpresa, como se ninguém imaginasse encontrar ele numa faculdade daquele nível.

— Cabeça de meia – Kevin deu um meio sorriso forçado, Naz poderia ter avisado que Dudu estava por lá, né? Ela sentou no colo dele, pegou o cigarro da mão dele e deu uma tragada.

— Estamos namorando! Quem diria, né? – ela parecia muito animada e apaixonada.

É verdade, quem diria? A menina que estava destinada desde sempre a ser namorada dele namorando a única pessoa que ele namoraria. Chega a dar nós.

Papo vai, papo vem...

Eduardo era o tipo de garoto que organizava e catalogava as coisas por diversão. Dudu fazia Ciências há 2 anos. Estudando mais profundamente física, química e biologia, percebeu que sua hipocondria era bastante infundada, já que se cria anticorpos com ações nem sempre sanitárias. Quando Naz chegou na faculdade há um ano, DD estava ainda mais neurótico que o normal, até que ela o convenceu de fumar para relaxar. Claro que isso é uma façanha que só ela conseguiria sobre alguém como Dudu, todo mundo sabe que ele gostava dela desde pequenos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.