"Você não é derrotado quando perde. Você é derrotado quando desiste."

O efeito da droga já estava passando. Eu me sentia enjoada e ao mesmo tempo um pouco tonta. Como se tivesse perdido o chão sob meus pés. Tudo rodava a minha volta. Perdi o equilíbrio e fui parar no chão. Dei risada. Sozinha ao relento depois de ter sido abandonada por Tyler.

Eu bem que tentei ir atrás dele e saber o que diabos havia acontecido quando eu resolvi parar de beijo-lo. Pensei que ele entenderia que eu não poderia... Mas ele não entendeu. Deve ter ficado chateado, ofendido ou se sentido estupidamente ridículo.

Ainda no chão, deitei sobre a grama, olhando para o céu. E como uma bêbeda abandonada comecei a chorar. Não sabia ao certo o porquê da minha tristeza repentina. Tudo e nada ao mesmo tempo. De repente, todos os pesos que eu carregava sozinha nas costas vieram à tona. Senti-me frágil, perdida e sozinha. Só queria que Tyler tivesse ficado.

Depois do choro, não vi mais nada.

Acordei no outro dia sentindo uma forte dor de cabeça além de forte dores por todo o corpo. O sol batia no meu rosto e quando abri os olhos seus raios me atingiram em cheio. Senti como se tivesse perdido a visão.

Olhei em volta e vi verde com tons de avermelhado do outono. Eu havia dormindo no jardim da escola como uma mendiga de rua. Não sabia se ria da minha situação ou se chorava por isso também. Perdi toda a festa e sabe-se lá mais o que.

— Hayley? – alguém se aproximou. — O que faz aqui a essa hora?

Raquel me ajudou a levantar. Tirei a sujeira da roupa. Soltei meus cachos grossos que caíram sobre os ombros, efeito causado pelo efeito do coque apertado. E ainda com o auxilio de Raquel fui carregada para dentro do internato, diretamente para a ala feminina.

— Tem certeza de que está bem? – ela perguntou, me olhando. — Que loucura Hayley! Você dormiu ao relento.

Ainda eram nove da manhã. Muitos ainda dormiam. Ou grande maioria. Após entrar no quarto, sem fazer barulho, tudo que consegui fazer foi cair sobre a minha cama como pedra.

Acabei dormindo o dia inteiro e só acordei às oito e meia da noite.

Provavelmente, só me deixaram dormir por esse longo tempo, porque tiveram medo de me acordar. Geralmente, quando uma pessoa é acordada, ela já levanta de mal-humorada. Nath e Amy não queriam me ver irritada.

Pra ser bem sincera, acordei me sentindo muito mal. Não cheirava bem, meu corpo está suado e sujo. Parecia que havia acabado de chegar da guerra. Meus cabelos pareciam ninho de passarinhos, a maquiagem está toda borrada e a fantasia um pouquinho rasgada.

Notei que havia um copo com água sobre a cabeceira da cama junto de uma aspirina e um bilhetinho: Espero que tenha acordado bem.

A letra é de Amy. Bem desenhada e caprichada.

Tomei o remédio e logo em seguida fui até o banheiro. Precisava de um banho gelado. Esfreguei meu corpo com a esponja amarela e lavei meus cabelos com xampu. Levou um tempo até consegui desembaraça-lo.

Peguei minha regata preta com escritos em brancos e meu shortinho jeans na cor roxa todo rasgado na parte da coxa. Passei creme pelo corpo e depositei dois jatos de perfume em cada lado do pescoço.

Pronto! Estou novinha em folha. Pronta para outra festa.

Virei-me para trás rapidamente surpresa e assustada. Alguém entrara sem avisar batendo a porta forte. Vi Jesse me olhando. Ou eu estava tendo uma visão ou ele realmente estava infiltrado ali.

— O que está fazendo aqui? – perguntei já sorrindo, passando a mão pelo braço levemente machucado.

— Que bom que você acordou. – ele desgrudou da porta fria do meu quarto e veio até mim. Sorri discretamente. — Fiquei preocupado.

— Ah, não precisava se preocupar. – timidamente, passei uma mecha do cabelo molhado por trás da orelha. — Eu estou bem melhor.

— Pelo visto sim.

Sorrimos um para o outro. Ainda assim, ele parou onde estava e eu fiquei ali, no centro do quarto, paralisada feito uma boboca apenas olhando para ele. Não sei dizer, mas admito que gosto que ele tenha verdadeiramente se preocupado comigo.

— Eu não consigo me lembrar de muita coisa...

— Mas eu sim.

Não sei dizer exatamente o que aconteceu. Mas Jesse veio praticamente correndo em minha direção. Enlaçou-me com seus braços e me beijou, assim, pegando-me de surpresa.

No começo, de tão assustada, não soube como reagir. Mas a necessidade dele me beijando, fez crescer dentro de mim um novo desejo.

Eu correspondi ao seu beijo.

Era como se já tivéssemos nos beijamos tamanha a intimidade, eu me sentia a vontade e completamente entregue. Mas ao mesmo tempo, estava sendo tudo muito novo pra mim. Meus pés havia ganhando voo. Tudo a nossa volta era escuro e não havia significância alguma. Éramos apenas eu e ele. E o nosso beijo.

Não sei por que motivo ele veio até o meu quarto só para beijar. Mas eu realmente estava gostando daquilo. Era diferente de tudo. Como se realmente a semente da paixão estivesse brotando dentro de nós.

Jesse pausou nosso beijo com um selinho. Afastou a cabeça o suficiente para eu poder olhar dentro dos olhos dele. Eram hipnotizantes e me faziam estremecer por dentro. Eu sorri, um tanto encabulada.

O luar penetrava pela janela mesmo com a luz acessa. E a brisa suave da noite sacodia as cortinas. E como um jato forte, a brisa balançou os cabelos dourados de Jesse caindo sobre seus olhos.

Cuidadosamente eu afastei sua franja da frente dos seus olhos. Só queria ficar ali, para sempre, não sei, olhando pra ele, sentindo suas mãos em volta da minha cintura e seus olhos dentro dos meus. Como se ele fosse capaz de me ver por dentro, do avesso.

— Porque você fez isso? – arrisquei em perguntar. Certa de poderia estragar aquele momento para sempre. E não teria volta.

— Só queria ter certeza de uma coisa. – ele sorriu, não agindo mal para o meu alivio.

— E agora? – de jeito nenhum conseguia parar de olhar pra ele. — Você já tem certeza dessa coisa?

Rimos baixinho.

Jesse me deu um ultimo beijo, devagar e adocicado. Sua mão em minha nuca era quente quase como se pudesse queimar a minha pele.

— Pior que sim. – ele riu de novo. Fiquei sem entender. — Desculpe por isso, Hayley. Eu preciso ir – pro meu desgosto ele se afastou, indo até a porta. — Desculpe. Não posso fazer isso.

Não tive tempo de impedi-lo. E ele foi. Senti uma pontada no meu peito. Minhas pernas estavam bambas demais para reagir e correr atrás dele em busca de respostas.

Levei os dedos até os lábios e fechei os olhos. Tentei voltar no tempo, alguns minutos atrás, e meio que pude sentir outra vez os lábios pequenos de Jesse encostando-se aos meus. Tão leves como uma pétala de rosa. Seu beijo tinha gostinho de hortelã. Como se de alguma maneira ele tivesse se preparado antes de aparecer ali no meu quarto.

Sorri sozinha.

— Hayley? – Amy entrou, sorrindo. Como se tivesse visto algo muito bom. — Que bom que você acordou bem, amiga!

Ela me abraçou e pra minha própria surpresa correspondi de volta, apertando-a forte, mal conseguindo manter meu coração no ritmo normal depois de tudo que acabara de acontecer. Eu poderia estar sonhando.

Amy praticamente me obrigou, durante o jantar, só nós duas em uma mesa grande e espaçosa, contar tudo, o mínimo que eu lembrava, da festa da noite passada. Todos só falavam nisso.

Mas eu me lembrava de muito pouco.

— Por falar nisso, o Andrew perguntou de você. Ele parecia realmente interessado. Também, não duvido nada, depois da noite de ontem, depois do beijão que você deu nele diante de todos.

— Beijão? – arregalei os olhos. Dessa eu não lembrava. — Eu beijei o Andrew? O Andrew da banda do Jesse?

— Você não lembra? – Amy parecia confusa. — Foi. Você o beijou no meio da festa. Por pura provocação a Alana.

Eu ri. Agora conseguindo lembrar aos poucos.

Falando em beijo, ainda não conseguia acreditar que Jesse me beijara. Não fui eu quem o beijei. Ele me beijou. E ali, diante de Amy, não tive coragem de dizer isso a ela. De maneira alguma. Ela não precisava saber, afinal, nem eu tenho certeza do porque daquele beijou e se foi mesmo real. E se eu tivesse apenas sonhado? Ou imaginado.

Discretamente, enquanto Amy tagarelava sem parar sobre a festa e como foi tediosa para ela, procurei por Jesse por todos os lados. Mas não o encontrei. Lembro-me que quando ele entrou no meu quarto vestia uma blusa azul royal e uma bermuda jeans preta.

Ali no refeitório, nenhum sinal dele.

— Pelo menos, seu irmão, o Oliver, foi muito gentil e educado comigo. Eu realmente não sabia que ele...

— O quê? – quase saltei da cadeira, voltando a olhar pra ela. — Meu irmão? – ela assentiu. — O que ele tem a ver com isso?

— Nada. – ela deu de ombros, confusa. Eu realmente estava agindo de maneira estranha. — Ele apenas foi legal comigo.

— Não se iluda Amy. Oliver não é legal todo o tempo. Ele até tem pinta de bom garoto. Mas no fundo, não ama nem a si mesmo.

Levantei-me com a bandeja do jantar vazia. Amy fez o mesmo, me acompanhando logo atrás.

— Estranho. Não foi o que pareceu.

O mais estranho pra mim, além daquela novidade do meu irmão ter sido legal com a Amy, foi que, durante os dias seguintes, cruzei com o Jesse poucas vezes pelo internato. E olha que moramos no mesmo lugar e todas essas vezes ele parecia me evitar. E por alguma razão, que eu mesma desconheço, não tive coragem de me aproximar para saber o que realmente estava acontecendo entre nós.

Só sei que eu não deveria me importar. Afinal, um beijo pode significar ou representar muitas coisas. Mas pode não dizer nada também.

— Que bom que podemos finalmente conversar – segurei a mão de Tyler. Estávamos na arquibancada vazia perto do ginásio. Um grupo de meninas, líderes de torcida, ensaiavam suas coreografias ali perto.

— Realmente. Precisamos conversar, Hayley. – Tyler está sério e isso me assusta um pouco. — Você tem agido de uma forma estranha.

— Não sei o que há – olhei para o céu com certa dificuldade. Eram quatro da tarde e sol ainda está muito forte. — desde a festa sinto que algo mudou. Mas eu só queria saber – olhei pra ele, fixamente. — porque você agiu daquela maneira comigo? Quero dizer, depois do nosso ultimo beijo atrás do ginásio durante a festa.

Tyler arqueou uma das sobrancelhas.

— Hayley, você tá bem? – agora ele riu. Ria de mim e isso me tira do sério. — Ficou maluca? Nós não nos beijamos lá durante a festa.

— Como não Tyler? E você saiu correndo logo depois. Só porque eu não queria... Hum, é, você sabe.

— Não Hayley – ele riu de novo, mas logo voltou a ficar sério. — Nós não nos vimos depois que você beijou o Andrew. E eu não gostei nadinha daquilo fique você sabendo.

— Ah, você soube é? – me senti estranhamente envergonhada por isso. Não foi uma das atitudes mais sensatas que tive. Eu nem sei se já tive alguma atitude sensata na vida. — Eu sinto muito.

Ficamos em um silêncio perturbador.

— Afinal – me levantei, séria. Mudando de expressão. — Nós nem somos namorados, porque você não gostou? Temos um trato! Lembra? Eu e você não somos um casal. Somos livres. Não somos prioridade um do outro.

— Sim, eu sei Hayley. – ele levantou-se também. Tyler é mais alto que eu, tive que erguer os olhos para olhar pra ele frente a frente. — Mas dessa vez foi diferente. Estávamos nos divertindo e...

— Exatamente! – interrompi-o. — Eu estava me divertindo também quando decidir ficar com Andrew. Ora Tyler, foi só uma ficada.

— Eu sei. Eu sei. – ele sorriu bobo, desviando o olhar. — Eu não deveria ter ficado com ciúmes. Somos livres. Mas eu fiquei – ele brincou, tocando meu rosto. — Eu me preocupo com você, Hayley.

— Eu sei que sim – ergui meus pés para beija-lo. Tyler com ciúmes é um fofo. Não resisto. — Mas eu já disse: eu sei me virar sozinha. Sempre soube e sempre foi assim.

Abracei-o forte.

— Desculpe. – dissemos juntos.

Precisei pedir ajudar de Natalie para o dever de física. Como todos sabem, não sou boa em cálculos. E Nath entende de física melhor que ninguém, até mais que a Amy que também é muito inteligente, mas prefere linguagem.

Após terminar o dever, naquele finalzinho de tarde, desci até o refeitório para comer alguma coisa e optei por uma salada de frutas.

Primeiro, veio uma garoa fina, mesmo com sol e em seguida a chuva engrossou, fazendo todos que estavam nas áreas encobertas entrarem no pátio ou no refeitório.

— O que você pensa que tá fazendo? – perguntei nervosa ao Tyler que me puxou pelo braço para fora deixando minha salada de frutas para trás sobre a mesa vazia.

— Vem Hayley. Vamos nos molhar! – ele parecia uma criança ingênua que nunca vira chuva antes em toda a vida.

Tyler começou a pular e a lama do gramado começou a sujar minha roupa e não tive outra escolha além de me entregar e entrar na onda. Permitindo que a chuva molhasse minhas roupas, meus cabelos e o meu corpo. A água geladinha. As gotículas de água se unido aos raios solares.

Bastou Tyler ter a iniciativa que muitos outros alunos vieram atrás e começaram a se molhar também. Comecei a rir também feito uma criança brincando na chuva. Certamente, a direção do internato ficaria contrariada por estarmos nos sujando e depois pisarmos dentro do colégio, molhados.

Mas quem seria capaz de combater um grupo de adolescentes que só queria se divertir de baixo da chuva?

— Todos para dentro! – um inspetor gorducho gritou da entrada. — Andem logo! A

— Vamos lá galerinha! – Raquel apareceu ao lado dele. — Antes que peguem uma pneumonia! Teremos chocolate-quente para todos.

Bastou um incentivo para todos voltarem correndo para um lugar coberto sem chuva. Cada qual foi para seu respectivo quarto tomar um banho e trocar de roupas.

O chocolate-quente seria servido mais tarde, ao anoitecer.

Eu tenho um lado sentimental também. Não há como viver com uma mascara todo o tempo. Não sou imune aos sentimentos. E muitas vezes fraquejo como as outras pessoas, e me entrego. Por mais durona que eu seja, não é sempre que sou assim. Há também meu lado frágil.

Sentada sobre a cama com o queixo apoiado sobre o braço no beiral da janela aberta, observo a chuva cair do lado de fora com o céu já escuro e sem sinal das estrelas. Ao lado está meu chocolate-quente.

O quarto está vazio. Não há mais ninguém além de mim.

As vezes me pego pensando no momento em que Jesse vai entrar por aquela porta e disparar meu coração. Ele virá até mim e me beijará mais uma vez tirando meus pés do chão, me rodopiando no ar.

Mas isso não vai acontecer. Sou mesmo uma tola por pensar nessas besteiras.

Pelo visto, o beijo não representou nada para ele além de uma necessidade repentina. E por mais que eu tente disfarçar, não consigo deixar de pensar naquele dia, naquele momento, no nosso primeiro beijo.

Ligeiramente me sinto culpada. Uma traidora. Primeiro, porque eu deveria pensar em Amy e tudo que eu devo a ela. Depois, eu me sinto ainda mais culpada, pois além de estar traindo minha mais nova amiga, estou traindo também a morte do meu ex-namorado. O Brandon.

Há cinco dias não penso em Brandon. E isso nunca me aconteceu antes por muito tempo. Apesar do vazio no meu coração pela morte dele, sinto que as lembranças que tivermos juntos no passado vão se distanciando de mim conforme o tempo vai passando. E me sinto mal por não poder fazer nada por perdê-las tão facilmente a cada dia que se passa desde a sua morte.

Dou um ultimo gole no meu chocolate-quente.

Respiro fundo puxando todo ar para evitar que as lágrimas que se formaram em meus olhos escorram por minhas bochechas.

Levanto-me e já sei o que fazer.

Jesse está ensaiando sozinho na sala de música. Ele não percebe que de longe estou o observando. Fico ali a contempla-lo. Suas mãos agitadas batendo ritmicamente em sua bateria. Ele parece distante e sinto um pouco de pena por ter que atrapalhá-lo.

— Achei você. – digo em voz alta, na esperança que apesar do barulho que ele faz, que possa ter me ouvindo.

Jesse para de tocar.

— Está fazendo o que aqui? – ele me olha, surpreso. Ao mesmo tempo seco e frio. Esse não pode ser o Jesse. — Estou ensaiando.

Sorriu cinicamente.

— Eu sei.

Uma raiva incontrolável cresce dentro de mim ao me aproximar dele.

— Precisamos bater um papinho.

Ele se levanta, alarmado. Suas bochechas estão rosadas pelo cansaço.

— Não, não precisamos. – ele dispara rudemente. — Se vai falar sobre o beijo... Esquece Hayley. Foi um erro.

Coloco as mãos na cintura, passando o peso de uma perna para a outra. Estou muito irada. Quem ele pensa que é?

— Acha mesmo que eu sou igual as tuas amiguinhas? Aquelas que você está acostumado a iludir por aí.

— Não, não acho isso. – ele sorriu, sarcástico. Nunca o vi tão frio. Ele não é isso que mostra ser. — Por quê? Você se sente iludida de alguma forma?

Respirei fundo para não estourar. Jesse está se achando.

— Não ouse falar assim comigo, babaca. – me aproximo agressivamente, ele recua. — Você não pode agir assim como se eu...

— Hayley – Jesse me interrompe secamente. — Você é... Diferente. Disso todo mundo sabe. Mas acha mesmo que é melhor que as outras garotas por causa disso? – não tive tempo de responder, ele foi mais rápido que eu. — Você está enganada.

Eu ri.

— O que você está me dizendo? – quero estrangula-lo. — Você vai até o meu quarto, não bate na porta, não avisa que está entrando, passa por cima das regras e me beija. Você. Você acha que é melhor que os outros por causa disso? Acha que pode mais que eles? Não! Não pode!

Gritei as ultimas duas frases.

Voei pra cima dele, mas Jesse me segurou pelos pulsos. Encaramo-nos por um momento. Eu, pelo menos, cheia de fúria. Ele parecia bem tranquilo. Porém diferente do doce de garoto que costumava ser.

O que foi que eu fiz que o fez mudar?

Não posso me culpar por isso. Não mesmo. Não posso ser estupida a esse ponto. Isso é exatamente o que ele quer fazer como que eu me sinta: culpada por ele ter me beijado. Assim, sem mais ou menos.

— Eu te odeio Henckel.

Henckel é o sobrenome dele.

Saí dali, após ter me desvencilhado dele, a passos firmes e largos em direção ao meu quarto.

Eu só precisava ficar o mais longe possível dele antes que eu o matasse.