"Nem todas as pessoas têm essa sorte de ser muito bom em alguma coisa."

Andrew começou a cantar More Than Words do Extreme.

Fiquei encarando Jesse por um bom tempo sem me envergonhar disso. Alexa nem percebeu. E pra minha surpresa, ele simplesmente retribuiu meu olhar com um doce sorriso. Só espero que ninguém tenha percebido isso, essa conexão. Se bem que eu nem estou o admirando. E sim com muita raiva dele por, mesmo sem ter tido a intensão, ter magoado o frágil coração de Amy. Ela é diferente de mim, diferente das outras garotas.

Amy simplesmente merece que coisas boas aconteçam em sua vida.

Ela é o tipo raro de pessoas que me fazem lembrar de Brandon. Não merece ter o coração partido, pois nunca teria partido o coração de ninguém, pois ela é boa demais para isso. Não há maldade em seu coração e nem malicia em seus olhos. Ela é pura como um anjo. E eu só queria que ela fosse feliz do jeito que achasse melhor.

Tyler rompeu meus pensamentos ao se aproximar de mim, substituindo o espaço vazio ao meu lado, deixado por Amy, para segurar a minha mão. Ele beijou meu rosto e cochichou no meu ouvido.

— Acho que estou me apaixonando por você.

Fiquei sem entender. Eu realmente teria ouvido direito? O barulho da música e a galera cantando junto com Andrew acabou me deixando confusa. Não seria possível Tyler, logo o Tyler, ter dito aquilo.

— Você só pode está brincando. – eu ri, levantando-me logo depois de soltar a sua mão de volta ao seu colo.

— Porque eu estaria? – ele sorriu. Um sorriso sacana. Que me fez ter certeza de que sim, ele estava brincando comigo. Não falava sério.

— Vou atrás da Amy.

Não conseguiria continuar fingindo que a noite estava maravilhosa ali no meio da diversão, sendo que no fundo eu sabia que Amy estaria por ai, provavelmente chorando pelo Jesse.

Não a encontrei em lugar algum. Nem mesmo no quarto. Tentei imaginar em qual outro lugar desse colégio ela havia se metido. Não foi difícil chegar a uma conclusão: a biblioteca.

Trombei com Oliver na porta de entrada da biblioteca.

— O que faz aqui? – ele me olhou feio.

— O que você faz aqui? Eu vim saber da Amy.

Ele sorriu. Um lindo sorriso repleto de mistério.

— Ela não está bem, Hayley. Não quis muito conversar. Eu estava indo buscar um copo com água para ela se acalmar. Acho que você não deveria falar com ela. Não agora. Quem sabe depois.

— Pode só pode está brincando comigo. – eu ri sarcástica. — Porque está ajudando, Oliver? Porque logo agora está dando uma de bonzinho. Até ontem você fingia que nem fazia parte da nossa família e...

Ele me olhou por um momento. Com falta de respostas. Mas no fundo dos seus olhos negros, eu pude ver, que havia um pingo de compaixão.

— Não precisa dizer nada. – me rendi, deixando essa bobagem pra lá. Não era hora pra isso. — Obrigada mesmo assim. – impedia a vontade de abraçá-lo. Nós nunca nos abraçamos. Nunca. — Acho que você tem razão. Não vou falar com ela agora. Não agora. Mas diga a Amy que estou preocupada com ela e que eu sinto muito. Muito mesmo.

Dei meia volta e sai dali. Sem rumo. Sem sabe ao certo o que fazer com o resto da minha noite. Só não queria ficar parada sem fazer nada, queria pelo menos me distrair com alguma coisa.

De repente tudo ficou escuro e me dei conta que alguém tapava meus olhos com as duas grandes mãos. Um homem. Imaginei a possibilidade de ser o Jesse, preocupado ou coisa do tipo. Mas não poderia arriscar em voz alta. Tive receio de estar enganada quanto a isso.

Segundos depois, após descobrirem meus olhos, dei de cara com Andrew. E quase levei um susto. Esperava por qualquer um: ou Jesse, Tyler ou até mesmo o Jake. Menos o Andrew.

— Você não deveria está lá em baixo cantando? – olhei pra ele, admirando seu sorriso impecável de dentes muito brancos.

— Tivermos que dá uma pausa. Precisava também encher minha garrafinha com água. – ele a balançou no ar. Mostrando-me. — Estou com a garganta seca. Quer ir comigo? Encher a garrafinha.

Andrew me contava a experiência de ter feito seu primeiro luau, fora os que fez com os amigos fora do internato. Só a galera mais intima mesmo, mas nada antes como o dessa noite.

— Você já conhecia os meninos da banda lá fora? – perguntei, puxando papo.

— Na verdade, não. Eu os conheci aqui no internato mesmo. Eu nunca pensei em formar uma banda, apesar de sempre admirarem meu talento para o canto. Conheci os meninos aqui, todos muitos talentos, e tomamos a iniciativa de nos unir para passar o tempo. Acabou que ficamos famosos rapidamente. A galera gosta do nosso som e eu estou muito feliz por isso, nunca pensei que chegaríamos a esse ponto. Acho que agora, mais que antes, quero seguir minha carreira na música. No inicio tive medo e fiquei com receio de não dá certo, mas mudei de ideia.

— Vale a pena investir. Você é muito bom, Andrew!

— Obrigado Hayley – ele encheu a garrafinha no bebedouro e se aproximou de mim de um jeito muito estranho. Assustadoramente intimo. — Eu gosto de você, sabe? Gosto mesmo. Sem mentiras. – ele tocou meu rosto. — Eu quero beijar você.

A última frase saiu como um sussurro. Provocante e sensual.

Permiti ser beijada por Andrew. Ele é tentadoramente irresistível e sabe como mexer comigo de um jeito muito simples.

Seu beijo é quente.

Alguém pigarreou interrompendo nosso beijo que já durava mais de trinta segundos. Afastamo-nos no mesmo momento, completamente constrangidos com a situação.

— O que significa isso? – Tyler perguntou. Pude perceber que havia raiva em seus olhos. Uma raiva que não poderia estar ali.

— Tyler...

Ele riu sarcástico, se aproximando cada vez mais de nós. Andrew ainda ao meu lado meio que paralisado. E eu sem saber ao certo como agir.

Quando Tyler se aproximou o suficiente, socou o rosto de Andrew e eu assustada soltei um gritinho abafado.

— Tá maluco? – gritei. Colocando uma mão sobre o ombro do Andrew para ver se estava tudo bem. É claro que não estaria. Tyler socou o rosto dele. Andrew não disse nada e nem revidou, escondia o rosto com os dedos longos e finos. — Você tá bem? Quer ajuda?

Andrew se esquivou e se foi com a cabeça baixa, ainda sem dizer nada e nem deixou que eu visse seu ferimento. Só espero que não tenha sido muito grave. Ou me sentiria muito culpada. Afinal, ele é praticamente uma celebridade. Vocalista de uma banda. O que diriam de tudo isso?

Franzi o cenho, olhando friamente para Tyler.

— O que há com você?

— Nada. Eu só não gostei do que vi.

Tive que rir. Mesmo não achando nada engraçado.

— Francamente Tyler. Qual é o seu problema?

Tyler deve ter ser sentindo muito ofendido com a minha agressão verbal, pois apenas virou as costas e se foi. Não havia nada que eu pudesse fazer além de ficar ali, paralisada, sem entender nada.

O domingo amanheceu com o céu estranhamente nublado. E minha vida estava um absoluto caos. Tudo mudou de uma hora pra outra e havia muitos problemas a serem solucionados. Mas antes, eu precisava de um bom banho quente para esfriar a cabeça e deixar o corpo relaxar.

— Bom dia Nath. – eu sorri, passando a toalha pelo cabelo cada vez mais desbotado. Ela estranhou a minha simpatia matinal.

— Oi Hayley. Bom dia! – ela retribuiu um sorrisinho amistoso, em seguida, soprou a franjinha que caíra sobre os olhos. — Tá tudo bem?

— Não muito. – respondi de maneira passível. — Mas logo vai ficar. Não se preocupe. – sentei na cama para calçar meus tênis velhos. — Como está o namoro entre você e Eric?

Outra vez pude perceber que ela estranhara a maneira como eu estava sendo tão diferente do que costumo ser. Digamos que, amanhecei mais solidaria. E depois do banho, me senti estranhamente melhor.

— Vamos completar quatro meses juntos! – ela alargou seu sorriso com um brilho diferencial nos olhos. — Estou tentando pensar de que maneira diferente posso surpreendê-lo dessa vez.

— Você é boa nisso, Nath. – levantei logo depois de amarrar os cadarços. — Vai conseguir bolar algo legal. Mas se precisar da minha ajuda, saiba que, eu estarei aqui.

Sai para tomar café da manhã. Desci as escadas entre pulinhos.

Peguei minha bandeja com café quente e omelete com bacon, sentando-me em uma das poucas mesas vazias.

— Posso me sentar aqui com você? – ergui os olhos entre uma mordida e um gole de café ao ouvir Jesse ao lado da minha mesa. Assenti. Ele sentou-se. Continuei a tomar meu café da manhã como se ele não estivesse ali. — O tempo mudou.

Segui a direção de seus olhos e prestei atenção no céu acinzentado repleto de nuvens escuras que indicavam que a chuva estava por vir. O ar abafado e caloroso também já não era o mesmo.

— É. - foi tudo que eu disse, secamente.

Ficamos em silêncio. Eu terminando meu café da manhã e ele fazendo o mesmo. Parecia que éramos dois verdadeiros desconhecidos.

— Aquela sua amiga, ontem durante o luau, a Amy – era evidente que Jesse estava desconfortável ao tocar no assunto. — aconteceu alguma coisa entre vocês? Ela não pareceria muito bem.

Suspirei fundo, desviando meus olhos, pegando a bandeja.

— A culpa é toda sua. – eu disse, antes de levantar para devolver a bandeja vazia de volta ao seu devido lugar.

Caminhei vagarosamente pelos corredores pensando em qual o próximo a dar para reverter àquela situação. Por um momento, senti que passos me acompanhavam. Sorri discretamente, imaginando Jesse tentando me acompanhar, cheios de duvidas, querendo saber o porquê eu o culpara e porque eu o tratei tão mal.

— Quero falar com você, Hayley.

Não era o Jesse. Era o Tyler.

— Não agora. Antes preciso resolver uma coisa.

— Nada disso. Você vem comigo.

Repentinamente Tyler me puxou pelo braço e me enfiou na primeira sala que apareceu pela frente. Uma sala de aula vazia. Ele fechou a porta impedindo a minha saída e cruzou os braços sobre o peito.

O ar gelado entrava pelas janelas entreabertas. Arrependi-me por não ter pegado um casaco antes de sair do quarto.

— Você vai me escutar. – ele tinha o tom de voz autoritário.

O que não causou nenhum tipo de intimidação a mim.

Olhei para ele com o ar de debochada enquanto me erguia do chão e dei um pulinho para sentar sobre uma das mesas.

— Sobre ontem à noite – ele desviou os olhos, mas rapidamente voltou a me olhar. — eu sinto muito. Apesar de não me arrepende do que fiz. Só não quero que você fique com aquele babaca. Você sabia que ele está ficando com a Alana? Sim, você sabia e mesmo assim...

— Chega Tyler. – interrompi-o. Também cruzando os braços enfrente ao peito. Não para parecer durona, mas para me proteger do frio. — Você está parecendo meu irmão falando.

— Só quero que você diga que me entendeu. – ele deu um passo à frente, com uma expressão muito passível. O que ele acha tá fazendo? Acha mesmo que vai me convencer com um carinho?

— Não faça isso nunca mais! – ignorei-o, elevando o tom de voz. — Eu faço da minha vida o que eu quiser. E você sabe disso. Não tente dar uma de controlador. Nós nem somos namorados!

Ele me olhou evidentemente chateado. Tyler pode ser considerado muitas coisas, ruins inclusive, mas para determinados assuntos ele é um estranho sentimental. Se aborrece fácil e é muito sensível.

Ele parou diante dos meus olhos, tocou meu rosto de maneira delicada e finalmente sorriu. Logo depois me abraçou.

— Não quero mais falar sobre isso.

Encontrei Amy do lado de fora com os cabelos presos a um elástico com alguns fios saindo pelas laterais. Ela vestia uma blusa azul celeste de moletom-canguru com capuz e um jeans claro. Parecia muito distante com seus fones brancos nos ouvidos conectados ao celular muito mais moderno que o meu. Quando me sentei ao seu lado no banco, ela só me olhou com certo desprezo e nem fez questão de tirar os fones para poder ouvir o que eu tinha a dizer.

— Podemos conversar? – ousadamente puxei um dos fones dela chamando sua atenção para mim.

— Fala – ela tirou o outro, completamente irritada. Enfiando o fio junto ao aparelho celular dentro do bolso. — O que é?

— Sobre ontem, aquilo que você viu – me endireitei sobre o banco, voltando meus olhos ao vento que chacoalhavam as árvores. — eu tentei de contar a verdade antes que você pudesse presencia-la. Mas você estava ocupada demais com o meu irmão, lembra-se? – ela esperou por uma resposta direta. É claro que ela lembra. — Então, eu deixei pra depois. Mas foi tarde demais e você viu o que viu. Eu não tenho culpa. Jesse fez uma escolha. É a vida dele e eu bem que tentei de dizer pra você que teria sido bem mais fácil se você tivesse dito a ele quem você era...

— Hayley – ela me interrompeu, grosseiramente. — qual foi à parte que você não entendeu que eu não sou como você? Pra falar a verdade, eu nem pedi a sua ajuda. Apenas confidenciei algo meu particular a você e você se dispôs a ajudar. No começo, me pareceu uma bobagem, mas conforme o tempo foi passando, eu estava começando a gostar dessa história de "garota misteriosa" e sua "detetive".

Ela sorriu, frágil.

— Você estava me ajudando, a saber, melhor sobre e ele e isso realmente alimentou minhas esperanças de algum dia poder me declarar diretamente. Mas como já era de se esperar, como eu mesma te disse uma vez, uma garoto como o Jesse jamais olharia pra mim com outros olhos...

— Amy, não! – não permitiria que ela continuasse a se rebaixar daquela forma como se não fosse nada. — Você está errada! – eu realmente me irritei. — Poderia ter sido sim diferente se desde o começo você tivesse agido...

— Você está querendo me dizer que a culpa agora é toda minha?

— De certa forma, sim. Pare pra pensar. – pousei as mãos sobre o meu colo sem desgrudar meus olhos dos dela. — Jesse não é o tipo de garoto que diria não a você de maneira grosseira. Ele é um babaca? Sim, muitas vezes. Mas também tem um coração muito bom e ele não seria capaz de ser injusto com você. Não com você que é garota mais incrível que eu conheço – chamei a atenção dela pra mim, puxando seu queixo. Vendo seus olhos marejados. — Olha pra mim Amy. Você é incrível. Se eu pudesse seria como você.

— Não seja estupida, Hayley! – ela virou o rosto, como uma presa atingida. Como se meu toque a ferisse. — Olha pra mim! Eu sou um caos. Nem eu mesma me entendo, apesar de fingir muito bem, ajo como se me entendesse. Ninguém poderia me entender! – Meu coração parecia esmagado ao ver Amy chorar feito uma criança indefesa.

Eu a abracei forte, sentindo seu corpo tremer ao choro incontrolável

— Às vezes eu só queria ser menos intensa. Por um momento, só queria entender como o resto do mundo aguenta coisas que me devoram de uma maneira tão absurda. – ela tentava dizer em meio ao choro.

— Fique calma. – sequei suas lágrimas com a ponta dos dedos e ela sorriu timidamente agradecida. — Não se preocupe. Pois, ainda bem, que existe outro dia, e outros sonhos, novos risos, outras pessoas e muitas outras coisas para se viver e aprender.

Ela me abraçou outra vez, dessa vez um abraço mais curto.

— Obrigada Hayley. E me desculpe pelas bobagens que eu disse agora pouco. Eu sei que a culpa não é sua e sim minha. Eu só queria que as coisas fossem um pouquinho mais fáceis pra mim. – ela já conseguira controlar melhor o choro e falava com mais clareza. — Se eu pudesse seria exatamente como você.

Sorrimos juntas. E de repente, tive total certeza, que preferia ao som da sua risada a o sofrimento transbordando de seus olhos.

— É melhor que seja assim. Eu e você. Cada uma exatamente como dever ser.

Pude aproveitar o resto daquele dia, agora que finalmente as coisas estavam em devida ordem. Passei a tarde inteira com Amy. Na biblioteca ela me mostrou a sua sensação de livros preferidos: de fantasia. E na sala de jogos, disputamos com alguns meninos, depois da minha longa insistência, algumas partidas no videogame.

À noite em minha cama, ouvindo a chuva fina cair do lado de fora das janelas, vi com clareza, mesmo através da escuridão, a silhueta bem delineada de Amy na cama ao lado da minha. Ela já estava dormindo há um bom tempo. Mas eu estava com dificuldade de pegar no sono.

Ouvi o ranger da porta se abrindo, estreitei os olhos para ver melhor quem entrava ali. Para minha surpresa era Natalie. E eu nem imaginava que ela não estava no beliche de cima todo esse tempo. Deveria estar por ali, em algum canto desse imenso internato, agarrada com Eric.

— Isso são horas mocinha? – assustei-a com a minha voz e a pergunta. Nath acabou tropeçando em um dos meus sapatos espalhados pelo chão.

— Ai Hayley, que susto! – ela riu, divertida. — Estava com Eric – acertei em cheio. É tão evidente. — Ai Hayley, é tão bom estar apaixonada.

Ela subiu no beliche sem fazer barulho para não acordar Amy. Pensei que Natalie iria continuar acordada para conversar, contanto tudo que ela e Eric faziam juntos. Só pra eu sentir um pouquinho de inveja. Mas ela não o fez e em questão de segundos eu ouvi sua respiração sonolenta.

Ela pegara no sono.

"É tão bom estar apaixonada."

Natalie tem razão. Não há nada melhor que estar ao lado de quem à gente ama. Lembro-me de Brandon e como eu me sentia completa se ele tivesse apenas segurando firme a minha mão. Ou a segurança que seus olhos transmitiam dentro dos meus. A leveza do seu toque a minha pele e o adocicado de seus lábios quentes colados nos minha e suas mãos pressionadas ao meu corpo. Como se mesmo sem ele dizer diretamente, quisesse dizer indiretamente, o quanto ele me queria por perto.

A presença dele, mesmo distante, já era o suficiente. Quando se ama o pouco já é necessário. O pouco se torna muito. Tudo fica muito mais intenso e surreal. Como se tudo fosse possível. Cada gesto, por mínimo que fosse já se tornava especial e cada momento uma lembrança viva.

Levantei inquieta, certa de que agora, pelo menos não agora, não iria conseguir dormir por mais que eu tentasse. Saí do quarto sem ser percebida e caminhei descalços pelos corredores vazios. Não me intimide estar apenas de pijama. Só precisava respirar ar fresco, mesmo fazendo frio e chovendo lá fora.

— Perdeu o sono?

Virei-me rapidamente para ver de quem era aquela voz, por mais certeza que eu já tivesse. Só não queria estar criando falsas expectativas.

Jesse. Oi.

Engraçado como ele sempre aparece de surpresa.

— Oi Hayley. Está fazendo o que aqui?

— Como poder ver... Nada. Mas e você?

— Eu estava indo lá em baixo, no refeitório, ver se teria alguma coisa pra beber que não fosse água. Mas então me lembrei de que necessarimente ninguém é obrigada a perder o sono igual a mim.

Rimos juntos. Engraçadinho.

— Eu, ao contrário de você, não perdi o sono. Na verdade, ele nem apareceu hoje.

Rimos outra vez. Dois tapados.

— Quer fazer alguma coisa?

— Hum, tipo o que?

— Hum, sei lá, tipo, que tal aprender tocar piano?

— Agora? E se nós formos pegos...

— Você com medo Hayley?

— Não, eu não. Não tenho medo Jesse.

Ele sorriu, mostrando os dentes metalizados.

— Foi o que pensei – ele balançou os ombros. — Vamos lá?

Assenti e o segui.