“O que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém.”

Brandon foi a minha única chance na vida. E depois que ele se foi eu me tornei uma pessoa cruelmente pior do que já era antes de conhecê-lo.

Eu não sei exatamente em que momento da minha vida eu optei por ser uma pessoa má ao invés de boa. Mas acredito que eu já tenha nascido assim por pura pirraça aos meus pais.

Papai e mamãe tiveram três filhos. Elisabeth é a mais velha com vinte e cinco anos. Ela é orgulho da família. Uma joia rara e preciosa. Mamãe e papai dariam a vida por ela. Iludidos, eles acreditaram que ter mais filhos como Beth seria o maior presente de suas vidas. Por ironia do destino não aconteceu como o esperado. Meu irmão do meio, Oliver, é ainda pior que eu. Desde pequeno é um garotinho terrível, daqueles que faz mamãe arrancar os cabelos e meu pai perder a paciência até esbofeteá-lo para ele parar quieto. Muito ao contrário da criança que Beth um dia já foi.

Eu fui a ultima esperança dos meus pais. Para a infelicidade deles eu nasci mais parecida com Oliver. Uma garotinha ruim e maldosa. Conforme fui crescendo só fui me tornando ainda pior com os exemplos do meu irmão e todas as experiências que ele trazia para dentro de casa.

Nós nunca nos damos bem. Nenhum dos três irmãos. Oliver detesta Beth por ela ser a perfeição em pessoa. Oliver também não gosta de mim por eu ser tão parecida com ele. Oliver gostaria de ser o único a cometer loucuras, o único a se meter em burradas e encrencas. Ele não queria ter que dividir seu posto comigo.

Mas eu não tive escolhas, porque também nunca fui muito com a cara de Beth. Então preferi a Oliver. Acho que a vida quis castigar meus pais de alguma forma e de presente deu a mim e Oliver a eles. Eu nunca soube exatamente por que. Já que tanto mamãe e papai são pessoas maravilhosas. Ou a vida só queria lhes dá uma boa lição, um aprendizado.

Beth sempre gostou de livros e poesia. Sempre foi boa em discursos, argumentos e em expor sua opinião. Ela sempre foi muito inteligente e dedicada, sem que papai ou mamãe precisasse cobrar nada dela. Beth foi o exemplo dentro de casa. Pois mesmo ocupada com os estudos, ela ainda ajudava mamãe nas tarefas de casa e era uma boa companhia para o papai.

Beth só tem um defeito: ela saiu de casa depois de conseguir ganhar o mundo à custa dos meus pais. Beth fez faculdade de direito e se formou em umas das mais concorridas universidade do país. Na faculdade ela conheceu um cara, o Joseph, o primeiro homem de sua vida. Eles se casaram e tiveram dois filhos: Lucy e Peter.

Até ai tudo bem. Uma hora ou outra Beth teria que formar sua própria família e construir sua vida. O maior problema é que ela simplesmente abandonou quem mais a amava e a apoiava: meus pais. Beth foi morar do outro lado do país com sua nova família para viver sua nova vida. Ela nunca vem nos visitar. Exceto quando um parente morre. Beth não telefona, não está interessada em saber como nós estamos, pois está mais preocupada consigo mesmo todo o tempo. Beth foi ingrata. Beth decepcionou papai e mamãe e acho que isso foi mais um castigo por eles terem priorizado tanto a ela.

Tanto para mim, quanto para Oliver, Beth é uma decepção. E sei que pra papai e mamãe também, mas eles não admitem, pois é muito mais bonito dizer que são felizes por ela ser feliz. Mas sei que não é exatamente isso que eles pensam. Lá no fundo eles são tristes por ela ser feliz longe deles. Afinal, eles cuidaram tão bem dela, sempre a apoiavam, compravam tudo que ela precisava, se dedicaram como bons pais, pra no final, Beth simplesmente evaporar como se nunca tivesse existido.

Oliver sempre diz que papai e mamãe mereceram esse castigo. Oliver se tornou uma pessoa mau porque ele não queria ser igualado a Elisabeth. Assim como eu, Oliver só quer ser ele mesmo. Mas mamãe e papai ainda insistem que sejamos o que eles queriam que fôssemos. Nós só não podemos aceitar ser alguém que nós não somos. Essa é a principal razão por sermos pessoas tão más e ruins. Só queremos provar para papai e mamãe que poderíamos ser bons sendo nós mesmos. Mas isso nunca funcionou e optamos por sermos detestáveis.

Tudo que eu sei, aprendi com Oliver. Não que ele tenha me ensinando diretamente a ser uma menina má. Mas tudo que eu aprendi, foi observando, mesmo que de longe, como ele agia, o que ele fazia e o que ele dizia e como se comportava. Admito que para mim, Oliver é um grande exemplo. Pois apesar de não ser um exemplo de bom garoto, ele é um bom exemplo de alguém que suportou as histerias dos meus pais.

Desde muito pequena, eu via Oliver aprontando com tudo e todos. Ele sabia o que estava fazendo, apesar de ser apenas dois anos mais velho que eu. Digamos que ele já tenha nascido com uma mente diabólica e o resto ele aprendeu com a vida e com desconhecidos.

Oliver nunca foi fácil de lhe dar. O que ele mais gostava de fazer era pregar uma peça em Elisabeth quando ela ainda morava conosco. E eu estava sempre por perto, observando como ele fazia para irrita-la. Quando ele percebia que eu estava por perto olhando, ele pedia para que eu ficasse calada e não contasse para papai ou mamãe. Se eu contasse ele faria coisas ainda piores comigo. Eu não tinha medo, mas também nunca o entregaria para nossos pais. Porque gostava dele e só queria que ele percebesse isso. No final das contas, mesmo sem eu ter aberto a matraca, papai e mamãe já sabiam que tudo que acontecia de errado em casa era culpa de Oliver.

Papai o colocava de castigo, antes que perdesse a paciência e batesse em Oliver. Mamãe chorava descontroladamente, decepcionada consigo mesmo por nunca ter conseguido criar o próprio filho. De castigo, Oliver se comportava ainda pior. Ele ria ou fazia de tudo para irrita-los até que eles o tirassem dali. Eu observava de longe, o admirando. Para mim ele era forte e corajoso. Com mais idade, comecei a ajudar Oliver em seus castigos. Ele passava a maior parte dos dias de castigo. Ele nunca chegou a me pedir que eu o ajudasse. Mas eu ia até ele quando ninguém estava por perto e o ajudava a sair dali. Quando minha mãe ou meu pai ficavam sabendo que eu o tinha ajudado, colocava nós dois, separados, de castigo ou nos davam uma bronca das grandes. Éramos cúmplices. Apesar de nunca termos rotulado nossa relação nada amigável.

Comecei a seguir os passos de Oliver desde muito cedo. Ele nunca me aceitou por perto. Cheguei a acreditar que ele me odiava, assim como odiava Beth. Mas não era exatamente isso. E quando eu perguntava por que ele não me queria por perto ou porque eu não poderia sair com ele e os amigos, ele me dizia que eu era pequena demais para isso ou dizia que eu não deveria ser como ele. Deveria procurar uma própria identidade e ser eu mesma antes de qualquer coisa.

Pensei nisso por muito tempo. Até eu concluir que eu já estava sendo eu mesma. Eu queria ser como ele. Pois algo em Oliver me fazia querer ser como ele. Então, estava decidido. Mesmo que ele não me quisesse por perto, eu seria como ele, me viraria e faria tudo sozinha até que ele me aceitasse em seu grupo. Mas ele nunca me aceitou e eu segui meus próprios passos. Passos muito parecidos com os deles.

Eu já fiz muita coisa errada na minha vida com apenas dezessete anos. Eu não me orgulho disso. Mas eu sou assim. E é assim que tenho que ser. Como Beth, como papai, ou mamãe eu jamais serei. Na verdade, não consigo nem me imaginar sendo como eles. Eu nasci pra ser assim e é assim que vou ser. Sendo aceita ou não.

Já me envolvi com drogas das mais pesadas. Eu não cheguei a usar todas elas, mas eu vendi para uns amigos e desconhecidos. Eu também já roubei. Roubei o dinheiro da carteira do meu pai, roubei as economias da minha mãe e já roubei gabaritos de provas na escola. Eu já pinchei muros, paredes e automóveis. Já me embebedei e comprei bebidas alcoólicas ilegalmente. Já fiz também tatuagens com um velho conhecido meu sem a autorização dos meus pais. Já coloquei piercing. Já estraguei meus cabelos e tive que corta-los muito curto. Também já destruí metade das minhas roupas e dos meus pertences. Customizei-os, deixando-os mais a minha cara, mais parecidos com a minha personalidade um tanto diferente do que estão habituados a ver por ai. Já arrumei brigas na escola, com meninas e meninos.

Eu também já dirigi um carro sem ao menos ter a carteira de motorista, já fui paga para fazer mal a algumas pessoas, me envolvi com caras da pesada, andei de moto em alta velocidade colocando não só a minha vida em risco como também a de pessoas que não tinham não a ver, dormi na rua, subi em telhados, invadi casas, entre muitas outras coisas piores. Há tanta história pra contar!

Nada do que eu faço é bonito ou legal. Eu já disse que não tenho orgulho do que eu faço. Não faço para me mostrar para os outros. Não faço tudo isso porque quero provar pros meus pais e pra sociedade que sou uma pessoa de mau caráter. Faço porque gosto. Sinto-me bem sendo eu mesma e fazendo coisas que me encorajam. Gosto de me sentir livre, solta, capaz de qualquer coisa, como se não dependesse de nada ou ninguém.

E foi exatamente assim que Brandon me conheceu. Toda errada e negativa. E mesmo assim ele me amou. E eu o amei mesmo ele sendo o oposto, o contrário de mim.

Brandon era um dos melhores alunos da turma. Estudávamos no mesmo colégio desde o primário. Mas nunca tínhamos nos notado porque sempre fomos diferentes. Brandon fazia parte dos alunos voluntários da escola que ajudavam aqueles que necessitavam. Brandon era o garoto mais adorável que eu já conheci, com um coração puro e bom. Ele dava aulas extras de exatas para aqueles, que assim como eu, não levavam o menor jeito para cálculos. E foi assim que nos conhecemos.

Fui praticamente obrigada a fazer aulas de reforço. Na verdade, por mais que me obrigassem a fazer algo que eu não queria, se eu não queria realmente, eu não fazia. Mesmo que isso me custasse caro. Mas aquele ano eu estava mesmo necessitando, se não teria repetido o ano e eu não suportava a ideia de ter que fazer tudo de novo por causa de algumas matérias das quais eu não me dava bem.

Eu só não tinha notas boas e razoáveis, por pura preguiça, relaxo e birra aos meus pais e os diretores do colégio. Eu me esforçava quando queria, mas não era todo o tempo. E lá fui eu, perder meu tempo precioso com as aulas extras de física, matemática e química. Antes mesmo de começar, eu odiava a ideia de perder meu tempo fazendo o que não queria. Quando poderia estar em qualquer outro lugar com meus amigos fazendo coisas legais.

Quando eu olhei para Brandon pela primeira vez de verdade, não dei muita importância. Ele era só mais um garoto qualquer metido a besta assim como muitos outros que eu conheci. Eu nunca tinha antes me apaixonado e nem acreditava no amor. Passaram-se boas longas semanas e eu já estava prestes a perder a paciência com Brandon. O problema não estava exatamente nele e sim em mim. Eu não conseguia de maneira alguma fixar a porcaria do conteúdo na cabeça. Por mais que ele se esforçasse, era impossível pra mim.

— Eu desisto! – levantei da mesa de saco cheio, derrubando minhas coisas todas no chão. — Chega! Eu cansei. Vou embora pra casa. Ou melhor, pra casa não. Vou dá uma volta por ai.

— Não! Fica – ele me puxou pelo braço. O que me pareceu estranho no momento. As pessoas geralmente têm medo de me tocar, se aproximar ou se dirigir a palavra a mim. Pois já sabem como eu vou me comportar, eu não sou muito educada quando eu não quero ser. — Vamos tentar, pela ultima vez. Eu prometo!

— De jeito nenhum! – puxei meu braço de volta, agachando para pegar minhas coisas jogadas no chão. — Chega! Pra mim deu. Eu nunca vou conseguir. Na verdade, eu nem sei se quero conseguir.

Recolhi minhas coisas rapidamente.

— Você não pode desistir assim facilmente. – ele insistiu, sorrindo docemente. Eu tive vontade de quebrar aqueles dentes tão perfeitos.

— Eu posso sim. Olhe em volta, não tem mais ninguém aqui. Somos apenas eu e você. Porque eu deveria ficar se todos já desistiram?

Olhamo-nos por um momento.

— Porque você é diferente dos outros. – ele tinha a voz suave e serena. Como a de um anjo. — Olhe só pra você. Você não é como as outras pessoas, você não é como ninguém. Você é diferente. Você é... Você.

Fiquei em duvida se riria ou se sairia dali o mais depressa possível.

— E você é... Você. – eu soltei um riso, engraçado. — Mas, por favor, não me obrigue a ficar. Eu não consigo! Eu não quero. Eu vou embora.

Outra vez eu me virei para ir embora, mas ele me impediu.

— O que pensa que tá fazendo? – eu gritei, virando de frente para ele. Sentia meu rosto queimar de raiva. — Me solta! Eu vou embora.

— Não. Você não vai. – ele me olhava fixamente, ainda com seus dedos em volta do meu braço fino.

As janelas da sala da qual estávamos àquela tarde estavam abertas e um vento suave percorreu pela sala. Um vento comum de fim de tarde. Os cabelos de Brandon, cabelos castanhos escuros se movimentaram com o balançar do vento. Seus olhos, cor de âmbar, estavam fixados nos meus e pela primeira vez em toda minha vida eu fiquei intimidada e não admitiria que ele me fizesse sentir assim como nunca antes me fizeram sentir.

— Fica, por favor. – ele quebrou o silêncio e a tensão entre nós dois. Brandon deu um passo em minha direção, diminuindo a distancia dos nossos corpos. — Eu quero que você fique. Como nunca antes eu desejei que alguém ficasse. Acho que estou... Apaixonado por você. Há algumas semanas eu venho te olhando de uma maneira diferente. Eu acreditei que você perceberia, mas não, você não percebeu. Decidi aproveitar esse momento para abrir meu coração e dizer a você tudo que eu sinto. Parece estranho e confuso. É, eu sei. Mas você precisa saber. Precisa saber que eu gosto de você. Porque você é o que é e nada mais importa.

Ele estava ficando completamente maluco. Disso eu tinha quase certeza. Afinal, nunca ninguém antes reparou em mim daquela forma e sim pelo contrário. Eu não passava de só mais uma esquisita, revoltada e garota rebelde contra os pais e o mundo.

Por um momento acreditei que ele estava zoando com a minha cara, talvez tivesse feito uma aposta com os amigos ou coisa do tipo. Mas se isso fosse mesmo verdade, eu acabaria com ele em questão de segundos e ele se arrependeria pelo resto da vida por ter se metido comigo.

Eu ia revidar, me defender, chama-lo de louco e provar a ele que eu estava certa quando disse que iria desistir e sair dali. Mas algo dentro de mim me tocou profundamente. Um sentimento inexplicável. De repente senti que tudo que eu mais queria é que ele continuasse ali, segurando meu rosto, que eu pudesse sentir seu toque, admirar o brilho dos seus olhos exóticos sem que ele precisasse dizer mais nada.

Brandon conseguiu o que queria. Conseguiu me encantar com seu jeitinho especial e tocar o lado obscuro do meu coração que se derreteu em uma fração de segundos com poucas palavras que ele me disse. Mas como era possível? Não éramos em nada parecidos, nunca havíamos nos falado e de repente, tudo mudou, era como já conhecê-lo há décadas, como se ele já tivesse fazendo parte da minha vida, como se de alguma maneira já nos pertencêssemos sem antes saber.

— Vai ficar aí parada? – ele me despertou. — Não vai me dizer nada do que gostaria de ouvir vindo de você? – um sorriso meigo brincou em seus lábios. — Ora, não fique ai olhando pra mim com esse jeitinho...

Antes que ele pudesse completar a frase ou tomar alguma atitude, eu me aproximei dele e o beijei. Beija-lo era tudo o que eu mais queria fazer, para ter a certeza de que eu também não estava enlouquecendo. Foi um beijo rápido, suave e melado. Ao termino do nosso primeiro beijo, eu olhei para ele, observando sua reação de surpreso e não consegui conter o sorriso. Por dentro eu sentia que estava prestes a transbordar.

— Vem! – eu o puxei, brincalhona. — Larga tudo, deixa as coisas ai. Depois nos voltamos e pegamos. Mas agora, eu preciso de você, eu quero você. Vamos dá uma volta. Você precisa me contar qual é o seu segredo. Como você conseguiu me conquistar em poucos segundos?

Demos uma volta pelo jardim do colégio naquele fim de tarde um tanto romântico. Andamos como um casal, de mãos dadas, trocando carinhos, sorrisos e palavras amigáveis. Éramos praticamente íntimos.

Ele me contou, quando foi que ele começou a me olhar de outro jeito e também me contou como foi que tudo aconteceu, quando ele teve a certeza de que era o que queria.

Brandon era a perfeição em pessoa. O tipo raro de garoto que encontramos por ai. Além de um dos sorrisos mais bonito de todo o colégio, ele tinha os olhos mais exóticos que poderiam existir e um corpo de arrancar suspiros em qualquer uma.

— Sabe, nunca antes uma garota agiu assim comigo. Tá acontecendo tudo rápido demais. E acho que é por isso que eu gosto tanto de você cada dia a mais. Você age como quer e quando quer. Você não tem medo. Você é natural, é diferente. Eu amo você!

Seria possível amar alguém em tão pouco tempo? Antes, eu poderia duvidar que sim. Mas com Brandon ao meu lado, eu acreditava, acreditava que era mesmo possível ele me amar tão rapidamente.

— Você não sabe onde está se metendo! Vai acabar se arrependendo de ter cruzado o meu caminho. – eu brinquei, risonha. — Eu não sou o que você pensa que eu sou.

Ele parou, virou-se de frente pra mim, segurou meu rosto com suas adoráveis mãos de pele macia e pressionou seus lábios nos meus outra vez.

— Deixe de bobagem. Eu sei exatamente quem você é Hayley Collins. Eu te conheci quando ainda era um garotinho. Você nunca foi à garota mais inteligente da turma e nem a mais bonita. Pelo contrário, digamos que você seja a pior da turma. Todos têm medo de você, menos eu. Você sempre foi você mesma. Dona de uma personalidade forte e marcante. Difícil de esquecer. Eu jamais deixaria uma garota como você passar despercebida. Levou tempo, mas acho que finalmente a fixa caiu e era você quem eu procurava por todo esse tempo.

Aquele dia foi infinito. Tanto eu quanto ele não queríamos nos despedir um do outro. Queríamos ficar ali para sempre. Juntos. Tirando todas às duvidas, conversando sobre tudo e nada, para ter a certeza de que não estávamos enganados e que o nosso amor era mesmo real.

Eu nunca me senti tão maravilhada, única e especial. Brandon era capaz de fazer com que eu me sentisse nas nuvens, em uma viajem sem volta. E quando nos despedimos, aquela noite, porque ele tinha que voltar para casa, eu senti medo pela primeira vez na vida. Medo de acordar no outro dia e perceber que tudo fora só um sonho, uma brincadeira, uma ilusão ou um mal entendido.

— Eu estou com medo. – eu olhava no fundo dos olhos dele. Era como poder mergulhar. — Eu nunca tive medo antes. Mas agora, com você, é diferente. Eu tenho medo de te perder. Medo que amanhã não sejamos nada disso. Eu não quero te deixar, não quero ter que ir. Por favor, me deixe ficar aqui com você.

— Não podemos – ele riu. — Minha mãe vai me matar por eu ter chegado há essa hora em casa. Imagine só se eu entrar com você e disser que você vai ficar. Ela não vai matar só a mim, mas a você também.

Pela primeira vez eu senti ódio da mãe de Brandon.

— Não tenha medo! – ele me abraçou, antes de entrar. — Isso aqui é real. Nós estamos juntos. Agora somos só nós dois. Não há o que temer. Amanhã é outro dia. E mal posso esperar para te ver sorrindo. Hayley, eu te quero. Acredite em mim. Te quero como nunca um dia eu quis alguém.

Não tinha como eu não acreditar. Por mais precipitado que soasse suas juras de amor eu acreditei nele. Porque estava estampado em seus olhos cor de âmbar que Brandon não era de mentir. Ele era bom demais para mentir, para me enganar, para me trair ou me iludir. Ou a qualquer outra pessoa.

Ele não poderia ser real. Era muito perfeito pra ser real.

Em meu quarto, já preparada para dormir, eu pensei em Brandon pela madrugada inteira. Eu nem preguei os olhos durante aquela noite. Só pensava nele. Sem me importar o quão surreal aquela história parecia. Não me importava também com os gritos dos meus pais brigando com Oliver no andar de baixo enquanto faziam comparações com Elisabeth. Não me importei com meu estomago roncando de fome por eu não ter jantado. Não me importei se no dia seguinte acordaria cedo para ir ao colégio. O que realmente importava para mim é que amanhã eu o veria outra vez. E quanto mais depressa o tempo passasse, seria melhor.

E se algum dia eu acreditei que uma garota como eu jamais seria capaz de amar ou de ser amada. Eu estava enganada. Brandon me fez pensar de outra forma. Pois era sim possível amar e ser amada. Eu não acreditava. Mas com ele, passei a acreditar e nada me faria pensar o contrário. Estar apaixonada era tão... Diferente. Tudo estava sendo muito novo e prazeroso para mim. Se eu soubesse que amar me faria tão bem, teria procurado por ele há mais tempo. Assim, teríamos tido mais possibilidade de ficar juntos por um tempo que parecesse eterno. Ou quase eterno. Pois não existia tempo suficiente para estar ao seu lado.

Tudo era muito pouco para o muito que eu sentia.