Eu me arrumava nesta noite francesa de gala que acontecia no Teatro. Sorri, me lembrando do motivo: a saída dos diretores da Ópera não era uma grande conquista, mas já era o bastante para saber o medo que eles têm do fantasma que os assombra. Sim, há um fantasma que assombra o teatro francês, e ele é o motivo da saída dos senhores Debienne e Poligny. Esta última noite de festa teria um honrado visitante, porém: o próprio! O Fantasma da Ópera! Sim, eu estava me arrumando para o que seria uma "reunião" de um camarim. Só tinha um porém nesta história: estou indo de penetra. Acho que ninguém convidaria um fantasma para uma conversa de cantoras da Ópera, não é mesmo?

Dei de ombros. Eles provavelmente já começaram sem mim, mas sempre começam! Sei que lá estava Meg Giry, a filha da dona Giry, que eu não odeio. Não a amo, porém tenho uma simpatia por ela. Ah, amor, amor! É o que faz o mundo viver, não é mesmo?

Não.

Eu vivo através do medo dos outros por mim. De seus ódios. Pode me chamar de morte, porque é o que sempre acontece com quem fica em meu caminho. Mas eu amo. Christine, Christine! Você a conhece? Órfã, tenho certeza que sua voz angelical está divina e que breve fará muitos e muitos espetáculos. Graças a mim! Ao que todos odeiam e temem! Graças ao Fantasma da Ópera, que ensinou para sua criança tudo que sabe sobre voz, e música. Christine, Christine! Ela é meu anjo da música! Eu sou o anjo da música dela.

Como uma sombra e um verdadeiro fantasma, fui, em silêncio, até um camarim cujo número não importa - o camarim de Sorelli! Tudo começou monótono. Não havia outra conversa se não a saída dos diretores, todos procuravam o motivo, e tudo ficou interessante com um "É o fantasma". Nem a chave que me impedia de entrar iria me fazer desistir de ouvir. Oh, ia ser interessante. Muito interessante!

Como um astro da Ópera, eu fui o assunto principal. Uma pena eu não ter sido; daria um ótimo cantor. Teria amor! Seria amado! Teria compaixão! Teria Christine, oh, minha Christine, que nem me ver pode; vivo nas sombras, nas sombras que me atormentam, na sombras que me alimentam, nas sombras que não me amam e nem me odeiam. A escuridão parece ser a única que é indiferente com meu rosto, tão deformado... mas não há importância; vivo dos gritos de terror dos outros ao ver o que há atrás desta minha máscara.

Pelo que parece, eu era muito bem conhecido entre as damas. Todas falavam sobre mim como se não estivesse em todos os lugares. "Você o viu?" "Assim como estou vendo você!" "Se for ele, é bem feio!" Céus, só faço jus ao nome de fantasma, ainda tenho sentimentos! Uma pena estes serem apenas de ódio. Tenho fome de morte, sede de sangue.

E é agora que você deve estar se perguntando, "sentimentos de ódio apenas? E o seu amor, Erik?"

Meu amor nunca iria me amar ao me ver. Não importa. Eu irei fazer ela me amar, nem que seja a força! Dizem que isso não é amor, que amor é um sentimento puro. Bem, eu sou puro; não sou um destes animais do mundo que satisfazem seu desejo fazendo sexo com todas ou beijando uma a cada vez. Não confunda pureza com psicopatia. Por favor, não confunda amor com obsessão. Obsessão: segundo o dicionário, impertinência, perseguição, ideia fixa; Christine é de minha posse. Amo, e a idolatro, estou louco, obcecado! Ela é sempre será a exceção de um mundo que deveria evaporar!

Tudo bem, todos irão, um dia, viver no inferno concedido pelo fantasma da Ópera. Concedido por mim!

E as moças falavam de boatos do fantasma de uma escura capa negra com cabeça d'esqueleto, e de um fantasma de escura capa negra sem cabeça; havia fogo! Quer saber como eu sou? Pergunte ao Joseph Buquet. As moças lhe respondem por mim, com aspas do senhor do teatro. "Ele é de uma magreza assombrosa, e suas roupas negras flutuam sobre uma carcaça esquelética. Seus olhos são tão profundos que as pupilas imóveis não se distinguem bem. Em suma, só é possível ver dois buracos negros como nos crânios dos mortos. Sua pele, estendida sobre a ossatura como uma pele de tambor, não é branca, mas sordidamente amarela. Seu nariz, de tão pequeno, é invisível de perfil, e a ausência desse nariz é uma coisa horrível de se ver. Três ou quatro mechas castanhas sobre a fronte e atrás das orelhas fazem as vezes de cabeleira".

Minha alma gargalha alto. Quanto exagero! O máximo que verdadeiramente faço é um sorriso. Outra história para criança dormir: disse o tenente do bombeiro que o fantasma tinha uma cabeça de fogo. Senti vontade de rir novamente - sou humano, não se esqueça!

Ouçam!

Elas ouviram um roças atrás da porta. Oh, oh!

– Quem está aí?

Quem está em todos os lugares. Mas saí. Chamei a atenção demais delas, era hora de me distrair um pouco, depois das moças terem chamado a minha atenção.

Perdi o resto da reunião, mas um penetra já ouviu demais. Foi uma boa conversa, mas sentia falta do que você pode chamar de "casa". Aspas, por quê? Diga-me, leitor, por que diabos você sairia de seu apartamento para morar no subterrâneo de um teatro?

E por que eu o fiz? Eu sou um fantasma! Sempre há mortes em meu caminho!

Joseph Buquet estava no meu caminho.

Estava.

Eles perceberam, e quando foram desamarrar a corda, ela havia sumido. E os jornais franceses hão de falar: "Fantasma ataca outra vez! Joseph Buquet é enforcado!".

Logo, todos os camarins assim como o teatro em si ficaram escuros. Morte. Escuridão. Sangue. Caro diário, estas três palavras resumem a vida de um deformado fantasma!