22/01 - Terça-Feira


Hoje, novamente, eu fui na casa de Bina, depois da aula. Durante a aula de química ela me chamou para ir até a casa dela pois nós teríamos uma conversa que poderia me ajudar. Sem fazer nenhuma objeção, eu aceitei.


Eram cinco e meia quando eu bati a sua porta. Bianca atendeu, usando um pijama estranho azul com branco bem comprido, parecia o pijama de um velho senhor.

─ Tá tudo bem? ─ perguntei, olhando para a cara dela que estava sem nem um pingo de maquiagem e ela estava com um ar cansado.

─ Estou ótima, entra aí ─ falou, abrindo mais a porta para que eu passasse.

Como na primeira vez que fui lá, os pais dela não estavam em casa e tudo estava tão silencioso que parecia que ela morava ali sozinha.

─ Onde estão seus pais? ─ indaguei rapidamente, enquanto eu seguia ela pela escada, até o seu quarto.

─ Trabalham o dia todo ─ explicou, sentando-se em sua cama e dando uma batidinha no lugar ao seu lado para que eu me sentasse ali ─ A casa fica meio solitária e vazia, eu sei.

Limitei-me a acenar com a cabeça e dar um sorriso mínimo. Pude ver em seus olhos o quanto ela odiava não ter a atenção necessárias de seus pais, mas não comentei nada.

─ Então, sobre o que vamos conversar? ─ perguntei, me sentando do lado dela.

─ Acho, que todo o seu problema, Alex, não é culpa sua ─ murmurou ela, segurando minhas mãos ─ Acho que as pessoas te julgam pelo modo como você age.

─ Também acho isso! ─ exclamei, em total concordancia ─ Só porque eu não sou como as outras pessoas todo mundo acha que eu tenho algum problema. Mas eu não tenho.

─ Sei que não tem ─ apoiou ela, balançando a cabeça ─ Então, sei como te ajudar, e é muito fácil. Vamos tornar você uma garota normal. O que acha?

De todas as pessoas que eu conhecia a única pessoa que me entendeu foi Bina, naquela frase, ela descreveu toda a verdade. E se ela estava, ali, disposta a me ajudar, e fazer todos entenderem que eu não tinha problema nenhum, então...

─ Uma ótima ideia! ─ exclamei, animada ─ Por onde começamos?

─ Bem...

Mas Bina foi interrompida pelo toque do meu celular. Era Val, então pedi licença e fui atender o telefonema do lado de fora do quarto.

─ Oi Val ─ cumprimentei, tentando não falar muito alto.

─ Onde você está, sua doida? ─ gritou ela, do outro lado da linha ─ Eu e Lizzie passamos a tarde toda atrás de você e não te encontramos. Onde você está?

─ Eu, hm... ─ hesitei. Não sabia se deveria falar ou não sobre o lance de eu estar na casa de Bina ─ Eu não estou em casa.

Isso eu estou vendo porque eu estou no portão da sua casa! ─ resmungou ela ─ Onde você está?

─ Ah, eu... ok, eu estou na casa da Bianca ─ respondi de uma vez.

─ VOCÊ FICOU MALUCA?! ─ gritou ela ─ VOCÊ ANDA TOMANDO SEUS REMÉDIOS? ELA TE LEVOU A FORÇA PRA AÍ, NÃO FOI? NÃO FOI?

─ Não! Eu vim porque eu quis! ─ exclamei ─ Val, a Bina mudou. Ela agora é tipo uma amiga.

─ Você é uma tremenda de uma burra se estiver acreditando no que ela te diz! ─ exclamou ela de volta ─ Você está fazendo isso?

─ Sim, estou! ─ afirmei, agora deixando a voz mais alta ─ Eu julgo os outros pela aparência, só lembro dos erros que eles cometeram e o que vale é o meu julgamento, os sentimentos dos outros não conta! ─ então abaixei o tom de voz na próxima frase ─ Era isso o que você queria que eu te dissesse?

Val não respondeu nada, o que gerou em um silêncio onde só podia se ouvir nossa respiração.

─ Eu não ia dizer isso... ─ começou ela

─ Mas é o que pensa de mim ─ completei ─ Tchau, Val.

Fechei a ligação e desliguei o celular, para que ela não ficasse me ligando. Coloquei o aparelho dentro do meu bolso e voltei para o quarto de Bina, onde parecia que ela não ouvido nada.

─ Então, podemos continuar? ─ perguntei, me sentando ao lado dela.

Bina assentiu e começou a me explicar tudo o que eu deveria fazer. Como me vestir, como me portar, como fazer os outros verem que eu não era louca.

* * *

Mais tarde, já em casa, pus em prática o primeiro exercício que Bina pediu pra eu fazer.

─ Faça um vídeo falando sobre os defeitos das pessoas com as quais você convive, tipo, como se elas fossem a câmera. Ajuda muito a desestressar ─ falou ela.

Peguei a câmera que eu tinha, digital e sem graça, coloquei no tripé que Bina me emprestou e virei para a direção da minha cama, onde me sentei.

Respirei fundo e comecei a falar tudo o que eu pensava. Depois do vídeo feito, armazenei no meu computador e enviei para Bina, pensando, no quanto ela acharia aquilo tudo muito engraçado, assim como eu.

Aléxia