"Tenha uma noite Nathalie Kennedy..."

"Se esse era o único jeito de te mandar de volta para onde você merece, então que assim seja!"

"Claudio, não! Não!"

Nath! Ei Nath, acorda! Acorda!

Abri os olhos encontrando o rosto preocupado de Diego acima do meu. Me ergui, cobrindo o rosto com as mãos e em seguida passando-as pelo cabelo encharcado de suor. Tentei me concentrar e focar em Diego, mas minha cabeça trabalhava a mil, buscando cada fragmento de lembranças daquele dia.

– Ei. - Diego me puxou para um abraço - Calma Nath, já acabou. Foi só um sonho.

Só um sonho...

– Que horas são? - perguntei.

– 4:22. Não se preocupe, eu não estava dormindo.

Já tinha se passado um mês inteiro desde o dia em que derrotamos Nyx, mas as baixas foram grandes e a dor da perda maior ainda. Não que os outros não tivessem perdido amigos e irmãos que gostassem muito, mas eu vi o meu irmão se perder novamente. Desde aquele dia eu tinha o mesmo pesadelo me assombrando, um tipo de joguinho em minha mente que não queria parar nunca. Tudo bem, as coisas voltaram tecnicamente ao normal já que o acampamento foi reconstruido e a maioria de nós tinha voltado as suas rotinas habituais, porém nada daquele dia conseguia ser esquecido.

Levantei e fui em direção ao banheiro com o objetivo de tomar um banho frio para acabar eliminando qualquer vestígio de sono que ainda estivesse em mim. A água percorria meu corpo, levando qualquer vestígio do pesadelo e me deixando entorpecida, o que era tudo o que eu precisava no momento.

Vesti um short jeans e uma camiseta branca e sai do chalé, sem me importar com Diego ou o que ele iria falar. Só queria ficar sozinha por um tempo. Um tempo que se alongava muito. Fui até a praia dos fogos e sentei na areia de pernas cruzadas. Agora eu estava usando o anel do Claudio na mão esquerda e minha corrente ainda permanecia no seu lugar de costume.

"- Nath, está tudo bem. Acabou Nath, acabou.

–E o que isso custou Fer? Custou a vida do meu irmão! - falei entre meus constantes soluços. - Eu o perdi pela segunda vez...

– Eu sei Nath, eu sei. - Fer me abraçava com força.

Peguei minha corrente e o anel de Claudio, encarando ambos objetos com lágrimas nos olhos.

– Eu juro. Nunca mais usarei isso. Por ele. Nunca mais usarei a foice..."

Eu iria cumprir esse juramento específico. Foi graças a foice que meu irmão agora estava em algum lugar do Tártaro e pelo que eu sabia da história era impossível sair de lá.

– Vejo que está sozinha...

Me pus de pé rapidamente, me virando para o homem. A principio fiquei em dúvida, mas sim, aquilo era de fato real. Retomei a postura rapidamente e entrelacei as mãos nas costas.

– Oi pai...

– Sinto muito pelo seu irmão Nath, mas ele fez um sacrifício necessário.

Mordi o lábio inferior com força antes de encarar Hades novamente. O deus permanecia impassível e com postura rígida, autoritário até, mas não me dei por intimidada.

– Não precisa vir até aqui só pra dizer o que foi e o que não foi necessário. Só me deixe sozinha Hades, já perdi muita coisa por uma maldita vida. Até o Athos eu perdi! - esbravejei.

Meu cão infernal também havia morrido naquele dia. Não ter mais sua presença perto de mim só contribuía para deixar um vazio quase irreparável, e meu pai não precisava contribuir para piorar meu humor.

– Sim eu sei, por isso estou aqui. - Hades assoviou e e um grande cão negro parou ao seu lado. - Ele anda fazendo muito barulho lá no mundo inferior.

Não pude evitar de abrir um sorriso quando o enorme cão veio ao meu encontro. O cão infernal quase me derrubou no chão, - não seria a primeira vez - mas ainda assim abracei seu pescoço peludo.

– Obrigado pai.

Hades assentiu e desapareceu na escuridão. Agora eu tinha Athos de volta o que me possibilitava a tomada de uma escolha que a muito eu queria por em prática.

*****

Preparei minha mochila ainda naquela tarde, esperando que a noite chegasse. Obviamente Diego estaria acordado por bastante tempo, portanto a deixa foi dada quando ele foi até o chalé 1 procurar por Isa. Sai apressadamente em direção a colina meio-sangue com Athos atrás de mim. Eu não podia olhar pra trás, se olhasse eu voltaria atrás e não conseguiria levar isso até o fim. Eu queria ir, queria conhecer o mundo, queria me sentir livre. Mas não seria possível se eu ainda estivesse atada ao acampamento.

– Pretendia ir sem se despedir?

Parei abruptamente no mesmo lugar. Me voltei para Fernando que estava sorrindo com seus olhos verdes que sempre me faziam perder o rumo do raciocínio.

– Pra falar a verdade sim, mas você acabou com o plano.

– Pelo menos isso. - ele falou enquanto se aproximava - Quer mesmo ir Nath?

– Sim... Eu preciso ir. Preciso esquecer de tudo o que aconteceu.

Ele assentiu com um olhar triste. Aquilo era doloroso, mas eu precisava fazer. Tinha que dar um tempo nessa vida de semideusa, talvez até voltar a morar com minha mãe até me formar.

– Você pretende voltar? Sabe, algum dia? - ele perguntou.

– Talvez eu volte. Mas sempre vai saber como eu me importo com você e com os outros.

Ele pegou meu rosto com as mãos e selou seus lábios no meu. Aquele seria nosso último beijo por muito tempo, talvez pra sempre. Doía, quase voltei atrás. Se ele tivesse pedido eu permaneceria ali. Mas ele não disse.

– Vá. Mas volte pra mim um dia.

– Eu prometo. - falei, descendo a colina junto à Athos.

Caminhamos sem olhar para trás, apenas seguindo em frente. Precisava de tempo pra superar tudo, só queria andar e sentir a brisa noturna em meu rosto. Lembrei de todos os momentos bons que passei ali, junto aos meus verdadeiros amigos em muito tempo e não pude deixar de sorrir. Só torcia para que eles ficassem bem e me prendi a esse único pensamento durante o resto da caminhada...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.