Diário De Uma Adolescente Tímida

Boas notícias e uma tarde embaraçosa


Hinata estava tão concentrada na aula que nem percebeu o tempo passar até o sinal tocar e indicar o intervalo.

Guardou os materiais usados na terceira aula para dar lugar aos da aula que sucederia em breve.

Quando terminou, sentiu alguém cutucar seu ombro direito. Virou-se para fitar a pessoa cuja havia feito tal ato e não encontrou ninguém mais ninguém menos que Naruto Uzumaki.

Ele estava sentado na carteira atrás da sua e ela nem percebera?! Como era possível?

– Hinata, pode me explicar uma coisa? – ele perguntou, e antes que tivesse resposta sentou-se ao lado dela com um caderno.

Ela não soube quanto tempo ficou sem responder. Provavelmente alguns segundos, mas só se tocou disso quando o loiro à encarou com aquelas enormes safiras, o que fez seu coração disparar mais ainda e suas maçãs do rosto ficarem ainda mais rosadas.

Desviou o olhar para o caderno que fora depositado ali.

– Hai. – foi o que conseguiu pronunciar.

O garoto apontou para um texto do caderno.

– Isso aí. Eu esqueci o que você me disse no sábado sobre isso porque eu perdi minhas anotações – comentou com uma risada sem graça e com uma das mãos atrás da cabeça.

A Hyuuga riu fracamente.

– Não se preocupe, eu explico de novo. – tentou disfarçar sua timidez.

Ao longe, suas amigas assistiam a cena. Elas perceberam quando o Uzumaki correra para conseguir falar com ela antes de qualquer um e saíram de fininho para que a falta delas não fosse notada – o que em qualquer circunstância seria difícil acontecer, levando em conta que Naruto estava sentado ao lado de Hinata e isso a tirava qualquer tipo de atenção sobre o que estaria ocorrendo ao seu redor.

Poucas pessoas permaneceram na sala, o que fazia com que eles estivessem praticamente sozinhos – a menos, é claro, que Shikamaru dormindo encostado na parede do fundo da sala fosse considerado como presença.

– Conseguiu se lembrar? – perguntou a garota, pouco tempo depois de terminar a simples e rápida explicação.

Ele só confirmou com a cabeça e partiu para outro assunto, como se a pergunta nunca tivesse sido feita.

– Se importaria de passar o lanche estudando comigo? – Naruto não fizera a pergunta olhando em seus olhos perolados, mas mesmo assim corou como se tivesse o feito.

– Er... Ah... Tudo bem... – houve uma pausa.

Naruto não disse nada, apenas folheava as folhas do caderno, não necessariamente atrás de alguma coisa.

– Er – ela chamou-lhe a atenção – Por onde quer começar?

~

Hiashi deixara tudo pronto para a reunião. As folhas dos seus planejamentos do dia anterior foram colocadas em ordem, um café com aperitivos estava sendo preparado pela Shizune e Kizashi estava preparando os slides.

Começaria em meia hora.

Resolveu voltar para seu escritório, a fim de não passar a imagem de estar ansioso. Não sabia se isso seria bom na visão dos Uchihas.

Sentou-se à mesa e terminou de ler o jornal. Checou alguns e-mails e por fim, passados vinte minutos, pegou mais alguns papéis e levantou-se.

Antes de sair, olhou a foto de sua esposa e de suas filhas. Ele vai conseguir alcançar seus planos para as filhas, para um futuro melhor e garantido. Elas precisam de Hiashi assim como ele precisa delas.

Ele não iria falhar.

~

– Sakura – um garoto de olhos ônix chamou-lhe a atenção.

Ela deu uma leve truncada.

– Mas que susto, Sasuke – reclamou – Se continuar fazendo tanto barulho as pessoas vão ter ataques cardíacos antes de você conseguir falar com elas – ironizou.

– Elas tem ataques cardíacos só de me olhar. – abriu um sorriso torto.

Sakura revira os olhos e toma mais um gole do suco. Estava começando a perceber como era chato ficar esperando suas amigas voltarem do banheiro. E ficou ainda mais frustrada lembrando que Ino estava lá. “Só para demorar mais”, pensou.

Ela estava sentada no pátio, perto da cantina e razoavelmente afastada de onde os meninos jogavam bola. Afinal, prevenir algum acidente como o do outro dia, com Hinata, era importante quando se queria chegar limpa em casa.

– Você viu o Dobe? – perguntou Sasuke, que ainda estava em pé perto de Sakura.

– Na sala, estudando – respondeu e, em seguida, mordeu outro pedaço do sanduíche. Ela pode jurar que escutou um resmungo “Que irritante”.

Sem mais nenhuma palavra, ele começa a andar em direção à sala. Infelizmente, a menina só percebe que ele não está mais lá quando começa a reclamar com o vento e as pessoas passam a encará-la de forma estranha.

Sakura olha para trás e não vê mais a silhueta do moreno.

Ela devia ignorar, afinal, ele não estando ali significava “paz”. Contudo, obrigou-se a levantar e ir atrás o mais rápido possível.

~

Sasori tinha acabado de sair de KHS. Sua vó o matriculara na nova escola por pedidos do próprio. Chiyo questionou: “Por quê? A Spence High School é uma ótima escola”. Mas ele respondeu que é porque ele queria algo melhor. Uma escola com novas atividades e desafios. Mas é claro que era mentira.

Ele estava indo para KHS para executar a primeira parte do plano da Akatsuki que lhe fora imposta.

Mas sua avó acreditou bem na mentira. Seu neto sempre tirou notas boas na SHS, por que ele não poderia querer mais?

Por estar no final de junho, Sasori deveria esperar mais um mês inteiro (as férias) antes de começar seus estudos na nova escola. Mas isso não era problema para ele, sempre foi paciente. O único problema, talvez, fosse outro membro da companhia clandestina que quisesse que as coisas fluíssem mais rápido.

Todavia, o ruivo quer fazer tudo de forma discreta e sem deixar pistas. E começaria por Sakura.

~

Bate o sinal da última aula.

Naruto guarda as coisas e espera a maior parte das pessoas saírem da sala para ir falar com Hinata.

Como Sasuke dissera, ao interromper seus estudos no meio do lanche que não haveria treino no dia, pois Gai-sensei e Lee estariam em uma competição de atletismo. Decidiu então perguntar a Hinata se ela poderia ajudá-lo a estudar para as últimas provas.

– Hina! – ele chamou. Mas ela aparentemente não escutou.

Sakura chegou perto dela e começou a conversar alguma coisa que o loiro não conseguia escutar. Então, se aproxima.

– ... eu tentei impedir ele, mas não deu tempo. – Sakura termina de falar.

– Impedir quem de fazer o que? – Naruto se intromete.

– Nada – resmunga Sakura. – Diga logo o que você quer.

A rosada o pediu, achando que ele queria falar com ela (como em 90% dos casos). Contudo, havia se enganado.

– Ah – ele se vira para Hinata – Está livre hoje à tarde? Queria saber se podemos estudar na biblioteca.

As duas se encaram e a Hyuuga cora.

– Eu... Vou avisar meu pai – ela sorri timidamente.

– Tudo bem! – Naruto diz animado – Estou indo com o Teme para uma lanchonete. A gente se encontra em meia hora?

Hinata confirma com a cabeça e o loiro começa ir em direção a porta.

– Tchau, Sakura-chan! – ele olha para trás quando para. Naruto queria dizer alguma coisa, mas não era tão importante e acabou esquecendo, logo, apenas se vira e some de vista.

~

– Muito bom, Sr. Hyuuga – Fugaku elogia.

Hiashi mantém a postura ereta e seu rosto sereno, mas guarda um orgulho de si próprio no peito.

– Dadas todas suas considerações, acredito que estamos mais avançados com os planejamentos do que imaginei – o Uchiha continua e abre um meio sorriso – Acredito que não seria um problema se adiantarmos a festa de declaração pública sobre os novos investidores das empresas Haruno.

Hiashi não impede um sorriso satisfeito e encara seu sócio.

– O que acha da ideia, Kizashi?

– Adorável. – responde o Haruno – Pode providenciar tudo, Hiashi?

– Com toda certeza.

– Ótimo – pronuncia Fugaku, se levantando da cadeira – Acredito que, ao invés de marcarmos para algum dia no final de julho, possamos adiantar para o meio do mês.

– De acordo – diz Kizashi e dá uma piscadela discreta para o sócio.

Hiashi queria que o irmão estivesse ali. Hizashi adoraria ver a expressão de deleite de Fugaku diante daquela reunião. Mas ele não estava presente para poder organizar o aniversário do seu filho, que seria naquele sábado, então Hiashi disse que cuidaria de tudo.

Todos saem da sala, com exceção de Shizune, que entrara para deixar a sala arrumada novamente.

Tudo está correndo bem. E Hiashi se sente aliviado por isso.

Chega em sua sala e senta na mesa, com um sorriso no rosto.

Vê uma mensagem, em seu celular, de sua filha mais velha, dizendo que ficaria na escola para estudar com um amigo. “Aquele lá”, pensa Hiashi.

Responde o SMS com uma frase simples: “Ok. Não se atrase para o jantar”. Em seguida, deixa o aparelho no outro canto da mesa.

Porém, ele teve uma ideia. Pensou em sair do trabalho mais cedo e ir buscar tanto Hinata quanto Hanabi na escola. Há quantos anos ele não fazia isso? Como estava feliz e empolgado, achou que seria maravilhoso o fazer.

Pega o celular novamente e digita uma nova mensagem:

“Vou buscar você e Hanabi às 18h00. Vamos jantar em um restaurante para variar um pouco a rotina. Avisarei seu tio e seu primo, para ver se eles querem ir conosco.”

Coloca o celular na mesa novamente e vai responder seus e-mails. Todos os 156, para ser mais exato, que ele não tinha conseguido responder antes da reunião.

A maioria não tinha importância: anúncios, propagandas de produtos, spams. Respondeu alguns e-mails de clientes com dúvidas e, quando estava no fim, viu um de Itachi. Não conteve sua ansiedade ao abrir.

“Sr, Hyuuga

Eu tenho novas descobertas sobre Pain.

Pra começar Akatsuki é uma corporação clandestina que tem suas próprias regras e leis. Não se sabe quantos membros tem, mas conta com conjuntos e/ou grupos que os apoiam em toda área do país. Não se tem conhecimento de onde é sua localização ou se há mesmo um QG.

Pain entrou três anos antes de sua esposa ser assassinada, ao invés do senhor. Tudo me leva a crer que eles estavam combinando o ataque por um bom tempo. E tem mais: acho que te afetaram de outras formas, não só com o suposto ‘acidente’.

Sugiro que verifique suas transações bancárias, ações da empresa e prejuízos inexplicáveis durante esse período de três anos. Talvez encontre algo mais do que eu tenha acesso.

Passar bem.”

Não era algo ao todo positivo, mas era alguma informação nova, não é mesmo? Tecnicamente, outra boa notícia. Uma explicação possível para quaisquer detrimentos que encontrasse.

Hiashi suspira.

Não tem nada dando errado.

~

Hinata já tinha almoçado e esperava em uma mesa da biblioteca, lendo um livro em silêncio, Naruto aparecer para eles começarem os estudos.

Não demorou muito para ela perceber que ele havia chegado, afinal, ele tropeçou no meio do caminho e muitos fizeram “shhhhh” em pedido de silêncio.

Ele senta ao seu lado.

–Desculpa a demora. – bufa – Sasuke não acredita que eu esteja realmente estudando com você. Mas cara, o que mais eu poderia fazer? – o loiro ri.

Hinata cora com a ingenuidade dele.

– Não demorou. Até que nem percebi a hora passar. – diz sincera, tentando afastar a timidez causada pelo comentário do garoto.

Ele sorri e pega suas coisas na mochila: caderno, estojo, folhas aleatórias com anotações de todos os tipos e... Um salgadinho.

– Amanhã temos as duas últimas provas, mas que são as mais demoradas – comenta ele – Até que horas você pode ficar?

– Eu vou ficar até às 18h00 – A Hyuuga responde, lembrando-se da segunda mensagem de texto do pai. – Temos tempo de sobra. Vai dar até pra você treinar fazendo alguns exercícios – sorri de forma simpática.

Hinata inicia falando o básico da matéria enquanto Naruto anota as partes que ele considera importante e as partes as quais ela diz serem importantes.

Passam por volta de mais meia hora. A morena está se sentindo ligeiramente desconfortável com a bagunça nas anotações do garoto, então decide perguntar:

– Você não vai se perder na hora de estudar?

– O que? – o Uzumaki não entende a pergunta de primeira, mesmo ela estando a apontar para as folhas.

– Não vai se perder com essa desorganização toda? Talvez você ainda tenha tudo o que escreveu enquanto estudava, mas não encontrou quando precisou – comenta ao se lembrar que explicou tudo novamente para ele naquela manhã, pois ele havia perdido uma “informação”.

Ela pega algumas folhas dele com explicações bagunçadas que não seriam necessárias naquele momento e apanha novos papéis para passar a limpo.

Naruto observa ela começar a escrever e segura sua mão, tentando impedi-la.

– Não precisa não, eu não vou me perder. – o loiro não diz com convicção.

A Hyuuga olha para cima ao parar de escrever e seu rosto fica próximo ao dele. Ela ruboriza.

Há um silêncio. O pouco barulho no resto do ambiente se esvai. Os dois se encaram por longos segundos.

A morena percebe que o Uzumaki está se aproximando lentamente do rosto dela.

Ela se perde naquelas safiras azuis, que lhe encaram com o que parece ser desejo. Pela primeira vez, o Naruto inocente e idiota que ela conhece some.

– Aqui dentro não são permitidos demonstrações de afeto entre casais – uma das bibliotecárias da escola está olhando feio para os dois.

– Não somos um casal! – protesta Naruto, totalmente corado.

A Hyuuga teria percebido essa ligeira mudança na cor do rosto do amado, porém ela havia desviado o olhar com o “flagra” da mulher.

– Uhum. Sei. E não grite na biblioteca. – ela resmunga e desaparece ao voltar a procurar o que precisa em meio às estantes.

Dessa vez, o silêncio que se estabelece é de pura vergonha.

Naruto toma a frente.

– Onde estávamos? – pergunta, mas logo se arrepende ao ver o maior constrangimento da Hyuuga – Não! Eu quis dizer... Não era isso e... O que você estava me explicando?

Hinata respira fundo e repete mentalmente a palavra “foco” antes de encontrar voz e continuar a explanação.

~

(...)

Naruto agradeceu e despediu-se de Hinata. A viu entrar no carro do pai acompanhada de Hanabi e ficou observando o carro até sumir de sua vista.

No que ele estava pensando? Ele quase beijara Hinata. A única menina que um dia ele sonhara em beijar era Sakura. Sakura Haruno, a menina cujos cabelos eram rosados. Não a morena, linda, gentil, simpática e sexy Hinata Hyuuga.

Ele balança a cabeça a fim de afastar esses pensamentos.

Começa a andar de volta para casa, sem um pingo de pressa.

“Eu preciso de um banho gelado”, reflete e lembra do rosto corado da menina. “Urgente”.

~

“Mamãe,

Hoje foi um dia... incrível. Estudei com Naruto por várias horas, além de ele ter pedido ajuda no intervalo! Estou tentando acostumar a ajudá-lo sem ficar vermelha, apesar de ser bem difícil.

Hoje também aconteceu uma coisa bem intrigante: ele foi falar comigo no final da aula, e não quis papo com a Sakura... Será que ela deu outro fora nele e o deixou chateado?

Eu fico me perguntando o que teria acontecido se a mulher da biblioteca não tivesse aparecido... Mas isso é passado e não posso ficar presa à essa lembrança. Não deve ter sido o que eu imaginei... E se foi, ele não vai repetir isso. Ele ama a Sakura.... Já me acostumei.

Papai foi muito gentil e tivemos uma noite muito agradável. Rimos bastante e nos divertimos como não fazíamos desde quando você se foi. Isso me leva a crer que as coisas na empresa estão dando certo. Ele nunca esteve tão animado. Ele até sorriu algumas vezes, assim, do nada!

Fico feliz com o rumo que estamos seguindo e superando desde que você se foi.

Assim que começarem as férias, lhe levarei as suas flores preferidas: lírios.

Beijos com muito amor e carinho

Hinata Hyuuga”