Rachel sentiu seu corpo ser sugado, era como se ela tivesse sendo colocada em um pote e coisas desconhecidas eram encaixadas em sua pele, como uma sujeira que ela não conseguia limpar. Seus olhos estavam fechados, mas imagens não paravam de passar em sua mente, como lembranças nunca vividas, porém muito reais. Lugares, pessoas, roupas, sapatos nunca vistos antes. Tudo era enfiado em sua cabeça como agulhas espetando seu cérebro, sua garganta fechava e suas narinas não podia puxar o ar. Ela sentia-se sufocando, aquela sensação era tão intensa que parecia que nunca acabaria, era uma eternidade que passava em milésimos de segundos.

—O que está acontecendo?

—Nada!

— Porque Kurt está bravo?

—Porque você tentou mordê-lo?

O barulho da queda d’agua, a voz de Jesse, seu sapato batendo da pedra, as folhas balançando, a borboleta pousando em uma flor. Nenhum som estava despercebido, ela conseguia ouvir tudo que aquela imagem lhe mostrava. Era um som tão alto que doía sua cabeça.

—Do que você tem medo, Jesse?

—De perder você!

O toque frio daquele homem e a expressão de medo, estavam gravados em sua memória. O tom escuro daquela casa e o rugido da escada. Todas as sensações estavam sendo implantadas em seu corpo.

Rachel abre os olhos na tentativa de aquelas imagens e vozes pararem, mas então olhos verdes e cabelos loiros tomam forma em instantes, um beijo caloroso acompanhado de pequenos gemidos se formam em cima de uma cama.

— Acho que preciso que você saiba. — Disse Quinn parando de beijar Lea.

— Que? — A morena sacudiu a cabeça e olhou nos olhos dela.

— Você me contou seu segredo, acho que devo fazer o mesmo. — A loira saiu de cima dela que ajeitou o vestido e jogou os cabelos para trás.

—Vai me dizer que é um lobisomem? — Lea debochou e Quinn soltou um sorriso.

— Não.

—Então?

—É que eu ... Nunca fiquei... Intimamente com ninguém. — Quinn gaguejou e Lea frisou a testa fechando o sorriso debochado.

— Hum ... Belo segredo senhora Quinn. — Lea molhou os lábios. ­—Quase tão assustador quanto ser um lobisomem. —Quinn apertou os olhos. — Ele surgiu em um momento propício. — Lea se levantou da cama. — Não acho seguro nos beijarmos, muito menos, tentarmos transar.

— Eu já disse que confio em você. — Quinn segurou o braço dela e passou a mão em seu rosto. Lea empurrou a mão dela e caminhou para porta. — Você vai embora? —Quinn falou incrédula.

— Sim — Ela falou olhando por cima do ombro.

— Por quê? —Quinn perguntou e a vampira parou com a mão na maçaneta.

— Não seja tola. Nos conhecemos a pouco mais de dois meses. —Ela olhou por cima do ombro. — Você é uma criança e pode ter um momento digno com uma humana que vai saber fazer isso melhor que eu. — Quinn se aproximou.

— Não quero uma humana e você sabe disso. — Quinn envolveu a cintura dela com seus braços, cheirando seu cabelo em seguida seu pescoço.

— Pare Quinn. Precisamos parar com isso. É tudo uma grande loucura.

— Por quê? Estamos apaixonadas, você me contou do seu segredo eu aceitei. Porque está relutante com o meu. — Lea virou de frente para ela.

— Isso não tem a ver com ... — Lea gaguejou lembrando que a mulher a sua frente nunca tinha ficado com ninguém, apesar de ser incrivelmente linda. Ela balançou a cabeça e tentou se concentrar no que dizia, mesmo os seios descobertos tirassem sua atenção. —Quinn eu quase mordi você, foi por isso que te contei, e eu não faço ideia do por que você aceitou e ainda quer continua com isso.

— Você não me mordeu e nem vai me morder. — Ela aproximou suas bocas. —Eu quero continuar com isso, porque estou apaixonada. —Lea se afastou tirando as mãos dela de sua cintura.

— Quinn o cheiro do seu sangue me motiva todos os dias a vir aqui. — Quinn sorriu.

— Você acha que é isso? Eu penso diferente...

—É isso. —Lea empurrou a humana, já que ela insistia em ficar próxima o que fazia a vampira tremer.

—Eu acho que está apaixonada, assim como eu. —Quinn cruzou os braços com sorriso bobo no rosto. A vampira ignorou aquela afirmação.

— Jesse vai te matar se eu não fizer isso antes. — Lea se virou novamente para a porta saindo do quarto e sumindo da casa antes que Quinn pudesse impedi-la.

Rachel abre e fecha os olhos várias vezes, mas as imagens não paravam de surgir. Não havia passado nem um minuto que a menina estava mergulhada em águas e tudo que ela queria era sair dali. Ela não sentia seu corpo e suas lembranças pareciam ser substituídas por outras que ela nunca viveu. O barulho era estrondoso e sua cabeça parecia que explodiria a qualquer momento.

— Por quê? — Perguntou Lea surpreendendo Quinn que estava sentada no sofá lendo um livro.

— Você voltou. —Quinn sorriu ao perceber que era sua amada encostada na pilastra que dividia o corredor da sala. O vestido branco com detalhes azuis a deixava com ar de tão menina que a humana se recusava acreditar no que a vampira dizia sobre si.

— Sim, mas só vir para me despedir. — Quinn levantou deixando o livro no sofá.

— Se despedir?

— Sim, não nos veremos mais. Você ainda é uma adolescente e precisa viver sua vida... — Quinn a interrompeu com um beijo que a fez tremer como jamais havia tremido com nenhum beijo.

— Te amo. — Ela disse após soltar os lábios da morena deixando a vampira mais humana que ela. — Fique comigo Lea. Sei que você sente o mesmo por mim.

— Você é louca! Eu não posso! — Ela deu dois passos para trás. — Há dois meses eu matava sem piedade, bebia mais sangue que dez vampiros juntos. Não é possível que você não tenha medo de mim.

— Podemos superar isso juntas. — Quinn segurou na mão dela. — Não corra de mim novamente. Eu posso cuidar de você.

— Cuida de mim? —Lea soltou uma gargalhada. — Você não cuida nem de você Quinn. —O sorriso se fechou e ela encarou os olhos a sua frente. — Eu estou com sede e sangue é o que minha comida.

— Então coma. — Quinn estendeu o braço.

—Que? —Ela arregalou os olhos. — Ficou louca?! —Ela a empurrou. — Não vou me alimentar de você.

— Podemos fazer isso juntas.

— Não!

—Mas Lea, não quero ficar longe de você. Se é sangue que você precisa, então eu te ofereço o meu.

— Adeus Quinn! —Ela saiu da casa antes de lágrimas começarem a escorrer pelo rosto.

Rachel sentia cada sensação de Lea, cada dor, medo, angústia, indecisão. Todas as vezes que a vampira tentou se afastar para manter a vida de sua humana em segurança. Porém aquelas sensações eram muito mais que emocionais, eram físicas, lhe causavam dor, muita dor. Ela queria gritar, mas a consciência de seu corpo já havia se perdido. Tudo era escuridão e lembranças desconhecidas. Rachel sentia como se aquilo fosse seu fim. As agulhas entravam fazendo sua cabeça não ser nada além de uma massa de dor e lembranças.

—Quinn já disse que eu não consigo. — Lea falou empurrando-a de cima dela e saindo da cama.

—Lea deixa de ser boba e volta aqui! — Disse Quinn com sorriso no rosto.

—Não! Eu não vou conseguir. — Ela andava de um lado para outro do quarto com os dedos entre os fios longos de seus cabelos escuros.

—Como pode saber? Sempre que o clima esquenta você foge de mim.

—Claro! Eu tenho medo de acabar te mordendo.

—Se você me morder eu grito.

—Deixa de ser debochada, Quinn!

—Não é deboche. Vem! — Quinn levantou da cama e foi de encontro a ela, fazendo-a para de andar pelo quarto.

— Não estou tomando as ervas a tanto tempo. Preciso de mais tempo, você sabe disso. — Quinn jogou o cabelo da vampira para trás, pegando em suas mãos e tirando a mecha que caia sobre o seu rosto. — Porque está sorriso desse jeito bobo?

— Estou feliz. —Ela beijou as mãos macias da vampira. —Você me deixa feliz, menos quando você vai embora.

— Como se adiantasse. Eu sempre volto. — Ela sorriu e passou a mão no rosto d a loira.

— É porque você é minha. —Ela beijou sua mão. —Agora vem. Vamos ficar na cama, ainda é cedo e você não precisa ir embora. — Ela puxou a vampira que caiu em seu peito a fazendo andar para trás até cair na cama. Um beijo romântico era dado pelos lábios apaixonados.

— Eu nunca transei com uma humana. — Lea falou após soltar os lábios de Quinn que tinha as mãos acariciando as costas da vampira. — Não sei o que devo ou não fazer. Não sei se consigo. Posso te machucar, posso te ferir, posso... —Ela colocou as pontas dos dedos nos lábios dela impedido que continuasse.

— Você quer? — Quinn perguntou, e o brilho dos seus olhos encheu Lea de vida.

— Você sabe que sim. — Ela sussurrou sentindo as mãos da loira subirem pela sua cintura e abrirem seu espartilho.

— Então me deixe tentar. — Quinn colou seus lábios nos dela e puxou o espartilho deixando-a com seios desnudos. Ela pensou em hesitar, mas ela queria tanto estar com ela daquela maneira que seus lábios não questionaram. Quinn a jogou para baixo de seu corpo a beijando com ternura. Seu toque era tão delicado quando seus beijos. Ela afastou os lábios dos da vampira por um segundo e estudou a expressão apaixonada da mulher que mesmo sabendo que aquilo não era possível sentia seu coração acelerado. —Vai ser um privilegio ser a primeira humana a tocar em seu corpo. —Lea sorriu, passando a mão nas costas da mão no rosto dela.

—Vai ser um prazer ser sua primeira mulher. Um prazer maior do que qualquer outro.

A dor parece derreter seu cérebro. Tudo que ela sabia sobre ela, parecia sumir, como se uma onda levasse para longe todas as imagens de sua família e amigos. Tudo que ela viveu até aquele momento estava desaparecendo, até mesmo, o motivo pelo qual ela estava naquela fonte tendo suas memórias arrancadas.
Seus sentimentos ficam confusos até que desaparecem dando espaço para outros que ela nunca imaginou sentir. A voz de Noah começa a tomar seus ouvidos e todas as outras vozes somem. A água que cobria seu corpo a joga para cima e ela cai sobre os pés de Noah.

— Rachel! — Noah abaixa a colhendo a em seus braços. A menina cospe água tossido desesperadamente. — Você está bem? — Rachel levanta a cabeça e encontra os olhos de Noah preocupados.

—Noah adorei o presente. Obrigada! — Falou Lea balançando a pulseira em seu braço.

— Imaginei que você fosse gostar. — Ele a puxou pela cintura aproximando-a de seu corpo. — O que quer fazer hoje?

— Não sei. Ainda estou me sentindo estranha. O que você quer fazer?

— Te beijar e beijar e beijar.

— Bobo. — Ela virou o rosto e ele segurou seu queixo.

— Não vou forçá-la. Vai ser quando você quiser.

— Obrigada! Vamos ao jardim?

— Ótimo! Vai indo que preciso falar com Emily.

— Tá bom. — Lea saiu do campo de visão de Noah que seguiu para o quarto de Emily.

— O que você quer me contar Emily? — Noah perguntou da porta evitando entrar naquele quarto.

— Encontrei a alma de Diana.

— Que? — Noah perguntou quase em um grito. Ele entrou no quarto se aproximando de Emily sem perceber.

— Mas a alma está dividida. Não te contei antes, pois precisava ter certeza.

—Como assim dividida?

— Duas almas reencarnaram, cada uma com uma metade da alma de Diana.

— Como isso é possível?

— Não sei, talvez a morte trágica...

— E onde estão os pedaços? Como fazemos para juntá-los?

— Um deles está bem perto de você e outro eu ainda não sei.

— Bem perto de mim? Seja clara, Lea está me esperando.

— Lea? Quanto tempo vai ficar brincando de casinha com essa vampira? Pensei que de tolo, já bastasse Jesse.

— Não se meta nisso.

— Ela ama a humana.

— Que está morta.

— Que foi morta por ela, segundo o que ela nos contou antes de você a fazê-la...

— Cale-se que ela pode ouvir.

— Acha mesmo que hipnotizá-la para tirar a dor de ela ter assassinado alguém é o certo a se fazer?

— O que queria que eu fizesse? Ela queria morrer, estava prestes a arrancar seu próprio coração quantas vezes fosse preciso, só para não conviver com a dor de tê-la matado.

—Talvez ela precisasse conviver com dor.

— Ela teria se matado.

— Ela não consegue se matar. Lembra? Jesse se assegurou disso anos atrás.

—Aposto que ela encontraria um jeito.

—Ela não encontrou daquela vez.

—Ela não queria morrer de verdade. —Emily soltou um sorriso balançando a cabeça. —Não poderia deixá-la naquele estado.

—Noah ela não te pertence, ela é casada com Jesse e ama uma mulher.

— Uma mulher que está morta.

— Jesse virá buscá-la e então vai contar que a maldita humana foi morta por ela e não que ela preferiu deixá-la viver com um camponês para construir uma família.

—Cale-se! —Noah se aproximou de Emily.

— O que você acha que está fazendo Noah? O que está vivendo é uma mentira! A mesma mentira que viveu quanto não queria enxergar que Diana gostava de Jesse.

— Já falei para calar a boca! —Ele apertou o pescoço de Emily que sorriu vendo Lea na porta do quarto ouvindo toda a conversa.

— isso é verdade? — Lea perguntou surpreendendo a Noah por não ter sentido sua presença, mas então ele lembrou que no quarto de Emily ele perdia muito de suas habilidades.

— Lea ... Eu... —Noah largou Emilly e foi até Lea que sentia seus olhos formarem lágrimas.

— Sem mentira Noah. Eu a matei? Quanto tempo estou na sua casa? Porque mentiu para mim? Por quê? Fala!

— Duas semanas. Eu só queria ajudá-la, você estava...

— Eu a matei, mesmo? Como? — O vampira começou a chorar deixando seus joelhos dobrarem. Emily sorria sentindo prazer em vê-la sofrer, Noah abaixou perto dela abraçando-a. Ela o empurrou. — Me fala como? Me faça lembrar.

— Não precisa lembrar daquilo.

—Agora! — Ela gritou e Noah olhou em seus olhos sentindo medo do que poderia acontecer se ela lembrasse de tudo que ele a fez esquecer.

—Acho que também deve fazê-la lembrar da visita que ela fez em seu quarto. —Emilly falou gargalhando e Noah a repreendeu com olhar.

—O que mais você me fez esquecer? —Lea o olhava com desprezo e Noah sentia uma profunda tristeza, como se aquele olhar o triturasse por dentro. —Faça-me lembrar agora! Agora! —Noah olhou nos olhos da vampira.

— Lembre-se de tudo que a fiz esquecer.

— Você me enganou. — Diz Rachel empurrando os braços de Noah.

— Rachel, não se deixe ser dominada pelas lembranças de Lea. — Diz Noah reconhecendo o olhar da menina.

— Me obrigou a beber seu sangue. — Rachel levantou do chão sentindo seu corpo cada segundo melhor. Noah também ficou de pé.

— Rachel assuma o controle. Essas lembranças não são suas. — Noah segura o ombro da menina.

— Nós transamos. —Rachel solta uma gargalhada e Noah frisa a testa. — Você gostou. Você gostou muito. — Rachel continua gargalhando e Noah molha os lábios.

— Eu não sabia que sua humana era a outra parte da alma de Diana. Se eu soubesse tenho certeza que eu entenderia porque conforme o tempo passava, eu me apaixonava mais por você. Se eu tivesse entendido tenho certeza que nada do que aconteceu teria acontecido.

— Está se referindo a nossa noite de sexo selvagem? — Rachel debochou com sorriso malicioso no rosto. — A qual eu fui tomada pela vontade louca por seu sangue. — Ela passa o dedo no contorno do rosto de Noah que solta um sorriso.

— Rachel assuma o controle de suas emoções senão eu não responderei por mim. — Noah sentia arrepio ao toque da menina.

—Vai me agarrar? —Rachel alisa os lábios de Noah.

— Muito mais que isso. Vou desistir de juntar seu pedaço e te deixar presa aqui para sempre comigo. —Rachel puxa a mão dos lábios de Noah e sorri.

— Já fez isso uma vez, não vai fazer de novo. Vai? —Noah olha para a fonte atrás de Rachel em seguida voltar o olhar para ela.

— Rachel você não é a Lea. Pare de se comportar feito ela. —Rachel frisou a testa e tentou buscar algo dentro dela, mas nada aparecia, a não ser lembranças de Lea. —O tempo está passando precisamos ir.

— Noah não me faça de tola, não de novo. —Ela solta um sorriso. — O tempo aqui não passa. Você me ensinou isso quando me trouxe aqui, nas nossas duas semanas felizes, antes de eu descobrir que você tinha me enganado me fazendo acreditar que eu não matei... — Rachel fecha o sorriso e demora para falar, aquele nome lhe causava dor. — Você sabe.

—Você não matou.

—Muito generoso de sua parte, mas sem mentira dessa vez. —Ele se virou olhando para a fonte. —Quanto tempo se passou? — Ela muda de assunto e Noah segura nos ombros da menina e a sacode.

—Rachel não se deixe dominar, você precisa salvar Quinn, lembra? Por isso que mergulhou ali.

—Quinn? —Rachel fita os olhos de Noah que não conseguia esconder que aquela mulher a sua frente ainda mexia com seus sentimentos, mais do que ele gostaria.

— Jesse te enganou, ele fez você pensar que a humana tinha sido morta por você, quando na verdade ele a transformou em vampira. —Rachel fica calada, deixando se envolver pela última lembrança de Quinn.

—Quinn acorde! Quinn acorde!!

—O que foi amor?

—Preciso de sangue. Preciso do seu sangue.

—Lea, você não bebe sangue a tanto tempo, o que houve?

—Não sei, mas eu preciso, me deixe provar o seu? —Quinn esfregou os olhos e sentou na cama olhando para sua amada.

—Tudo bem, mas precisa ser agora?

—Sim agora. —Lea beijou o pescoço dela e o mordeu.

—Aí. Isso é dolorido. — A vampira sugou o sangue sentindo cada gota alimentar sua alma. —Amor, acho que isso já é o suficiente. — Lea não a ouvia. —Para. Lea chega! — Quinn tentou puxá-la, mas ela grudou os dentes em sua artéria impossibilitando a loira de se mexer sem sentir uma dor ainda maior. —Está me machucando. —Ela não ouvia suas palavras. O sangue a cegava como sempre a cegou.
Gotas e mais gotas eram retiradas daquele corpo que não demorou para começar a desfalecer em seus braços. O coração diminuía a velocidade e ela tentava parar, mas não conseguia, era consumida pela fome de anos sem sangue.— Te am... — Quinn tentou dizer antes do seu coração parar. Lea sugou até a última gota sentindo o gosto amargando no final com sangue sem vida. Ela desgrudou os dentes da carne morta, então percebeu que havia matado tudo aquilo que a tornava viva. O monstro que ela acreditou não ser, que Quinn a fez acreditar que não era, havia tomado conta e havia matado a melhor parte de si.

—Não!!!!!!!!!

—Rachel, olha para mim?! Rachel!! —Fala Noah percebendo que algo acontecia dentro da menina. — Rachel, Lea não matou Quinn! Você sabe disso, ela está com você, lembra? —Rachel passou a mão na cabeça jogando o cabelo para trás e tentando achar coerência nas palavras do vampiro a sua frente. —Você pediu minha ajuda para salvá-la. Agora você precisa assumir o controle, antes que lembranças de Lea te dominem. — A expressão assustada de Rachel se transformou em um sorriso sarcástico.

—Pelo visto ainda existe um vampiro apaixonado por mim. —Ela passou por ele acariciando seu ombro. Noah bufou e tentou conter o sorriso, mas aquela Rachel lhe agradava muito mais que a de minutos atrás. — Vamos, me tire daqui. — Noah balança a cabeça tentando conter os pensamentos.

— Feche os olhos e esvazie a mente. —Ele diz pegando as mãos de Rachel.

—Não sou eu que estou com a mente cheia, Noah. — Rachel fecha os olhos e Noah sorri.

— Pode abri-los. — Diz Noah fazendo os voltar para o jardim de sua casa. Rachel abre os olhos e olha ao redor como se tudo a fizesse lembrar de algo.

— Chega de pique pega. — Ela diz deitando no pé da árvore. — Porque você tem esse jardim no fundo da sua casa?

— Porque eu gosto dele ser só meu.

— Que egoísta Noah. — Ela olhou para ele que deitou do seu lado. — Você não se apaixonou por mais ninguém depois que Diana morreu?

— Não, até você aparecer. — Lea sorriu.

—Porque Jesse a matou?

— Ele nunca te falou? — Noah olhou nos olhos dela.

— Falou que ele perdeu o controle e matou sua noiva.

— Talvez tenha sido só isso para ele, mas foi um pouco mais complexo.

— Conte-me?

— Outro dia agora vamos lanchar aquele chá horrível que Emily faz.

— É quase tão horrível quando o de Kurt. — Lea fez careta. — Você não precisava tomar esse chá comigo, eu não quero mais beber sangue, mas isso não significa que você ... — Noah colocou os dedos sobre os lábios dela.

— Somos amigos. Amigos fazem isso.

— Obrigada! — Lea sorriu e mordeu os lábios. —Você é incrível!

—Não, você que é incrível!

— Rachel! Aqui o tempo está correndo. Precisamos ir. — Noah puxou a menina pelo braço ficando de costas para ela.

—Porque parou de beber sangue? — Rachel fez Noah olhar para trás. —Queria mesmo me conquistar?

—Rachel isso não é hora para lembrar o passado que nem te pertenceu. Agora pare de me aborrecer, antes que eu desista de salvar sua vampira.

Rachel no fundo sabia que Noah falava algo coerente, mas ela não conseguia lembrar. Quinn estava morta para ela e tinha sido morta por suas mãos era somente isso que ela lembrava.

— Vamos pegar sua amiga. — Noah a puxa e ambos passam pelo corredor cheio de pinturas. — Aquele é o quarto. Chame-a. — Ele aponta para o quarto e Rachel frisa a testa abrindo a porta.

— Nossa até que fim! — Diz Britany que andava de um lado para outro. — Essas pessoas são loucas. — Britany aponta para duas senhoras que estavam em pé ao seu redor.

— Saiam. — Diz Noah atrás de Rachel.

— Quem é ele? — Pergunta Britany para Rachel que observa amiga como se nunca a tivesse visto antes. Rachel vira o rosto para Noah.

— Quem é ela? — Noah ergue a sobrancelha.

— Como assim quem sou eu? — Britany se aproxima. — Ficou louca Rachel? Somos amigas desde criança. — Ela pega no braço de Rachel que empurra a mão da menina.

— Tira sua mão de mim. —Rachel fala em tom seco recuando.

— Que? — Britany olha para Noah. — O que você fez com ela?

— Eu? — Noah solta uma gargalhada. — Ela fez isso sozinha. Agora parem de brigar e venham. — Noah se vira e sai andado pela casa. Rachel olha por cima do ombro para a Britany.

—Porque está me olhando desse jeito? A nojenta, antipática sou eu. Qual é o seu problema? — Rachel revira os olhos e anda atrás de Noah. — Calma ai, então é isso? Nós vamos com esse cara sem você nem dizer para onde?

— Quem é ela? — Rachel pergunta novamente para Noah que se divertia com a loira sendo ignorada por Rachel.

— Ela já disse, sua amiga, que você insistiu que fosse com a gente.

— Como assim quem é ela? Você confia nesse cara? Rachel olha para mim? — Britany puxa Rachel pelo braço.

— Me solta. — Rachel puxa o braço sentindo seu sangue ferver.

— Eu fui mordida por um vampiro, tomei remédio estranhíssimo com aquelas mulheres, fui trazida para esse lugar e agora você tá fingindo que não me conhece? Quer que eu diga quantos de seus podres para você parar com essa palhaçada? Rachel olha para mim. Rachel!!Rachel!!

A voz de Britany entrava nos ouvidos de Rachel buscando algo como um nome, nada fazia sentido ela nunca tinha visto aquela garota a sua frente, mas ela sabia seu nome.

— Britany?! —A menina pisca os olhos algumas vezes.

— É. Sou eu, quem mais seria? O que está acontecendo com você? —Noah vira rapidamente para Rachel e sacode seus ombros.

— Rachel?! —A menina olhava para os olhos de Noah mais confusa do jamais esteve. — Você precisa controlar. Se não tudo vai dar errado. Rachel, você precisa ficar no controle. —Ele falava pausadamente, sabia que se Rachel deixasse sua essência ser dominada pela de sua antiga reencarnação tudo poderia dar errado.

— O que você está fazendo? — Britany pergunta assustada com o jeito que o vampiro segurava Rachel. — Meu Deus! Larga ela, você vai machucá-la. Largar! —Britany bate no braço do vampiro que olha para a mão da menina e solta Rachel.

—Você vai ficar com ela lembrando claramente quem ela é. — Noah olha para Britany que sente o medo percorrer sua espinha.

Rachel balança a cabeça e respira fundo esquecendo novamente o nome da garota a sua frente. Eles seguiram para carro.

— Quando essa história acaba nós vamos pegar o Finn e conversar com ele claramente sobre... — Britany foi tagarelando a viagem inteira fazendo exatamente o que Noah havia dito. Rachel olhava para a amiga, mas ela não ouvia nada do que era dito, as vozes de sua cabeça não permitiam.

—Não!!!

—O que foi Lea? — Perguntou Jesse ironicamente de frente para a vampira que começava a gritar.

— Eu não podia, não podia! Por quê? — Lea se jogou no chão e Jesse a baixou em sua frente.

— O que foi meu, amor?

— Eu sou um mostro. Me solta. —Ela o empurrou e correu saindo da sala e seguindo pela mata. Kurt assistia a cena da cozinha e a vampira ainda pode ouvir as vozes deles.

— Tem certeza que vai deixá-la sozinha, depois do que ela acabou de descobrir que... Ela matou sua humana. —O tom debochado de Kurt se finalizava com palavras de remorso.

— Ela merecia morrer. —Jesse soltou um sorriso. — Deixe-a, ela vai voltar. Agora, ela não tem mais para onde ir.

— Pronto chegamos. Pode calar boca. — Noah diz parando o carro.

— Quem são essas pessoas? — Pergunta Britany vendo pessoas na frente do carro.

—Vampiros eles vão ajudar a proteger vocês duas até chegar na casa de Jesse.

— Mais vampiros?! Agora os zumbis me parecem bem mais atraentes. —Reclama Britany.

—Ninguém vai machucar vocês. Apesar de eu achar ótima ideia. —Ele sorri pelo retrovisor e Britany revira os olhos batendo no braço de Rachel que olhava pela janela. —Venham! — Noah sai do carro e Britany puxa Rachel para fazer o mesmo.

Noah falava com seus vampiros telepaticamente que seguiam suas ordens sem hesitar. Eles andavam para dentro da floresta que levava a casa de Jesse.

— Rachel, se concentre no que veio fazer aqui — Noah falou em algum lugar distante.

—O que veio fazer aqui Quinn? Se Jesse te ver ele vai te matar. —Lea falava segurando o braço de Quinn a tirando da floresta.

—Não vou deixar você partir novamente.

—Não tem escolha. Agora vai embora.

—Eu não vou.

—Senhora?! —Um vampiro se aproximou. —Algo lhe incomoda?

—Não, pode deixar que resolvo sozinha.

—Mas Jesse pediu...

—Eu sei bem o que Jesse pediu e você também sabe que eu não faço nada que ele pede, agora suma da minha frente antes que eu...

—Não posso senhora. —O vampiro se aproximou. —Temos ordem para matar qualquer humano que chegue perto da senhora. — Lea olhou para trás e viu meia dúzia de vampiros...

—Vocês vão se arrepender disso. —Ele encarou o vampiro. —Sai daqui Quinn.

— Não vou a lugar nenhum.

— Rachel, você tá bem? — Pergunta Britany e a menina faz que sim, porém tudo indicava que não, ela não lembrava de nada de sua vida e as imagens e sentimentos de Lea a dominavam de um jeito que ela não conseguia controlar. Cada passo que ela dava era uma lembrança de Lea, lembranças acompanhadas de emoções, emoções por Jesse, por Noah, por Quinn. Emoções boas e ruins. Ela sabia que era humana, mas não se sentia como uma.

— Kurt não está na casa. Jesse pode sentir minha presença, mas talvez não a sua. —Noah fala olhando para Rachel.

— Porque ele não pode senti minha presença?

— Porque ele não espera uma vampira e sim uma humana. Agora venha.

— Vampira? Rachel é vampira. Meu Deus! — Britany começa a gritar e Noah segura a menina olhando nos olhos dela.

—A partir de agora você só abrirá a boca quando eu mandar. Entendeu? —Britany faz sim com a cabeça e Rachel solta um sorriso. —Fica atrás de mim. — Fala Noah para Rachel e Britany, que sentia-se sendo torturada por não poder falar.

Rachel estava de frente para a mansão onde ela havia vivido tanto anos ao lado de Jesse. Ela olha para janela do quarto e o som dos gemidos ainda estava ali, acompanhado das juras de amor, das brigas e das mortes de inocentes.

—Como assim eu saio por um dia e volto com sete de meus fieis vampiros mortos. Lea, estou falando com você. —Jesse gritava da porta vendo a vampira pentear os cabelos de frente para o espelho.

—Jesse a última coisa que eu sou é surda.

—Não parece. — Ele se aproximou ficando na frente do espelho. —O que aconteceu na minha ausência?

—Muitas coisas. —Lea o encarou. — Agora sai da frente do espelho.

—Não! Até me falar a verdade, estou cheio de você mentindo para mim.

—Por isso colocou aqueles inúteis para me vigiar? —Ela colocou a mão no peito de Jesse que a segurou.

—O que está acontecendo com você, Lea? Você não é a mesma.

—A mesma que conheceu? Ou a mesma que comia criancinhas, ou quem sabe a mesma...

— A mesma que me amava. —Ele beijou a mão dela. —A mesma que se deitava comigo e me fazia ter êxtase de prazer. —Lea puxou a mão e se virou para janela.

—Jesse, nós dois mudamos. Muito tempo se passou. —Jesse agarrou sua cintura e jogou o cabelo da vampira para o lado, beijando o seu pescoço.

—Eu ainda te amo como a primeira vez. — Lea se virou encarando os olhos do vampiro.

—Eu os matei.

—Que?

— Eu matei seus vampiros fieis e abusados. —Ela empurrou as mãos de Jesse de sua cintura.

—Porque, Lea? —Jesse cruzou os braços.

—Estava com vontade, eu queria sair e eles não queriam me deixar então, me diverti os matando. Espero que não fique bravo, posso fazer outros para você. —Lea passou por ele e voltou a olhar para o espelho.

—Mesmo quando ele era a Diana? —Diz Noah despertando Rachel e subindo os degraus que fazia chegar na porta. O vampiro faz sinal de espera para as duas.

—Olha quem veio para festa. — Rachel escuta a voz de Jesse e o sorriso se alarga em seu rosto.

—Você é linda!

—Pensei que vampiros não dormissem.

—Não precisam, a não ser quando encontram uma vampirinha cheia de energia e resolvem casar.

—Se eu deitar eu vou querer mais você!

—Sou todo seu.

—Nem sempre temos o que queremos. — Jesse continua a falar e Rachel foi sentindo seu coração palpitar como na primeira vez que Lea encontrou Jesse.

— Digo o mesmo para você. —Fala Noah esticando a mão para menina que sentia-se mais Lea que Rachel e talvez até um pouco de Diana, já que os olhos de Noah também mexiam como suas emoções.

Rachel pega na mão de Noah. Ela sabia que precisava fazer algo, mas tudo tinha se apagado e está ali estava sendo um grande mistério. A menina se aproxima vendo a cena de um homem velho com a mão no coração de Quinn prestes a arrancá-lo. Todo seu corpo se tremeu. Noah não havia mentindo, ela não tinha matado Quinn, ela estava viva preste a morrer, mais ainda sim viva. A cena de sua morte tinha sido implantada em sua cabeça. Ela nunca a matou. A satisfação de vê-la era tão forte que cobria toda a sua essência. Ela nunca mais queria perdê-la, nem que para isso ela ficasse Lea para sempre.

—Solte ela, Jesse. — Ela diz olhando para dentro dos olhos de Jesse que mesmo velhos eram reconhecidos por ela facilmente.

—Lea?! —Jesse arregala os olhos ao perceber sua amada vampira.

—Quem mais seria?! Solte ela agora!