Rachel escuta um barulho na porta, ela fecha o diário e em seguida limpa as lágrimas que escorriam pelo rosto, ela não se lembrava de nada do que lia, mas seu coração doía como se tivesse vivendo cada palavra nesse momento. A voz de Jesse domina seus ouvidos.
_Lea! Abra a porta pra mim.
Rachel respira profundamente, ela odiava ser chamada de Lea.
_Me deixe sozinha Jesse, por favor! _ Diz Rachel escondendo o diário caso ele conseguisse entrar.
_ Não pode ficar sem comer, precisa se alimentar. _ Diz Jesse do lado de fora do quarto.
_Eu quero ficar aqui, me deixe aqui!
_Tudo bem, mas vou trazer algo para você comer.
_ Não! Eu não estou com fome.
_Você ainda está fraca, precisa de comida.

Rachel pensa em algo para poder manter Jesse longe, ela precisava terminar de ler pelo menos algumas páginas.
_Peça ao Kurt pra trazer, não quero ver você.

As palavras de Rachel fazem Jesse se sentir mal, ele não responde e desce as escadas deixando Rachel sem resposta. Ela percebe o silêncio e pega o diário novamente, ela abre na mesma página.

06 de julho de 1712 (minha morte)

Estava tudo escuro, não conseguia saber se meus olhos estavam abertos ou fechados, não sentia meu corpo, não sentia nada. Queria gritar, mas nada acontecia. Eu não ouvia o som da minha voz, tentei me lembrar de algo, mas só pensava no meu coração parando. Tentei sentir meu corpo, mas eu não tinha tato, pra falar a verdade acho que não tinha corpo.
Lembrei-me de quando eu era pequena quando minha mãe dizia que em situações desesperadoras é preciso se manter calma. Tentei seguir o conselho e manter minha mente calma, já que era a única coisa que poderia fazer. Então aos poucos pude ouvir vozes, primeiro elas estavam confusas e distantes, mas depois ficaram nítidas e próximas.
_Não posso simplesmente fingir que nada aconteceu. Acabei de matar minha filha.
_Ela não era mais sua filha.
_Eu não tenho tanta certeza assim. O sangue dela escorreu em meus braços.

Era a voz de meu pai, não pude conter o desespero, nada daquilo era um sonho, meu pai realmente havia me matado. Ele acabava de dizer.
_Ela era uma vampira, você fez a coisa certa, agora precisamos pegar aquele doutor antes que ele transforme a cidade inteira.
_Não! Pai! Eu não sou uma vampira! Alguém me escuta!
Eu gritei, mas ninguém me ouviu. As vozes ficaram distantes. Eu comecei a ouvir o som abafado de minha voz, o cheiro de sangue tomou conta de meu nariz, aos poucos pude sentir lágrimas de desespero escorrerem em meu rosto, comecei a sentir meu rosto e em pouco tempo tive consciência de meu corpo novamente.Eu não estava morta aquilo ainda não era o inferno.
Comecei a tentar me mexer e terra começou a cair em mim. Senti o gosto da terra em minha boca, tentei gritar, mas a terra invadiu minha boca com força. Sentia que iria sufocar, me mexi com mais força, senti minhas pernas empurrarem algo. Minha mão perfurou a terra gelada e logo senti uma brisa fria, empurrei com mais força, meus pés e mãos trabalharam juntos e logo pude ver a luz da lua.
Cuspi terra e mais terra sentada diante do buraco onde meu pai me enterrou. Lágrimas transformaram a terra de meu rosto em lama. Eu não entedia o que estava acontecendo, não havia estaca em meu peito e nem ferimento, eu precisava de respostas e sentada ali diante de um buraco no meio do cemitério eu não conseguiria.
Corri pela noite fria, corri como jamais corri antes, eu corria rápido e sem medo era como se meu corpo estivesse com mais energia e mais força, era uma sensação como nunca havia sentido. Cheguei à casa pequena de onde não deveria ter saído naquela tarde. Bati na porta.
_Meu Deus! _ Responde um homem ao abrir a porta. _Lea é você? _ A lama me deixava irreconhecível, não sei como ele sabia que era eu, na verdade não sei como ele sabia meu nome, pois eu nunca havia o visto antes.
_Quero falar com Jesse.
_Entre, o que aconteceu?
_Eu também não sei direito, preciso falar com Jesse agora.
_Tudo bem vou tentar achá-lo, fique calma. Quer tomar um banho?
Na verdade eu só queria acordar daquele pesadelo horrível, queria resposta para tudo aquilo, mas um banho naquelas circunstâncias até que não seria ruim.
_Aceito, mas, por favor, preciso falar com Jesse.
Ele sorriu. Seu sorriso era bonito e me causou certa calma e tranquilidade. Joguei uma água em meu corpo. Demorei mais que eu esperava para tirar toda aquela terra de mim.
_Lea vista esse aqui ele deve caber em você era de minha irmã. _ Diz ele me dando um vestido azul.
_Obrigada!
Eu colocava o vestido quando ouvi a voz de Jesse.
_Cadê ela?
Não consegui me conter e corri para o som da voz.
_Jesse!
_Lea você está bem? _ Ele me abraçou e eu senti arrepios em seus braços.
_ O que está acontecendo?_ Perguntei me afastando de seus braços.
_Senhorita Lea deixe eu lhe ajudar. _ Diz o doce menino amarrando meu vestido que ainda estava aberto.
_Vejo que já conheceu o Kurt.
Eu não sabia que esse era o nome dele, mas não mudei a expressão e continuei desafiando os olhos encantadores de Jesse.
_Meu pai me matou, eu deveria estar morta, mas ao invés disso estava enterrada em um cemitério sem ao menos um caixão. Meu pai acha que eu sou uma vampira Jesse, ele disse que você é um vampiro, me explique isso antes que eu enlouqueça.
Os olhos de Jesse deixaram de brilhar
_O que você disse? O que seu pai fez quando você voltou para casa?
_Ele enfiou uma estaca em meu peito dizendo que eu era uma vampira._ Lágrimas voltaram a escorrer dos meu olhos, ao lembrar da cena.
_ Não! _ Jesse passa a mão na cabeça e se vira de costas para mim._ Eu disse para você não voltar, porque não me ouviu?

Ignoro o que Jesse diz e volto a perguntar:
_Porque eu ainda eu estou viva?Porque ele acha que sou uma vampira? Eu preciso de explicações agora. _Jesse se vira para mim novamente, seus olhos agora eram uma mistura de dor com raiva.
_Kurt, quando tempo ainda tenho?
_ Não sei senhor, mas acredito que se o pai de Lea sabe, temos poucos dias.
_Sabe? Então é verdade? _ Meu corpo físico não correspondeu às sensações das minhas emoções.
_Lea eu iria te contar na hora certa, não sabia que aconteceria isso.
_Vampiro?! Meu Deus! É o inferno!
_Fique calma!_ Ele pega em meu braço, eu solto sentindo a raiva tomar conta de mim.
_ O que você fez com meu pai? Porque ele acha que eu sou uma vampira?
_Meu sangue cura, então quando eu fui a sua casa eu curei seu pai da doença que o estava matando dando meu sangue a ele. Depois eu o fiz esquecer, foi o que eu pensei, até que você me disse que ele tomava verbena.
_ O que?
_ Eu também consigo manipular pensamentos a menos que usem verbena.
As palavras de Jesse não faziam sentido para mim. Elas rodavam em minha cabeça feito fantasmas, eu queria morrer ao invés de estar viva e me sentindo tão vazia e incompleta.
_Lea me desculpe.
_Continue. Porque meu pai achou que eu era vampira?
_Eu não sei exatamente o porquê, mas sei que seu pai já conhecia vampiros antes, pois ele tentou atirar em mim com uma bala de madeira, mas você entrou na frente.
_Madeira? Isso pode te matar?
_Não exatamente, mas pode me conter.
_Você disse que só pegou de raspão.
_Eu menti, não queria que você soubesse que seu pai te feriu, eu te tirei de lá e a trouxe para a casa de Kurt e dei meu sangue a você, quando acordou você estava bem. Eu juro que iria te contar tudo, mas você saiu correndo.
_Então quando meu pai me viu achou que você tivesse me transformado?
_Provavelmente a bala pegou muito próximo ao seu coração, se eu demorasse mais um segundo para lhe dar meu sangue você terá morrido.
_Seu sangue não me transforma em vampira,certo?
_Certo.
_Então eu estou bem? Vou ficar bem? Não sou uma vampira como meu pai disse. _ Um sorriso se formou em meu rosto, mas Jesse continuou tenso, o que fez com que meu sorriso se fechasse.
_Jesse o que mais falta para me contar?
_Você deixa de ser humano quando morre com sangue de vampiro no corpo.
Minha garganta se fechou, minha cabeça rodou e todas as minhas esperanças foram por água a baixo.
_O que eu sou agora Jesse? Uma vampira, é isso?
Ele não me respondeu e sentou na cadeira com a cabeça entre as mãos.
_Me responde logo! _ Eu gritei, sentia raiva queria culpá-lo, queria matá-lo, queira estar morta.
_ Eu sou uma vampira feito você?
_Ainda não.
_Não!Então eu posso voltar pra casa e dizer para meu pai que eu não sou isso que ele odeia tanto.
_Não!_ Jesse não me olhava triste.
_Como? _Jesse levanta a cabeça e me encara.
_Se não beber sangue vai morrer, antes que possa provar para seu pai que ainda é humana.
_Como assim eu não entendi, você disse que eu não sou uma vampira. _ O desespero tomou conta de mim novamente.
_Não é! Só vai ser vampira se beber sangue, pois assim vai completar a transformação, fora isso o meu sangue sai do seu corpo e você morre.
As palavras de Jesse me mataram novamente, eu não sabia o que os vampiros faziam nem o que eles eram, na verdade eu nem acreditava que pudesse existir apesar de ter ouvido meu pai falar sobre eles algumas vezes quando eu era pequena. Contudo eu tinha certeza que eu não queria me tornar um deles, não queria ser algo que meu pai odiava. Encostei-me a parede.
_Quanto tempo tenho?
_Algumas horas _ Diz Kurt.
_Talvez um dia. _ Fala Jesse vindo em minha direção. Eu desvio dele e saio pela porta.
_Lea! _Ele me chama, mas eu não olho pra trás.

Me afastei um pouco da casa,mas ainda assim eu os ouvia.
_Eu não queria que fosse assim Kurt.
_Eu lhe avisei que seria perigoso vir a essa cidade.
_Eu não queria destruir a vida dela, eu a amo. Queria que ela escolhesse viver comigo e não que fosse obrigada!
_Então não a obrigue.
_ Você quer que eu a deixe morrer?
_Sim! Se essa for a escolha dela respeite Jesse.

A conversa deles me causava mais dúvidas. “Porque ele me amava se agente nem se conhecia direito?” Eu estava confusa e precisava de um tempo em um lugar onde eu me sentisse bem, pensei no rio, apesar de ter jurado nunca voltar lá, eu precisava ir pra lá antes de morrer.
Andei descalça pelo meio das árvores, não queria correr o risco de passar pela cidade, então fui pela floresta. Cheguei ao rio e graças a Deus estava vazio. Sentei debaixo da mesma árvore que sentava quando ia com minha mãe, coloquei os pés no rio sentindo a água gelada limpar minha alma. Se eu fosse morrer queria que aquele fosse o lugar, pois apesar de ter vivido um momento terrível ali, graças a Theo. Eu tinha vivido muitos momentos bons com minha mãe, eles não seriam estragados por causa daquele idiota.
Fiquei ali por algum tempo sentindo o vento frio da noite, não sabia que horas eram, talvez já fosse meu aniversario. Não eram todos que tinham a oportunidade de morrer no mesmo dia em que nasceram.
_Feliz aniversário! _ Diz uma voz me assustando.
_Como você me achou?_ Eu pergunto olhando para Jesse.
_Sinto seu cheiro amor!Queria ser o primeiro a lhe desejar feliz aniversário.
_Quer dizer, o único! _ Eu digo voltando a olhar para o rio.
_ Eu sinto muito por tudo isso. Não queria que você me odiasse.
_Eu não te odeio afinal você me salvou do Theo._Eu olhei para ele.
_Eu deveria ter matado ele!_ Ele solta um sorriso.
_ É deveria! _Eu correspondo o sorriso e volto a olhar para o rio.
_Você não precisa escolher morrer Lea._ Ele falou quase em um pedido.
_ Não quero ser algo que meu pai sempre odiou.
_Entendo! _ Seu olhar se concentrava no horizonte.
_Você tem quantos anos?_ Pergunto me arrependendo em seguida._ Jesse ri.
_ É melhor não saber.
_ Nossa é tão velho assim?Deve ser horrível viver para sempre.
_ Era horrível até encontrar você.
_Jesse nós nos conhecemos tem tão pouco tempo.
_Para você. Eu tenho te observado há muito tempo._Solto um sorriso de sem graça.
_Como é ser um vampiro?
_Eu acho bom, nunca fico doente, nunca me machuco, nunca corro perigo._Ele fala em tom descontraído.
_ Mas e a solidão?
_ Faz parte da vida, vampiro ou não todos uma hora ou outra nos sentimos sozinhos._ Ele tinha razão eu me sentia sozinha depois que minha mãe morreu.
_Mas e sua família?
_Kurt é minha família.
_Ele também é Vampiro?
_ Não! Kurt é um bruxo.
_Bruxo? Pensei que a igreja os tinha matado.
_Na verdade a igreja matou as pessoas erradas._ Queria falar mais sobre bruxas e a igreja, mas não queria que aquele fosse meu último assunto antes de morrer.
_Hoje eu deveria me casar._Pensei em voz alta.
_Ainda quer? _ Ele volta a olhar me causando arrepios.
_O que?
_Tenho uma coisa para você?_Ele levanta e mexe no bolso da calça. _Quando eu disse que não precisava casar com Theo era porque eu queria que casasse comigo.

Jesse abre a mão e algo brilhante aparece.
_Isso é um anel?_ Eu pergunto sentindo minhas bochechas corarem.
_De casamento. _ Ele completa com um sorriso. _Eu sei que você não vai escolher ser vampira, eu não vou obrigá-la, mas queria que soubesse que minha intenção com você sempre foi essa.
Eu me sentia sem palavras, aquele poderia ser o melhor dia da minha vida, se não fosse o último.
_ Eu não queria te transformar, não sem seu consentimento, eu só queria fazer você feliz. Lea você aceita casar comigo?
_Porque está fazendo isso Jesse?
_Porque quero saber que se eu não tivesse estragado tudo você aceitaria me ter como seu esposo.
Sentir vontade de chora, como minha vida poderia ser diferente se eu não tivesse voltado em casa aquela noite.
_Não chore, por favor, não chore, não quero te fazer chorar.
_ Viver sempre me causou boa impressão, sempre sonhei que casaria com um homem bonito e gentil e que teria filho e netos, mas agora me parece tão triste estar viva. Queria ter morrido ante de te conhecer.
_Nossa! Não sabia que tinha sido tão ruim assim._Jesse recolhe a mão colocando o anel de novo no bolso.
_Não! Não foi ruim, foi maravilhoso.
_Que?_ Ele curvou as sobrancelhas.
_Morrer sem te conhecer seria mais fácil, pois morrer esperando é melhor que morrer depois de encontrar. Sinto que seria fácil te amar.
_Então me ame! _Jesse estende a mão para mim, eu encosto minha mão na dele ele me puxa para seu corpo. Nunca havia ficado tão perto da boca de homem como estava naquele momento.
_ Não precisa morrer, pode viver comigo pra sempre, te darei tempo para me amar.
_Jesse...
Eu não conseguia falar , meu corpo tremia , sentia que cairia a qualquer momento.
_Não fale nada. _Ele encosta seu dedo em meus lábios e meus olhos se fecham sentindo seu toque. _Deixa eu te fazer feliz Lea?

Eu queria dizer sim, estava pronta para dizer sim, a vida com ele me seduzia, seus lábios me seduziam, mas algo em mim sabia que eu cometeria um erro, um erro sem volta.
_Não quero matar pessoas Jesse. Eu sei que vampiros matam para viver._ Eu me afasto dele, ele abaixa o olhar em seguida o volta para mim.
_Nem todos.
_Como assim?
_Você pode viver de sangue animal.
_ Você vive assim? _ Jesse morde os lábios.
_ Não!Mas viveria se você desejasse.
_Então eu posso beber sangue animal para me transformar._Falar sobre sangue me dava nojo.
_Não._ Ele diz com as sobrancelhas curvadas.
_Então eu não estou entendendo._ Me sentia com raiva novamente eu estava cogitando a possibilidade de viver, quando a dois minutos eu tinha certeza que queria morrer._ Me deixe em paz vai embora!
_Calma Lea! _ Ele segurou minha mão. _ Não fique com raiva, eu posso dar um jeito se você resolver se transformar.
_Que jeito? Vai fazer o que? Matar por mim e trazer o sangue em um copo me dizendo que é suco de uva? _ Eu grite e puxei minha mão me preparando para sair dali.
_Não! Eu posso te dar meu sangue. _ Senti a saliva descer pela minha garganta como uma faca. Olhei para ele.
_O que?
_Não é certo, o primeiro sangue de um vampiro ser de outro vampiro, isso o torna mais poderoso que os demais, mas acho que eu não ligo se você for forte, a não ser que você queira me bater._ Ele solta um sorriso e eu continuo imóvel.
_Porque está fazendo isso? Eu não quero ser uma vampira, eu quero ser humana Jesse.
_Pra que? Para ser a submetida a um casamento com um homem que não te respeita? Pra ser uma boa filha para um homem que não te escuta? Pra que quer ser humana Lea?
Eu sabia que ele falava a verdade, mas aquilo me doía tanto. Senti meus olhos doerem, tentei segurar as lágrimas, não queria chorar, não pelas suas palavras. Me virei e corri floresta a dentro.
_Lea não!Lea desculpe-me.
Sua voz ficou para trás, eu corri sem direção pensando nas coisas que ele acabou de dizer. Quando eu me dei conta eu estava parada na frente da casa de meu pai. As janelas estavam abertas e as luzes acesas. Aproximei-me para espionar pela janela, havia quatro homens entre eles meu pai e Theo, ver Theo me causou dor, raiva e muita vontade de matá-lo. Comecei a sentir o cheiro do sangue daquelas pessoas, ouvi além de suas vozes a batida de seus corações, respirei fundo e me concentrei nas palavras.
_Cadê sua filha Bernardo?
_É verdade que ela estava se envolvendo com o vampiro?
_Eu não tenho filha!
_Eu os vi _ Diz Theo _No rio, eles estavam se entrelaçando feito bichos.
Depois de ouvir aquela mentira não consegui ouvir mais nada, a vontade de pular no pescoço dele foi tão forte que não poderia contê-la se não saísse de lá naquele momento.
Jesse tinha razão, talvez não valesse a pena ser um deles.

07 de julho de 1712
Eu corri pela floresta até amanhecer, de certa forma eu nunca me senti tão livre como eu me sentia naquela manhã. Eu vi o sol nascer como nunca tinha visto antes.
Entrei na casa de Kurt, ela estava vazia, tive medo deles terem partido, fui até o quarto, tinha uma blusa em cima da pequenina cama, me aproximei e percebi que era a blusa que Jesse usava ontem, não resisti e a peguei, sentei na cama, sabia que não tinha muitas horas e que logo iria morrer.
_Desculpe Jesse. _ Eu disse em um sussurro.
_Pelo o que? _ Ele diz encostando-se a porta. Eu dou um pulo da cama deixando a blusa cair.
_Pensei que tivesse ido embora._ Digo meio gaga.
_Sem falar com você? _Ele se aproxima pegando a blusa do chão e entregando-a pra mim.
_Desculpe por ontem. _Eu digo com as palavras trêmula.
_ Eu que peço desculpas, não deveria ter sido tão estúpido com você.
_ Você só foi sincero. _ Ele sentou na cama e me olhou com um sorriso._ Eu fui até a minha casa, quer dizer a casa de meu pai.
_Você está bem? _ Ele se levanta encostando em meu rosto com seu toque leve.
_Agora sim! _Sorrio tentado mudar de assunto._ Pensei que vampiros não pudessem sair de dia. _ Falo ao olhar para ele com o sol da janela em seu rosto.
_Você sabe muito sobre vampiros._ Ele corresponde o sorriso.
_ E não podem. _ Diz Kurt na porta _ Porém Jesse se aproveita de minhas habilidades mágicas. Agora venham tomar café eu trouxe frutas.
_Pensei que você não comia?_Digo rindo.
_As frutas são pra você Lea. _ Ele envolve o braço na minha cintura.
Sentamos na pequenina mesa, o clima parecia estar melhor dentro de mim pelo menos até Kurt me empurrar um copo de leite e dizer:
_Senhorita Lea vamos embora hoje, seria um prazer que nos acompanhasse._ Ele solta um sorriso, mas eu não correspondo e me levanto da mesa. Eu estava sendo tão mal educada que não me reconhecia. Mas as palavras de Kurt me ofendiam de alguma maneira.
_Lea, Kurt não falou por mal._ Diz Jesse atrás de mim.
_Quanto tempo ainda tenho?
_Não sei.
Eu queria me fazer de forte,mas a verdade era que eu estava morrendo de medo de morrer, estava com medo de como era a morte, não consegui mais conter as lágrimas e me joguei nos braços de Jesse.
_Eu não quero morrer! Não quero!_ Jesse me apertou em seus braços e eu derramei lágrimas em seu corpo.
_Você não precisa! Casa comigo?Fica comigo? _Ele diz em meu ouvido. _Não me deixe viver sem você, por favor!

Eu me afastei de seu ombro e olhei em seus olhos.
_Não sei quem eu sou Jesse!
_ Então vamos descobrir juntos.
_Tenho medo, muito medo!
_Não precisa ter medo! _ Ele me puxa para seu corpo e seus lábios quase se encostam aos meus.
_E se eu me arrepender?
_Você não vai.
_E se você se arrepender?_ Ele solta um sorriso.
_Eu não vou!

Eu senti suas palavras me derreterem por dentro, seus lábios me faziam salivar, me aproximei encostando meus lábios nos seus, ele sorriu e abriu os lábios envolvendo os meus em um beijo delicado e gracioso. Seu beijo me fazia sonhar com uma vida perfeita. Era como se eu tivesse achado o meu príncipe.
Eu não queria tirar meus lábios dos dele, mas algo dentro de mim começou a mudar era como se eu me sufocasse com meu próprio ar.
_Lea, Lea!
Eu queria responder algo, dizer para ele que beijá-lo foi uma ótima maneira de morrer, mas minha voz não saia.
_ Kurt!
_O que foi Jesse? Meu Deus.
Eu sentia o ar me faltando, tudo ficava escuro. Eu queria gritar, pedir ajuda, eu não queria morrer, mas acho que era tarde demais, tudo se apagou.