– Sabe doutora, - eu disse, sentando no divã e bebendo um pouco mais de água, para poder continuar a falar - depois que a gente faz uma cirurgia, existe aquele momento em que você está consciente, mas não tem domínio do seu próprio corpo. Costuma durar pouco, e você pega no sono logo. Pois era assim que eu estava me sentindo. Eu podia ouvir tudo ao meu redor, mas não conseguia sequer abrir os olhos. Eu estava acordada, mas meu corpo não.

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– Olá para todos, o que está havendo? - eu nunca me esqueço uma voz depois de ouvi-la. Era o Lanterna-Verde.

– Olá Hal, fez uma boa viagem? - Diana perguntou.

– Oh sim, meio fora de hora, devo admitir. - ele se riu - Mas pelo menos consegui deixar tudo em ordem no quadrante 1624 antes de vir para cá.

– Ótimo, porque você precisa ver uma coisa. - Batman se aproximou da mesa onde eu estava deitada. - Há algumas semanas, encontramos ela no Hudson lançando raios vermelhos nos civis. E agora ela atacou denovo.

Eu podia sentir todos olhando para mim. Meu corpo estremeceu. Eu sabia que estavam se referindo a mim. Mas aquela não era eu. Não mesmo.

– Feuer... - Lanterna Verde se pronunciou, de repente.

– Só pode ser brincadeira! - Diana se riu.

– Do que estão falando? - Batman perguntou, com seu tradicional tom de voz.

Hal Jordan se afastou da mesa, caminhando pela sala. Estava pensativo.

– Este é um dos contos de destruição mais antigos do universo. O conto da ganância e da vaidade. - ele suspirou - Há milhares de anos atrás, reinava sobre um planeta vermelho uma poderosa imperatriz. Era conhecida como Rooi Feuer, a Imperatriz Vermelho-Fogo. Ela era muito bela, mas muito complexada. Queria que todo o universo a declarasse uma deusa; e destruiu dezenas de planetas com seus raios de fogo, matando as mulheres primeiro.

– Ela até chegou na Terra, atacando primeiro o refúgio das amazonas, a maior concentração de mulheres do planeta, e do quadrante, pelo que eu ouvi. - Diana continuou - Ela quase destruiu a todas nós. E então, desapareceu.

– Ela foi para Krypton, - Hal falou - atacar a civilização mais evoluída do quadrante, porém não conseguiu causar estragos lá. Alguma coisa no planeta bloqueava os poderes dela. Junto com os lordes do conselho kryptoniano, os lanternas verdes a trancafiaram em um cristal de kryptonita, que ficou rubro com a essência dela. Ele estava trancado junto com outras jóias de guerra, no planeta Oa. Me pergunto como veio parar aqui...

– Eu sempre achei que fosse uma lenda... - admitiu Diana.

– Tá aí a prova de que não é! - disse Hal.

– E o que vamos fazer com ela? - perguntou Diana.

– Prendê-la, é isso que vamos fazer. - Batman falou, enfim.

– Ela é mais poderosa do que você pensa! - Hal advertiu - Nenhuma prisão pode detê-la!

– Bruce, escuta! - Diana segurou em seu braço, olhando diretamente em seus olhos - Isso só vai piorar as coisas!

Batman soltou-se dela bruscamente, caminhou em silêncio e fechou a porta da câmara de metal com força; deixando os dois para trás; os únicos que tinha bom senso.

Agora tudo estava perdido. Para sempre, perdido. Uma lágrima correu pelo meu rosto. Eu condenei este planeta, ao tocar neste maldito colar. E agora, eu estava condenada também.

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Mamãe abriu a porta do consultório.

– Tá tudo bem aí, querida? - ela perguntou, da porta - Vocês estão aí bem umas 3 horas!

– Sra. McMillian, está tudo sob controle. Eu apenas gosto que meus pacientes se sintam confortáveis para falar tudo o que tem a dizer. - Dra. Diana se virou para ela - E não se preocupe, não cobrarei as horas a mais.

– Bem, - mamãe ficou sem-jeito - então eu vou descer e comprar um café. Vão querer alguma coisa?

– Não, obrigada. Estamos bem. - Dra. Diana virou-se para mim - Isso é tudo.

Mamãe virou os olhos e saiu. Ela estava envergonhada.

– Você é demais, eu sou sua fã! - eu disse para Dra., fazendo ela rir.

– Bem, acho que ela não vai incomodar por mais uns vinte ou trinta minutos. - ela sorriu, ligando o gravador outra vez - Pode continuar.

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Acordei várias horas depois, sentindo um colchão macio sob mim, e um cobertor quente. De certa forma, era reconfortante saber que eu estava em meu quarto outra vez. Abri meus olhos e vi no teto os pôsteres de AC DC, Avenged Sevenfold, e até Beatles e Rolling Stones que Dick conseguira para mim, para que meu confinamento fosse o mais suportável possível. Mas nenhum pôster se compara à minha janela de estrelas, sempre tão bonita e tão brilhante.

Eu me levantei. Minha cabeça ainda doía um pouco. Podia me lembrar de tudo o que havia acontecido, de tudo o que eu havia feito. E não me orgulhava de nada. Eu caminhei em direção ao banheiro, para tomar uma boa ducha quente e me acalmar, mas algo me segurou.

Meus braços estavam presos por correntes, presas firmemente à um suporte na parede. Se eu achava que ficar trancada sozinha ali era assustador, isso com certeza ganhava. Eu caminhei até a porta. Os barulhos das correntes gritavam que eu era uma criminosa, uma assassina, que eu merecia aquilo. Mas eu era apenas uma vítima. Eu tentei abrir a porta. Estava trancada. Trancada outra vez.

– Dick! - eu bati na porta, na minha própria porta - Robin! Socorro! Alguém me tire daqui! Eu não sou um monstro para ser acorrentada! Alguém! Socorro!

Quanto mais eu batia na porta, mais ouvia o barulho das correntes. Quanto mais eu ouvia o barulho das correntes, mais eu ficava assustada. E quanto mais eu ficava assustada, mais eu batia na porta.

– Robin! Dick! - eu chorava e gritava, desesperada - Eu estou aqui! Socorro! Diiiiiiiiiiiiiiick!

Meus dedos começaram a adquirir uma luz avermelhada, bem como meus punhos, que ardiam de calor. Eu parei de bater, e olhei: na minha frente, a porta tinha marcas fundas, derretidas pelas minhas mãos. Eu fizera aquilo.

– Minha nossa...

Eu estava assustada, mas agora era por outro motivo. Ouvi o barulho das correntes outra vez. As braçadeiras de ferro derreteram, e agora estavam quentes e vermelhas, aos meus pés. Ergui minhas mãos. Estavam vermelhas e brilhantes, e tinham um calor infernal. Toquei com o dedo indicador no trinco da porta, e ele derreteu rapidamente. Talvez eu devesse derreter a porta toda e chamar ajuda, mas logo me ocorreu que isso só seria mais um motivo para o rabujento metido do Batman me trancar, desta vez em uma cela sem vista para o universo.

– Vista...

Eu caminhei em direção à minha janela. Tinha uma ideia estranha na mente. Meus pés queimavam o carpete. Olhei novamente para minhas mãos. Lembrei do retroprojetor, do cinema, e até do rio Hudson. Se eu fiz uma vez, será que foi por querer? E será que eu posso fazer denovo?

Estendi minha mão para frente. Um raio forte de energia e luz vermelha saiu de mim, e quebrou o vidro em pedacinhos. O vácuo do espaço sugou os cacos e muitas coisas para fora. A luz vermelha piscava, e o alarme foi acionado. Eu sabia que agora eles viriam. Eles iriam me pegar. Iriam me acorrentar, me prender, e fazer coisas horríveis comigo.

Dick chegou correndo. Ele me viu, e se assustou.

– Ivy! Ivy, fique calma, vamos tirar você daí! - ele berrava, tentando abrir a porta. Porém, além do fato de ser de aço e estar trancada, eu havia derretido o trinco, que se fundiu, deixando-a impossível de abrir.

– Eu vou sair. - eu disse, com lágrimas nos olhos - Mas não vai ser por essa porta.

– Ivy, não sabe o que está dizendo! Vamos conversar! - Dick gritava. O som de sua voz era abafado pelo aço - Ivy! Nãããão!

Eu me aproximei da beirada e pulei.