Dake me colocou sentada em um sofá do Samy's. Ela estava tentando se acalmar, mas estava claro nos olhos dela que não estava funcionando.

— Okay, fica calma, tá Ivy? Eu... Eu peguei as sacolas... - ela andava de um lado para o outro perto de mim - E as chaves do carro... E... E... O que eu faço, Ivy?...

— Vai buscar um cappuccino para mim... - eu sussurrei.

— Tá! - ela disse, aliviada por finalmente ter um motivo para andar.

Enquanto ela se afastava, eu tirei o relógio preto do meu bolso. Por alguma razão eu vinha carregando ele comigo desde que o Damian, agora John Blake, havia acordado. Acionei o botão do lado, e o painel brilhou verde, piscou três vezes, e ficou azul. Dick deve estar por perto. Ele tem que estar. Eu preciso dele.

Guardei o relógio no bolso e escondi meu rosto com as mãos. Eu estava tremendo muito. Eu estava apavorada. O garoto era minha responsabilidade, eu tinha que manter ele seguro, e eu falhei. Será que o Dick vai me perdoar?

— Dakota! - ouvi a porta da lanchonete se abrir - Onde está a Evelyn?

Fechei os olhos com força, enquanto ouvia passos apressados se aproximarem de mim, e parar do meu lado.

— Ivy... Ivy olha pra mim... - ele disse.

No fundo da minha mente, lá no fundinho, eu torcia para ser o Dick vindo me salvar e dizer que estava tudo bem. Mas se for ele, como eu poderia encará-lo depois de permitir que o garoto fosse levado?

— Ivy, olha para mim... - ele segurou minhas mãos, tirando do meu rosto - Nossa, você está tremendo!

Com medo da bronca, abri os olhos. Um suspiro de alívio e frustração escapou, era o detetive intrometido. E ele me olhava, muito preocupado.

— O que aconteceu? - ele perguntou.

— Blake foi levado! - eu falei, desesperada - Ele foi sequestrado! Foi culpa minha! Eu... Eu tentei impedir... Mas eles... eles eram tão fortes... Eu sinto muito! Foi tudo culpa minha!

— Eu sei... Eu sei... - ele me levantou, me abraçando forte - Não foi sua culpa. Eu te prometo, Ivy, eu vou encontrá-lo. Eu juro.

***

O garoto olhava para todos os lados, muito apavorado. Os dois homens de roupas pretas o carregavam pelos braços, e agora usavam toucas negras de ninja. "Devem ser para esconder o rosto," o garoto tentou pensar racionalmente, "afinal ninjas são invenção de Hollywood." Depois de entrar por um túnel secreto no esgoto, descer uma escura e quase infinita escada de metal, John Blake já estava começando a delirar. Pelo menos foi o que ele pensou quando os homens vestidos de ninjas ficaram cada vez mais frequentes. "Acho que estamos a 50 metros no subsolo..." foi uma das últimas coisas que ele pensou, antes de desmaiar.

Quando ele acordou, ainda estava sendo carregado. Não sabia dizer se tinha apagado por uma ou duas horas, mas lembrou-se de ter passado por um elevador. Ou de ter visto um, em algum lugar. Estavam agora em uma plataforma de metal, parecia ser apenas um andar. Olhando para o lado, lá na frente podia ver muitos e muitos outros andares para cima e para baixo, alguns com portas, outros estavam escuros demais para se enxergar. Ninjas caminhavam tranquilamente em todos eles.

Depois de descer mais algumas escadas, eles entraram em uma sala. O garoto arregalou os olhos ao ver todos aqueles ninjas trabalhando em muitos computadores, e na parede havia vários painéis digitais, o central e maior de todos com o mapa dos Estados Unidos. Algumas cidades estavam em vermelho, como Washington DC, Denvers, Gotham, algumas áreas costeiras no Pacífico e no Atlântico, e - o que quase fez ele gritar - Metropolis. O que eles estavam planejando? O que ia acontecer com Metropolis? E por que ele estava ali?

De repente, os dois homens pararam.

— Nós encontramos, mestre. - um deles disse.

Jogaram o garoto com força, e ele caiu de cara no chão. John Blake sentia cada nervo do seu corpo tremer de pavor. Ele ergueu o rosto para encarar quem mandou sequestrar ele. Um homem, aparência meio asiática, longos cabelos brancos, rosto comprido e o olho direito era cego. Ele encarou o garoto e sorriu.

— Nos encontramos de novo, Damian... Olhe só para você... Garoto de cidade pequena? Foi o melhor disfarce que pôde pensar? É patético até para você... - ele riu, com sua voz grave, que fazia até os ossos de John Blake gelarem de pavor - Eu fiz umas modificações no meu escritório desde nosso último encontro. O que achou?... Bom, não importa, pode não ser o suficiente para meus planos, mas vai ser para evitar sua fuga. Desta vez não existe maneira de você fugir daqui, nem se o seu mentorzinho sair do inferno para te buscar. O que acho muito improvável.

O garoto ficou em silêncio, tentando se controlar para não desmaiar outra vez. A situação era apavorante.

— Vejo que você não para de olhar para os meus painéis. Bom, estou procurando uma pequena coisinha. Talvez você possa me ajudar. - o homem continuou.

— Como? - o garoto reuniu toda a coragem que lhe restava.

— Há alguns anos uma bruxa muito poderosa aportou na baía de Nova York e instaurou o caos às margens do rio Hudson. O caso foi abafado, porque a bruxa na verdade era apenas uma adolescente idiota que encontrou por acaso uma pedra muito poderosa. - ele digitou algo em um teclado e o rosto da Evelyn apareceu no painel. Blake quase gritou de horror. - Essa garota não me interessa. A pedra, por outro lado, é muito fascinante.

O garoto tentou esconder seu alívio momentâneo enquanto prestava atenção no homem.

— Quando o asteróide que trouxe esta pedra caiu, ele também trouxe uma outra pedra, uma roxa. - ele sorriu - Eu fiz o dever de casa, Damian, seu mentor ficou muito descuidado com o tempo. Consegui algumas informações na sua casa.

O garoto se arrepiou com a ideia de que qualquer um daqueles ninjas pode ter invadido a casa dele e poderia ter matado ele, Evelyn e Dakota.

— A pedra que eu procuro, assim como a vermelha, é um tesouro de guerra do planeta Oa, base dos que se autodenominam Lanternas Verdes. Pertence aos Guardiões, assim como todos os tesouros, e se chama Pedra do Tempo. Pode adivinhar o que ela faz... - ele riu outra vez - Eu preciso dela para reparar uma grande injustiça, e com isso terminar a obra que Ra's Al Ghul não teve capacidade para fazer.

O homem se ajoelhou na frente do garoto, e o levantou, segurando forte o queixo dele.

— Você me ajuda a encontrar e conseguir a pedra... - ele ameaçou - Ou eu mato sua familiazinha do mesmo jeito que matei sua mãe.

— Minha mãe morreu num acidente de carro! - o garoto gritou.

O homem o jogou com força, fazendo a cabeça do garoto bater no chão. Rindo, ele fez um sinal, e os ninjas deram uma surra no Blake. O garoto apenas se encolheu e gemeu algumas vezes de dor, e pensou que jamais tinha apanhado tanto em toda a sua vida.

O homem fez um sinal, e os ninjas pararam. Ele se aproximou e ergueu a cabeça do garoto, puxando seus cabelos pela raiz.

— Eu vou perguntar outra vez. - o homem rosnou - Vai encontrar a pedra?

— Procura no inferno... - o garoto bufou.

— Levem.

Os dois ninjas o levantaram do chão.

— Vamos ver quanto tempo vai levar para o Batman vir buscar ele desta vez. - o homem riu, enquanto o pobre Don Juanito fechava os olhos, desmaiando outra vez.