Divination

Divination — capítulo único


Seus dedos corriam pelas bordas já gastas de sua carta favorita, aquela onde por um período curto seu fiel escudeiro residira e sempre o acompanhara em seus duelos para agora ter de observá-la já sem espírito algum residindo em sua imagem, com o filme já sem brilho e comido devido ao uso nas bordas, impresso sobre a figura de um belo dragão dividido em duas cores. Preto e branco. Tal como Yin e Yang. Duas metades que se completavam e tornavam aquele que fora o carro chefe de seu deck, o grandioso Dragão de Luz e Trevas. Seu grande amigo e companheiro de duelos, que sempre estivera ao seu lado para ver mais uma vez, a vitória, e quando a derrota era seu resultado, ainda persistia ao seu lado, como um amigo o faria e por anos, aquela carta fora seu melhor amigo.

Um amigo que já não estava mais ali, ao menos não em sua melhor forma.

E da carta, sua atenção repousara mais uma vez sobre as folhas impressas e anotação que fizera desde o duelo onde o espírito que residia em Luz e Trevas fosse completamente extinguido e aquele nome, dito por seu oponente, persistisse no fundo de seus pensamentos, se recusando a apenas ser esquecido conforme os anos passassem e ele finalmente se visse como um aluno e duelista graduado da Academia de Duelos ao lado de um grupo de baderneiros tão brilhantes quanto ele próprio.

Chazz Pricenton.

A carta fora posta ao lado de suas muitas anotações, das folhas que imprimira em suas buscas e dos livros que conseguira mencionando aquele nome. Tudo exposto ao lado do notebook que indicava um novo e-mail em sua caixa de entrada e das fotografias daquele mesmo grupo de baderneiros emolduradas sobre sua escrivaninha, que ele guardava com certo esmero diante de tudo o que haviam enfrentado durante os anos na academia - diante da perda de seu grande amigo - somente assim ele encontrara motivo para persistir em seus duelos, refinando suas táticas e tornando-se alguém tão temido quanto admirando quando o assunto eram cartas de monstro do tipo dragão. Somente assim ele descobrira quem era o espírito que se abrigara naquela carta e o guiara em seu prefácio enquanto duelista.

A pena de Ma'at.

Uma pena branca e imaculada também conhecida como Pena da Verdade, a qual os antigos egípcios aparentemente usavam em uma cerimônia realizada apenas por sacerdotes para pesar os pecados daqueles que deixavam a realidade dos vivos em uma balança onde pena e coração eram postos lado a lado e caso o coração fosse mais pesado que a pena, seu detentor seria julgado como tal. Era necessário equilíbrio para que a alma fosse levada para o deleite da eternidade, nas areias do além que preenchem o Duat, e pensar que tamanho poder estivera em suas mãos o fazia se questionar se ele fora alguém digno o suficiente de tamanha responsabilidade, mesmo que aquela altura ele tão pouco tivesse noção disso. Duelos existiam para serem vencidos e apenas isso ou quem sabe, para serem um tipo de divertimento também... Jaden Yuki dizia que seu Kuriboh Alado ainda gostava de participar de seus duelos, nem que fosse apenas para assisti-lo em modo de defesa e talvez fosse por isso que ele ainda insistisse em usar seu Luz e Trevas, na esperança de que em algum momento ele conseguiria ouvir mais uma vez o rugido de seu tão adorado dragão a quem fizera um voto de sempre usar em seus duelos...

O e-mail era um convite.

De Jaden Yuki, Syrus Truesdale, Rhodes e todos os outros.

Outro duelo, dessa vez em duplas, pelos velhos tempos.

É, talvez fosse por isso que ele sentia aquela velha sensação que corroía seus sentidos sempre que aquele espírito se mostrava como sendo a próxima carta a ser retirada de seu deck, enquanto lia aquela mensagem. "Pelos velhos tempos, huh", pensou enquanto colocava o Dragão de Luz e Trevas novamente em seu deck de cartas e seguia rumo a porta do quarto onde ficava enfurnado sempre que precisava pensar, ou estudar sobre os ritos culturais do Egito Antigo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.