Mesmo estando armados e com um plano caso o Governador atacasse, Linn sentia que a calmaria não iria trazer nada de bom, como já dizia o ditado.

Dois dias de muita tensão vinham causando descontentamento entre as pessoas na prisão. Merle estava mais insuportável do que nunca e o tal do Allen e seu filho lhe incomodavam como o inferno. Tyrese era boa gente e sua irmã uma chata, mas sentia que podia confiar neles. Michonne mantinha sua atitude arisca, mas ajudava no que podia e Axel já fazia parte do grupo.

Nessa manhã o governador mandara um dos carros invadir o campo e jogar algo sobre a cerca. Linn e os demais imaginaram que podia ser uma bomba ou algo do tipo, mas ouviram uma voz a chamar de dentro do saco acolchoado e descobriram se tratar de um wallkie-talk.

Rick ficou um tempo a conversar com o bastardo, mas Linn não ficou no pátio com os demais. Ao ouvir a voz do governador, sentiu todo o terror e desespero daquela cela e do que ele lhe fizera voltar novamente.

Chase tinha notado e segurado em sua mão, com Sam se aproximando para agarrar a outra, mas não pudera permanecer com eles e se afastara para o Bloco D, onde estavam agora, para se acalmar, e lá permanecendo durante o tempo em que Rick conversou com o homem que jurara um dia matar.

“O que houve?” Perguntou quando viu Sam, Chase e Axel se aproximando.

“Ele queria marcar uma reunião com Rick em um local entre a prisão e Woodbury, para que conversassem cara a cara.” Sam respondeu sentando a seu lado.

“Desgraçado!” Linn falou se erguendo de um pulo, fechando e abrindo as mãos quando começava a andar. “É uma armadilha.” Falou como se pensasse que Rick poderia ter aceitado.

“Ele não aceitou, é claro.” Chase pontuou apoiando os braços no beliche e descansando a testa ali. Estava cansado, assim como todos, pelas noites mal dormidas, os turnos de vigia duplos, a preocupação em serem atacados a qualquer momento.

“Mas o que foi aquilo?” Axel perguntou para Sam e Chase, com Linn olhando para os dois sem entender.

“O quê?” Linn perguntou olhando para os amigos e nenhum dos dois parecia ter vontade de contar do que se tratava.

“Aquilo de se afastar e falar um bom tempo com o sociopata sozinho, como se tivesse algum tipo de segredo.” Axel falou encarando Linn, se abraçando, o que queria dizer que estava com medo ou preocupado. “Não gostei da cara do xerife depois.” Axel sacudiu a cabeça.

Sam se aproximou dele e colocou a mão em seu braço, depois o dedo na boca e apontou para a parede ao lado.

“Ah! Tá certo. Desculpe?” Axel olhou para Chase e este parecia zangado.

O amigo sacudiu a cabeça, se afastou do beliche e passou as mãos no cabelo e no rosto. Era tão difícil que Chase se zangasse, que Linn teve a certeza de que havia algo muito errado ali. Mas nem Sam, nem ele, pareciam querer contar, não só por causa do quarteto que ocupava as celas seguintes, mas também por causa de Axel.

Assim, que teve que esperar durante toda a manhã, até que se encontrasse a sós com Chase e este lhe explicasse o que estava acontecendo.

“O governador quer fazer uma trégua, com algumas condições.” Ele disse e Linn se afastou em direção a cerca parando com a mão trêmula sobre a boca, o olhar perdido nos errantes, dois, que se encontravam do outro lado.

“E Rick está pensando em aceitar?” Linn perguntou com muito de raiva.

“Ele está pensando em todos.” Chase tentou defender o xerife. “Entendo o cara Linn. Ele tem filhos, as pessoas aqui são como sua família, ele não seria um bom líder se ao menos não pensasse no assunto.”

“Ponderando se deve ou não fazer um acordo com o diabo?” Linn riu com desprezo. “Se está pensando em aceitar qualquer acordo com aquele maldito, então não é o homem que imaginei que fosse.”

“Esteve endeusando Rick por tanto tempo que não percebe que ele tem tantos defeitos quanto qualquer um de nós.” Chase falou se aproximando da cerca e acertando os dois errantes na cabeça com a faca.

Olhou para Linn limpando a faca na calça e guardando na bainha.

“E isso não é ruim.” Chase falou. “Não é ruim perceber que o cara possui defeitos, me faz confiar mais nele.”

“O que ele quer em troca dessa trégua?” Linn perguntou remoendo o tanto que lhe doeu o olhar de Chase ao expor com tanta clareza seus sentimentos por Rick.

“Michonne.” Chase cuspiu desalentado.

“Não.” Linn cerrou os lábios em uma linha fina segurando todos os xingamentos que queria dar naquele momento.

“Sacrificar uma vida pela de muitos parece ser a sina das boas pessoas.” Chase murmurou zangado.

“Não concorda com isso não é?” Linn tocou em seu braço e Chase segurou sua mão, mas não lhe encarou.

“Não.” Chase disse após alguns segundos. “Mas se fosse minha a decisão, pensando na segurança de vocês, como Rick está, talvez eu estivesse inclinado a aceitar também.”

Linn não achava que poderia dispor da vida de alguém que os ajudara, que lutou ao lado deles, por sua própria segurança. Quanto mais, quando pensava nas coisas que aquele louco estaria preparando para Michonne, coisas como as que ele lhe fizera quando estava acorrentada e indefesa. Não podia imaginar-se sendo conivente com um destino semelhante para qualquer outro ser humano.

Nervosa, resolveu que ela mesma deveria tentar colocar um pouco de juízo na cabeça de todos. Chase disse que Merle fora a favor de se livrar de Michonne e Daryl também ficara balançado pela ideia. Hershel foi contra, como Sam.

Assim, procurou por Sam, mas não a encontrou. Pensava que Sam poderia fazer Rick mudar de ideia, caso ele estivesse pendendo por ceder ao governador àquela pequena vitória.

Correu em direção a oficina, onde Chase dissera que o grupo tinha ponderado o assunto, acreditando que poderia encontrá-lo ali.

“Tenho que pensar em todos aqui.” Rick dizia quando Linn se aproximou.

“Acha que não estou pensando neles?” Sam dizia um pouco mais dura que o habitual.

Linn parou e observou que os dois estavam separados por uns dois metros e se encaravam realmente zangados.

“Tenho que decidir pela vida de todos, contra a de uma mulher que nem sequer conhecemos.”

“Ela ajudou a salvar Linn e Glenn.”

“Ela fez isso por que queria nossa ajudar para retornar a Woodbury, com o firme propósito de matar alguém.”

“No que deveríamos tê-la ajudado.” Sam rebateu com ódio.

“Não sabíamos do que ele era capaz então.” Rick replicou passando a mão nos cabelos, dando um passo na direção de Sam, mas parando quando ainda estavam afastados por um bom espaço que, para Linn, pareceu muito maior do que o era realmente.

“Aquele é um homem cruel, Rick.” Sam soprou, muito baixo, muito segura. “É um mentiroso que quer apenas destruir nossa integridade, antes de nos tirar todo o resto.”

Rick ficou muito parado a olhar para Sam. Linn sabia o que ele via, por que foi aquela qualidade que os fizera, a ela e a Chase, a seguir uma garota uns bons anos mais jovem.

“Quando fala assim, esqueço que é muito jovem.” Rick acabou por dizer, suspirando infeliz, sabendo que Sam estava certa.

“Não sou jovem, não mais... Nenhum de nós é.” Sam se aproximou dele, cruzando o espaço que os separava. Por certo entendendo que alguém deveria fazê-lo antes que se transformasse em algo instransponível.

Aquela não era a primeira briga que tinham e não seria a última.

“A escolha é sua Rick.” Sam falou tocando em seu braço. “E vou aceitá-la, assim como os demais. Sempre vou seguir você, mesmo que discorde, como agora.”

“Sabe que não estou confortável com isso, não é?” Ele perguntou como se precisasse que ela entendesse que não era o tipo de homem que faria atrocidades sem uma razão absurda.

“Sei disso.” Sam respondeu com o tom de voz que usava quando sabia estar vencendo uma disputa e Linn sorriu se afastando, o coração aos pedaços, mas ainda assim feliz.

Rick correu a procurar Daryl e Glenn e logo descobriram que Merle tinha sumido com Michonne. Seguiram atrás deles, encontrando a samurai no caminho de volta. Mas Daryl foi em frente, para se deparar com o local em que entregariam Michonne tomado por errantes, no que deveria ter sido uma tocaia, e o irmão, esse ser que era a única família de sangue que possuía na vida, transformado em um dos malditos errantes.

Rick e os demais chegaram logo após o caçador acabar com a miséria do irmão. Assim, que levaram Daryl dali e se preparam para a investida que deveria ser rápida.

Havia dois caminho para veículos que levavam a prisão. Axel se propôs a ficar de guarda em um deles e Tyrese preferiu cuidar do outro, a lutar contra pessoas contra as quais não sentia animosidade.

Sasha, ao contrário, pediu uma arma e disse estar disposta a acabar com a raça de qualquer um que entrasse pelos portões.

“Não atirem para matar a menos que seja necessário.” Rick disse para todos os que ficariam para lidar com as tropas do governador. “Não somos assassinos e nem todas aquelas pessoas são assassinas também.”

“Hershel, Carl, Beth, Ben e Sofia ficarão com Judith a margem da floresta, a uma distância segura e fugirão para o leste, pela rota noventa e cinco, caso as coisas saiam do controle.” Rick explicou novamente.

Olhou para todos.

Viu a raiva nos olhos de Daryl, Michonne e Linn. A preocupação nos de Sam, Chase e Glenn. A disposição dos demais, apesar do medo em Allen. Mas a maioria era feita de um material que não se desfazia ou se destruía em face das dificuldades, mas que se amoldava e ganhava novos contornos diante dos desafios.

Hershel levou os jovens e o bebê, antes apertando Maggie e Glenn em um abraço, que os deixou com lágrimas nos olhos. Daryl e Carol deram um beijo em Sofia, muito cientes de que a garotinha estava mais do que preparada para se defender se houvesse necessidade.

“Tome cuidado Sam.” Sofia disse a garota, dando um abraço nela também, Chase e Linn não ficaram melindrados, as duas tinham tido uma maior conexão quando eram apenas eles pela estrada.

Sam acariciou seu rostinho sardento e olhou na direção de Judith, para encontrá-la nos braços de Beth, com Carl lhe olhando sombrio bem ao seu lado.

Rick a tinha colocado para cuidar da passarela, porque as galerias, onde tentariam conduzir o grupo do governador, estaria às escuras e Sam odiava o escuro. Além de quê, ela já tinha passado por duas situações estressantes naqueles corredores, não seria justo que tivesse que sofrer isso novamente. Maggie estaria com ela e isso deixava Rick despreocupado.

Cada um deles ali esperava apenas um sinal de Axel ou Tyrese para tomar suas posições, o que não demorou a acontecer.

O governador tinha esperado um nada para avançar suas tropas em direção à prisão. O homem tinha perdido muitos de seus soldados, daqueles que realmente sabiam lutar,na emboscada que Merle frustrou, e isso o levara a arriscar um confronto direto e rápido. Apesar de seu grupo encontrar-se preparado, Rick pensou que o bastardo deveria estar realmente possesso e disposto a eliminar a todos ali.

Esse pensamento o fez imaginar se não deveria ter dado a ordem para que atirassem para matar e não apenas assustar. Descobrindo que ainda não tinham chegado aquele ponto em que abandonavam todo e qualquer escrúpulo pelo bem maior.

Quando todos se movimentaram em direção ao posto designado, Rick se aproximou de Sam, segurou sua mão e lhe olhou firme.

“Tenha cuidado.” Disse baixo. “Se algo der errado, procure uma das rotas de fuga, e...”

Sam lhe beijou, por que estavam sozinhos e por que nada mais importava. Não precisava que ele lhe repasse todos os planos, apenas queria sentir seus lábios, se aquela fosse a última vez.

“Mantenha-se a salvo também.” Disse com a mão em seu rosto, afagando a barba que lhe dava um ar distinto.

Virou-se e seguiu para se esconder no local designado, enquanto ele encaminhava-se para as galerias.

O Governador chegou mostrando que não estava brincando. Derrubando as torres, invadindo o pátio, atirando para o ar e para lugar nenhum, por que não encontrou resistência. Quando invadiram não havia com quem lutar e a aparência seguia a de um local abandonado.

Ele não acreditara. Ninguém abandonava um porto seguro nestes dias, para se atirar na estrada e em suas inseguranças, ainda mais um grupo que lutara com garra pela posse daquelas paredes.

Assim, que guiou seus soldados, um bando de recém-recrutados que mal sabiam utilizar com presteza as armas que carregavam, xingando Merle mentalmente por lhe ter arrebatado muitos dos homens que poderiam realmente fazer a diferença.

Nas entranhas das galerias, encontraram escuridão e errantes, com as pessoas que guiava nem um pouco preparadas para lidar com os mordedores.

Eles recuaram. Alguns sendo derrubados por bestas lentas e fáceis de matar, para logo serem atacados pelos habitantes da prisão.

Diferente do que a maioria pensava, eles ainda estavam ali e tinham armado para os levarem a um local fechado, onde, despreparados, seriam presas fáceis.

Mas eles estavam em menor número, e, tão logo tivesse se reagrupado, poderiam voltar e derrubar aqueles merdinhas filhos da puta. Mas lá fora mais deles esperavam, atacando seu grupo de traidores, que recuaram, quando poderiam ter a vitória.

Sam, na passarela, atirava acima da cabeça dos invasores quando o viu.

Era um homem alto e magro, gritando com todos, o tapa olho apenas lhe dando uma certeza que já sentira assim que postou os olhos no desgraçado.

Rápido se firmou sobre um dos joelhos, apoiou a arma contra o ombro , por que precisava de muito mais precisão, olhou pela mira, e o viu atirando em direção a Glenn, Rick e Daryl, que saíam pela entrada do Bloco C, enquanto os demais se aproximavam pelas duas laterais do prédio, entre elas, Linn.

O viu claramente na mira, parado, o rosto tomado pelo ódio, tanto por eles como pelos seus homens que recuavam.

Disparou.

Mas, logo nesse momento, um homem de óculos se colocou ao lado dele e o tiro o acertou, espirrando sangue no peito do governador, o obrigando a desviar os tiros de Rick para a posição em que Sam estava com Maggie.

Sem apoio, o governador resolveu partir.

“Conseguimos.” Glenn soltou feliz, olhando para Maggie que se aproximava de Sam e tocava em seu ombro.

“Você tentou.” Maggie soprou. “Não acredito que eles vão voltar depois disso.”

“Acha que vamos dar oportunidade que ele o faça?” Sam se virou para Maggie então, o rosto tomado pelo desgosto por ter errado.

Lá embaixo Rick dizia a mesma coisa. Reunindo os que estivessem dispostos a seguir para Woodbury e terminar aquela guerra.

Sam, Linn e Chase se propuseram a seguir com eles. Michonne e Daryl também.

Estavam eufóricos. Haviam rechaçado uma força hostil que os superava em número, mas que claramente não estavam preparados para aquele tipo de batalha.

Seguiram para Woodbury preparados para uma última batalha. Daryl, que ia à frente com a moto, parou em um ponto da estrada e o carro em que estavam fez o mesmo.

Mais adiante, os veículos que tinham invadido a prisão, estão largados na estrada, rodeados de corpos e errantes.

Abateram todos, sem gastar as preciosas balas e analisaram o que poderia ter acontecido.

“Parece um maldito fuzilamento.” Daryl falou apontando para os corpos mais perto dos caminhões. “Alguns tentaram fugir, mas sem chance.” Completou indicando os que estavam caídos dos dois lados da estrada, alguns no campo.

“Foram atacados?” Michonne enfiou a a espada na cabeça de dois corpos que ainda não tinham reanimado. “Talvez pelo grupo que nos atacou a alguns dias.”

Ela se referia aos homens com as tatuagens de estrelas no pulsos, mas Rick não acreditava nisso. A maioria dos que foram assassinados ali estavam na prisão.

Daryl se aproximou de um dos caminhões e fez um sinal para que estivessem preparados, ao perceber um movimento na boleia.

Ricl se aproximou dele e aguardou na lateral do veículo por um sinal do amigo, abrindo a porta logo depois que acenou que sim.

“Não atire, por favor.” Uma mulher morena pediu amedrontada.

“Ela pertence ao grupo do governador.” Michonne rosnou lembrando-se dela.

“Não me machuque... Nós não sabíamos, mas ele é louco.” Ela soluçou. “Matou a todos.”

“Ele fez isso?” Linn perguntou com um gesto para o massacre e a mulher acenou engolindo saliva. “Queria que voltássemos para lutar, mas nos recusamos... E ele simplesmente começou a atirar em todos.”

Rick encarou os amigos e nenhum deles parecia duvidar da mulher, mesmo assim resolveram levá-la junto.

Quando chegaram a Woodbury a tarde ia pelo meio. Seguiram pela lateral que estava apenas com uma sentinela, onde Michonne disse que teriam mais facilidade para entrar.

“Aquela é Harley.” A morena informou. “Deixe-me falar com ela.”

Rick acenou que não e engatilhou a arma.

“É só uma menina.” A morena lhe disse e se afastou.

“Harley!” Gritou saindo do abrigo de um veículo.

“Quem está aí?” A garota perguntou medrosa.

“Sou eu, Karen.”

“Karen?” Ela parecia não acreditar, mas havia luz suficiente para que confirmasse quando a amiga se aproximou mais de onde estava. “Onde estão os outros?”

“O governador não voltou?”

“Não.”

“Ele os matou.” Karen lhe informou, a voz trêmula. “Matou a todos os nossos.”

“Não.” A garota gritou sem acreditar.

“Estou aqui com o pessoal da prisão.” Karen avisou. “Eles não querem nos machucar.”

Rick olhou para Daryl e depois para os demais, meneou a cabeça, guardou a arma no coldre e se ergueu com as mãos para o alto.

Convencer a garota do arco e flecha não foi tão difícil, não com Karen ao lado deles. Em Woodbury as pessoas que restaram foram pouco mais que as crianças, idosos e os com problemas de saúde.

Rick conversou com eles, daquele seu jeito carismático. Explicou que estavam apenas resgatando os amigos quando invadiram da primeira vez, que não tinham desejado aquela guerra. Não foi difícil convencê-los também com a ajuda de Karen.

Deram-se conta de que aquelas pessoas não podiam permanecer ali. Mão apenas por que o Governador poderia retornar e terminar o serviço da estrada, o louco, mas também por que não havia quem as protegesse.

“Levá-las conosco?” Michonne não estava feliz com a ideia.

“Estão indefesos aqui.” Linn falou muito dura. “Não podemos abandoná-las a própria sorte.”

“Há bastante espaço na prisão.” Daryl concordou.

Os demais não tinham nada contra e quando ofereceram a oportunidade de seguirem para um abrigo com proteção, nenhum deles deixou-a escapar.

Organizaram a partida em um ônibus escolar, com todos pegando o necessário de seus pertences pessoais. Linn e Chase foram levados à enfermaria e caçaram tudo de remédios e material hospitalar que encontraram. Karen, Michonne, Daryl e alguns outros se dirigiram a despensa para conseguir alimentos. Mais bocas, mais comida.

Sam ajudou os idosos a se acomodarem no ônibus, com suas coisas, junto com Rick, até que ele se afastou e se aproximou do portão, avaliando os poucos errantes, o olhar preocupado quando se afastou de costas para o ônibus bem ao fundo.

“Algo errado?” Sam perguntou se aproximando e parando ao seu lado.

“Algo que Hershel me contou sobre Carl.” Ele disse de pronto, sabendo que não havia por que esconder qualquer coisa de Sam, sabendo que nunca conseguiria.

“Sofia contou-me.” Sam disse com a voz muito baixa.

Rick pareceu um pouco surpreso, mas depois seu rosto assumiu aquele ar triste novamente.

“Não quis acreditar que ele poderia fazer algo assim.” Rick disse balançando a cabeça incrédulo. “Disse-me que cada vez que hesitamos em matar, alguém que amamos morre... Que ele não seria fraco como eu para deixar isso acontecer de novo.”

Sam estremeceu por que vira algo em Carl com relação a Rick, e a ela também, e isso parecia estar crescendo. Mas não era nada de Carl e não lhe cabia contar a Rick sobre suas impressões sobre seu filho. Seria presunção e muito errado.

Conhecia Rick o bastante para saber que ele lidaria com seu filho da maneira apropriada, tão logo passasse o susto inicial do que tinha sabido e ouvido do menino.

“Acha que essas pessoas irão se adaptar na prisão, depois de viver tanto tempo em um lugar assim.” Sam falou apontando para a rua deserta do que parecia um pedaço do antigo mundo.

Rick compreendeu que ela mudava de assunto não por que não queria ouvir seus problemas, mas por que ele não podia remoê-los nesse momento e sim quando fosse apropriado.

“Você quase matou um homem mais cedo.” Rick disse se referindo ao governador. Tocando em outro assunto apos responder que aquelas pessoas ficariam bem.

“Estava bem na mira, mas aquele coitado entrou na frente assim que atirei.” Sam respondeu em um esgar de remorso.

“Vamos encontrá-lo.” Rick prometeu.

“Sinto que a história desse homem conosco ainda não chegou ao fim.” Sam disse olhando para trás e notando que estavam escondidos da vista de todos por um caminhão.

Aproximou-se de Rick e o beijou, de forma lenta e inocente.

“Obrigada por nos salvar hoje.” Ela disse se afastando, sorrindo largo, jovem demais, conforme ele pensava.

Rick quis lhe dizer algo, uma certeza que teve ao imaginar que tudo poderia ter dado errado na batalha mais cedo, uma verdade que deveria ter se dado conta no momento em que a abraçava no terraço e Sam declarou que o amava, mas os demais amigos se aproximaram e a oportunidade se perdeu.