Divided

Conclusions


Descobriu que estava em estado de choque, não só pelo que fizera para encobertar o assassinato de Karen e David, mas por que Carl cogitara lhe matar e não poderia saber se ele não tentaria novamente. Nunca mais confiaria no garoto e, de agora em diante, sempre teria o pé atrás com ele.

Observou Rick a socar Tyrese, e ficou com a impressão de que o mundo se fechava ao seu redor, que as pessoas seguiam distantes, como se estivesse a olhar pelo lado errado de uma luneta. Tudo muito irreal, os sons abafados, para que pudesse fazer alguma coisa para ajudar Rick ou Ty.

“Vamos lá Rick.” Daryl resmungou antes de conseguir separar o amigo de um homem que parecia ser duas vezes mais forte que ele, mas que havia perdido em uma luta justa.

Por que, Rick levantou após o primeiro soco e Tyrese não. Tal fato indicava muita coisa sobre Rick e por que este seguia como líder deles, mesmo com a merda de um conselho a tentar fazer seu trabalho.

Rick se afastou segurando o pulso, em uma careta de dor, e Sam enfim teve seu mundo em foco.

“Está machucado?” Perguntou se aproximando e segurando seu braço, a voz em um murmúrio estranho, frágil, algo que não parecia com ela e Rick o percebeu. “Precisa ver o Hershel.”

Ele acenou que sim, por que se sentia envergonhado por perder o controle diante dela. Nunca o tinha feito antes, sempre tinha sido muito compenetrado e sério diante de Sam. Mas ela não pareceu assustada, não com seu descontrole, pelo menos.

“Rick?” Daryl chamou. “Sobre isso tudo, o que faremos?”

“Acho que o conselho deve decidir...”

“Estou perguntando a você.” Daryl foi enfático.

Rick olhou para os corpos e depois para Tyrese.

“Vamos manter entre nós e o conselho.” Respondeu. “Diremos aos demais que morreram por causa da doença, assim teremos oportunidade de avaliar as pessoas, perceber suas reações, talvez isso ajude a descobrir quem fez isso.”

A mão de Sam tremeu no seu braço, Rick percebeu, mas associou apenas com o impacto de toda a situação, jamais passaria pela sua cabeça que ela soubesse de algo, ou estivesse envolvida naquela situação de algum jeito.

Daryl concordou com um aceno e se afastou para ajudar Ty, no que foi ajudado por Carol..

“Vem.” Sam chamou Rick. “Daryl cuida de tudo aqui.”

Ele não queria, mas sorriu para Sam e se deixou levar por ela, para encontrar Hershel e se deixar cuidar.

Ao longo da manhã muitas pessoas apresentaram os sintomas da gripe e foi preciso realocar todas para um bloco de celas. O 'A' era o que menos moradores possuía, e mais afastado das demais áreas ocupadas, o que foi mais fácil de acomodar os doentes lá. Além de tudo, possuía uma sala de visitas, onde seria fácil manter a comunicação com o pessoal abrigado ali, sem o risco de muito contato.

Havia muitos doentes e poucos remédios. Assim, Daryl, Bob, Tyrese e Michone saíram para tentar conseguir medicamentos em uma universidade de veterinária, restando, dos que podiam ajudar, apenas muito poucos.

Glenn apresentou os sintomas e foi para a quarentena, para desespero de Maggie, e isso pareceu ser o empurrão que Hershel precisava para se juntar aos doentes na cela e ajudá-los, cuidar deles enquanto os remédios não chegavam.

Carol e Rick ficaram cuidado das necessidades básicas, água, cercas, errantes, com Maggie um pouco perdida, sempre na área administrativa a conversar com Beth.

Para desespero de Sam e Linn, Chase e Axel ficaram doentes e tiveram de ser confinados com os demais. Aquilo abalou as duas mulheres como o inferno. Chase era o melhor amigo de ambas, haviam passado quase um ano juntos e sozinhos na estrada, daquele jeito que Rick compreendia, por que sentia o mesmo por Daryl e Glenn de forma especial, ainda que estivesse disposto a dar a vida por todos os outros amigos.

“Eu vou ficar com eles.” Sam falou para Linn. “Precisam de alguém mais lá dentro ajudando o Hershel.”

“Não.” Rick foi taxativo, segurando o braço de Sam e a levando para longe.

Tanto ela, como Carol vinham agindo estranho durante a manhã, e ele não entendia o por que. Pensara que havia sido por toda a situação da doença, da morte horrível de Karen e David, mas sabia, lá no seu intimo, com seu instinto policial, de que era algo mais profundo.

Talvez por isso Sam estivesse tão disposta a se colocar em perigo, primeiro cuidado da quarentena na solitária e agora querendo entrar no meio do inferno.

Mas ela era sua, estavam juntos e não iria permitir que corresse perigo.

“Você não vai fazer isso.” Rick lhe disse entre dentes. “Deixei que cuidasse de Karen e David, mas não vou permitir que fique com mais de trinta doentes sem qualquer tipo de proteção.”

“Rick, você não manda em mim.” Sam respondeu também entre dentes, afastando a mão dele de seu braço, muito determinada.

“Não, não mando.” Ele concordou se aprumando, ganhando alguns centímetros sobre ela, soando decidido em suas próximas palavras. “Mas não vou deixar que se coloque em perigo, não posso perder você, entende isso? Não vou perder você.”

Sam olhou para o chão, depois meneou a cabeça e olhou para ele, para a mão que ele voltara a coloca em seu braço, percebendo que ele havia tirado a aliança na noite anterior, antes que se amassem, e não a colocara essa manhã.

Sempre achou, desde que começaram o romance que viviam, que ao levar a coisa no dedo, ele ainda estivesse ligado a Lori de alguma maneira, e isso lhe machucava. Mas descobriu que ele o fazia, não por hábito, mas por causa do filho, por uma sensação de dever como viúvo e pai. Tirá-la, era assumir com mais clareza de que estavam juntos, que eram um casal. Sendo assim, qualquer decisão que tomassem sobre suas vidas, deviam levar em conta a opinião um do outro.

Mas Sam não havia levado em conta a opinião de Rick sobre o assassinato cometido por Carl. E lhe esconder aquilo lhe torturava.Talvez por isso quisesse se voluntariar no Bloco A, e cuidar dos doentes lhe parecia uma penitência, mesmo que estivesse preocupado com Chase e Axel.

“Entendi.” Sam respondeu por fim, e ele lhe abraçou, sem se importar com Linn ou Maggie a lhe sobservar.

“Acho que enlouqueceria se perdesse você.” Ele soprou em seu ouvido, muito baixo.

Sam o abraçou mais forte, sabendo que lhe ocorreria o mesmo se o perdesse ou ele deixasse de lhe amar.

A ruiva lhes observou por um tempo, um pouco triste, mas satisfeita que Rick tenha feito Sam mudar de ideia. Desde que se conheciam a garota estava sempre tomando decisões que a colocavam em perigo para ajudar os amigos, alguma hora ela deveria pensar em sua própria segurança, em si mesma.

Suspirando, Linn atou o lenço ao rosto e se encaminhou para a entrada do Bloco A, calçando as luvas.

“Linn!” Sam chamou e se aproximou da ruiva. “O que está fazendo?”

“Vou ajudar o Hershel.”

“Não, não vai.” Sam estava muito séria.

“Acho que chegou a hora em que tomo minhas próprias decisões, Sam.” Linn sorriu. “Não posso deixar o Chase sozinho.”

“Não.” Sam lhe agarrou com as duas mãos, apertado. “Não, Linn.”

“Estarei bem.” Linn afastou as mãos de Sam com carinho. “Já tomei vacinas contra todos os tipos de doenças, quando se é astronauta é preciso, então, tenho certeza que estarei segura lá dentro.”

E seguiu determinada, abrindo a porta e sumindo por trás destas, quando a fechou.

Sam se abraçou e abanou a cabeça se afastando e Rick deixou que seguisse sozinha, por que viu seus olhos marejados e ela odiava chorar, principalmente com audiência.

Afastando-se em direção ao pátio notou Carol do outro lado cerca, lutando com o sistema hidráulico, diversos errantes ao seu redor, alheios a ela no começo, mas depois se aproximando e a louca permanecia a fuçar nos canos se colocando em perigo.

Correu para ajudá-la, conseguiram se livrar dos errantes, mas algo estava realmente errado com Carol. Ela lhe agradeceu, mas parecia com raiva, sem lhe encarar diretamente, se afastando apressada.

Rick remoeu aquele sentimento que o tomou com muita apreensão. Lembrou-se de investigar as celas da solitária sem notar nada de interessante, a não ser a marca ensanguentada de uma mão na porta, pequena, como a de uma mulher, uma criança ou um homem muito baixo.

Assim, que descartou muitas pessoas, principalmente os homens, nenhum ali era mais baixo que Glenn e, mesmo este não era tanto assim, além do mais, ele estava cuidando das cercas ao seu lado com Tyrese, não podia ter cometido aquele crime.

Com determinação se aproximou do refeitório, onde Carol enchia alguns baldes para levar aos doentes nas celas.

“Carol.” Ele chamou e ela se ergueu. “Por que foi para o lado de fora das cercas?”

“Por que era preciso.” Ela respondeu determinada, os olhos apreensivos, mas não com medo.

“Você mudou muito.” Ele se aproximou e ficaram distantes apenas um metro. “Antes você sempre estava ajudando, mas agora, agora está mais forte.”

“Daryl me ajudou a ser assim.” Ela respondeu desviando os olhos por um momento e voltando a lhe encarar.

“Não há nada que você não faça por nós não é?” Rick inclinou a cabeça e estreitou os olhos. “Nada que não faça para manter Daryl e Sofia seguros.”

“Não, não há.” Ela pareceu alerta, mas mesmo assim ainda alheia aonde ele queria chegar ao lhe dizer aquilo.

“Carol, você matou Karen e David?” Ele perguntou com muito de pesar.

“Não, não matei.” Ela respondeu e Rick pode ver a apreensão tomar seu rosto.

“Mas sabe quem matou.” Não foi uma pergunta, mesmo assim ela respondeu.

“Sim, eu sei.”

Seus olhos seguiram novamente para longe dele, encarando um ponto as suas costas e Rick se virou para encontrar Sam a observá-los, próxima o bastante para ter ouvido toda a conversa, o rosto cheio de culpa.

“Pode nos deixar sozinhos?” Ele pediu e Carol partiu.

Rick se virou completamente em direção a garota, incapaz de acreditar a conclusão a que chegava, percebendo que ela tremia levemente e não lhe encarava diretamente.

Deu dois passos e já estava parado muito próximo dela, os braços ao lado do corpo, as mãos em punhos, os olhos ardendo por que o sentia como se pudesse chorar.

“Sam?” Ele perguntou muito em uma palavra apenas.

Ela apenas pensou em como poderia lhe contar sobre Carl sem que ele sofresse. Engolindo em seco quando lhe olhou diretamente, por que Rick estava com uma expressão terrível, onde podia ler raiva, decepção, incredulidade.

“Não sabia como lhe contar.” Ela deixou escapar com muito de calma, mesmo que seu coração estivesse aos pulos.

Ele cambaleou, realmente perdeu o equilíbrio, se afastando dela e lhe olhando de um jeito estranho, como se ela não fosse ela, como se não estivesse lhe reconhecendo.

Depois a ira o tomou e ele agarrou seu braço, com muito de força, para que Sam não gemesse e se assustasse.

“Por que fez isso?” Ele perguntou em um tom que ela nunca o tinha escutado usar, algo entre uma revolta profunda e uma decepção dolorosa.

“Eu...” Sam começou e parou, estreitando os olhos por sua vez, sem entender.

Logo a compreensão a tomou por completo e foi sua vez de recuar, se separar de seu agarre e lhe olhar desiludida.

“Porra, Sam... Responda.”

Ele nunca xingava e aquilo a chocou ainda mais.

Realmente ele acreditava que ela pudesse ter feito aquilo? Aquele homem que a amara durante a noite, a quem se entregara sem reservas, que dissera lhe amar, realmente achava que ela pudesse assassinar dois amigos a sangue frio, por medo de uma doença?

“Meu Deus!” Rick ofegou e se afastou dela, interpretando errado seu silêncio.

Ele colocou uma mão na cabeça e a correu pelos cabelos desalinhados, outra na cintura, a enfaixada, começando a andar de um lado para o outro.

“Sei que é capaz de muita coisa por seus amigos, pelas pessoas de que gosta...” Ele falou e balançou a cabeça. “Mas nunca achei que pudesse... Não algo assim.”

“Rick.”

“Percebe o que fez?” Ele quase cuspiu em sua direção. “Percebe o que pode acontecer com você se alguém descobrir?”

Sam não respondeu. Apenas olhava para ele, percebia sua angustia, e aquele sentimento ruim o tomava por sua causa. Imaginou o quão ruim seria se soubesse que havia sido Carl a cometer aquele crime e manteve a determinação de ficar calada, deixá-lo pensar o que quisesse. Não queria ser aquela que lhe dilaceraria o coração.

Talvez depois, depois que tudo estivesse mais calmo, que tivessem se livrado da epidemia, pudesse contar a ele. Pensou resoluta, deixando que ele pensasse o pior a seu respeito. O amava demais para quebrá-lo agora.

“Quem mais sabe?” Rick perguntou agarrando seus ombros, as mãos levemente trêmulas, se abaixando um pouco para que seus olhos seguissem da mesma altura.

“Apenas Carol.” Respondeu dura, fria de um jeito que o ofendeu, por que a Rick pareceu que ela não estava arrependida.

“Ela vai contar ao Daryl.” Rick murmurou e afastou as mãos dela. “Posso lidar com ele. Daryl não vai contar a ninguém.”

Sam sentiu algo diferente na maneira que ele lhe olhou então. Como se ela estivesse manchada e suja de alguma maneira, de um jeito que ele até mesmo precisou limpar as palmas na calça por que estivera a tocá-la.

Doeu, mas não importava, ela também o olhou diferente, como se ele tivesse perdido um pouco de seu brilho, menor aos seus olhos, não seu Rick, apenas uma cópia dele, uma muito boa, mas mesmo assim não o homem real e que amava.

Ainda assim seus sentimentos seguiam fortes, de tal forma que precisou vencer a distância entre eles, por que se não fizesse agora, talvez depois fosse impossível.

Deu um passo e o abraçou. Rick hesitou, mas a abraçou também, encostando o rosto em seu cabelo, o coração estilhaçado, por causa do que ela fez e do que isso fazia com sentimentos por ela.

Ainda a amava. Deus, como a amava! Deu-se conta desesperado, mas o que ela tinha feito era algo imperdoável. E isso acabava por criar uma fenda entre eles, uma rachadura no relacionamento que possuíam.

“Preciso saber que me perdoa por isso.” Ela pediu contra seu peito. “Rick?”

“Acho que podemos conversar sobre isso com mais calma depois.” Ele respondeu e se afastou.

Sam deu um passo para trás, lhe olhou fundo, de um jeito que dizia muito, como se ela fosse a ofendida e não alguém que matou duas pessoas a sangue frio. Depois virou e saiu, caminhando para o Bloco C, sem olhar para trás.