Talvez ela não devesse estar ali. Pelo menos não naquela hora. Mas não conseguia evitar, ela precisava saber a verdade. Não que realmente existisse uma verdade para a ocasião. Ela apenas queria saber se tudo o que aconteceu foi real e não apenas uma diversão sem sentido. Ela só precisava saber. Apenas isso.

Seus passos leves e distraídos ecoavam pelo corredor cinza. A vantagem de estar entre os importantes para tudo é que tinha seu próprio quarto. Diferente dos outros que ficavam no andar de baixo. As paredes eram brancas e o chão era um piso cinza. Não eram cores que ela escolheria para a decoração de algo, mas não podia reclamar. Suas roupas também não eram nada legais.

Respirou fundo quando parou em frente à porta. Seu corpo inteiro ficando tenso.

Ela realmente não deveria estar ali. Foi uma péssima ideia. Ela só deveria virar, sair dali, voltar para seu quarto e ficar se lamentando pelo resto da noite.

E foi o que ela fez.

Ou pelo menos, tentou.

– Johanna? – Uma voz rouca e baixa soou como o canto de uma sereia aos seus ouvidos. – O que faz aqui?

– Kat... – Tudo bem, talvez não tenha sido uma boa ideia falar o sobrenome carinhoso que tinha dado para Katniss em seus pensamentos.

Johanna conseguiu ficar ainda mais tensa quando Katniss sorriu confusa e divertida.

– Desde quando você me chama de Kat? – Zombou e olhou para trás, dentro do quarto, então se voltou para Johanna e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. – O que quer falar comigo? Joh. – E riu fazendo Johanna corar.

– Eu... – Seus olhos se encheram de lágrimas quando se encontraram com os acinzentados de Katniss. Seus olhos foram, por instinto para os lábios avermelhados e cheios. Seu coração começou a correr muito rápido e Johanna respirou com força. – Não foi uma boa ideia. – E virou saindo com passos incertos.

– Porque não? – A voz de Katniss ecoou em um sussurro pelo corredor.

– Por favor, Katniss... – Johanna virou para a morena.

– O que? – Katniss foi se aproximando e Johanna respirou fundo e fechou os olhos com força. – Você não consegue mais ficar perto de mim? – As mãos dela tocaram em seus pulsos fazendo Johanna tremer, o polegar macio esfregando-os levemente a fizeram estremecer. – Você não gosta mais quando eu fico pertinho de você, assim... – Então aproximou seus corpos, segurando Johanna pela cintura.

Foi ai que Johanna não conseguiu mais segurar. Soltou-se de Katniss e deu dois passos para trás. Abriu os olhos e encarou os acinzentados na sua frente. Eles estavam assustados. Provavelmente por causa das lágrimas que saiam dos seus nesse momento. Ela não conseguiu evitar. E estava querendo se esmurrar por estar chorando.

– Não faça... Não faça isso comigo de novo. Por favor, não faça. – Sua voz se quebrou em um soluço. Respirou fundo tentando se estabilizar e focou seus olhos novamente nos cinzentos. – Eu não posso suportar, não de novo.

– Johanna... – Katniss suspirou e deu um passo à frente fazendo Johanna dar dois para trás.

– Eu não posso fazer isso, Katniss. Você... – Respirou fundo mais uma vez e levou as mãos até o cabelo curto. Ele tinha começado a crescer e agora já ficava jogado no seu rosto e completamente embaraçado. – Você tem que decidir, eu não posso passar por isso... não posso..

– Você sabe que eu não posso me decidir, Johanna. – Katniss falou suspirando pesadamente. – Eu o am...

– Você já disse... por favor não repete! – Implorou e viu os olhos de Katniss se encherem de lágrimas. – Eu.. Eu preciso ir. - Deu as costas e saiu correndo deixando uma Katniss chorando para trás. E ela não sabia disso.

E também não conseguiu escutar a ultima frase.

– Eu também te amo... – Katniss sussurrou vendo a morena nervosa, indo embora.

__

Alguém bateu na porta e Quinn respirou fundo enquanto olhava para o livro em suas mãos. Era antigo e desgastado, mas era bom. Ela não lembrava de passar muito tempo lendo no seu Distrito, mas com o tempo que tinha, facilmente se acostumou.

– Entra. – Pediu e olhou para ver quem entrou. Sorriu grande ao ver a morena com um sorriso cansado. – Hey, o que houve? – Bateu na cama e Rachel subiu deitando ao seu lado.

– Eu já te falei sobre o Kurt?

– Quem é Kurt?

– Oh, acho que não te falei. – Riu baixo e virou seu corpo para Quinn. – Kurt é meu melhor amigo. Nós dois e também o Jesse, éramos melhores amigos, do tipo, inseparáveis.

– Oh, agora eu entendi. – Suspirou e colocou o livro ao lado da cômoda. – Kurt é gay?

– Sim, ele é. – Aproximou seu corpo do da loira e colocou a cabeça em seu ombro. – Ele é apaixonado pelo Jesse. Ele se sente imensamente culpado por estar torcendo para que Jesse ganhasse os Jogos.

– Hm, isso é péssimo. – Colocou os lábios no cabelo castanho e enterrou o nariz nas mechas. Respirou fundo e murmurou feliz com o cheiro da morena. – Ele falou com você?

– Sim, - Os dedos dela traçavam linhas imaginarias em seu abdômen sobre sua costela machucada. – e ele estava péssimo.

– Eu imagino. – Quinn sussurrou e Rachel suspirou.

– O Kurt ele... Ele tem um irmão que participou do ultimo Jogo. – Rachel começou a falar e Quinn apertou seu braço envolta dela. – E o irmão dele foi o meu namorado. – Então seu corpo tencionou.

– Hm.

– Ele ganhou. – Rachel disse baixinho e delicadamente, com medo de dizer algo que deixasse Quinn agressiva. Mas a loira resolveu se distrair, acariciando o braço da morena. – Mas nós terminamos porque ele se envolveu com a parceira de Distrito, apenas para matá-la no final. E ele nunca se arrependeu.

Quinn se lembrava de assistir esse, Ela lembrava do garoto que ganhou. Grande. Com uma cara de estúpido. Ela realmente se surpreendeu quando ele prendeu a garota em um quarto e a deixou morrer de fome. Ela se lembrava também de odiar tanto o garoto por ele ter feito aquilo. A menina pareceu ficar tão apaixonada por ele, para ele fazer algo do tipo.

– E o que aconteceu quando ele voltou?

– Depois que terminamos, Finn foi excluído de todos do Distrito. Os pais da garota o odiavam tanto a ponto de tocarem fogo na casa dele.

– Ele morreu? – Perguntou assustada.

– Eu não sei. – Os olhos de Rachel encontraram os seus. – Ele nunca mais foi visto.

Quinn assentiu compreensiva e apertou o domínio envolto da morena, que se aconchegou mais ainda nela.

– Você o amava? – Perguntou involuntariamente e se arrependeu quando os olhos castanhos encontraram os seus novamente.

– Não. – Rachel respondeu sem hesitar. – Ele era um bom rapaz, mas eu nunca consegui amá-lo.

– Ele não era um bom rapaz pelo o que ele fez.

– É... bom. Ele chegou a ser um bom namorado. – Sorriu e Quinn revirou os olhos.

Uma batida na porta a tirou do momento entre elas. Quinn pediu para que entrassem e uma senhora loira com olhos acinzentados e com roupas da enfermaria.

– Vim trocar os curativos. – Ela avisou e Rachel sentou na cama ajudando Quinn a se deitar corretamente.

Rachel observava todos os movimentos da mulher, vendo como ela retirava a faixa com delicadeza. Estremeceu quando viu o quão machucadas estavam as costelas de Quinn. Mordeu o lábio inferior e fitou as grandes ondas arroxeadas. A mulher passava os dedos levemente sobre elas, com algum tipo de álcool na mão.

– Sente dor aqui? – Apertou levemente fazendo Quinn prender a respiração e assentir rapidamente. – Hm, terei que falar com alguém para conseguir ervas medicinais para você. Morfina não vai durar para sempre. – Enfaixou o abdômen de Quinn com outras faixas que estavam úmidas com algum liquido transparente. – Por enquanto é só, qualquer coisa é só chamar. – Ela sorriu para Rachel que sorriu de volta e voltou seus olhos para Quinn, enquanto a mulher ia embora.

A cabeça da loira estava jogada para trás e seus olhos fechados firmemente. Rachel passou os dedos pelo cabelo curto e loiro, vendo Quinn respirar fundo e abrir os olhos devagar.

– Com dor? – Perguntou e ela assentiu resmungando. – Devo chamar a enfermeira novamente? – Quinn negou e Rachel sentou na cama ao lado dela. – Tem certeza?

– Sim. – Quinn impulsionou para cima para sentar na cama e Rachel a ajudou. Colocou o travesseiro inclinado para inclinar o corpo da loira. – Só é um incomodo.

A mão da morena foi até as costelas da loira e passou os dedos delicadamente sobre as faixas úmidas. Quinn colocou a mão sobre a dela e Rachel a olhou nos olhos. Rachel se inclinou sobre Quinn e colou sua testa na da loira. A outra mão de Quinn foi para a bochecha de Rachel, acariciando as maçãs do rosto da morena com o polegar.

– A pessoa que fez isso com você... – Rachel nunca iria dizer o nome dele, e Quinn entendia, ela assistiu tudo que aconteceu com ela, isso seria doloroso. – Eu nunca me senti tão feliz por ter matado alguém...

– Não diga algo assim. – Quinn sorriu e abriu os olhos sem saber que os tinha fechado. – Ele nem está aqui para se defender.

– Ele mereceu.

– Sim, ele pode ter merecido. – Suspirou pesadamente e esfregou o nariz no da morena. – Mas eu também mereço...

– Não! – Rachel se separou dela e ficou em pé. Ela levou as mãos até o cabelo castanho e balançou a cabeça fervorosamente. – Ryder era uma pessoa horrível! Como você pode dizer que também merecia o que ele teve?

Quinn respirou fundo e fechou os olhos. Suas costelas doíam tanto que sempre que seu coração batia elas ardiam. Levou as mãos até elas e suspirou. Abriu os olhos e olhou para Rachel. Ela estava de costas e de braços cruzados. Parecia frustrada.

– Rach. – Chamou e a morena virou para ela. Os olhos vermelhos e cheios de lágrimas. Quinn ergueu a mão e a morena foi até ela, sentando na cama novamente. – Está tudo bem, eu estou bem.

– Você não pode dizer que merecia o que aquele doente teve. – Rachel disse chorando e Quinn balançou a cabeça. Levou uma mão até o rosto da morena e empurrou uma lágrima para fora do seu rosto com o polegar.

– Eu não vou dizer. – Disse e Rachel assentiu. – Eu prometo que nunca mais falo isso.

Colou suas testa se suspirou feliz sentindo o hálito da morena em seu rosto. Segurou o rosto dela e colou seus lábios. Sentindo Rachel suspirar com o gosto dos lábios da loira. Abriu os lábios da morena entrando com sua língua e escutando Rachel gemer baixinho.

Quando seus lábios se separaram. Quinn lambeu os lábios e suspirou.

– Eu nunca vou me cansar de te beijar. – Sussurrou roucamente e Rachel riu baixinho e beijou seus lábios novamente.

– Hey! – Um grito fez com que elas se separarem. Santana olhava para as duas com um sorriso malicioso. – Vão transar mesmo que uma de vocês não poder se mexer? – Zombou e Quinn revirou os olhos.

– O que veio fazer aqui?- Quinn perguntou bufando e Santana arregalou os olhos quando pareceu lembrar.

– Oh! Sim. – Ela colocou sua expressão profissional e Quinn se sentiu tensa. – Nós recebemos uma mensagem do Distrito Sete. A Capital vai atacar daqui a... – Ela olhou o relógio. – Duas horas.

Rachel arregalou os olhos e levantou rapidamente. Quinn fez o mesmo. Correu para suas roupas enquanto Rachel saía do quarto. Santana já tinha saído a um tempo.

Quinn retirou a roupa de hospital que usava. Suas costelas ainda latejavam, mas ela tinha que melhorar, não podia fraquejar agora que estava para acontecer uma das maiores guerras que já aconteceu nesse mundo. Colocou sua calça de treinamento que usava para treinar em seu Distrito, colocou uma camisa branca e sua jaqueta de couro. Abriu algumas gavetas na pequena cômoda e entrou em pânico quando não achou nenhum armamento.

Olhou para a porta quando escutou os gritos.

Já tinha começado.

Seu coração acelerou quando percebeu que Rachel não estava ali. Ela tinha que achar a morena, tinha que ter a morena perto de si, não passou por tudo aquilo na Arena, para depois perdê-la em uma rebelião. Quinn tinha que achar Rachel.

Saiu correndo do quarto, ignorando a leve dor em suas pernas por causa do tempo que tinha passado deitada em repouso. Antes que fosse procurar Rachel, tinha que procurar Santana, só a latina sabia onde estava seu armamento.

Correu por entre as pessoas. Desviando de alguns que estavam recolhendo suas coisas. Alguns queriam fugir, ou seja eles não confiavam nos Rebeldes. Ao menos, não para protegê-los da ameaça que era lá fora.

Quinn trombou com algumas pessoas até que trombou com uma de frente e caiu.

– Merda! – A menina guinchou e Quinn passou a mão pelo cabelo antes de levantar e estender a mão para ela. Ainda não tinha visto quem era, mas não podia sair correndo depois de derrubar uma pessoa.

– Desculpa, eu estava com muita pressa. – Pediu e a menina olhou para cima. – Johanna?

A morena revirou os olhos e aceitou sua mão, se levantando e esfregando os braços.

– Claro, que sou eu, quem mais seria? – Ela revirou os olhos mais uma vez e Quinn franziu o cenho.

– Porque está indo para o outro lado. – Perguntou e viu Johanna corar. Quinn tinha ficado um pouco curiosa, porque Johanna fazia parte dos Rebeldes e ela não podia estar fugindo.

– Katniss. – Ela diz e Quinn entende logo de primeira.

– Ela está lá? – Perguntou e olhou ao redor, vendo que não tinha mais ninguém.

– Eu não sei onde ela está! – Johanna olhou para Quinn com os olhos brilhantes e cheios de dor e arrependimento. – Ela não está no quarto dela, não está com Peeta, não está com sua mãe... – Passou as mãos pelo rosto. – Eu não deveria ter deixado-a sozinha... – Falou baixinho e Quinn ignorou a curiosidade.

– Já viu se ela está na sala de armamento?- Quinn perguntou e os olhos e Johanna se arregalaram.

– Eu não...

– Não temos tempo para pensar. – Ela pegou o braço da morena e saiu correndo. Ainda tinha que falar com Santana, mas era provável que a latina estivesse na sala de armamento com o resto dos Rebeldes treinados.

__

E Santana realmente estava na sala de armamento. Tanto como Katniss, Rachel, Marley, Brittany e todos...

– Nós estamos preparados para isso, certo? – Katniss perguntou e todos responderam afirmativamente no mesmo momento.

Enquanto Katniss falava, Rachel estava atrás dela, se equipando. Quinn tentou ir até a morena mas Santana chamou sua atenção e ela teve que ir até a latina.

– Tem certeza que vai fazer isso? – Santana perguntou e Quinn respirou fundo, levando uma mão até suas costelas. A adrenalina era tão grande que ela não sentia mais o quanto elas latejavam.

– Sim, eu sei que posso fazer isso. – Disse e Santana bateu a mão no seu ombro.

– As espadas são naquela direção. – Apontou para uma fileira onde alguns rebeldes escolhiam as suas. Quando Quinn foi andando naquela direção, Santana apertou seu ombro e a trouxe de volta até ela. – Maaasss... – Quinn a olhou séria e a latina riu. – A sua é especial. – Santana apontou para onde Katniss ia, junto com Johanna e Brittany.

Rachel foi se aproximando de Quinn enquanto a loira olhava naquela direção. Santana já tinha se afastado.

– Está pronta? – Rachel perguntou baixinho. Quinn a olhou e não conseguiu evitar se sentir excitada com a morena. Rachel usava uma roupa de couro apertada, aberta com um decote fantástico, botas de cano longo preta, luvas pretas, o cabelo preso em rabo de cavalo alto, sua franja solta no rosto. E ainda tinha seu arco com a aljava de flechas, ambos presos em suas costas. – Quinn?

– Huh?

– Meus olhos são aqui em cima. – Quinn arregalou os olhos e percebeu que encarava o decote da morena descaradamente. Corou e a morena riu quando viu as bochechas rosadas.

– Sim, eu estou pronta. – Disse tentando mudar de assunto.

Rachel riu e ficou na ponta dos pés para colar os lábios nos da loira.

– Vai pegar sua espada. – Falou baixinho contra os lábios de Quinn e os beijou mais uma vez antes de se afastar.

Quinn respirou fundo pensando na sorte que tinha e correu até onde Brittany a esperava.

__

A loira tinha um sorriso estranho enquanto Quinn a seguia até a sala de armamentos especiais. Quinn tentou não pensar que Brittany tinha a visto cobiçando o corpo de Rachel, mas ela sabia que a loira tinha visto. Brittany riu e Quinn bufou passando pela loira e tentando alcançar Katniss e Johanna que andavam mais afastadas. Na verdade elas estavam bem afastadas uma da outra.

Não demorou quando elas chegaram na sala de armamento especiais. Beetee Latier, que tinha criado esse tipo de armamento, estava sentada atrás de uma mesa, na mesa tinha um arco estranho com uma aljava de flechas negras. Quinn logo entendeu que aquele seria o arco de Katniss. Ao lado do arco tinha dois machados, no topo do machado tinha um desenho de um tordo, e ao lado desses machados tinha sua espada. Longa, prata com o cabo negro.

Quinn se aproximou e tocou o cabo da espada, vendo Johanna pegar seu machado e girar na mão, para logo pegar o outro e sair correndo. Katniss pegou o arco e o prendeu na mão, pegou a aljava de flechas e a prendeu nas costas, se despediu de Beetee e saiu atrás de Johanna. Quinn olhou para espada, fixamente.

– Não gostou? – Beetee perguntou olhando para Quinn. A loira balançou a cabeça e riu.

– Eu adorei. – Disse e mordeu o lábio inferior, segurando o cabo da espada. – É só que... Eu nunca pensei que estaria em uma situação como essa...

– Difícil, não é?

– Muito. – Assentiu e levantou a espada, girando na mão e suspirando quando sentiu o peso dela. Não era leve, mas também não era pesada. Era perfeita. – Isso é surreal. – Disse quase em reverencia.

Beetee a olhou fixamente, então levantou e andou até um armário que tinha atrás da sua mesa.

– Não era para eu lhe dar isso agora, mas acho que você o merece. – Disse e Quinn o olhou, confusa. Observou quando ele pegou uma caixa de dentro do armário e a levou até a mesa. Parecia mais uma maleta, era cinza e claramente de metal. – O que tem aqui, é totalmente diferente do que você viu na Arena. – Ele avisou e abriu a maleta. Quinn arregalou os olhos com o que viu.

Eram adagas... Não adagas simples, mas aquelas que prendem no antebraço. São curvadas para dentro com as laminas impossivelmente afiadas.

– Isso...

– Não é algo que eu fiz para dar a alguém. – Ele diz rapidamente e olha sobre o ombro de Quinn, para ver se tinha alguém vindo. Beetee pegou a adaga na mão e pressionou o cabo, fazendo as laminas se encolherem e desaparecerem. – Sempre que apertar esse botão. – Ele mostrou o botão escondido no interior do cabo. – As laminas irão sair, mas também irão entrar.

Ele se aproximou de Quinn, rodando a mesa e pairando ao seu lado. Pegou seu braço. Quinn retirou a jaqueta e deixou que Beetee prendesse as faixas da adaga em seu braço. Segurou o cabo quando ele terminou e sentiu o quão leve ela era.

– É leve. – Comentou e Beetee assentiu.

– É bom para locomoção. – Ele disse e pegou a outra prendendo no outro braço de Quinn. – Enquanto você usar a espada, não incomodará.

Quinn pegou a espada e girou na mão, sentindo que realmente não dava para sentir que tinha o cabo da adaga em sua mão. Era como se fosse uma luva que quando apertava saía sua adaga.

– A lamina, tanto da espada quanto das adagas, são feitas de aço damasco, muito difícil de achar hoje em dia, mas é o material que fazemos grande parte dos armamentos daqui. – Ele tocou no tordo desenhado no cabo da espada. – Isso é muito importante, Quinn. Eu confio em você para usar essas adagas.

– Mas nós acabamos de nos conhecer. – Quinn comentou sorrindo e pegando a capa da espada, prendendo-a em seu cinto. Vestiu a jaqueta novamente e se sentiu bem, como nunca mais tinha sentido.

Beetee a olhou no fundo dos olhos e Quinn sentiu a intensidade.

– Eu conheci sua mãe, Quinn. – Ele disse baixinho e tocou em seu ombro. – Ela era uma mulher fantástica.

Quinn franziu o cenho. Como ele tinha conhecido sua mãe? Judy era do Distrito Um e Beetee era do Distrito Três.

Antes que pudesse perguntar Santana entrou correndo na sala.

– Vamos! Quinn! Eles estão atacando! - Ela gritou e puxou a loira pelo braço, correndo para o lado de fora. Quinn virou e viu Beetee guardar as coisas e correr para dentro da sala.

__

As pessoas corriam e Quinn via quando elas eram jogadas para o lado. Ou sendo empurradas. Rosnou e saiu correndo.

Santana estava ao seu lado com uma arma atirando em quem chegava perto dela. Rachel estava longe de ser vista. Johanna estava do seu outro lado e Katniss estava mais na frente, erguendo o arco. Vários outros em seu exercito. Os soldados e Pacificadores iam caindo rapidamente.

It's bugging me
Grating me
And twisting me ar
ound

Yeah, I'm endlessly
Caving in
And turning inside out

O primeiro soldado da capital que se aproximou de Quinn, a loira rodou e atingiu a espada no pescoço do soldado. Seus olhos arregalaram quando viu que a cabeça do homem saiu do seu corpo e voou longe.

– Parabéns, Fabray! – Johanna gritou atrás dela. Quinn virou e viu a morena com um sorriso, então o sorriso se transformou em uma expressão de horror. – KATNISS! – Ela gritou e Quinn virou a tempo de ver Katniss virar e Johanna correr, saltando na frente da morena e cortando o soldado ao meio.

'Cause I want it now
I want it now
Give me your heart and your soul
And I'm breaking out
I'm breaking out
Last chance to lose control

Quinn arregalou os olhos e ficou sem saber o que fazer.

– Quinn! – Alguém a chamou e ela virou, vendo Rachel mirar em algo atrás dela. – Se abaixa!

E ela fez o que a morena mandou, vendo a flecha passar por cima da sua cabeça e atingir um Pacificador no peito. O homem caiu para trás.

A morena correu até ela e tocou seu ombro.

– Tudo bem? – Gritou no meio dos tiros e golpes que tinham ao seu redor.

Yeah, it's holding me
Morphing me
And forcing me to strive
To be endlessly
Cool within
And dreaming I'm alive

'Cause I want it now
I want it now
Give me your heart and your soul
And I'm breaking down
I'm breaking out
Last chance to lose control

Quinn assentiu e olhou sobre o ombro de Rachel. Santana tinha acabado de levar um golpe na perna, fazendo-a cair com um joelho no chão. Seus olhos se arregalaram e Rachel olhou para trás. Quinn não pensou duas vezes em correr até Santana. Quando o soldado apontou a arma para Santana novamente, Quinn pulou em seus ombros, cravando a espada em sua nuca, atravessando seu pescoço.

Sangue respingou no rosto de Santana, que abriu os olhos e viu Quinn pular de cima do Pacificador e retirar sua espada, fazendo o homem cair no chão.

– Como você...?

– Ande perto de mim. – Pediu e puxou Santana para cima. A latina guinchou quando seu pé tocou no chão. Quinn olhou para sua perna, vendo o sangue escorrer. – Consegue andar? – Perguntou e Santana negou com a cabeça.

– Vai na frente. – Pediu e Quinn mordeu o lábio inferior com força. Os olhos negros de Santana encontraram os seus e Quinn sentiu seu coração se partir.

– Santana...

– Eu não vou conseguir acompanhar você, vá! – Gritou com os olhos se enchendo de lágrimas.

Quinn olhou por cima do ombro de Santana, vendo Brittany se aproximar delas e pegar a latina pelo braço, colocando seu braço ao redor do seu ombro.

– Deixa comigo. – Brittany disse com um sorriso, mesmo que seus olhos estivessem cheios de dor. – Eu cuido dela.

Santana sorriu para a loira e Quinn olhou no fundo dos olhos azuis.

– Se cuidem. – Pediu e viu Santana assentir. Brittany fez o mesmo. Ela podia confiar na suas amigas. Bem, ela tinha que confiar.

Assentiu e saiu correndo. Johanna a esperava com seu cabelo curto jogado no rosto sujo de terra. Quinn parou ao seu lado e observou o numero de Pacificadores diminuir. Eles estavam conseguindo.

And I want you now
I want you now
I feel my heart implode
And I'm breaking out
Escaping now
Feeling my faith erode

__

Só tinha sido o primeiro ataque. Quinn sabia que agora era a hora deles atacarem. Assim que viu o resto de Pacificadores recuando, ela sabia que era o momento certo para que seu exercito fosse atrás deles e atacassem a Capital. Mas tinha medo. Tinha medo do que poderia acontecer.

Não teve muito tempo para pensar quando Haymitch surgiu correndo até eles.

– Vamos! Temos que ir! – Ele disse e alguns soldados rebeldes foram atrás dele até um aerodeslizador.

Vários aerodeslizadores foram aparecendo e Quinn temeu quando viu que seu exercito de rebeldes estavam indo para eles. Ela sabia que tinha que ir, mas a apreensão era grande demais.

– Quinn. – Santana a chamou e Quinn viu que agora ela mancava enquanto se aproximava dela.

– Tudo bem com a perna? – Perguntou e viu Santana estremecer, seu rosto sujo de fuligem e terra.

– Quando ganharmos essa guerra, precisarei de uma perna nova. – Disse simplesmente e Quinn tentou sorrir. Olhou por cima do ombro da latina e viu Rachel conversando com Katniss enquanto as duas iam em direção a um aerodeslizador.

Sabia que tinha que ir com elas. Só estava arrumando coragem.

– Você tem que ir. – Santana disse sombriamente e Quinn a olhou. – Eu não vou. – Disse e Quinn assentiu entendendo o porque de ela não ir. – Nem Britt. – Completou e Quinn assentiu novamente. – Tome cuidado. – Concluiu e passou os braços ao redor de Quinn, abraçando-a com força.

Quinn sorriu e passou os braços ao redor dos ombros da latina, sentindo o cheiro de suor que emanava dela.

– Você também. – Sussurrou e se soltou dela. – Vou indo. – Disse e se afastou. Johanna correu até ela.

Ficou feliz quando percebeu que Johanna não queria falar. Ela também não queria, e não estava nem um pouco a fim de conversar com ninguém. Somente andou com a morena até o aerodeslizador e entrou, sentando ao lado de Rachel e pegando sua mão, apertando-a.

Rachel olhou para Quinn inclinando para beijar seus lábios.

– Eu te amo. – Sussurrou contra os lábios da loira, que sorriu sentindo seu medo ir embora.

– Eu também te amo, Rachel. – Disse sincera e apertou a mão da morena contra a sua. – Tanto que você nem faz ideia.

– Sim, eu faço. – A morena disse com uma expressão desafiadora. – Tudo vai ficar bem. – Disse depois de um tempo.

Quinn assentiu, começando a realmente acreditar nisso.