— Shiu! Silêncio pessoal! – Alice pediu baixinho enquanto faziam todas se esconderem.

Esme permaneceu no mesmo lugar com um sorriso no rosto. O que sua filha não fazia por uma boa festa? Chás de bebê não eram comuns dentro da realeza. Primeiro por motivos óbvios. Mamães reais já possuíam tudo que precisavam para o seu bebê e o intuito do chá era justamente arrecadar fraldas e presentes. Mas Alice insistiu que Renesme merecia um momento para descansar dos seus compromissos e celebrar o novo neném que estava para chegar.

Era falta do que fazer? Com certeza! Mas a rainha estava adorando aquela bagunça toda. Tudo estava absolutamente lindo nos jardins do palácio de Clarence. A decoração estava regada de flores e detalhes em azul bebê por que todos já sabiam que seria um menino dessa vez. Era um dia quente de verão, então tudo estava perfeito para uma festa.

Rosalie abraçou Renesme que estava com os olhos vendados e foi guiando-a até onde todos estavam. Esme percebeu o sorriso doce de sua neta que com certeza já desconfiava do que estava acontecendo. Ao redor estavam todos que ela mais gostava. As primas com suas crianças, amigas íntimas, suas tias, Sue, Leah, Ashley e sua avó materna que tinha conseguido dar um pulo em Belgonia para uma surpresa.

— O que está acontecendo madrinha? – Renesme perguntou enquanto se aproximava ainda mais de onde todos estavam.

— Tenha paciência e controle sua curiosidade. Tenho certeza que vai amar!

A duquesa a levou mais um pouco para frente e tirou a venda que estava nos olhos da princesa. Todos gritaram “surpresa” e Renesme olhou extasiada para todos ao redor. Os seus olhos estavam ameaçando a derramar lágrimas que Esme sabia que logo cairiam.

— Oh Meu Deus! Eu não acredito que vocês fizeram isso!

— Você merece, querida. – Renée falou no meu da multidão.

— Vó! Você veio!

Renesme foi ao encontro de Renée e lhe deu um abraço apertado, não conseguindo mais segurar as lágrimas. Esme sabia o quanto a mãe de Bella significava para os seus netos. Ela e Charlie eram um pedacinho daquela mãe que eles perderam e estar perto deles é como estar com ela novamente.

— Obrigada por ter vindo! Obrigada a todos por estarem aqui! Tudo está muito lindo. – A princesa falou enquanto observava os belos arranjos florais frescos e as decorações que a rodeavam.

— Foi um prazer, de verdade. – Rosalie sorriu. – Todas nós queríamos fazer algo especial para você. - disse ela, oferecendo-lhe um sorriso satisfeito.

— Eu não posso agradecer o suficiente meninas. Isso é maravilhoso! - Renesme disse com uma piscadela e gesticulou para que todos se aproximassem dela e acabou gerando um abraço grupal. – Eu e esse garotinho aqui estamos muito mimados hoje.

— Agora você vai sentar por que temos uma homenagem pra você. – Alice falou afoita já fazendo Renesme ir para a poltrona colocada especialmente para ela.

No telão começou a ser exibido várias imagens da princesa em vários estágios de sua vida e depois ao lado de William e da pequena Isabella. Mais e mais fotos dela na primeira gravidez e na segunda. A princesa já se derretia em lágrimas quando Alice começou a falar algumas palavras.

— Ness, hoje é um dia muito especial não só para você, mais para todas nós que aqui estamos para te homenagear. Dar as boas – vindas a esse meninão que está crescendo dentro de você. Ainda é muito difícil acreditar que você cresceu, meu bem. Um dia desses estávamos celebrando o seu nascimento. Meu Deus! Minha primeira sobrinha! Eu sei que isso é chato de se ouvir já sendo uma mulher feita de mais de 30 anos e com um bebê, mas é isso. Sinto muito orgulho da pessoa que você se tornou. Essa mulher responsável, íntegra, de bons valores. Tenho certeza que esse pequeno príncipe e a nossa Bebela vão pegar todas essas qualidades. Desejamos que o neném venha com muita saúde e irá trazer ainda mais felicidades para a nossa família.

— Obrigada tia! – Renesme agradeceu enquanto todos aplaudiam e se dispersavam pelo jardim.

Esme não devia se impressionar mais com os talentos da família para organização de eventos, mas ela se superava todas às vezes com a sua criatividade. Cada talher tinha uma cegonha de papel machê feito à mão. Isso a lembrava muito a sua mãe e as artes que ela fazia. Karen Platt sabia tirar da cartola, das coisas mais simples algo belo.

O menu era composto por comidas leves, mas sofisticadas com canapés, sanduíches, frutas frescas, café e ponche. Renesme parecia muito emocionada ao conversar com a tia, que nunca deixava a festa esfriar. Depois de pedir para que quisesse deixar as suas mensagens para o bebê em fraldas de papel enquanto comiam, podiam se juntar ao grupo para um jogo.

— Ok senhoras, vamos colocar vendas e tentar trocar fraldas e vestir uma boneca em dois minutos, antes que o cronômetro toque. A boneca de quem tiver a melhor aparência vence!

As mulheres pareciam animadas a se juntar a grande mesa com várias bonecas e fraldas. Esme resolveu continuar apenas olhando. Não seria justo com as outras. Sua experiência remota de três bebês que fez questão de cuidar antes que qualquer babá pudesse assumir um trabalho que era seu.

— Ainda bem que Bebela e Diana possuem muitas bonecas para contribuir com o nosso jogo! – Marlowe falou sorrindo.

— Tomara que eu não envergonhe. – Renesme falou com as bochechas coradas. – Tenho uma filha.

— Todas aqui temos, meu anjo. – Rosalie falou. – Se passarmos vergonha vai estar tudo certo. Na maternidade nunca aprendemos algo de uma vez.

— Devemos equilibrar esse jogo. Primeiro fazer uma rodada com as mamães mais experientes e depois com aquelas “marinheiras de primeira viagem”. – falou Ashley.

— Concordo. – disse a tia materna de Renesme.

— Ok. – concordou Alice. - Essa primeira rodada vai ser com aquelas que já tiveram ao menos um filho. Aposto que ganho de todas.

Todos riram e Rosalie se ofereceu para vendar as participantes. Ela prosseguiu com essa até todas estivessem devidamente vendadas e prontas. A duquesa acionou o cronometro e todas começaram a se mexer.

— Que vença a melhor! Vou ficar de olho!

As risadas se espalharam por todo o lugar. Esme se divertia horrores observando a cena. Tanto que nem percebeu quando Renée se aproximou dela. A rainha gostava do jeito dela. A mãe de Bella tinha uma leveza impressionante. Parecia que nada na vida era capaz de abalá-la.

— É impressionante como o tempo passa, não é? Um dia desses éramos nós com aquela barriga. – comentou.

Esme concordou com a cabeça, especialmente pelo fato de que estava vendo as suas netas agora experimentando a maternidade. Era como viver várias vidas em uma.

— Verdade. O tempo é cruel. Passa diante dos nossos olhos.

— Minha Bella iria adorar estar aqui com a filha. Nada como uma mãe para acompanhar um momento tão singular como esse.

— Todos sentimos muita falta de Bella. Foi um infortúnio muito grande tudo que aconteceu. Acho que nunca desejei a você o apoio que você e Charles mereciam. Acho que quando um filho morre, perdemos um pouco da gente também.

— Perdemos. Fica um vazio inexplicável. Ela veio de mim. Juro que queria colocá-la de volta no meu ventre só para não perdê-la nunca.

A rainha deu abraço apertado em Renée. Ela mesma tinha passado por várias perdas em sua vida, uma atrás da outra, pessoas importantes. Jamais poderia imaginar como era sentir a dor de perder um filho, embora quase tenha tido uma dimensão no quase aborto na gravidez de Emmett. Mas era diferente, sabia disso. Ela não tinha nem quatro meses de gestação. Bella tinha uma vida.

Renée limpou as lágrimas e sorriu ao ver o esforço da neta em completar a prova.

— Ela está feliz, não é? Na última vez que vim aqui antes do casamento me parecia que estava bastante deprimida. Fiquei bastante mal com isso.

— Está sim. Finalmente Renesme conseguiu se encontrar. Todo o processo lhe deu uma visão da força que tinha. William também faz muito bem a ela. Os dois se completam.

— Que família linda eles estão formando!

— Oh sim! Fico contente em ver isso crescendo e se solidificando.

— Quer saber! Vocês todos são muito lindos juntos! Eu acompanhei o seu casamento com Carlisle. Lembro de estar lá quando os seus bebês nasceram. É bom ver que tudo deu certo!

Esme sorriu com o momento fã girl de Renée, especialmente por ela conseguir mudar o clima de uma hora para outra. Impressionante! Tinha certeza que ela era de uma leveza que não suportava guardar coisas ruins por muito tempo. Tinha o coração e áurea pura.

— Eu não acredito! Como eu não soube disso antes?

Renée gargalhou, mesmo com algumas lágrimas ainda caindo em seu rosto. Era bom poder mudar o clima da conversa.

— Eu sempre fui fã de vocês dois. Nossa! E de pensar que estou aqui com você, com a família que acompanhei pela TV, pelas revistas, consolidada. Isso é que é vencer.

— Imagino. Bom saber que não decepcionamos você. – Esme piscou.

— Relaxa! Sempre soube do caráter de vocês dois. Sabiam que era tudo verdadeiro. Deus! Me lembro quando Emmett nasceu.

— Olha só onde estamos? Aqui estão as duas filhas e netos dele.

— Verdade. Sabe que eu comprei uma cesta com vários presentes para ele? Fiquei na porta do hospital esperando você e Carlisle saírem com ele para a gente conhecer.

— É sério? Eu devo ter recebido o seu presente.

— Tomara que sim. Por que na camisetinha tinha “bem – vindo pequeno príncipe! Suas titias te amam!”. As tias era eu e umas amigas do fã – clube que formamos.

Esme sorriu. Era bom estar ouvindo essas histórias de alguém que acompanhou a sua vida de fora. Ela tinha ciência de como haviam pessoas que admiravam ela e Carlisle no passado, mas não sabia como era ouvir o outro lado da narrativa. E de imaginar que essa mulher teve a chance de ter uma filha entrando para a família de que era fã. O destino era mesmo engraçado.

— Fico maravilhada em ouvir isso, sabia? Não tínhamos como ter dimensão do amor que vocês tinham pela gente. Escutar você falando torna tudo muito real.

— E era real. Você e Carlisle foram à melhor coisa que aconteceu para Belgonia posso atestar. Foi bom torcer para as pessoas certas e ainda melhor ver que tudo deu certo no final.

A rainha olhou para parte de sua família no jardim e sorriu.

— Sim, tudo deu certo.

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 15: Vidas que chegam e se vão.

Muitos perguntam o que a esposa de um príncipe ou de um rei faz e eu respondo, na teoria, somente a rainha consorte tem algum poder de fato. Em caso de ausência prolongada do monarca, ela pode assumir. Eu fui regente duas vezes. A primeira quando Carlisle fez uma turnê com Edward e a outra vez quando ele passou por uma cirurgia nos olhos. Mas quando isso não ocorre, o representamos em eventos e trabalhamos em projetos. Na prática, a coisa que mais você ouve logo quando se casa é: “quando vai vir o bebê real?”. Acreditem, eu escutei muito essa pergunta.

Quando me casei, eu assinei um contrato de casamento, onde eu sabia da obrigatoriedade de ter dois filhos, um herdeiro e um reserva. Porém, Carlisle e eu combinamos de não pensar nisso logo no começo por tudo que estávamos passando. Queríamos curtir o nosso relacionamento. O começo de tudo é tão precioso para um casal! São momentos tão importantes para o fortalecimento da relação que gostaríamos aproveitar o máximo e sem pressa.

Mas seis meses depois comecei a ficar paranóica. Principalmente por que a minha gravidez virou assunto principal entre os funcionários que trabalhavam pra gente. Todo mês era uma expectativa para um anúncio, para um programação especial para uma possível gravidez e licença. Aquilo me incomodava por que eu comecei a entender que a minha principal função ali era engravidar e logo. Por que o tempo para uma gravidez real costumava acontecer num intervalo de seis a oito meses depois do casamento.

Incontáveis vezes, meus sogros tocavam no assunto sempre que podiam. “Um bebê agora seria muito propício”, “não acham que está na hora de nos dar um neto?”, “Deviam parar um pouco e pensar em formar uma família.”. Isso quando Carlisle estava por perto. Pois quando eu estava sozinha o recado era mais direto: “você precisa dar continuidade a nossa linha sucessória, isso é necessário para a sobrevivência da monarquia”. Isso ficou na minha cabeça como um alarme que sempre tocava.

Depois de um tempo passei a me preocupar de verdade. A pressão era terrível! Já fazia um tempo que eu estava casada, tendo relações naturalmente e nada. Eu tinha medo do problema ser comigo e tudo ficar pior para o meu lado. Mas eu tinha feito um exame antes de me casar que garantia a minha fertilidade, o que poderia estar errado? Tenho certeza que a minha ansiedade contribuía e as cobranças também. Era frustrante menstruar todo mês e perder a esperança de estar grávida.

A doença do meu pai me distraiu um pouco. Ele acabou tendo um AVC e ficou com parte do corpo paralisado. Depois disso tudo mudou lá em casa. Obviamente, ele teve que deixar de trabalhar e mamãe também para cuidar dele. Assumi as despesas de casa enquanto não conseguiam a aposentadoria dele para dar uma ajudada a mais.

O certo é que ele nunca mais foi o mesmo. Na verdade, papai já tinha perdido parte de sua vontade de viver quando se mudou para Belgravia. Sua vida era em Orland, seu sorriso era mais vivo, suas piadas eram mais engraçadas, tudo tinha mais cor pra ele. Agora, deitado numa cama, é que ele tinha perdido de vez o ânimo. Se recusava a fazer fisioterapia. O cigarro, mesmo sendo a causa da maioria dos seus problemas, não saia de sua mão. Insistíamos para que ele parasse, mas ele era absurdamente teimoso.

Parecia que tudo tinha virado trevas de repente. As bênçãos só vieram mesmo em janeiro de 1983. Eu vinha me sentindo muito mal. Já estava com medo de estar doente também, seria o que faltava para completar a seqüência de desastres que vinha acontecendo na minha família. Eu não podia me alimentar que eu vomitava tudo e isso estava me enfraquecendo. Numa manhã, depois de uma rodada terrível de enjôos, Carlisle segurava os meus cabelos e me observava atentamente.

— Essie, posso te perguntar uma coisa?

— Sim? – falei envergonhada dele estar presenciando aquela cena deplorável.

— Quando veio a sua última menstruação?

Olhei para ele sem entender por que dele estar me perguntando algo assim.

— Acho que você pode estar grávida, meu amor.

A minha mente se acendeu com aquele comentário. É claro que eu podia estar grávida e nem tinha me tocado disso. Com a doença do papai e os constantes cuidados que tínhamos com ele me distraiu da minha vigília a minha menstruação. Me senti uma idiota por não ter percebido o óbvio e chateada por não ter feito um anúncio surpresa para Carlisle antes dele descobrir sozinho.

Mas a alegria acabou durando pouco, pois fiquei cada vez pior. Os enjôos eram tão fortes que eu acabei ficando de cama sem conseguir fazer muita coisa. Foi então que todos acabaram descobrindo da novidade e resolveram me levar a um médico, amigo de Carlisle inclusive. Doutor Walter chegou a conclusão que eu sofria de hiperêmese gravídica e tive que ficar internada por uns dias para me restabelecer.

Geralmente, por tradição e não por regra, quando é descoberta uma gravidez, ela é mantida em segredo até próximo do fim do terceiro mês. Isso é para se ter uma garantia que não haverá nenhum aborto. A minha já começou diferente a partir daí. Na verdade, dizem que fui uma duquesa rebelde por que fiz muitas mudanças, bom, algumas, mas a maioria delas vieram contra a minha vontade.

Depois que fui internada, os jornais começaram a especular o que estaria acontecendo. O palácio teve que emitir uma nota confirmando a gravidez antes do tempo até por medo da própria mídia descobrir sozinha, já que privacidade é uma coisa que alguém da realeza não tem.

Fiquei uma semana internada, mas quando sai senti o que era a devoção que as pessoas têm por bebês reais. Haviam várias pessoas em frente ao hospital com flores, loucas para me ver e me darem uma palavra de carinho. Isso foi apenas o começo. Não participei de eventos por que tive que me resguardar nos primeiros meses. Mas eu acompanhava as notícias pela TV e nos jornais, em todo lugar só se falava no próximo príncipe ou princesa que viria por aí. Isso me enchia de expectativa.

Carlisle e eu ficávamos sonhando em como ele ou ela iria ser. Eu achava que seria um menino, em meus sonhos, eu só via um garotinho. Mas Carlisle queria uma menina, ele sempre quis ter uma e eu sempre achei que ele tinha jeito para ser pai de uma princesinha. A cada dia, eu ficava mais ansiosa para os dias passarem para poder sabermos logo o que iria vir. Apesar do sofrimento, eu sentia prazer em estar grávida.

Depois dos três primeiros meses, eu me sentia bem melhor. Os enjôos já não eram tão freqüentes e me sentia mais animada e disposta. Decidi então que queria voltar para os meus compromissos. Estava com saudade de ser útil, de servir, de ver pessoas. Mas todo mundo foi contra. Pois até aquele momento, a gravidez era considerado dentro da realeza como algo quase sagrado. Nenhuma grávida aparecia muito em público, seu estado era mantido dentro do palácio com respeito absoluto dos fotógrafos em não registrar o momento. É por isso que não vemos fotos da minha sogra com um barrigão ou a Rainha Mary grávida de nenhum dos seus 8 filhos. Comigo, o plano era que acontecesse o mesmo. Eu apareceria apenas no National Day daquele ano apenas para dar satisfação ao público e voltaria ao meu retiro.

Porém, eu não estava nem um pouco disposta a isso. Doutor Walter, que me acompanhou desde o princípio, garantiu minha saúde. Eu estava feliz, realizada e queria mostrar isso para o mundo. Cheguei para Ronald Esper e pedi que ele fizesse uma coleção de roupas de maternidade por que eu iria “botar a cara no mundo”.

Cheguei a ir para alguns compromissos públicos, a contra gosto da equipe que trabalhava pra nós e da minha sogra, é claro. Foi muito importante sentir o apoio das pessoas por onde eu ia. Todas que eu encontrava transmitiam muito amor e carinho. Nunca senti a paixão que os belgãos tinham por bebês reais como naquele momento. Havia 23 anos que não tinham um neném para celebrar, então, todos estavam eufóricos. Faziam apostas de nomes, do sexo, da data do nascimento. Absolutamente tudo virava motivo de festa. Isso me contagiava por que eu também estava eufórica.

Porém, eu ainda iria passar por mais uma prova dura. Fui a um evento de inauguração e estava certo que seria algo simples e rápido. Falar com as pessoas, visitar o local, fazer um discurso, cortar a fita e ir para casa. Mas naquele dia específico, eu não acordei bem. Estava com uma sensação ruim. Sentindo um aperto no peito, umas pontadas no ventre, mas ainda assim, resolvi não desistir e fui.

Durante todo o compromisso, me senti mal, tentei sorrir e manter a regra do “não reclame e não explique”. Mas a minha vontade era que tudo acabasse logo por que agora eu estava terrivelmente sem disposição. Quando cheguei no nosso apartamento no palácio encontrei Carlisle sentado no sofá da sala de estar. Estranhei pelo fato de que ele vinha cobrindo muitos dos nossos compromissos sozinho desde que fiquei grávida. Por que ele estaria ali naquele horário? Ele veio até mim e beijou o meu rosto.

— O que aconteceu? – perguntei.

— Você está tensa. Por favor, se sente que eu vou lhe fazer um chá.

Olhei pra ele desconfiada, mas fiz o que ele me pediu. Sentei no sofá, tirei os sapatos de salto e coloquei as pernas pra cima da poltrona para tentar relaxar. Mais ao mesmo tempo de olho no que o meu marido fazia na cozinha e ainda com a pulga atrás da orelha.

Carlisle veio até mim e entregou a xícara de chá de camomila. Colocou as minhas pernas em cima dele e me observou dar os primeiros goles. Eu ainda estava desconfiada.

— Me conte logo o que aconteceu.

— Tome o seu chá todo.

Balancei a cabeça e tomei o restante do chá mais rápido que podia.

— Ligaram para o escritório. Era da sua casa.

Meu coração falhou uma batida. Eu já sabia do que se tratava.

— Foi o papai?

— Ele teve um ataque cardíaco, mas já foi levado ao hospital.

Nem consegui escutar o que ele dizia. Todos nós sabíamos que papai não tinha um estilo de vida adequado, comia mal, não fazia exercícios e tudo isso prejudicou o coração dele. Mesmo com tudo isso, receber a notícia foi perturbador. Eu amava demais o meu pai e nem sei exprimir a sensação, eu só sentia que iria perdê-lo e a dor era muito grande. Meus olhos começaram a marejar, comecei a perder as forças, e a cólica que eu estava sentindo antes aumentou.

— Calma, meu amor. Ele vai ficar bem.

Eu tentei me concentrar nas palavras dele, mas elas começavam a ficar embaçadas. Longe bem longe. Minha vista começou a embaçar e de repente tudo ficou preto. Quando dei por mim, já estava no hospital. Estava correndo risco de perder o meu bebê.

Os dias que eu passei no hospital mudaram muita coisa em minha vida. A sensação de perder o meu filho foi avassaladora. Eu passei a ter uma percepção maior do que era ser mãe, eu só queria protegê-lo a qualquer custo. Eu ficava olhando para a imagem de Nossa Senhora na parede e pensando: “Você também é mãe e também perdeu o seu filho, proteja o meu por favor”. Eu não pensava em religião, só queria um milagre e eu conseguira. Depois daquele dia horrível, eu cumpro a promessa que fiz a ela de ajudar todos os anos as mães carentes e andar sempre com a imagem dela no pescoço.

Depois disso, papai se recuperou e eu também. Porém, por precaução, fiquei mais de um mês de “molho” em casa descansando e fazendo de tudo para manter o meu pequeno anjo vivo. Mas foi esse momento que foi um dos mais especiais na minha primeira gravidez. Carlisle e eu aproveitávamos cada momento para celebrar cada mudança nova. Eu recebia beijos a cada centímetro do crescimento da minha barriga. Ficávamos sonhando com cada momento que viria e dando glórias por podermos continuar fazendo planos.

Um dos momentos mais lindos foi quando sentimos ele mexer pela primeira vez. Eu estava cozinhando e senti um tremor de leve. Comecei a sorrir com a possibilidade daquilo estar acontecendo. Peguei a mão de Carlisle e coloquei na minha barriga. Nunca esqueço da expressão do rosto dele. Uma cara de surpresa e depois de carinho. Foi o momento mais especial da nossa vida como um casal.

Em 1983, ultrassonografia era tanto difícil, então eu só fui descobrir o sexo do bebê quando eu estava no sétimo mês. Carlisle e eu estávamos muito ansiosos para saber se teríamos um menino ou menina. Isso era meio que um grande tabu dentro do palácio. Sempre só se sabia o que o neném iria ser ao nascer. Mas entendíamos que isso acontecia por que não havia a possibilidade de saber antes e tínhamos naquele momento com o exame. Por que não? Eram novos tempos.

Lembro de nem conseguirmos dormir direito naquela noite. Ficamos os dois abraçados conversando sem o sono vir. O bebê já mexia muito na minha barriga. Brincávamos com isso, enquanto tentávamos acompanhá-lo segurando seus pezinhos que vez ou outra apareciam na minha barriga.

— Sinto em decepcioná-lo, amor. – falei. – Acho que é menino. Mexe demais para ser uma menina.

— Que preconceito é esse? Meninas também podem ser imperativas.

— Vai ficar triste se for um menino?

— Claro que não. Jamais rejeitarei um filho meu por causa do sexo dele.

Passei a mão pelo rosto dele, adorando cada coisa nele. Eu ficava sonhando com quais traços de Carlisle o bebê teria. Seria seus cabelos loiros? Seus olhos azuis tão bonitos? Suas bochechas redondas? Sua boca? E minhas? Será que ele se pareceria comigo? Independente de qualquer coisa, eu já o amava mais do que a minha própria vida.

Na manhã seguinte formos cedinho ao hospital. Eu segurava a mão de Carlisle a cada instante por que eu estava muito nervosa. Eu nunca tinha feito uma ultra antes e para mim tudo era absolutamente novo. Doutor Walter foi super gentil conosco e nos explicou como tudo iria ser. Fiquei maravilhada com aquela tecnologia na época. Me deitei numa maca e tinha uma espécie de maquina que passava pela minha barriga. Através disso, as imagens coletas iriam ser mostradas numa telinha ao lado.

— Tem certeza que isso não vai ser prejudicial ao bebê?

— Não claro que não. – Dr. Walter nos explicou. – É um dos melhores meios para sabermos como o feto está se desenvolvendo.

— Ele vai aparecer ali? – Carlisle perguntou.

— Vai. Pode não parecer tão nítido para vocês, mas eu conseguirei ver o tamanho que ele tem, como ele está se formando e até ouvir o seu coração.

— Vamos poder ouvir o coraçãozinho? – perguntei animada.

— Vão sim. Estão prontos papais?

Assenti e ele passou um gel na minha barriga. Estremeci com aquele toque, o líquido era gelado. Em seguida, ele colocou a máquina posicionada bem no meu umbigo. Era extremamente grande, parecia aquelas que os oftalmologistas usam para olhar os nossos olhos. Fiquei imaginando na hora como aquilo iria captar imagens do meu bebê que estava guardadinho tão profundamente em mim.

De repente, a tela deixou de ficar preta e começou a aparecer algumas coisas que não dava para ver direito, mas o que mais emocionou a gente foi com certeza o som que começou a preencher toda a sala. Eram umas batidas muito rápidas. Meus olhos começaram a encher de água ao me tocar o que era aquele som. As mãos de Carlisle apertaram mais as minhas. Estávamos agora todos derretidos.

— Isso é? – não consegui completar a frase.

— É coração do bebê.

— Meu Deus que benção!

Naquele momento eu só sabia chorar. Tudo mudou em mim com a maternidade. Descobri um lado meu que eu nem sabia que existia. Mais empático, mais amoroso, mais carinhoso, mais forte por que eu sabia que poderia fazer qualquer coisa por aquele serzinho dentro de mim.

— Ele é bem agitado.

— Ele? – Carlisle perguntou na hora.

— Pelo que eu estou vendo aqui temos um pequeno pênis, então...

— É um menino! – gargalhei.

— É mais fácil de ver quando é um menino. Estão vendo esse tracinho aqui? Essa é uma das pernas e esse, bom, vocês já sabem.

Carlisle só sabia chorar ao meu lado. Colocou a cabeça encostada na minha, fazendo carinho. Eu queria pular em seus braços e dizê-lo o quanto o amava que ali estávamos construindo a continuação do nosso amor.

— Obrigado pelo presente, meu anjo. – sussurrou pra mim.

— Tenho que lhe agradecer também. Por que você também me ajudou a fazê-lo.

Saímos dali como estivéssemos nas nuvens. Sorriamos feito dois bobos e tentávamos ficar imaginando o que faríamos ao lado dele depois que nascesse. Os lugares que levaríamos o bebê para visitar. Se ele seria bom com esportes, ou seria mais ligado aos livros. Um futuro inteiro se abriu diante dos nossos olhos e isso era muito animador. Nada mais importava apenas a nossa pequena família que estava nascendo.

Fui para um compromisso naquele mesmo dia e cometi uma gafe que se tornou histórica por que toda vez que falam a respeito de bebê reais em documentários ou em qualquer outro lugar falam sobre isso.

Era um dos primeiros eventos que eu participei depois dos dias em que fiquei afastada em casa depois do meu quase aborto. Apareci no National Day depois de muito tempo sem dar as caras em público e fui ovacionada com todo o amor que só os belgãos podiam dar. Mas pra mim aquilo não era o suficiente pra mim. Estava disposta a sair da cama e trabalhar até próximo do nascimento do bebê.

Lembro de receber tantas palavras lindas das pessoas que eu encontrei naqueles dias. De pessoas que oraram por mim e pelo meu filho, que enviaram boas energias enquanto eu estive no hospital. Percebi que as pessoas amavam aquela criança tanto quanto nós. Estavam em êxtase ao me ver com aquele barrigão e queriam saber tudo que podiam sobre mim e sobre o bebê.

Recebi muitos presentes também. Eram pequenas camisetinhas, sapatinhos, flores, e brinquedos. Uma garotinha chegou perto de mim e me entregou um ursinho fofo.

— É para o seu bebê.

Achei o gesto tão lindo quanto a garotinha! Me abaixei com dificuldade, devido a grande barriga, e a abracei enquanto acariciava as suas costinhas.

— O meu garotinho vai amar brincar com ele quando estiver com a sua idade. – falei sem perceber, mas quando levantei a cabeça estavam todos olhando surpresos pra mim. Ops!

Nunca levei muito a sério essa tradição de revelar o sexo do bebê apenas quando nascesse. Na minha cabeça, eu sabendo que seria um menino não haveria problema em contar logo a todos para compartilhar aquela alegria com todos. Apesar de que na hora, ao receber o presente da garotinha, eu tinha deixado escapar sem querer.

Mas era uma tradição realmente séria por que motivava a curiosidade e o interesse das pessoas. Além disso, movimentava as casas de apostas, que era um dos negócios mais lucrativos para a economia do país e eu não fazia ideia da dimensão de tudo isso.

— Agora tudo está arruinado por sua causa. – falou a rainha com muita raiva.

Eu apenas fiquei calada ouvindo tudo com os olhos arregalados. Quando cheguei no palácio a notícia já circulava em todos os cantos, já se preparava para sair nos tablóides e tudo terminaria sobrando pra mim.

Apenas abracei a minha barriga tentando entender tanto alvoroço. Meu gesto com a garotinha tinha sido totalmente espontâneo e nem tinha me dado conta do que tinha dito até ver a expressão das pessoas. Porém, eu achava tremendamente estúpido manter esse segredo todo mesmo que isso movimentasse a “magia” que a família real tanto preza. Enfim, saber o sexo do bebê antecipadamente não afetou a economia. Em todos os lugares eu via lembrancinhas e roupas personalizadas em homenagem ao meu filho que iria nascer. As casas de apostas agora especulavam o nome e a data do nascimento, ou seja, nada parou a animação das pessoas lá fora.

Mas a minha sim. Eu já estava me encaminhando para o oitavo mês de gestação quando meu chão caiu. Eu jamais poderia imaginar sentir uma dor tão profunda como aquela assim tão repentinamente. Meu pai teimava em continuar com o seu antigo estilo de vida. Minha mãe, eu e Lily nos unimos para cuidar dele, mas fora tudo em vão. Pois ele acabou sofrendo outro ataque cardíaco e dessa vez fora fatal. Nossa vida mudara demais com a partida dele.

Vê-lo deitado imóvel no caixão me refez lembrar de vários momentos que tivemos juntos. Era como um filme que passava na minha cabeça. Lembrava de esperá-lo chegar do mercadinho sentada no batente da porta de entrada todas as manhãs em Orland. Ele corria com os braços abertos e eu pulava nele. Lembrava das nossas pescarias, dos presentes que ele trazia pra mim e para Lily de surpresa. Tudo fazia a gente feliz, até uma simples coisa. Meu pai era amor. Era sorriso e eu nunca esqueceria disso.

Porém, presenciar o seu caixão descendo para o seu descanso final foi como se parte de mim também tivesse se esvaindo. A partir daquele momento tudo que eu teria do meu pai eram apenas lembranças. Nunca mais eu poderia chegar como tinha feito pouco antes dele morrer e com todo o entusiasmo contar a notícia melhor do dia.

— Pai, você vai ter um netinho.

Um neto que jamais ele conheceria. Quer dizer, talvez eles se encontrassem lá em cima. Mais aqui em baixo, meu pequeno me perguntaria sobre o avô materno dele e eu só teria histórias para contar. Ele não o levaria para andar de bicicleta na praça como fazia comigo, nem o colocaria no colo, nem veria o seu crescimento.

Quando o último barro foi colocado no túmulo do papai, eu, Lily e mamãe nos abraçamos. Agora seriamos apenas nós três vendo as nossas vidas mudarem pra sempre. COMENTEM POR FAVOR!