Digimon: Fighters

A Decisão de Daniel


— Daniel! — a voz de Dinomon o chamando trouxe Daniel de volta à realidade. Ele estava perdido em seus pensamentos enquanto a luta no porto continuava. Fortmamon estava de pé novamente, pulando na água do mar, disparando jatos hidráulicos enquanto Vickemon voava a cima dele, desviando dos ataques e investindo contra seu adversário.

O dr. Joel estava na borda do cais encarando a luta, seu olhar cheio de determinação e expectativa, apoiando seu parceiro Fortmamon. Os pequenos digimons também tentavam ajudar do jeito que podiam. O pássaro amarelo lançava um raio amarelo de seu bico tentando acertar Vickemon, a planta roxa usava seus dedos como cipós para tentar desestabilizar o grande inseto e o gato azul pulava para desferir um soco no bicho toda vez que Vickemon se aproximava do cais. Não era muito eficaz. Vickemon era muito maior que os pequenos digimons e não parecia se importar com os ataques que recebia por parte deles. Ele estava mais concentrado em Fortmamon.

— Daniel! — Dinomon, o pequeno dinossauro vermelho, o chamou de novo. Dessa vez, mais impaciente — Você vai lutar ou vai fugir?

— Eu... — Daniel ainda não tinha uma resposta. Por que era tão difícil decidir? Por que não conseguia responder? A confusão era tão grande assim?

Antes que Daniel pudesse dizer qualquer outra coisa, um estrondo atingiu seus ouvidos e o cais tremeu. Daniel e Dinomon desviaram sua atenção para a luta, vendo Joel correndo para Fortmamon, que estava caído e claramente ferido. O que quer que Vickemon tenha feito, tinha sido algo forte, pois havia deixado um rastro de destruição enorme.

Fortmamon começou a irradiar um brilho branco e começou a diminuir de tamanho. Quando o brilho se dissipou, no lugar do homem sapo, estava um digimon do tamanho dos outros agora. Um capacete azul escuro em sua cabeça e uma couraça laranja de tartaruga em suas costas, o corpo continuava no mesmo tom de azul de Fortmamon.

— Beninomon! — o dr. Joel gritou, se apressando em segurar seu parceiro.

Daniel estava paralisado com aquela visão. Beninomon estava muito ferido. Enquanto ele tinha ficado ali parado com suas próprias dúvidas, Fortmamon estava lutando desesperadamente contra Vickemon, tentando impedir que o digimon os destruísse. Daniel não tinha feito nada para ajudar e agora o pequeno digimon poderia estar morto.

Daniel cerrou sua mão em forma de punho. A frustração percorria seu corpo, mas não só isso. Ele sentia outra coisa dentro de si. Algo pulsando, algo forte.

— Droga... — Dinomon murmurou — Beninomon! — o pequeno dinossauro gritou e começou a correr em direção aos outros, mas Daniel o parou.

— Aonde você vai? — Daniel questionou, fazendo com que o pequeno monstro o olhasse surpreso.

— Vou ajudar Beninomon! — Dinomon vociferou — Não posso deixar que ele seja destruído!

— Mas você mesmo disse que precisa digivolver para lutar contra Vickemon.

— Sim, mas você não quer me ajudar! Eu não posso ficar aqui parado sem fazer nada!

— E não vai — Daniel falou, sorrindo para Dinomon. Daniel tinha feito sua decisão. Ele não iria fugir — E eu vou te ajudar a acabar com aquele monstro.

A surpresa de Dinomon logo se transformou em um largo sorriso.

— Quer dizer que...

— Vamos lutar. Parceiro.

Dinomon sorriu ainda mais para Daniel, que sentiu um formigamento estranho em sua mão esquerda. Quando se virou para encarar o que era, se assustou ao ver que uma espécie de fogo vermelho formado por partículas pequenas estava ao redor de sua mão.

— O DNA! — Dinomon exclamou.

— Isso é o DNA? — Daniel questionou, encarando aquele fogo, fascinado.

— Sim! Você carrega isso no digivice e eu vou poder digivolver!

— Vamos acabar com eles de uma vez, Vickemon! — a voz do parceiro de Vickemon, Pedro, que estava montado na cabeça de seu digimon, chegou aos ouvidos de Daniel. Ele e Dinomon se voltaram para a batalha.

— Sim, Pedro! — Vickemon respondeu, com sua voz profunda e arranhada, enquanto preparava uma nova descarga de energia contra o dr. Joel e os outros digimons.

— Daniel! — Dinomon chamou — Tem que ser agora!

Daniel encarou o pequeno dinossauro e, com um aceno de cabeça, pegou seu aparelho digivice.

— Carregar DNA! — Daniel exclamou, levando sua mão com o fogo vermelho até a parte de cima do digivice. O aparelho sugou o DNA da mão de Daniel e brilhou.

Então Dinomon começou a brilhar também. Um forte brilho vermelho.

Dinomon digivolve para... GinGeamon!

O brilho começou a crescer até ficar bem maior do que Daniel. Todos no cais haviam parado para encarar o que acontecia, até mesmo Pedro e Vickemon.

A luz se dissipou, revelando que Dinomon não era mais um dinossauro do tamanho de um pastor alemão. Ele estava do tamanho de um tiranossauro, com um crânio marrom com dois chifres de cada lado da cabeça e um chifre no focinho comprido sobre a mandíbula gigante. Ele era todo vermelho com listras laranjas pelo corpo, uma cauda longa, patas grandes e braços musculosos, mas curtos.

— Dinomon...? — Daniel murmurou, alto o suficiente para receber uma resposta do dinossauro gigante.

— Agora eu sou GinGeamon — o dinossauro falou com a voz bem mais adulta e animalesca, bem mais grave e onipotente — Graças a você, Daniel, eu posso lutar!

— Parece que temos mais um problema, Pedro — Daniel ouviu Vickemon falar.

— Isso não é um problema — Pedro rebateu — É só mais um contratempo. Vamos acabar com ele Vickemon!

— Sim! — o inseto gigante desviou sua atenção de Joel e dos outros, indo em direção ao dinossauro vermelho e laranja.

— GinGeamon! — Daniel gritou.

— Agora eu vou mostrar do que sou capaz — GinGeamon falou, investindo contra Vickemon.

GinGeamon e Vickemon se chocaram um contra o outro, suas mãos conectadas e seus braços fazendo pressão em seu adversário, um empurrando o outro. Vickemon tinha uma vantagem por causa de suas asas, fazendo com que o inseto fosse capaz de colocar ainda mais pressão em GinGeamon, que usava toda sua força contra Vickemon.

O chão sob os pés de GinGeamon começou a rachar com tamanha pressão sobre ele.

— Força, GinGeamon! — Daniel gritou, por puro impulso, mas pareceu dar algum tipo de incentivo ao digimon. GinGeamon empurrou Vickemon com toda sua força, fazendo com que o inseto se afastasse alguns centímetros. Rapidamente, GinGeamon rodou e usou sua cauda como um chicote, acertando o inseto gigante em cheio, lançando-o em direção ao mar.

Vickemon se estabilizou, voando sobre a água e encarou GinGeamon.

— Ele é forte, Pedro — Vickemon falou — Não podemos negar isso.

— Não importa — Pedro vociferou — Todos aqueles que vão contra a vontade de Royalmon serão eliminados, não importa o quão forte sejam!

A esfera de energia de Vickemon começou a se formar mais uma vez na frente da boca do inseto.

— GinGeamon, cuidado! — Daniel exclamou. Por algum motivo, não queria que o dinossauro gigante saísse machucado dessa luta.

— Fique tranquilo, Daniel — GinGeamon falou — Eu cuido disso — GinGeamon então abriu sua boca e um brilho laranja ardente começou a sair de lá. Daniel arregalou os olhos quando uma rajada de fogo ardente disparou da boca do dinossauro — Devastação Flamejante!

Ao mesmo tempo em que GinGeamon lançava seu ataque, a esfera de energia de Vickemon descarregou seus três relâmpagos contra as chamas. Os dois raios colidiram sobre o cais, um vento forte e quente se espalhou pelo local, forçando Daniel a cobrir sua cabeça, a água se movia fortemente no mar, tudo parecia coberto com luz. As chamas de GinGeamon continuavam a queimar, os raios de Vickemon continuavam a descarga de energia. Nenhum dos dois parecia disposto a recuar.

O chão do cais começava a rachar devido à grande quantidade de energia que os digimons estavam descarregando em seus ataques. Daniel pensava que o cais seria destruído até que um raio escuro atingiu GinGeamon e Vickemon, fazendo com que ambos interrompessem seus disparos.

O ar voltou ao normal e o vento subitamente parou.

— Chega! — uma voz velha e, Daniel ousava dizer, sábia soou por todo o cais. A figura feminina estava planando sobre todos, mais alto do que Vickemon, vestida com um manto roxo, com cabelos cinzentos e olhos negros como se fosse uma bruxa.

— Encantemon — Daniel ouviu Pedro falando.

— Outra aliada de Royalmon? — GinGeamon vociferou.

— O momento de invadir o mundo humano, Pedro, ainda não chegou — Encantemon continuou, a voz tomando conta do ambiente — Royalmon quer você e Vickemon de volta no Digimundo.

— Mas... — Pedro começou a falar, mas foi interrompido bruscamente por Encantemon.

— Mas nada. A luta acabou, por enquanto — com um último olhar para Daniel, GinGeamon e os outros no cais, Encantemon ergueu suas mãos para o céu. Raios amarelos e roxos começaram a circular pelo céu negro saindo das mãos da digimon até que um tipo de portal começou a se abrir. Um círculo grande e amarelo pelo qual Encantemon desapareceu, seguida de Vickemon e Pedro, que voaram para o interior do círculo.

Então o círculo desapareceu e o céu começou a voltar ao normal. As nuvens negras e as luzes estranhas sumiram, dando lugar para o azul do dia.

— Impossível — Daniel ouviu a voz de Joel enquanto o velho se aproximava dele e de GinGeamon. Joel segurava Beninomon, que estava desacordado, em seu colo enquanto os outros pequenos digimons o seguia.

— O que quer dizer, dr. Joel? — Daniel questionou.

— Aquilo que ela... Encantemon fez — Joel continuou a balbuciar — Ela abriu um portal. Eu não acreditava que um digimon poderia abrir um portal para o Digimundo quando bem entendesse. O fato de que aquela digimon consegue fazer isso é... Surpreendente. E perigoso.

— Perigoso? — Daniel indagou.

A conversa foi interrompida quando GinGeamon começou a brilhar mais uma vez. Porém, ao invés de crescer como da última vez, ele começou a diminuir. O brilho se dissipou e então todos estavam encarando o pequeno Dinomon novamente.

— Dinomon... — Daniel murmurou.

— Obrigado por me ajudar, Daniel! — Dinomon exclamou — Você é um parceiro incrível!

— Parceiro — Daniel indagou. Ele queria dizer algo a mais do que somente repetir o que todos diziam, mas não conseguia achar as palavras certas.

— Isso mesmo, Daniel — foi Joel quem falou — Graças ao seu DNA, Dinomon digivolveu para sua forma adulta, GinGeamon. Isso faz de vocês parceiros.

— Isso quer dizer que você é um dos escolhidos para salvar o Digimundo! — Dinomon complementou.

— Salvar o Digimundo? — Daniel questionou — Mas... como assim? O que é esse Digimundo?

— Eu vou explicar tudo pra você, Daniel — Joel falou, se aproximando de Daniel. Antes que o doutor pudesse dizer alguma outra coisa, uma voz vinda de trás de Daniel atraiu a atenção de todos.

— O que aconteceu aqui? — a voz masculina perguntou. Daniel se virou, dando de cara com outros três adolescentes, parados encarando o cais, perplexos. Um garoto que devia ser da mesma idade que Daniel, de cabelos loiros que chegavam até suas orelhas, vestido com uma camisa social branca de mangas curtas, uma gravata azul fina e uma calça azul escura. O outro garoto deveria ser dois anos mais novo do que Daniel e tinha cabelos pretos compridos e usava uma camiseta amarela com um colete preto por cima e uma bermuda cinza. A terceira pessoa era uma menina que deveria ter uns 16 anos, cabelos castanho-avermelhados e usava uma blusa cor-de-rosa, um short jeans com um cinto marrom e botas da mesma cor do cinto.

Todos os três carregavam um digivice em suas mãos, só que em cores diferentes. O do garoto loiro era azul, o do menino mais novo era amarelo e o da garota era rosa.

— Dr. Joel, os digivices... — foi o gato azul quem exclamou.

— Eu vi — Joel falou, encarando os três adolescentes — Eles também são parte dos digiescolhidos da antiga profecia.

— Isso quer dizer que eles são nossos parceiros? — a planta com a flor roxa na cabeça perguntou.

— Parceiros? — o menino loiro exclamou — Espera! Alguém me explica o que está acontecendo aqui, por favor. O que são vocês?

— Somos digimons — o gato azul respondeu — Meu nome é Guepmon.

— Eu sou Toramon — a planta roxa falou.

— E eu sou Tanmon — o pássaro amarelo completou.

— Meu nome é Joel e esse aqui é meu parceiro, Beninomon — Joel falou enquanto ainda segurava seu digimon desacordado em seus braços.

Daniel, depois de um segundo, percebeu que todos o encaravam, esperando que ele se apresentasse também. Daniel engoliu em seco antes de falar.

— Meu nome é Daniel e... — ele virou os olhos para Dinomon — E esse é Dinomon.

— O parceiro digimon dele! — Dinomon completou, carregado de energia. Nem parecia que tinha acabado de lutar contra um inseto gigante.

— Meu nome é Vitor — o menino mais novo de cabelos negros falou — Prazer em conhece-los!

— Eu sou Letícia — a garota falou, um pouco tímida, vacilante.

— E eu sou Lucas — o menino loiro finalizou as apresentações — O que aconteceu aqui?

Lucas olhava ao redor, para o cais, encarando a destruição causada pela batalha. Daniel não sabia nem começar a explicar. Ele próprio não tinha certeza do que tinha acontecido. Por algum motivo, seu olhar se dirigiu ao seu digivice em sua mão. Não brilhava mais, era só um aparelho vermelho agora. Um aparelho que carregava imenso poder, aparentemente.

— Eu vou explicar tudo a vocês —dr. Joel retomou a palavra — Prometo que...

O som do toque do celular de Daniel interrompeu o velho bruscamente. Todos se voltaram para Daniel enquanto ele buscava, de forma bem atrapalhada, o seu celular no bolso de sua calça. Era sua mãe ligando. Tinham pelo menos dez ligações perdidas de sua mãe. No calor da batalha, Daniel nem tinha percebido que seu celular estava tocando.

— Alô, mãe? — ele falou, ouvindo sua mãe falar do outro lado da linha. Dona Julieta estava brava e preocupada ao mesmo tempo, dizendo que estava tentando falar com Daniel há quase uma hora. Daniel sabia que quando chegasse em casa, estaria ferrado.

+ + +

Alice estava sentada no sofá da sala enquanto sua mãe gritava com seu irmão mais velho, Daniel, no celular. Alice estava perdida em pensamentos, encarando o aparelho branco que tinha surgido em seu bolso mais cedo.

O objeto tinha permanecido inerte durante todo o trajeto do centro da cidade até sua casa. O céu já tinha ficado claro novamente e Alice continuava tentando entender porque aquilo tinha aparecido para ela. Tentando entender o que significava.

Então a tela começou a brilhar. Um brilho branco, não forte o suficiente para que pessoas fora do cômodo pudessem perceber, mas suficientemente intenso para fazer Alice se espantar. Olhar para aquela luz era como olhar para o infinito. Então uma voz surgiu vinda do aparelho.

“Esse é apenas o começo”, a voz falou. Alice primeiramente tinha pensado que estava imaginando coisas, mas então a voz falou de novo. “O futuro do Digimundo está nas mãos dos digiescolhidos”.

Assim que a voz terminou de falar, a luz do aparelho desapareceu e a sala caiu no silêncio novamente. Alice sentia um frio em sua nuca, um frio que dizia que, o que quer que estivesse acontecendo, era algo grande e muito importante.