Estou neste momento a ir para o Hospital, passaram-se duas semanas desde que eu tomei a decisão de adotar o Tobias, sim, eu descobri mais tarde que o nome dele é Tobias e que tem 5 anos.

Quando contei ao Finnick, ele passou-se, insistiu que não era boa ideia eu fazer isto, não na minha condição, era um miúdo demasiado problemático, mas eu não quis saber e avancei com o processo, foi-me autorizado o pedido, e com algum esforço e apoio da Annie (que ficou surpreendida ao início, mas que depois lá aceitou e ajudou), o Finn lá aceitou que eu o fizesse e ofereceu-se para me ajudar no que fosse preciso. A Clove e o Cato apoiaram-me muito, apesar de não compreenderem os meus motivos eles prometeram dar-me todo o apoio necessário.

Com o meu pai foi o maior problema, ele exigiu marcar uma reunião de família onde os presentes éramos eu, a Prim, a Kate, ele, o Peeta, o Haymitch e até a Riley e o Josh. Ora como ele exigia a tal reunião, eu e o Peeta tivemos que explicar muito rapidamente aos gémeos o que se passava, que um menino que era irmão deles e tinha crescido noutro lugar vinha morar connosco, ele não era muito parecido connosco, mas não era isso que importava, ele era diferente e não gostava muito de falar e que eles respeitassem isso. Foi isso que eles fizeram, ficaram todos animados por terem mais um irmão e mais velho.

O meu pai demorou imenso a aceitar a minha decisão, o Haymitch sorriu-me e aprovou logo as minhas intenções, ele percebeu o que eu queria dizer e isso deixou-me feliz. A Kate desempenhou o mesmo papel que a Annie na situação do Finn, ela aceitou bem e mostrou-se disponível para nos ajudar em tudo o que fosse necessário com o menino. Bem, nem é preciso falar na Prim, essa aí deu pulinhos de alegria!

Do lado do Peeta tivemos uns quantos casmurros, o Gale ainda está em processamento da informação, mas este não se opõe, a Madge foi um doce e concordou de imediato, já a Johanna não percebeu porquê mas ainda assim não se opôs.

Há uma semana tivemos o nosso primeiro encontro com o Tobias, ele não fala muito, o que sabemos é o pouco que diz, que é quase nada, apenas murmura algumas palavras sem sentido nenhum, olha para o horizonte, um olhar triste e sem vida, sofrido.

Lembro-me quando entrei naquela sala, ele permaneceu deitado como antes estava, como todos os dias estava deitado, não se moveu, a única garantia de que estava vivo eram os batimentos cardíacos indicados pela máquina, até a respiração parecia não existir.

Flashback on*

—Olá! - cumprimento-o com um sorriso, assim como o Peeta e sentamo-nos cautelosamente no sofá branco do quarto de Hospital, é isolado e branco, um branco sujo e deslavado, o menino não está acorrentado. - Nós somos a Katniss e o Peeta.

Ele permaneceu imóvel, deixei-o estar e uns bons minutos depois ele murmurou umas palavras, algo como um "Tobias", porém muito inaudível e pouco claro, muito arrastado para se perceber.

—Olá Tobias! Nós viemos aqui para te conhecer, não queres olhar para nós? - o menino desvia ligeiramente os olhos, sem virar a cabeça e posso ver que de canto ele nos observa.

—Azul - concluí mais tarde que ele falava dos olhos do Peeta.

—Sim, ouvi dizer que gostas muito de azul, eu também! - tenta fazê-lo rir, mas ele permanece com a mesma expressão sem vida.

—Nós temos um filho e uma filha, eles também gostam muito de azul, gostavas de conhecê-los? - tentei cativá-lo. - Podias vir lá a casa.

Flashback of*

O silêncio reinou na sala, o Tobias não falava, mais tarde eu tive a minha consulta no obstetra e ele a dele no pedopsiquiatra.

Com o tempo o Tobias aprendeu o nosso nome, porém não permite que lhe toquem, conheceu os irmãos, ele tem um grande transtorno ao olhar para a minha barriga, a mãe biológica dele estava grávida quando morreu. Ele dá-se muito bem com a Annie e com o Finnick, assim como a Prim. O resto da família ele ainda não conhece, nós evitamos apresentar-lhe muita gente porque lhe pode fazer confusão.

Assim que chegamos ao Hospital, fomos buscá-lo recebemos umas indicações das enfermeiras, da pedo-psiquiatra e dos especialistas que o têm acompanhado.

Cheguei ao quarto estavam a acabar de o vestir, tudo roupas que compramos, umas calças de ganga, uns ténis e uma t-shirt. Ele não demonstra muita reação em ver-nos, o Peeta e ele dão-se melhor que eu e ele, enquanto eu estiver grávida eu sei que ele vai ter um grande transtorno quanto a mim.

Trouxemos-lhe a mala para o carro, ele observou-o, se há coisa que eu tenho aprendido sobre ele, é que o Tobias é muito hesitante, observa tudo em redor, mas ele confiou e entrou dentro do carro, colocou o cinto, recusou qualquer ajuda, ele não gosta que lhe toquem, nós vamos esperar que ele tenha confiança para nós lhe podermos tocar, sem pressões.

O Peeta conduziu até casa, assim que entramos dentro da propriedade, o Tobias voltou a observar cada pormenor, desde o jardim, à estrutura da casa. Assim que chegamos, lá dentro estavam os gémeos, com o meu pai, o Haymitch, a Kate, a Prim, a Annie, o Finnick, a Clove, o Cato, o Cody a Madge, o Gale, a Johanna e a Sophie, eu sei que é muita gente, mas nós quisemos deixar bem claro que iam todos ficar normalmente sem fazer muito barulho.

—Chegamos, Tobias! - ele entra em primeiro, isto depois de olhar em redor e ver as pessoas, olhou para os gémeos, para a Annie, para o Finnick e para a Prim, as pessoas que ele já conhecia.

—Olá Tobias! - disseram calmamente acenando-lhe e ele acenou com a mão.

—Estes aqui já conheces, eu vou apresentar-te outras pessoas, este aqui é o meu pai adotivo, e este o biológio, o avô Andrew e o avô Haymitch, esta é a avó Kate, a minha madrasta. Esta é a tia Clove e este o tio Cato, eles são dos nossos melhores amigos, este é o filho deles, o Cody. Por fim, esta é a tia Johanna, a irmã mais nova do Peeta, o tio Gale, o irmão mais velho do Peeta, esta é a Madge, a mulher do Gale e esta é a Sophie, a tua prima e filha deles - tentei apresentar pouco a pouco. Todos lhe acenaram com um sorriso, foi um bom esforço, ele olhou profundamente e bastante atentamente para todos eles, como se conseguisse ver a alma deles.Ficou em silêncio e dirigiu o olhar para o Andrew e o Haymitch de novo, olhou-os como se os comparasse, olhou para mim e perguntou-me algo que me surpreendeu.

—És adotada? - ninguém esperava aquela pergunta, era difícil de ser respondida, eu não lhe queria contar a história podre da minha vida, até porque de podre já ele tem a dele. Olhei para o Finnick que me olhou como se me dissesse que me tinha alertado para aquilo, porém sabia que nem ele esperava aquela reação, ele olhou para mim e deu-me força para olhar para o miúdo e lhe dar a resposta.

—Sim, posso dizer que sou - fui breve e ele assentiu, olhou em roda e parou na Kate.

—Ela é a tua mãe adotiva? - neguei com a cabeça. - Então porque é que ela não está aqui?

—Porque ela não está comigo - expliquei.

—Porquê? Ela abandonou-te? Ela morreu? - eu não tinha resposta para aquilo, felizmente veio o Finnick.

—Sabes campeão, muitas vezes as pessoas fazem coisas más, como a mãe adotiva da KitKat, são coisas más que não vale a pena serem lembradas. As coisas que valem a pena serem lembradas são as coisas boas - eu respirei tensamente e discretamente, devo mais uma ao meu irmão.

—Katniss, Peeta, o almoço está pronto, posso servi-lo? - aparece a Hazelle.

—Tobias, esta é a Hazelle, a nossa colaboradora - ele percebeu o que eu quis dizer com colaboradora.

—Prazer Tobias, a Katniss e o Peeta avisaram-me que virias, fiz a comida de que mais gostas e tudo - ela sorriu e ele assentiu sem sorrir.

—E respondendo à sua pergunta, sim pode servir o almoço, por favor! - ela assente e vai fazê-lo, e todos nos dirigimos para a sala de jantar.

O almoço não teve muita conversa, o Tobias gosta muito do Finnick, apesar de se dar relativamente bem com o Peeta, o Finnick é aquela pessoa que é mais próxima dele, sendo que ainda assim, mantém alguma distância.

—Que achas de irmos ver o teu quarto, Tobias? - pergunta o Peeta e o miúdo assente positivamente, mas ainda assim nada animado. Peço ao Finn para vir connosco, ele consegue cativá-lo.

—E que tal? Gostas? O Finn contou que gostas muito de azul e de cinzento, nós estivemos a escolher as coisas com a ajuda dele e da Annie, gostaste? - o quarto era enorme, tinha as paredes pintadas de azul, uma cama cinzenta, alguns brinquedos, coisas que tinha a certeza de que ele gostaria.

—É bonito, é azul! - fiquei feliz ao vê-lo dar um leve e quase impercétivel sorriso. Olhei para o Peeta que parecia estar tão contente como eu, o Finnick piscou-me o olho como se me dissesse com aquele gesto "Bom trabalho! É um grande passo!". E a verdade é que era, ele chama-me Katniss, isto se chamar, ele não fala muito, nem sequer pronuncia muitas vezes o meu nome, mas quando me chama Katniss eu sinto que é como se fosse o Josh e a Riley a fazerem-me o mesmo, no entanto eu não o julgo, eu calculo que seja isso que o Haymitch sinta quanto a mim, também o trato pelo nome, nunca lhe chamei de pai, simplesmente porque não tenho capacidade para isso, não me sinto pronta. Eu vou limitar-me a fazer o que o Haymitch faz comigo, esperar que ele se sinta capaz de o fazer, sem o pressionar.

Mais tarde eles foram para casa, para não fazer muita confusão, os gémeos ficaram na sala a brincar, a Prim ficou comigo e com o Peeta sentados à mesa, o Tobias não quis sair do quarto e eu não o obriguei, compreendo que ele precise do próprio espaço, é uma casa nova, com pessoas novas que ele não conhece muito bem, é melhor deixá-lo ambientar-se ao espaço em paz e ao ritmo dele, como me disse o Finnick antes de ir embora "Algum dia ele vai ter que descer!" e eu acredito no que ele diz.

—Vais contar ao Tobias algum dia? - vira-se a Prim de repente.

—O quê? - sinceramente não percebi muito bem onde ela queria chegar.

—Como o quê? Que não és adotada, que és filha do Haymitch e que foste traficada quando eras pequena! - sussurrou a última parte para apenas eu e o Peeta escutarmos.

—Por agora, não. Técnicamente eu fui adotada, se pensarem bem. Ele ainda é muito pequeno para perceber, além do mais a história dele é um passado muito recente, pode ser bom para a adaptação dele pensar que eu fui adotada e que também me tive que adaptar a uma vida diferente, a pessoas que não conhecia e que agora estou bem e feliz! - pensei alto.

—Por falar nisso, quando é que vai ser o desfile? - perguntou o Peeta.

—Depois de amanhã, espera lá, eu devia apanhar o voo amanhã cedo para estar em Londres a tempo, meu deus! - eu tinha-me esquecido completamente.

—Então eu vou fretar o jato particular da família e vamos todos para lá hoje à noite! - levantou-se para fazer os telefonemas. Fui lá a cima e bati à porta, entrando em seguida.

—Tobias! Olha, eu esqueci-me que depois de amanhã tenho um trabalho em Londres, o Peeta está a tratar do jato particular da família e vamos todos para lá esta noite, ajudas-me a fazer a tua mala? - ele levantou-se e assentiu positivamente.

—Eu é que escolho a roupa! - avisou ele e eu concordei, o miúdo tem bom gosto, veste-se bem, deixei-o escolher os conjuntos todos, ele é que me disse tudo o que queria levar, e com disse, apontou e fez os conjuntos, tudo sobre o controlo dele, sem a minha intervenção.

Eu não sei porquê, mas tenho um mau pressentimento sobre isto tudo, posso estar muito errada, mas não consigo sentir nada de bom para ele, pelo menos no futuro, e é isso que me assusta, que ele se desiluda e perca a esperança.