Depois de receber aquela notícia indesejada pedi, ou melhor, implorei que o Finn e a Annie guardassem segredo e ficassem a fazer-me companhia. O Finn ficou desorientado quando soube, mas não o censuro, de repente a nossa "irmãzinha" rebenta com uma bomba dessas, ninguém está preparado para algo assim.

Faltei o resto da semana, e adivinhem o que aconteceu? O meu pai voltou para aqui e trouxe uma namorada nova, que é nada mais nada menos, que a mãe do Finn. Yup, seremos oficialmente irmãos!

No meio disto tudo, resolve a minha voltar também, arrastando a Prim para aqui. Até parece que estavam a adivinhar que um novo membro da família crescia no meu útero de dia para dia e quiseram fazer-me companhia durante o processo que nem sequer sei se vou levar para a frente.

Na semana seguinte fui obrigada a ir às aulas, e eu própria quis ir, ficar em casa não ia resolver muita coisa, aliás não ia resolver nada, só iria piorar as coisas! Além de ficar o dia todo como uma zombie sem nada para fazer, ia ficar a pensar nesta coisa e tornar-se-ia suspeito, o que faria todos os que me rodeiam e que ainda não sabem da "boa nova" descobrissem, e definitivamente, isso não estava nos meus planos.

—Tens de lhe contar - insistiu pela milésima vez a Annie tirando-me dos meus devaneios.

—Claro, e como é que tu chegas à beira de um rapaz convencido, mimado e menino dos pápás, que tu por mera coincidência odeias, que ficaste grávida quando dormiste com elle? - questionei.

—Desculpa KitKat, mas o Peeta tem o direito de saber! - desta vez era o Finnick a azucrinar-me a cabeça com essas ideias. - Ele é o pai! E mesmo que ele não assuma a paternidade, ou que tu não queiras ter o bebé, ele tem o direito de saber dessa existência porque o bebé foi feito pelos dois, não apenas por ti!

—Muito bem, eu conto-lhe - cedi para deixar de os ouvir. Entrámos no colégio e ele estava lá com os amigos, desde que aquilo aconteceu nunca mais falamos um com o outro. O Finnick e a Annie obrigaram-me a ir lá praticamente aos empurrões e eu acabei por ir.

—Olá! Seja bem aparecida! - saudou ele com um sorriso, só de imaginar que o vou desfazer até dá dó, não por ele, mas pelo meu sentimento de culpa.

—Precisamos de falar - disse fria, curta e direta e ele olhou-me com cara de "Aí vem mais um drama fútil dos dela". - É sério - e logo aquele sorriso e aquela faceta deram lugar a uma expressão completamente controversa. Os amigos dele saíram e eu fiquei a olhar para ele e ele para mim.

—O que foi? - perguntou e eu olhei para baixo com as palavras entaladas na garganta. Ele levantou a cabeça e ao olhar para mim ficou diferente do que costumava ser, parecia preocupado comigo, ou mais com aquilo que eu tinha para dizer. Lágrimas começaram a cair-me pelo rosto, o que fez o seu semblante aumentar de preocupação.

—Eu estou grávida - revelei baixinho enquanto chorava e soluçava e ele ficou chocado, completamente sem reação. Recuperando os sentidos meio minuto depois e agarrando-me o braço levando-me para um lugar mais reservado.

—O que é que estás a pensar fazer? - eu sabia, aquela pergunta emanava desinteresse, eu não devia ter contado, devia ter ficado calada!

—Eu contei-te para decidires também, eu não o fiz sozinha! - reclamei. - O que é que eu faço? O que é que achas que faço?

—Eu acho que o lógico é fazermos aquilo que tu sabes - opinou e eu chorei ainda mais.

—Aborto? - perguntei confirmando as minhas suspeitas.

—Tens uma solução melhor? Já viste as consequências disso refletidas em nós? Eu pelo menos não estou pronto para ser pai, e também não acho que estejas. Isso implicava deixarmos as aulas, dedicarmo-nos exclusivamente ao bebé, perder a nossa adolescência, perdermos a vida e ficarmos dependentes e presos a esse ser para sempre! Que raio de exemplo seremos nós? Dois miúdos imaturos que foram pais aos 16 anos, é isso que queres passar aos teus filhos, é que eu não! - ele tinha toda a razão, nós éramos praticamente crianças, não temos trabalho, mal conseguimos tomar conta de nós, quanto mais de um bebé, um ser completamente indefeso, que nunca teria pedido para nascer e que seria infeliz, eu não queria ter uns pais como os meus, e não quero que os meus filhos tenham uns. - De quanto tempo estás? - indagou mais calmamente.

—Não sei, mas não deve ser muito tempo, portanto não deve haver problema. Passo pelo hospital hoje e faço o aborto, posso pedir ao Finnick e à Annie para me acompanharem - organizei.

—Deixa estar, eu mesmo vou acompanhar-te, tal como tu disseste eu também tive culpas no cartório - ofereceu-se e eu sorri. - Agora limpa as lágrimas e vamos para a aula.

Debate! Haymitch! Trabalhos por fazer! Estou lixada! Festa de raspanetes!!!!!!

As aulas acabaram rapidamente e eu, tal como prometido fui andando para o hospital, já que o Mellark disse que mal saísse ia lá ter. Liguei-lhe vezes sem conta, ele não aparecia, fiz a inscrição e eu continuei à espera dele e a ligar-lhe, nada! Ia sempre para a caixa de correio! Até que chamaram o meu nome, eu não consegui, não fiz nada, vim embora a correr para casa.

Subi as escadas passando pela sala e ignorando o meu pai e a minha madrasta nova. Fechei a porta do quarto e chorei, chorei e continuei a chorar. A Annie e o Finnick vieram visitar-me e contei-lhes o sucedido, mas tiveram de ir para casa, agora com os nossos pais em casa, o Finnick já não pode ficar aqui como antes.

No dia seguinte acordei, mas fiquei sentada na cama, a olhar para o nada e a pensar na aflição que sentia por saber que aquela coisa ainda ali estava, quando uma presença feminina entra no meu quarto, era a minha mãe.

—Então Katniss, ainda não te levantaste? - eu não gosto dela, tenho mau humor, com a gravidez então!

—Não se bate? - resmunguei.

—Mas eu bati, desculpa, não sabia que ainda estavas na cama! - desculpou-se.

—E isso é razão para entrares assim? Esta casa nem sequer é tua! - confrontei-a e ela sentou-se.

—Que se passa, tu não está como antes. Eu sei que nunca tivemos boa ligação, muito por culpa minha, mas mesmo assim, andas esquisita, e não é só comigo, nem com o teu pai, mas com a Greasy Sae e com a Prim, e que eu saiba tu gostas delas - apanhou-me. Levantei-me para me ir arranjar, mas ela segurou-me o braço fazendo-e virar, os meus olhos começaram a encher-se de lágrimas e eu estava calada, bloqueada enquanto ela insistia.

—Eu estou grávida, mãe - as palavras saíram-me da boca para fora deixando-a chocada.

—Quem é o pai? - perguntou depois de recuperar e tentar olhar para a situação de cabeça fria, tentando acalmar-se, sabendo que como a Effie é, deve estar a fazer um escândalo interiormente, mas não me julgou, milagre!

—Um colega de escola - respondi.

—Como se chama? - interrogou, mas eu não percebi bem em que é que isso iria ajudar nalguma coisa.

—Peeta Mellark - respondi sem grandes rodeios.

—Mellark? É filho do Peter e da Claire? Irmão da Johanna? - questionou, com esperança, penso eu.

—Sim - falei sem entender aquela esperança, quer no olhar, quer na voz da mulher estranha à minha frente.

—É um rapaz de boas família, mal o menos. Ele sabe? - isto agora é um interrogatório?

—Sim, eu tentei ir fazer um aborto ontem, ele prometeu vir comigo, mas não apareceu. Liguei-lhe diversas vezes e nada! - contei.

—Tenho a certeza que foi por estar de cabeça perdida, vocês têm 16 anos, além do mais os rapazes têm sempre uma dificuldade extra em lidar com este tipo de situações.

A conversa parou por aí, fiquei em casa naquele dia. A minha mãe contou ao meu pai, a Prim veio visitar-me, a Greasy Sae também soube e veio ver-me, o Finnick e a Annie também apareceram, e surpreendentemente o Peeta também.

—Com que então estás vivo? - ironizei e ele parecia arrependido.

—Sim, peço-te desculpas. Eu estava de cabeça perdida e sei que estavas a precisar de mim, apesar de não ter nada contigo eu sei que precisas de mim neste momento e eu quero ficar contigo. Já que o aborto é demasiado definitivo, eu assumo a minha responsabilidade, eu assumo a paternidade! - determinou e eu surpreendi-me. Aceitei e abracei-o, que imediatamente retribuiu o meu abraço.

Há hora de jantar surpreendi-me quando desci, estavam os meus pais, mais a minha madrasta, o Finn, a Prim, a Johanna, o Peeta e um homem e uma mulher que eu nunca tinha visto na vida, provavelmente os pais da Johanna e do Peeta. Que raio estavam todos a fazer lá em casa?

Sentámo-nos à mesa, começamos a comer e no meio do jantar a minha mãe começou a falar.

—Deves estar a pensar o porquê de tanta gente estar aqui, mas eu explico. A família Mellark está cá em casa porque já souberam do acontecimento. Eu, o teu pai, o Peter e a Claire estivemos a conversar sobre a situação e chegamos à conclusão que a melhor solução é tu e o Peeta casarem - explicou como se fosse muito normal e natural o que acabara de dizer, todos à mesa se calaram depois da revelação, menos duas pessoas, eu e o Peeta.

—Eu não vou casar! - exclamamos juntos levantando-nos incrédulos.

—Como não? É a única solução? Já imaginaram o que as pessoas vão dizer sobre vocês? O que vão pensar? - eles só estão a fazer isso por eles, não é por nós, ou pela criança! É tudo pelas aparências ou pela imagem e o impacto que vai ter na comunicação social. - É tudo para o vosso bem.

—Eu não quero saber do que os outros vão pensar! Eu quero saber da minha vida, não vou assinar esse papel nem morta! Somos menores, não queremos casar! - protestou o Peeta.

—Eu apoio-os! - falaram em conjunto o Finnick, a Prim e a Johanna, levantando-se tal como nós.

—Calem-se vocês! Prim não te metas, ela é tua irmã, mas nem tanto! Johanna, não ponhas mais confusão e falta de juízo na cabeça do teu irmão! E o menino, o Finnick, quem é para dizer alguma coisa? - eu só agora ouvi a mãe do Peeta e já a detesto!

—Eu sou o irmão da Katniss, cresci com ela e sou oficialmente irmão dela neste momento! - retorquiu o Finn, é o meu maninho!

—Sabe mãe, esqueça! Eu continuo a apoiar o Peeta e a Katniss! Como é que vão obrigar dois menores a casar-se, eles nem têm um relacionamento! Não podem destruír a vida do vosso filho assim! - revoltou-se a Johanna, eu já simpatizava com ela antes, mas agora conquistou-me completamente.

O jantar foi um fiasco pelo que me contou o Finnick porque depois da Johanna ter falado subi para o meu quarto e fechei-me lá dentro. Não me admira nada! Contei à Annie que se passou quando soube, era outra pessoa contra isto tudo.

No entanto, depois de tanta insistência e de um ultimato por parte dos nossos pais, nós acabamos por aceitar esta fantochada toda, vamos ter de nos casar à força. Ficamos amigos por um tempo, mas neste momento somos namorados, exatamente, eu e o Mellark namoramos.

O Finnick, a Johanna, a Annie e a Prim são contra, mas ainda assim apoiam-nos na decisão e desejam que sejamos felizes.

Mais felizes que toda a gente estão a Claire e a Effie, estão a organizar os preparativos todos, eu agradeço, e o Peeta também, não nos apetecia NADA ter de ficar a decidir essas coisas chatas como de que cores vão ser as toalhas de mesa ou que flores vão ter os centros de mesa.

A minha mãe obrigou-me a escolher um vestido, escolhi o mais simples deles todos, já fiz a última prova, eu por mim casava até de jeans e de t-shirt, mas conservadora e tradicional como é a minha sogra está fora de questão!

Daqui a uma semana é aquele que é suposto ser o "grande dia", eu estou nervosa, não com o casamento, que se lixe o matrimónio, estou receosa com o nascimento do bebé, e em como a minha vida vai mudar depois disso.

Continua...