Acordei, ele não estava lá. Os bebés dormiram tranquilamente a noite toda, estão tão sossegadinhos... Aproveitei e fui tomar um banho e vestir-me. Fui então dar o biberão aos gémeos que o beberam todo, gostavam mesmo de comer!

Resolvi então vesti-los e levá-los para a sala comigo, olhavam para mim, indefesos e eu comia.

—Vai ficar tudo bem com a mamã e com o papá também! - falei com eles que apesar de não me responderem me ouviam e olhavam para mim ainda assim. É então que a campainha toca e fui preparar-me para a atender porque provavelmente era ele, que tinha acabado de vir buscar as coisas dele, mas enganei-me, era o meu pai.

—Oh filha, eu vi o noticiário ontem, eu lamento imenso! - eu abracei-o e ele retribuiu. - Quis vir, mas o Finnick insistiu que seria melhor eu ficar em casa e que ele mesmo se encarregaria de vir aqui confortar-te. Ele contou-me tudo.

—Entra pai! - dei-lhe permissão e apontei para o sofá, ambos nos sentámos. - A culpa foi minha em parte, mas isso não justifica o ato dele, as coisas podiam ter sido resolvidas e feitas de outra forma.

—Não, a culpa foi minha. Eu é que consenti em assinar o papel, legalmente sou o teu tutor, sem a minha assinatura o casamento não se realizaria. Eu peço-te imensas desculpas por ter concordado, foi um disparate, mas a tua mãe e a mãe dele estavam tão certas e determinadas que acabaram por me enrolar! - eu não deixaria que ele ficasse a pensar aquele disparate!

—Tu não tiveste culpa nenhuma! - toquei-lhe nas mãos. - A culpa foi minha que me deixei enganar, a culpa foi da bruxa da Effie e da bruxa da Claire!

—Há uma coisa que tu precisas de saber - ele estava sério e eu fiquei preocupada. - A verdade é que a Effie não é mesmo tua mãe, eu sou teu pai, a Effie é tua tia.

—O quê?! - eu estava chocada, a minha mãe não é minha mãe.

—A tua mãe estava grávida, teve-te e morreu no parto devido a complicações, antes de morrer ela deu-te à tua tia, à Effie e pediu que ela me ajudasse a criar-te, pediu que tu fosses legalmente filha dela. A tua tia cumpriu, com o tempo nós aproximamo-nos e casamos, o problema foi que a Effie estava demasiado ausente, tinha a mania e nós acabávamos sempre por discutir. Acabamos por nos divorciar, ela tomou-te de mim, eu ameacei contar tudo mas não tinha provas concretas, eram apenas palavras e nada que comprovasse. Foi então que recorri à justiça e te tirei dela, voltaste a viver comigo, mas eu acabei por ter de trabalhar mais que o previsto e estava sempre fora, a culpa disto tudo é minha. Não te eduquei, nem transmiti valores, nem sequer tive certas conversas contigo, não estive ali para ti e é por isso que te quero recuperar, e para isso não podem haver mais mentiras e nem mais segredos! - eu estava sem expressão, as lágrimas caiam-me pela face abaixo, a minha vida tinha sido uma mentira, eu sou uma mentira.

—Eu adoro-te pai! - limitei-me a dizer e abracei-o com força. - Apesar de tudo, eu compreendo, sou mãe. A Effie é que é reles, manipuladora, parva e cínica!

—Não fales assim dela, para todos os efeitos ela ainda é tua mãe! - ele não podia estar a falar a sério.

—Ela mentiu-me e sempre foi má mãe, injusta comigo, falsa! Sabes que te digo? Ela que desapareça da minha vida juntamente com aquele bêbado do namorado dela! - eu estava furiosa com ela.

—Posso ver os meus netos? - perguntou e eu fui buscar o carrinho.

—Ela é a tua cara, já ele é mais o pai - comentou e ao ouvi-lo referir-se ao Peeta foi como uma facada no meu coração.

—Infelizmente, eu só espero que ele não seja o pai em todos os aspetos! - desejei. - Não fico surpreendida pela traições, eu sabia que era o mais provável, mas o facto de ele ter sido descuidado ao ponto de ser fotografado e eu ficar a saber que ele nunca trabalhou como dizia fazer, foi isso que me fez pedir o divórcio.

—As coisas entre vocês já não estavam muito bem, eu sentia isso e sabia também, ontem foi definitivo, mal eu vi o título da notícia eu sabia o que o futuro reservava! - neste momento estava com a Riley ao colo e eu com o Josh, olhava para e lembrava-me do Peeta. Definitivamente eu gostava dele, não o amava, mas eu gostava dele.

—Já passou. Eu agora tenho-te a ti, tenho os gémeos, tenho os meus irmãos, tenho os meus amigos, estou feliz e bem! - exclamei sorridente. - O lado bom de casar com o Peeta foi que descobri o Gale, esse vai continuar a ser parte da minha família, sempre.

—Quando me contaste nem queria acreditar, tenho de o ver um dia destes! - o meu pai sempre gostou muito do Gale.

—Eu quando der um jantar aqui em casa... - comecei, mas lembrei-me que quase de certeza eu teria de sair.

—Eu compro o apartamento aos Mellark, não te preocupes! - o meu pai disse imediatamente.

—Duvido que a Claire aceite isso! - receei.

—Eu vou tentar ao máximo, vai ficar tudo bem e já vais poder convidar as tuas amigas, a tua família, quem tu quiseres para os jantares! - exclamou animado e eu sorri.

—És o melhor! - dito isto o meu telemóvel toca dando sinal de uma mensagem recebida. Pousei o Josh no carrinho e fui ver, era do Finn a perguntar-me se queria ir com ele ver a Clove. Respondi-lhe que sim. - Vou sair pai. Vou ao hospital com o Finn ver a Clove.

—Ah sim, aquela tua amiga que teve o bebé ontem, o Finnick contou-me! Eu também aproveito e vou para a empresa, queres que te leve ao hospital? - ofereceu-se.

—Não, eu vou com o Finn, ele vem cá buscar-me! - recusei e agradeci em seguida.

—Então sendo assim, eu vou indo! - despediu-se dando-me um beijo na face e eu dei-lhe outro. Fechei a porta e passados uns 10 minutos a campainha volta a tocar, pensei que era o Finn, mas mal abri a porta vi o quão enganada estava.

—Vim acabar de buscar as minhas coisas e vim despedir-me dos meus filhos, não te preocupes que não demoro muito tempo! - falou seco, eu queria ter raiva dele e permanecer fria, mas não conseguia, estava triste.

—Passa - abri-lhe passagem sem o olhar nos olhos. - Eu lamento as coisas terem de acabar assim.

—Ontem não parecia, apesar de hoje só o perceber por não teres a capacidade de me olhar nos olhos - comentou e eu olhei para ele triste, ele estava com uma sobrancelha levantada.

—Eu estou magoada contigo. Será que não consegues perceber isso? Eu vi-te a beijar outras, eu vi-te a apalpar outras, toda a gente viu! Tu mentiste-me na descarada! E sabes o que ainda é pior? É que eu... - calei-me assim que reparei o que ia dizer.

—É que tu o quê? - ele estava curioso, eu já encarava os pés, mas ele puxou o meu queixo para cima e fez-me olhá-lo nos olhos. - Começaste, agora acabas!

—Tu não percebes o que é sentires o que eu senti? O meu estomago revirou-se ao ver as fotografias, eu senti o meu coração partir-se em mil bocadinhos. E sabes porquê? Porque eu gostava de ti! - já gritava e chorava.

—E porque é que nunca disseste que gostavas de mim antes? Porque é que fugias de mim? - questionou e eu fiquei sem resposta.

—Por isso mesmo, porque eu não queria aceitar que gostava de ti, eu não queria fazê-lo porque não queria levar uma nega! - contei determinada.

—Gostas de mim? - ele falava do presente, e confessar agora todos os meus sentimentos iria deixar-me em cheque, eu não queria isso para mim.

—Não, quando a ficha caiu eu percebi que já não sinto o mesmo quanto a ti, apenas indiferença! - eu estava vulnerável diante dele e dos seus lindos olhos azuis, olhos esses que ele tinha passado para a minha doce Riley. Quando menos esperava ele beijou-me, e eu feita parva correspondi, deixei-me levar pelo sentimento, quando nos separamos eu fiquei de olhos fechados, não tinha a coragem para o olhar nos olhos.

—Mentirosa, se não gostasses de mim não terias correspondido, se tivesses raiva e repulsa de mim, ter-nos-ias separado imediatamente. Tu gostas de mim e sabes disso. Lamento não ter demonstrado que sentia o mesmo em relação a ti enquanto tive tempo e oportunidade - ele parecia tão arrependido... mas eu não podia voltar atrás, não agora, aliás eu nunca poderia fazer isso. Ele saiu, arrumou as coisas todas, veio à sala despedir-se dos miúdos e finalmente foi embora. O Finn mandou-me uma mensagem para eu descer, avisei a Hazelle e fui ao quarto buscar a minha mala, em cima da cama estava um bilhete com outro papel, uma espécie de recado da escola.

Para te lembrares de mim. Quero que saibas que nutro e nutri sempre os mesmos sentimentos por ti, desculpa ter sido idiota e te ter traído. Mereço tudo o que aconteceu e tudo o que me disseste, exceto o facto de gostares de mim, mereces melhor.

Espero que encontres um homem que te faça feliz e que te mereça, um que não te faça sofrer e não te vire a vida de pernas para o ar, como eu fiz.

Desculpa por tudo, não te mereço e por isso peço-te que me esqueças. Por fim quero que saibas que apesar disto tudo eu vou ajudar com os gémeos em tudo e queria propor guarda partilhada, seria o mais saudável para eles.

Peeta, o maior idiota da história.

Li então o recado, era uma advertência, eu conhecia bem aquele tipo de cabeçalho, éramos velhos conhecidos. Li-o.

Informo que o vosso educando, Peeta Mellark foi flagrado aos beijos com uma das nossas alunas na casa de banho das raparigas, numa posição bastante interessante. Solicito a vossa presença para uma reunião onde será discutida a punição a aplicar ao aluno.

Cumprimentos, o diretor Snow.

Porque é que ele tinha de ter deixado isto? Resolvi guardar isto numa das gavetas, agarrei na minha mala e fui. Entrei no carro do Finn que me esperava impacientemente.

—Demoraste imenso, que se passou? - ele estava há espera há mais de 15 minutos.

—Foram os bebés, estive a adormece-los! - justifiquei e ele não parece ter engolido a desculpa, mas não insistiu mais.

Chegamos ao hospital e dirigimo-nos ao quarto onde a Clove e o bebé estavam. Batemos e logo ouvimos um "Entre".

—Olá! - cumprimentei-os com um sorriso forçado.

—Olá! Lamento imenso já soube das novidades todas - será possível que ninguém não saiba?

—Foi o melhor. E como é que aqui a mamã vai? - desviei o assunto e ninguém insistiu.

—Vou bem, o Cody também, esta noite até foi sossegadinho. Acordou duas vezes apenas! - sorri-lhe.

—Ainda bem. Já te sentes mais confortável? - perguntei e ela assentiu.

—Já me afeiçoei a ele, neste momento já não o consigo largar! - ela estava mesmo animada. Ficamos a conversar enquanto o Cato e o Finn sussurravam qualquer coisa à qual não prestei mínima atenção. Ouvimos alguém bater à porta, mais um "Entre" foi gritado e a porta abriu-se revelando quem eu não queria encontrar naquele momento.

—Finnick? - atraí não só a atenção dele como a de todos. - Acho que está na hora de ir, quero ir buscar a Prim ao colégio com os miúdos para ela os ver.

—A Prim vai com o Ryan - naquele momento a minha desculpa foi pelo ralo porque o idiota do Peeta tinha de falar.

—Mesmo assim eu tenho de ir dar de comer aos miúdos! - o que era 100% verdade.

—Tens a Hazelle para fazer isso por ti, não há problema se te atrasares um dia, como já tantas vezes aconteceu - contrapôs de novo, ele queria-me por perto, mas eu não sabia se estava preparada para o ter tão próximo de mim.

—Eu considerei a tua proposta e tu tens razão, ia ser ótimo para os miúdos ter-te por perto, mas como nos primeiros tempos acho que é melhor eles continuarem comigo, permito que vás lá a casa quando quiseres para os visitar, é só falares comigo e combinamos isso, se quiseres também podes ir passear com eles, no entanto, eu não quero que me impliques muito nisso. Quando eles crescerem um pouco, tipo no segundo ou terceiro mês podem passar uma semana contigo e outra comigo! - expliquei a minha decisão.

—Muito bem, eu concordo contigo - concordou. - Mas no entanto eu insisto que fiques com a casa para ti, não te quero na casa do teu pai, acho que teres independência e criares os nossos filhos naquele apartamento era bom, é confortável, é descontraído, a tua cara a 100%!

—Obrigada por tudo, mas eu tenho de ir embora. Depois falamos melhor. Vens Finn? - eu queria sair na mesma. O Finn assentiu e nós fomos embora.

Aquele acordo parecia-me justo, mas eu estava tão confusa com tudo, era muito recente, muito rápido e ainda meio que irreal! Eu queria ficar com ele, mas não devia e não seria bom para mim.

Eu, estou apaixonada por Peeta Mellark, o Rapaz do Cesto.

Continua...