''Partimos em direção à minha casa, e quando chegamos Brian quis me deixar descansar, portanto não subiu. Dei um beijo nele e saí do carro. Subi até o meu andar em silêncio. Entrei na casa e não tinha ninguém, eram seis horas da tarde e a dor de cabeça me consumia. Resolvi me deitar.

Eu tinha absoluta certeza de que não havia nada de errado comigo. Era uma pena que nem toda certeza é verdadeira.''

Aqueles dois dias passaram voando, mal vi Liz, que estava sempre correndo de um lado para o outro com Zacky, aqueles dois estavam muito bem juntos, melhor do que eu pensei que ficariam.

Brian me ligou poucas vezes nesses dois dias, em cada uma das ligações ele perguntava sobre os exames, e eu sempre respondia a mesma coisa:

-Brian, já falei pra você ontem, os exames só ficam prontos amanha, e o médico vai me ligar...

-Mas eu quero saber como você tá... ?

- Eu to bem, muito bem, não sinto nada. – ‘’Na verdade, minha cabeça esta explodindo’’ contive a vontade de dizer.

- Ok, quando o médico ligar, me avise, eu vou junto.

-Não, eu vou sozinha.

-Victória... deixa eu ir.

-Não, se quiser, pode ir me buscar, eu vou, e depois da consulta ligo para você.

-Deixa eu ir... – Falou lentamente, para tentar me convencer.

- Brian, já falei que não, eu quero ir sozinha, me sinto mais confortável.

- Ok, vou ensaiar, me ligue qualquer coisa. Beijos.

E assim foi, sempre me pressionado, mas em nenhuma das tentativas ele me convenceu. Se eu tiver alguma coisa, eu vou descobrir sozinha.

Lembro-me de quando era menor, descobri sozinha que meu vô estava doente, com câncer, câncer de estomago, mas quando o mesmo descobriu era tarde demais, como eu era muito apegada a ele, ninguém da família quis me falar, mas quando vi que tinha algo errado, vasculhei em todas as gavetas até achar alguma coisa, infelizmente, o que achei foi ruim, cruel até.

Meu telefone tocou, levantei lentamente para pegar ele, minha cabeça doía muito, e movimentos rápidos demais só pioravam a dor. Olhei o visor já esperando ler o nome de Brian, mas o numero era desconhecido.

-Alo...

- Olá, posso falar com a Srta. Victória Rubens? – Uma voz calma falou, e nesse instante todo meu corto gelou, era a secretaria do medico.

- É ela mesma.

-Seu exames ficaram prontos, o doutor pediu para marcar hora para você para hoje mesmo se puder, esta livre Srta. Rubens?

- Ah, claro, o dia inteiro. Que horas tem ai?

-Daqui uma hora tem um horário vago, se você conseguir comparecer.

-Claro, até mais, e obrigado.

- Eu que agradeço, marcada a consulta para as 2:30 da tarde. Obrigado.

Bem, agora era se arrumar, e ir.

(...)

Assim que entrei na sala do doutor, ele me olhou e sorriu, mas logo desfez a cara feliz, e fez sinal para eu me sentar.

- Srta, Victória, tomei a liberdade de olhar seus exames, e no de sangue, bem, acusou algo ruim.

-Acusou o que....?

-Bem, acusou anemia, mas o mais interessante é que no seu hemograma acusou um aumento de celular brancas, conhecidas como leucócitos.

- Sim, e isso quer dizer que?

- Bem, não sou um médico especializado em leucemia, mas...

-Espera, você falou em leucemia?

-É, pelo que posso ver em seus exames, a anemia, as suas dores de cabeça, tudo indica que você possa apresentar um caso de leucemia aguda.

Fiquei olhando para ele, provavelmente minha cara estava horrível, eu já começava a fazer caretas, não estava acreditando no que ele estava falando, não conseguia mais pensar, tudo rodava, eu estava doente.

-Fala mais...

-É, bem, provavelmente leucemia linfóide aguda, ela progride rapidamente, mas ela tem tratamento, é muito importante você fazer ele, eu recomendo um médico muito bom, um paciente meu também apresentou um quadro de LLA e eu indiquei esse médico, hoje ele esta saudável. Recomendo esse médico para você Victória.

Enquanto falava ele me entregou um papel com o nome de Marco Solther, hematologista, onde também indicava seu consultório para consultas.

-Claro, eu posso ir nele...

-Vecê deve, por favor, eu tomei a liberdade de ligar para ele, já que esses casos são um tanto quando urgentes, ele falou que espera por você, quando puder ir lá, ele vai atende-la na hora.

- Claro, vou direto para lá... – Eu só olhava para os papeis em minhas mãos, precisava sair daquele consultório, e ir correndo para outro, isso era ridículo.

-Victória, eu lamento.

Levantei meus olhos para ele, este que me encarava com uma cara triste, provavelmente comovido. Me levantei, estiquei minha mão para ele e falei:

-Muito obrigado. Vou ir...

Escutei ele murmurando alguma coisa, mas não prestei mais atenção, simplesmente sai, lancei meu melhor sorriso para a secretaria, e sai do ambiente branco, com papeis de parede azuis listrados nas paredes.

Peguei o elevador e desci os 7 pisos imaginando nos meus próximos passos. Decidi ir logo nesse medico, assim que sai do prédio, peguei um taxi e entreguei o papel com o nome e o consultório do meu próximo melhor amigo médico, e esperei.

-NÃO! Eu quero mudar de direção, por favor, me leva pra esse endereço.

Passei para o taxista o papel amassado com os números do lugar onde a banda ensaiava, dobrei bem os exames e coloquei-os na minha bolsa. Não vi mais nada, por mais que tenho olhado todo o caminho pela janela, pensando que eu estava doente.

Assim que chegamos eu desci, paguei o taxi e fui até o prédio, o porteiro já me conhecia, então deixou eu passar, me dirigi para a sala de ensaio, onde encontrei todos concentrados em tocar, Matt cantando com os olhos fechados dentro aquela pequena sala de ensaio fechada.

Me sentei no sofá, onde não tinha ninguém, mas uma bolsa que eu reconheci ser de Liz estava jogada e abandonada sobre ele. Me acomodei e suspirei, me acalmando, e olhei para Brian, que ao mesmo tempo levantou seu olhar para mim.

Assim como não contive um sorriso, o mesmo abriu um enorme ao me ver, parou a musica no mesmo tempo, e falou para os amigos que o olhavam confusos que ia sair e me dar ‘oi’. Andou calmamente até mim, me abraçou, e me apertou entre seus braços fortes.

Suspirei novamente, era bom senti-lo.

- Não me ligou, acho que não teria ouvido mesmo. Foi no médico?

-Sim, adivinha só, você é um neurótico.

-Como assim? – ele me olhou confuso, arregalando seus olhos castanhos tão escuros.

-Eu to bem, não tenho nada, tá, um principio de anemia, mas isso eu resolvo comendo muito ferro! – ri da minha própria desgraça, que é muito maior do que uma simples anemia.

-Ah, nossa, to mais aliviado agora, bem, se você ta bem, acho que devemos comemorar! – Ele me abraçou novamente, rodando no ar uma vez nossos corpos, e nesse momento olhei para Liz, que fazia cara de poucos amigos para mim.

Ela me conhecia muito bem, eu teria que engana-la muito melhor do que esse teatrinho mal feito com Brian.

-Oi Vic. Ta tudo bem?

-Liz, nem te vi hoje direito, sim, to bem...

- Ahm, então, só anemia? – Ela vez uma careta quando pronunciou a ultima palavra.

- É, viu só, vocês dois são neuróticos... – Sorri simpática para Zacky que a abraçava por trás enquanto eu falava com ela.

- Eu também acho que você é neurótica Liz, vive falando que to gordo demais. – Zacky se queixou, aproveitando a minha fala.

- Obridado Z. – Sorri para ele que piscou para mim.

- Ok, vamos beber! – Matt apareceu gritando pela sala, agora acompanhado de Johnny e Jimmy, que esboçavam um sorriso no rosto.

-Vic, quanto tempo gata! – Jimmy me abraçou, provocando Brian que teve que me soltar.

-Rev, sai de perto, o Syn vai acabar com você se continuar se jogando assim na Vic, é por isso que eu só dou um oi de longe pra ela. – Johnny comentou rindo e lançando uma piscada para mim, assim como Zacky.

-Quero ver esse gay acabando com a minha raça! – Rev gritou em tom de desafio.

- Hoje de noite bonitão, depois de 5 cervejas, eu acabo com você!- Brian entra na brincadeira e praticamente me arranca dos braços de Jimmy.

- Gente, eu vou pra casa, eu to bem, mas ainda to anêmica. – Sorri fraco.

- Então, cerveja tem ferro! –Jimmy gritou.

- Para de gritar Rev! – Matt gritou mais alto.

-Só quando você para Shadows! – Resposta de Jimmy.

-Então vocês vão gritar para sempre! – Johnny falou tentando parecer mais alto que Jimmy e Matt, subindo no sofá onde eu estava sentanda.

-Anão do capeta, você é um gnomo mesmo. – Jimmy tentou argumentar, mas só falou merda.

- Ok, vou indo... Tchau meninos, a gente se vê! – Falei, dando um beijo em cada um, e um abraço forte em Liz, murmurando para ela aproveitar a noite com Zacky, ela só retribuiu sorrindo.

Puxei Brian para fora comigo, notando que já estava quase escurecendo, peguei seu pulso e olhei a hora, era cedo demais para estar tão escuro.

- Vai chover... – ele murmurou ao notar o meu olhar para o céu.

- É.

- Vic, ta tudo bem mesmo?

- Sim, amanha você vem lá em casa? – puxei outro assunto antes que ele continuasse um que eu não gostaria.

- Sim, pode ser, que horas? – Ele sorriu com o meu pedido, como eu amo esse sorriso.

-Eu te ligo. – Dei-lhe um beijo demorado, o abracei e entrei no taxi que me esperava.

- Pra onde moça? – Perguntou o motorista com uma barba preta, mas do tamanha da do papai Noel.

- Esse endereço aqui. – Agora sim, entreguei- lhe o endereço do médico.

(...)

-Então, doutor Solther, eu tenho mesmo leucemia? – Perguntei olhando para o homem com cabelos grisalhos na minha frente, com olhos verdes como o mar do Brasil.

-Olha Srta Rubens, para termos certeza, temos que ter os resultados dos exames que você fez agora a pouco, que vão dizer exatamente o tipo de leucemia que você tem, mas sim, respondendo a sua pergunta, você tem leucemia.

- E por que eu fiquei com leucemia doutor... ?

- As causas desse tipo de doença são desconhecidas, mas podem ser genéticas. Você tem algum histórico de câncer na família.

- Bem – respondi com a voz tremendo, quase chorando ao me lembrar de meu avô – Sim, meu avô teve câncer de estomago.

- Pode ser genético então... Mas os mais importante agora, é começar imediatamente a quimioterapia.

-E, eu posso continuar trabalhando não é? – perguntei triste, não iria parar de trabalhar.

-Claro, você é modelo, certo? Só que após 6 meses de quimioterapia, o seu cabelo pode vir a começar a cair.

- É certo que ele vai cair? – Perguntei, passando a mão pelo cabelo enquanto falava.

-Depende muito, alguns caem, outros ficam mais ralos, mas não chegam a cair, a maioria das pessoas corta antes de começar a perde-los.

- Sim, então, eu vou pra casa, quando meus exames saírem... o senhor pode... avisar?

- Claro minha jovem, claro, eu ligarei imediatamente para você, Srta. Rubens.

-Obrigado Doutor.

(...)

Assim que cheguei em casa passei direto pela sala, não olhando para nenhum lugar, e nem ligando as luzes, me dirigi para meu quarto, onde joguei a bolsa na cama e fui para o banheiro, me despi e entrei no chuveiro, ligando a água e esperando essa cair sobre mim morna, umedecendo minha pele, molhando meus cabelos, fechei os olhos com força. Comecei a pensar no meu dia, na minha vida, na minha doença, e pela primeira vez chorei tanto que perdi a noção do tempo.