~Lily P.O.V ON

Saí do Grande Salão carregando meus livros numa das mãos e uma torrada na outra. Eu precisava ser rápida, então nem esperei pelas meninas, que ainda tomavam o café da manhã. Tínhamos dobradinha de Poções com a Sonserina antes do almoço. Maravilha. Teria de ficar na mesma sala que Sev e o “bonzão” do Potter. Talvez, se eu tivesse sorte, conseguisse sentar longe o suficiente dos dois. Penso nisso enquanto subo as escadarias até o Salão Comunal. Tinha esquecido minha pena nova. Me aproximo da pintura da Mulher Gorda e digo a senha:

— Patrono Corpóreo.

A porta se abre e eu corro para o meu dormitório. Eu não tinha muito tempo, então saco a varinha e faço um feitiço:

— Accio pena.

Ela voa até minhas mãos e eu me apresso, correndo de volta para o Grande Salão. Talvez as meninas ainda estivessem lá. Dou uma olhada em meu relógio e vejo que tenho apenas alguns minutos. Decido esperar por elas na porta da sala, nas masmorras, até porque eu não queira me atrasar para a aula do Slug. Pouco depois começo a ouvir vozes e os sonserinos começam a chegar e a entrar na sala. Sev chega sozinho e eu viro meu rosto. Não queria que ele viesse falar comigo. O quarteto maravilhoso, formado por James Potter, Sirius Black, Remo Lupin e Pedro Pettigrew, passa por mim e James aproveita e sorri. Não retribuo o sorriso. Logo as meninas chegam, entramos juntas na sala e, assim que tento me sentar ao lado de Alice, a cadeira se move.

Olho ao meu redor e o mesmo acontecia com as outras pessoas. Slug entra na sala e um diagrama da classe aparece no quadro, com o nome dos alunos agrupados em trios para que se sentassem juntos. Procuro pelo meu nome e meu queixo cai quando vejo quem são meus parceiros: Potter e Snape. Olho para a bancada que deveríamos nos dirigir e Potter me olha com aquele sorriso irritantemente idiota estampado no rosto.

— Não gostou do grupo, Lírio? – pergunta ele, enquanto eu me sento ao seu lado. Eu apenas o ignoro. Severo se senta à minha esquerda e James fica à minha direita. Procuro por Marlene e encontro-a sentada ao lado se Sirius e Pedro, rindo alto. Sirius provavelmente tinha dito algo à ela.

Mas era eu quem estava com problemas. Coloco meu livro “Estudos Avançados no Preparo de Poções” sobre a mesa e começo a ler o capítulo dezessete. Os dois meninos não trocavam nenhuma palavra, como se isso fosse fazer com que o outro deixasse de existir. Levanto a cabeça quando Slughorn começa a falar:

— Vocês devem estar se perguntando o porquê de eu ter dividido vocês em trios. Muito bem. Nas próximas semanas, vocês e seus grupos vão trabalhar numa aula explicativa para a classe sobre uma das poções que eu vou sortear. Cada grupo terá uma poção diferente e além da aula, vocês terão que preparar uma redação em detalhes sobre os tipos de poções, história e receita da do seu grupo, ingredientes, funções e feitiços envolvidos, além de prepará-la para mim – ele fez uma pausa e sorriu para os alunos – Vou sorteá-las e logo já vou de bancada em bancada tirar dúvidas e dizer qual é o foco do grupo – ele olha seu relógio de bolso e sorteia os temas.

Eu volto a ler o capítulo, ainda ignorando os meninos. Depois de algumas páginas e um silêncio constrangedor, Slug se aproxima.

— Como vai a minha princesa das poções? – pergunta ele, se dirigindo a mim – Eu acho, não, tenho certeza que você vai adorar a de vocês. Amortentia! – sinto um calafrio percorrer meu corpo. Tento sorrir e fingir que gostei – Alguma dúvida?

— Quanto tempo nós temos para fazer este trabalho? – ouço Severo perguntar.

— Em torno de seis semanas, creio eu. Assim vocês terão tempo de sobra. Isso vai ficar no lugar das provas finas de Poções, e como um dos grupos vai preparar a Polissuco, acho que vocês não terão problemas e não vão precisar se preocupar, OK?

Ele sorri e vai para a bancada ao lado da nossa, conversar com Alice, Frank e Remo. Fecho meu livro e o coloco em meu colo. Pego um pedaço de pergaminho e escrevo ‘Amortentia’ no topo. Vou para trás com a cadeira, assim eu podia escrever e olhar para os dois meninos. Coloco o pergaminho em cima do livro e me viro para eles.

— Seguinte, vamos fazer assim, James – ele sorri para mim – você pode focar na apresentação e preparar a ‘aula’ que vamos dar. Eu cuido do preparo da poção e Severo pode focar na pesquisa. Depois eu posso passar tudo a limpo nos rolos de pergaminho – falo, anotando os itens e colocando nossos nomes ao lado. Eles apenas me olhavam – Pode ser?

Potter e Snape concordaram e pedimos permissão para irmos à biblioteca pegar uns livros e começar a trabalhar neles. Andamos até lá e, durante o caminho todo, James não parava de tentar iniciar uma conversa. Chegando lá, vou direto até Madame Pince pedir os livros que precisávamos. Apesar de ela se recusar, Potter consegue pegá-los escondido enquanto nós duas discutíamos. Ele dá metade da pilha para Snape e fazemos nosso caminho de volta para as masmorras.

Sev fica calado, andando alguns metros à minha frente. Nós não nos falávamos direito desde o último dia de N.O.M.’s no ano anterior, quando ele havia me chamado de sangue ruim. Sempre que ele vinha me dizer algo, eu o ignorava. Não há desculpas para este tipo de coisa. Ele e o exibido do Potter não me deixavam carregar os livros. “Era dever de um cavalheiro fazer isso para uma dama”. Claro. James caminhava ao meu lado. Ele havia desistido de tentar iniciar uma conversa comigo. Praticamente todas as meninas de Hogwarts já tinham caído eu iriam cair de amores por ele. Eu o conhecia há seis anos e não conseguia entender isso.

Quando chegamos às masmorras, cada um pegou um livro e começou a ler e a fazer anotações. Passamos o resto da hora fazendo isso, sem trocar palavras. Assim que o período acabou, fui correndo de volta para o Salão Comunal. Tinha perdido a fome. Aquela tinha sido a aula mais frustrante. Uma lágrima escorreu por minha bochecha quando cheguei ao meu dormitório. Eu não estava a fim de ficar presa naquele trabalho com aqueles dois. Iria conversar com as meninas quando elas chegassem depois de Trato das Criaturas Mágicas.

~Lily P.O.V OFF

~James P.O.V ON

Assim que o sinal tocou, Lily saiu da sala apressada, nem me dando a chance de eu me despedir – como se ela fosse me escutar.

Apesar de eu não querer admitir, eu estava extremamente irritado com o fato de eu ter que estar no mesmo grupo que o Ranhoso estava. Podia ser qualquer outra pessoa, mas não, tinha que ser ele. Onde o velho Slug estava com a cabeça? Os três juntos? Lírio não falava com nenhum dos dois e o meu ódio por Snape era recíproco da parte dele. Quais eram as chances daquilo dar certo? Coloquei os livros dentro da mochila com certa rispidez e saí da sala. Aluado, Almofadinhas e Rabicho esperavam por mim. Sirius me deu uns tapinhas nas costas sorrindo e começamos a ir para o Grande Salão.

— Se deu bem, Pontas – disse ele.

— É, cara – falou Remo – caiu com a Lílian!

— E com Snape também – falei mal-humorado – Quanta sorte...

— Achei que você ficaria feliz em cair com ela – Pedro disse baixinho, me olhando com expectativa.

— É claro que sim – falei – mas ela me odeia. Achei que depois daquele dia, da última N.O.M., ela mudaria de ideia, mas ela continua a mesma. Eu não sei mais o que posso fazer.

Todos os meninos ficaram em silêncio. Eles sabiam que o que eu falava era verdade. Eu havia feito praticamente tudo para ela começar a me odiar menos.

— Só dá um tempo para ela – começou Remo – tenho certeza que ela não te odeia. Ela só costuma dizer que você é arrogante e egocêntrico.

— Como se isso fosse muito melhor – falei, pensando no fato de eu saber o que ela achava de mim e não conseguir controlar o que eu sentia por ela. - Vou para o Salão Comunal, OK? Tenho que começar a estudar poções. Vejo vocês mais tarde.

Parti escadaria a cima antes que eles pudessem reclamar e só parei quando já estava em frente à pintura da Mulher Gorda. Digo a senha e entro na sala, notando o quão deserta ela estava. Sento-me numa das poltronas em frente a lareira e pego meu livro de Poções. Abro no capítulo da poção do amor e começo a ler, quando começo a ouvir alguém chorando. Procuro pelo som e percebo que ele vinha do dormitório das meninas. Subo as escadas para ver o que está acontecendo e num piscar de olhos, todos os degraus haviam sumido e eu escorregava rampa a baixo, parando apenas quando chego ao pé da escada, que voltara ao normal.

Tento me levantar e percebo que tinha quebrado algo com a queda. A dor era horrível, mas mesmo assim tento me levantar. A dor fica pior.

— Ei! – chamo – Ei! Alguém! Eu não consigo me levantar! Acho que quebrei algo! Ei! Por favor!

Deito-me no chão e espero pelo que me parece eternidade atrás de eternidade. Fecho os olhos e tento não pensar na dor, que ficava mais intensa a cada segundo. Continuo a esperar e lá fico, até que ouço alguém falar:

— Oi. Tá tudo bem? – como mantive os olhos fechados, tento reconhecer a pessoa pela voz doce e suave, porém ainda trêmula. Era da garota que estava chorando momentos antes, porém, a voz me era familiar. Muito familiar. Abro os olhos e a vejo.

— Lírio.

— O que aconteceu? – pergunta ela, agora mais fria – Você tentou entrar no dormitório feminino, não foi?

Hesito por alguns segundos e ela entende o recado. Lily revira os olhos e suspira. Ela ainda tinha o rosto inchado por conta das lágrimas. Antes de eu poder responder, ela me ajuda a levantar. Meu tornozelo doía demais. A deixo dar uma olhada e ela se esforça para não deixar transparecer o quão ruim estava. Coloco meu braço ao redor dela e ela, apesar de hesitante, deixa. Devagar, nós saímos do Salão Comunal e vamos à ala hospitalar. Ela não fala nada durante o caminho, então cabe a mim quebrar o gelo.

— Eu te ouvi chorar, mas eu não sabia que era você – comecei, devagar – só queria saber o que tinha de errado – termino, olhando para ela com um leve sorriso. Ela me olha e apenas diz:

— Não era nada.

Não forço o assunto. Se ela não quisesse falar, não seria eu quem a obrigaria. Ficamos em silêncio por mais um tempo, ela me ajudando a mancar e eu quase sempre caindo.

Continuamos o caminho, ela sempre tomando muito cuidado comigo. Eu não esperava que ela fosse algum dia ser tão gentil comigo quanto ela estava sendo naquele momento. Eu sabia que era porque eu estava machucado, mas ainda assim eu fiquei feliz por passarmos um tempo juntos.

Levamos cerca de quinze minutos para chegar à ala hospitalar. Madame Pomfrey me deitou em uma das camas e fez um feitiço para consertar meu tornozelo. Levou menos de cinco minutos o processo todo. Assim que eu voltei a colocar meu sapato, vi Lily saindo do hospital. Madame Pomfrey me flagra olhando para ela e diz:

— Olha, Potter, você devia agradecê-la. Se ela não tivesse te trazido aqui, você provavelmente estaria gritando de dor até agora – ela vê meu olhar de dúvida – e se ela realmente não gostasse de você, ela não teria te trazido aqui. Agora, pode ir.

Levanto-me da cama e sigo de volta para o Salão Comunal, porém Lily não havia voltado para lá.

~James P.O.V OFF