~ James P.O.V ON

Eu já sabia que iria ter de chegar atrasado em poções, mas depois do que aconteceu no corredor, eu desistira de ir correndo para a aula. Fiquei andando pelo castelo por mais quarenta minutos além do necessário que o Professor Dumbledore havia pedido. Ele só queria pedir para eu prestar atenção nos alunos da Sonserina, que estavam agindo de forma suspeita nos últimos meses.

Quando cheguei à sala, não olhei para Lily. Apenas abri meu livro e fiquei lendo o capítulo da Amortentia. Logo que o sinal tocou, saí pela porta o mais rápido que pude.

No dormitório, deitei em minha cama e fechei as cortinas. Não queria ser incomodado. Os Marotos não deviam saber o tinha acontecido, bem, não por fontes confiáveis. Apenas pelos cochichos de quem estava no corredor a hora em que Lily dissera que eu não chegava nem a ser seu amigo.

Depois de seis anos, eu tinha certeza que, apesar do ódio dela, ela me considerava alguém próximo, em quem pudesse confiar. Pelo jeito, não. Cobri-me e fiquei em silêncio, até alguém abrir as cortinas e me chacoalhar.

“Pontas, o que rolou hoje no corredor?” Pergunta Lupin, com delicadeza.

“Imaginei que já soubesse, tanta gente viu...” Respondo. Sirius e Pedro estavam sentados na cama ao lado, preocupados.

“Sim, mas queremos saber de você. O que realmente aconteceu, cara?” Insiste Sirius, sem se levantar.

“Bom, eu estava conversando com a Lily, já que você e Marlene saíram correndo na frente. Aí eu fiz o de sempre: a chamei de 'Ruivinha', minha Lily... E tudo o que eu sei é que ela disse que não éramos amigos. Eu perguntei se era verdade e ela disse que sim. Então, eu saí e fui pro escritório do Dumbledore pra aquela reuniãozinha que ele tinha marcado.”

“Ela parecia bem chateada na aula. Praticamente não falou e seus olhos estavam inchados. Acho que ela estivera chorando” diz Lupin.

“Bom pra ela...” Respondo indiferente.

Os três olham para mim.

“Também não é assim, James. Você ama essa garota desde sempre e agora não está nem aí pra ela?”

“Eu 'estou aí' para ela, só que depois disso tudo, um pouco menos.”

“Não é sua cara bancar o indiferente” ressalta Sirius

Viro-me na cama e fecho os olhos, tentando terminar a conversa, mas eles não saem de lá.

~ James P.O.V OFF

~ Lily P.O.V ON

Fui direto para o dormitório depois da aula. Sentei-me na janela, onde eu podia admirar minha roseira. Era realmente linda. Sinto mais lágrimas escorrerem no meu rosto e nem me dou o trabalho de enxugá-las. Poucos minutos depois, Marlene e Alice entram no quarto. Eu, felizmente, estava de costas para elas.

“Lily, me diz que aquele lance do corredor de hoje cedo não é verdade” diz Marlene.

Não respondo e elas se aproximam de mim.

“Lily…” Alice fala, com delicadeza, colocando sua mão em meu ombro.

Desabo a chorar e soluçar. Elas entendem que o lance tinha realmente acontecido e tentam me confortar. Quando me acalmo, Marlene diz:

“Flor, você tem que falar com ele…”

“Ele não deve nem estar querendo me ver a uma hora dessas, Lene...” Afirmo.

“Mas, Lily” continua Alice. “Imagina como ele deve estar... Ele é apaixonado por você há anos... Ele e, sobretudo, você precisam conversar sobre isso. Resolver o assunto juntos.”

Apesar de eu querer negar aquilo, sinto que é verdade. Ele devia estar péssimo com todo o ocorrido. Levanto-me e vou até o espelho, tentar melhorar minha aparência. Não havia nada que eu pudesse fazer. Meu rosto estava inchado e meus olhos, vermelhos. Penteei meus cabelos com os dedos e me virei para elas.

“Vocês tem certeza? Eu não sei…”

“É claro que temos” respondem as duas, juntas.

“Ele deve estar no dormitório dele, eu acho” diz Marlene. “Se quiser, vamos com você.”

“Não” digo. “Tenho que fazer isso sozinha.”

“Tudo bem” responde Alice.

“Vamos estar no Grande Salão. Se quiser, encontra a gente depois que terminar.”

“OK” respondo.

~ Lily P.O.V OFF

~ James P.O.V ON

Ouço passos no quarto e quando penso que estou finalmente sozinho, vejo Lily parada perto da porta. Os meninos se levantam.

“Posso falar com você, James?”

“Nós vamos indo lá, temos que comer…” Diz Lupin, puxando os outros dois para fora do quarto, antes que eu possa responder qualquer coisa.

Sento-me em minha cama e coloco os óculos. Lily desvia das coisas jogadas pelo chão e se senta na minha cama, de frente para mim.

“James” ela fala, olhando fundo nos meus olhos. “Me perdoe.”

“Pelo o quê?” Pergunto.

“Pelo o que eu disse mais cedo. Não foi nada gentil e extremamente fora da realidade...”

“Não deve se desculpar pela verdade. O que é fato, não temos como derrubar, não é?” Digo.

“Mas acontece que aquilo não era verdade, James” ela diz o meu nome, com toda a delicadeza que ela conseguia reunir.

“Me pareceu bem real quando você gritou isso no corredor, mais cedo. E não só para mim. Todos estão sabendo.”

“Mas eu não devia ter dito aquilo...”

“É. Era melhor ter guardado para você uma informação dessas, já que depois de seis anos juntos, imaginei que houvesse algo entre nós. Confiança, compreensão, e no mínimo amizade” quando termino essas palavras vejo que ela voltou a chorar.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Ela apenas olha para baixo e seca as lágrimas com as costas das mãos. Respiro fundo e coloco para fora:

“Eu te amo, Lily.”

Ela começa a chorar mais forte, com mais soluços. Fico preocupado e até cogito não ter dito uma coisa daquelas, num momento desses. Mas tudo o que eu me lembro depois disso é ela estar em meus braços e ter sua pele tocando a minha. Seu rosto quente tão próximo que sinto sua respiração e a minha virarem uma, e nossos lábios se tocarem. O melhor momento que eu já havia vivido parecia durar uma eternidade. Mas ela se solta de mim e sai correndo, chorando mais ainda. Para no batente da porta e diz:

“Desculpe-me, James.”

Por fim, desce as escadas e eu fico ali, sentado e confuso, sem saber se fora um sonho ou se aquilo se tornaria um pesadelo.

~ James P.O.V OFF