Dias Mortos

43: Perdidos No Paraíso....(O fim)


Descance em mim e eu confortarei você

Eu vivi e morri por você

Permaneça em mim e eu te prometo

Eu nunca abandonarei você

As vezes no silêncio da minha mente eu me perguntava se tudo isso era real. Talvez eu ainda estivesse naquele sanatório horrível, talvez Egerver fosse só mais uma cidadezinha afastada, talvez eu criei isso tudo porque de fato estava pirando...

E quando estava a ponto de surtar, sentia o aperto de Casper em minhas mãos então eu sabia, sim isso tudo era absurdamente real.

– Será que existe alguma forma de sabe...recuperar minhas asas? -essa pergunta dançava na minha cabeça algum tempo, de fato era o que eu mais queria no momento. Casper fazia círculos na minha palma, enquanto subíamos alguns degraus de pedras.

– Há uma forma, se você fizer algo de extraordinário você as recebe novamente.

Senti uma carranca aparecer em meu rosto, algo extraordinário! Eu já não tinha feito o suficiente?!

– O que mais eu posso fazer, será que salvar minha alma ou todos que vivem no submundo não é o suficiente.

Senti Casper rir e isso me deixou com raiva, puxei minha mão para longe, mas ele me rodopiou em meus pés, na clara faixa de luz pude ver que havia um sorriso estranho em seus lábios, o que deixava os olhos como pedras preciosas.

– A hora irá chegar, apenas mantenha a calma.

Suspirei, fechando os olhos e novamente os abrindo.

– Espero que sim, não perdi tanta coisa por nada.

Principalmente eu me referia a Penélope, eu ainda sentia o frio da perda me abraçar, eu estava de luto eterno por ela, isso é um simples e triste fato.

Quando por fim chegamos ao cemitério, algo me chamou atenção. As coisas estavam bem mais harmoniosas, pela primeira vez eu conseguia ver uma faixa do céu acima de nós sem nuvens, como estávamos perto do por do sol, tudo estava rajado de laranja e vermelho. As árvores perto aos túmulos, tinham suas copas com folhas douradas, como se estivéssemos no outono.

Acho que Casper vendo minha expressão, resolveu explicar algumas coisas.

– Um novo tempo chegou, e tudo isso graças a você.

Sorri e continuei em silêncio, o momento estava bom, tinha medo de que minhas palavras e perguntas estragassem isso. Enquanto andávamos para fora do cemitério, peguei de relance a tumba da família Erstanding, que agora tinha o nome de Penélope ali gravado. Estava cheio de folhas, com trepadeiras subindo de forma delicada pelo anjo de pedra que ali zelava pelos dois.

Não parei de andar, apenas fiz sinal de respeito mostrando que jamais a esqueceria.

De luto por você

Eu não estou de luto por você

Nada pode empobrecer o amor real

E embora eu possa ter perdido meu caminho

Todos caminhos me levam direto para você

Eu estarei do seu lado para todo o sempre

Quando as primeiras casas de Egerver foram aparecendo, senti um alívio passar sobre mim, era como estar voltando para casa. Mas assim como o cemitério, tudo estava diferente, havia ali uma harmonia festiva que não vi nos meus tempos nublados.

– Mas o que houve aqui? -perguntei de boca aberta, enquanto uma orda de pessoas dançavam pela rua, gritando animadamente uma com as outra, enquanto os participantes do circo Lacrimosa, desfilavam fazendo malabarismos e tocando instrumentos, criando uma verdadeira festa.

– Estão comemorando! -sorriu Casper gritando para ser ouvido, sorri enquanto um mulher me jogava confetes pretos, enquanto sapateava pela rua.

– Comemorando o que? Nem fazia ideia de que eles sabiam sobre Christabel!

– Não é isso -olhei para seu rosto, tentando decifrar o que se passava naqueles olhos inquietantes, então me pegou pelo braço -Você Lilith, você acabou com a lua azul, Egerver é uma cidade livre de maldições!

Ao dizer isso todos gritaram, comemorando sua merecida liberdade.

Não sabia o que dizer, estava simplesmente sem fala. Um grupo de pessoas me cercou, gritando meu nome, enquanto dançavam ao meu redor, sorri fechando os olhos e sentindo o sentimento de paz sobre mim.

Eles me chamavam de rainha das trevas, sua salvadora...eles sabiam que eu era uma pessoa de bem, e isso nunca poderia ter me deixado mais feliz.

Cada coração

Em minhas mãos

Como um pálido reflexo

Eu sou tudo aquilo que você não pode controlar

Em algum lugar além da dor

Deve haver uma forma de acreditar

Lembre-se de quem você realmente é

Faça o que você quiser

Eu sabia quem eu era, agora eu tinha certeza disso e não me arrependia eu estava triste. Não mais.

– Como...como isso é possível! -perguntei com um sorriso gigante no rosto a Casper, enquanto fugia da multidão e ficávamos abaixo do telhado de uma loja, Illanda e Dorpet sorriram para mim, passando seus braços ao meu redor.

– Christabel matinha o portal aberto, com o portal aberto o povo do norte....sabe aquele lugar mais fétido do submundo poderiam entrar, agora que ele está morto, a luz azul acabou!

Sorri para Ilanda, enquanto Dopert assentia para mim.

– Novamente fazendo a diferença.

Eu gostava disso, de fazer a diferença. Me voltei para rua, onde peguei um leve vislumbre de Ravenna e Julian brincando com um tipo de corda, que Zora e Enid os gêmeos malabaristas de estranhos cabelos verdes estavam lhes dando. Sorriram brilhantes quando me viram, antes de sumirem em meio a uma chuva de confetes prateados.

Eu nunca mais os vi, mas sabia que deveriam estar muito bem em Lacrimosa...ou em qualquer outro lugar do mundo.

Por mais que doa ,Não é maravilhoso se sentir?

Então vá em frente e quebre suas asas

Siga seu coração até ele sangrar

Como nós corremos para o fim do sonho...

Outra coisa que vi foram os caçadores de sonhos que sobraram, eles pareciam como sempre distantes, perdidos em seus mundos de imaginação...acho que não iriam mais ficar aqui, já que por fim a lua azul acabou e seus trabalhos estão terminados.

Enquanto Egerver era mergulhada em uma louca mistura de dança e musica, Illanda e Dorpet acenaram para nós, enquanto tentavam em se seus modos estranhos, com capuz e roupas negras se misturarem na multidão.

– Bem e agora?-perguntei me virando para Casper -Acho que os desafios estão todos terminados.

Ele sorriu, enquanto acariciava uma das minhas bochechas.

– As surpresas não terminam por aqui, venha.

Passamos pela casa de Penélope, que agora era uma construção antiga e parcialmente abandonada, vazia como se a espera de algo. Eu sabia que deveria fazer algo, e literalmente algo brilhou em minha mente, eu daria um jeito de sua velha mansão vitoriana, virar um museu, para brilhante cantora de Opera que ali vivera.

A dor que oprime você

O medo que cega você

Liberta a vida em mim

Por favor, não tenha medo

Quando a escuridão desaparecer

O amanhecer quebrará o silêncio

Gritando em nossos corações

– O que estamos fazendo aqui? -perguntei olhando para a grande construção, a monstruosa igreja que parecia vigiar Egerver, protegendo seus moradores da escuridão que parecia engolir a cidade, agora não mais.

– Algo realmente bom -foi tudo que disse, enquanto andava até os portões e facilmente os abria. Estava um leve vento, o que fazia seu sobretudo voar para trás, assim como jogar os cabelos negros em seus olhos, os deixando um pouco misteriosos, difícil de ser desvendado.

O barulho da musica tinha ficado para trás, apenas o segui até a construção mais alta da cidade, o que fazíamos ali ainda era um mistério para mim. Passamos por um arco, que fazia divisória com a enorme porta de madeira, entrando em um pátio vazio e silencioso, de chão imaculadamente branco, com janelas altas e torres pontudas ao longe.

Subimos uma escada em caracol, cercada por imagens de anjos caindo, com asas em chamas, a cada degrau eu me sentia perdida nas pinturas tão realistas. Chegamos ao que parecia ser o térreo, onde havia uma vista de tirar o fôlego do por do sol dourado, a festa de Egerver e o circo com suas tendas branco e negra brilhando na floresta de flores radioativas. Havia até mesmo uma ponta de fronteira, mostrando um submundo de céu já enegrecido pela noite, mas mesmo assim belo.

– Acho que não agradeci ainda ao meu...exercito pela ajuda na torre com Christabel -comentei, enquanto andava para perto da sacada, olhando com admiração tudo a minha volta, sentindo com vontade o vento jogar meus cabelos em meu rosto.

Casper pegou minhas mãos, sorrindo para mim.

– Eles podem lhe ouvir, onde que estejam -sua voz era suave e isso me fez fechar os olhos, enquanto levantava a cabeça.

– Obrigada -sussurrei com as palavras perdidas pelo vento. Então Casper me virou para si, colocando meus cabelos atrás da minha orelha, e sorrindo enquanto chegava perto.

– Está pronta?

– Para o que exatamente.

O que ele disse me fez tremer, de excitação...emoção e felicidade contida.

– Para receber suas asas, alias você merece.

Algo entrou em minha visão, um forte clarão seguido de muitas vozes, não era louco nem irritante, era mágico...e reconfortante. Senti leves calafrios em meu corpo, seguindo de um delicioso arrepio, sorri enquanto parecia me elevar do chão.

Estou à deriva muito além do limite

Liberdade,

Liberdade

Você não consegue sentir o chão cedendo?

– Como se sente? -a voz de Casper parecia vir de mito distante, pisquei algumas vezes enquanto a claridade dava lugar novamente a paisagem de Egerver.

– Eu...é...o que aconteceu?-perguntei me sentindo um pouco zonza, mas Casper estava ali por mim.

– Os espíritos, eles estavam falando com você....lhe entregando o que a muito tempo fora perdido.

Encarei seus olhos, os que sorriam para mim, enquanto lentamente eu sentia algo me minhas costas. Minha boca se abriu em um “O” perfeito, enquanto eu esticava minhas mãos para sentir as plumas macias....e brancas, como límpidos flocos de neve.

Não acreditava! Minhas asas estavam de volta!

– Não acredito nisso! Casper! -eu estava gritando, enquanto ele sorria me abraçando, abrindo suas próprias e negras, que de fato faziam uma bela combinação com as minhas.

– Então -sua voz estava suave no meu ouvido, se misturando com a brisa leve que me fazia arrepiar -Vamos voar.

Eu queria....nossa como queria...mas...

– Tenho um pouco de medo...acho que desacostumei bastante.

Bastante não era nada, de fato seu eu tentasse esborracharia no chão.

– Não tenha medo, estou aqui por você, sempre pronto para lhe segurar-ele selou nossos lábios, em um demorado beijo que fazia todos meus sentidos desaparecerem -Eu amo, minha adorada ceifadora, confie em mim.

Sorri em meio aos seus lábios, passando as mãos por suas asas.

– Eu confio meu amor, confio como em ninguém mais -cheguei perto dos seus ouvidos também, sentindo seu delicioso aroma que me embriagava -Também lhe amo, mas acho que sabe disso.

Ele piscou para mim, me tomando pelas mãos, me fazendo ficar de pé ao seu lado na cabeça de uma gárgula que nos fazia careta, com seu duro olhar de pedra.

– Sim, mas nunca me canso de ouvir.

Sorri rolando os olhos, enquanto ele me apertava em seus braços, lentamente batendo suas asas, eu o imitei e um rápido movimento meus pés estavam no ar. Os braços se Casper se apertarem a minha volta, e assim começamos nossa jornada pelo infinito.

O infinito...o infinito agora não parecia nada, vamos ultrapassar os limites, caminhar entre as nuvens e dançar entre as estrelas. Pois agora tudo estava em paz, em milênios de perdas e desgraças, a paz estava em fim reinando.

O infinito era apenas um dos objetivo a serem ainda conquistados, para finalmente pisarmos no paraíso, que de fato estavam esperando por nós.

E lá eu gostaria de me perder, para sempre perdida no paraíso, o lugar de Casper...o meu...o nosso lar.

Talvez esta noite, nós voaremos para tão longe

Estaremos perdidos antes do amanhecer

Querido amor, você não queria estar comigo?

E, querido amor, você não desejava ser livre?

E que em uma doce noite você é só meu

Pegue minha mão

Nós estamos partindo daqui esta noite

Não há motivo para contar para os outros

Eles apenas nos atrasam

Nós estaremos à meio caminho para qualquer lugar

Onde o amor é mais do que apenas o seu nome

Esqueça essa vida, venha comigo

Não olhe para trás, você está a salvo agora

Destranque seu coração, baixe a guarda

Não há mais ninguém para te parar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.