Dias Mortos

40: Renascer das Cinzas


Apenas olhei para cima, não me importando com os pequenos estilhaços pinicando meu rosto. O quarto lentamente foi se enchendo com uma claridade quase cegante, afastei alguns passos para trás, e me senti bater em alguma coisa.

- Pensei que nunca mais iria lhe ver!-aperto meus olhos, onde o rosto de Casper aos poucos foi entrando em foco, ele trazia consigo um olhar duro e frio, mas em seus lábios havia um doce sorriso.

Não, ele me devia muitas coisas.

- Pare de sorri -disse lhe apontando um dedo acusador -Temos muito o que conversar.

Ele me fez uma careta, unindo as sobrancelhas.

- Odeio essas palavras -então assentiu em silêncio, enquanto suas mas frias deslizavam para minha -Mas agora, temos assuntos inacabados por aqui.

- Isso é mesmo lindo! Comovente em certo ponto, pena que me dão tanto nojo -acho que aprendi a temer e odiar a voz de Christabel, ele sorria escorado na porta como se nem ligasse para uma orda de anjos no seu....quarto de hóspedes. Então seus olhos se escurecerem, e sorriu diretamente para mim, fazendo o medo e raiva tremularem meu corpo todo -Mas quero o que me foi prometido.

- Não, você quer apenas calar essa boca. Sabe, vejo que não mudou nada com o passar dos anos, continua o mesmo ignorante de tempos atrás -o sorriso de Casper assim como sua voz era cruel, eu quase fiquei com pena de Christabel, quase mas não.

- Vamos ver quem ganha dessa vez Casper.

Foi tudo muito rápido, como um grande flash de luz e ali estava, criaturas grandes e corcundas de dentes pontudos, enquanto seus olhos se balançavam para fora, com asas sujas e flácidas saindo de trás de suas costas.

Casper me empurrou para trás, enquanto uma daquelas...criaturas se lançava para cima de nós, ele apenas sorriu de lado, enquanto de algum lugar puxava uma grande espada branca e enfiava no peito da tal criatura, que gritou e se tornou cinzas.

- Mas o que e isso? -gritei por cima da bagunça do quarto, enquanto passava por baixo do braço da besta, com Casper logo atrás. Meu destino era chegar até a porta e levar essa baderna para longe.

- Desertores, andam pela terra sem um destino....Lilith....

Não terminei de ouvir o que ele dizia, pois alguma coisa passou raspando por mim, me jogando de encontro a parede, onde Christabel apertou meus pulsos, me arrastando como uma boneca de pano até a porta.

- Solte-a agora mesmo bastardo! -pisquei enquanto as coisas começavam voltar, minha cabeça latejava assim como todo meu corpo. Casper era uma bela visão, como um vingador de asas, trazendo consigo uma perigosa espada que emanava um brilho mortal para seu rosto retorcido com o ódio.

- Não dessa vez -foi tudo que Christabel disse, antes de falar alguma coisa e nos jogar em uma escuridão total, onde apenas me sentia caindo. Eu sabia que ele tinha usado magia, minha magia! Pois notei com raiva, meu amuleto brilhar em suas mãos.

- Eu já disse...-gritei por cima do vento que passava sobre nós, enquanto caiamos para a escuridão sem fim e apertava os olhos em sua direção, eu estava com medo é claro, mas a raiva era maior -Que não irei lhe dar minha alma!

Ele riu, mas acabei com sua graça enquanto apertava minhas unhas em sua garganta e facilmente o fazia largar o amuleto, que caiu diretamente em minhas mãos. Ótimo! O apertei, sentindo sua energia me revigorar enquanto lentamente o poder corria por minhas veias, me tornando a portadora da magia, aquela que tinha a alma mais cobiçada do submundo, a qual Christabel iria manter as mãos longe.

Eu gostava dessa sensação de poder, era como um novo renascer, e certamente seria a útlima vez que alguém me roubaria isso.

- Lilith! -ele gritava meu nome, mas parecia estar muito longe, um eco enjoado -Éramos amigos, olhe o que a magia fez conosco...você não....

- Cale-se Christabel! Eu preferia ter morrido naquele lago do que ter sido salva por você, nunca existiu amizade....então, não me arrependo de fazer isso.

Sorri, enquanto cantava lentamente, eu sabia que ele estava com raiva mas isso apenas ajudava ainda mais em minha magia. Mesmo ele se debatendo e me dando socos, coloquei meus apenas meus dedos sobre seus braços, sentindo enquanto seus gritos e magia eram retiradas do seu corpo, passando diretamente para o amuleto.

Ele aos poucos foi ficando mole, eu sorria com isso. Não me achem cruel, mas ele merecia. Então gritei, enquanto as chamas cobriam seu corpo, transformando em pequenos cristais que sumiram no ar.

Engoli em seco, me sentindo drenada e quase a ponto de desmaiar. Ao menos estava acabado, por fim! E espero que seja a última coisa que tenho de enfrentar.

Então me dei conta de que estava caindo, caindo sem ter fim! Me desesperei um pouco, enquanto a velocidade foi aumentando, e o vento me cortava em duas, olhando para baixo, nada mais havia do que escuridão dentro de escuridão.