Dias Mortos

19: Sombras Dançantes



Ler livros antigos sobre a família Desmund não me ajudou muito, na verdade não me ajudou em absolutamente nada. Me arrastei para fora do prédio, me sentando nos frios degraus, apenas vendo com surpresa o cortejo que passava pela rua.

– Isso não é mesmo magnífico!-senti a temperatura abaixar e mesmo assim manti a calma, estava cansada de me assustar com certas coisas que acontecem comigo nessa cidade. Apenas dei de ombros, enquanto tentava não engolir em seco na presença de Casper.

– O que faz aqui, não deveria estar guardando o portão do inferno? -retruco sentindo ácido na minha voz e bem, eu deveria temer um caído, não sei porque estava brincando com a morte dessa maneira.

– Guardo o portal do submundo, não é exatamente o inferno.

Olhei em sua direção, mas seus olhos estavam faiscando na passeada negra a nossa frente. Os cabelos faziam uma chama escura em seu rosto, ainda mais com o capuz que o fazia parecer como uma sombra sorridente, enquanto as pessoas choravam seguindo um caixão escuro pela rua de pedras.

– Porque todos acham que Kizzy Desmund não existe?-disse por fim, quando a última sombrinha escura sumiu em uma esquina. Ele se mexeu até ficar com seus olhos colados em meu rosto.

– Porque eles não se lembram dela -o encarei, esperando mais informações mas ele apenas ficou lá, parado esperando alguma reação. Bufei, rolando os olhos.

– Códigos novamente, pensei que tínhamos passado essa fase.

Ele apenas ficou de pé, com um meio sorriso seco. Fiquei onde estava, ele apenas fez um gesto cansativo com a cabeça.

– Se quer saber algumas coisas obscuras sobre a Desmund esquecida, venha comigo.

Lhe dei um olhar desconfiando mas me levantei, sabia que o único que poderia me ajudar era ele, e de qualquer forma tínhamos um trato.

Um arrepiante trato.

– Okay, onde quer me levar?

– Um lugar onde ninguém que é psicologicamente bom da cabeça iria -lhe fiz uma careta, enquanto o mesmo ria de alguma piada interna.

– O que foi, acha que meu psicológico não é bom o suficiente.

– Na verdade, você é o suficiente -foi tudo o que disse, antes de pular para o meio da rua e me dar um breve aceno com a cabeça -Me encontre na entrada do cemitério, quando a tarde se for.

Cruzei os braços, sentindo o vento frio chicotear meu corpo.

– Cemitério, isso poderia ser menos clichê -sussurrei para o nada, mas acho que ele ouviu, pois se voltou, com um sorriso nos lábios.

– Por mais que todos falem que odeiam clichês, ninguém gosta muito de novidades, apenas quando elas se torna um clichê passam a se adoradas.

– Certo sabichão, onde está indo agora?

Ele sorriu, algo que chegou até seus brilhantes olhos e continuou seu caminho.

– Abrir as portas do submundo, a novos convidados chegando.

Apenas fiquei ali encarando o nada, enquanto sua sombra sumia em meio as árvores.



Me sentia nervosa, era estranho você ir para um lugar desconhecido com um psicopata caído como acompanhante, gostaria de falar isso com alguém, mas comentar qualquer coisa com Penélope seria no mínimo muito ruim.

– Quem morreu dessa vez? -perguntei, encarando o teto cheio de teias de aranha da sala. Penélope se jogou de uma maneira delicada no sofá, jogando seu chapéu de rendas negras voarem para o lado.

– Kland, um dos caçadores de sonhos. Ora, pode me chamar de terrível mas não sinto muito por ele. Mas do que nunca agora queremos saber o que está havendo com essa cidade, nunca nada disso aconteceu, apenas na Lua Azul e ainda temos algumas semanas restantes.

Me sentei, lhe dando um olhar tentando lhe passar força, mas a mesma apenas deu de ombros se levantando.

– Acho então que temos uma reunião para ir -argumento com um olhar azedo. Ela abre um sorriso pequeno, enquanto saia desfilando pelo corredor.

– Ouso informar que sim, quando for o dia exato lhe aviso. Eles agora fingem estar de luto por alguns dias, pode até mesmo a cidade toda estar se sucumbindo a morte!

Sua voz sumiu por entre as paredes e não mais era ouvida, apenas a voz de Julian em algum lugar distante, brincando de alguma coisa com seu gato hipnotizado. Voltei a me deitar, vendo a sombras das árvores fazerem uma dança sombria na parede, como garras.. dedos ossudos prontos para me pegar.

Acho que estava começando a ficar louca de vez, e bem não era assim tão ruim. Enquanto a tarde não vinha, deixei meu corpo cair na inércia, de pesadelos muito reais para serem simplesmente esquecidos.