Diane

Ela já estava na biblioteca, com sua arma escondida atrás de seu vestido mais bufante. Quando Drácula a viu a olhou com o mais puro desprezo, e retomou a leitura, ignorando-a.

– Sabia que Damien morreu, papai? - Ela falou com a voz mansa.

Drácula soltou o riso diabólico, do qual Diane já estava preparada pra ouvir. Isso estava longe de a impressionar. Drácula era previsível quando falava com sua única herdeira.

– Você só pode estar brincando comigo. Só está falando isso por que não quer casar com ele... Mas que culpa eu tenho se ele é o filho que eu nunca tive? E sem mais, Diane, você vai casar com ele, querendo ou não.

Diane agora semicerrava os olhos, seus lábios estavam secos. Ela estava com raiva da falta de confiança por parte de seu pai. Seu próprio pai a traiu, então, nada mais justo que ela fizesse o mesmo com ele. Se dependesse dela, ela o faria pagar com a mesma moeda. Vingança é um prato que se come frio.

– Não estou brincando, pergunte a quem quiser. Todo mundo viu. Aconteceu na praça. – Drácula agora estava certo de que Diane estava falando a verdade, e logo a expressão de choque o tomou por completo. – Você deveria se olhar no espelho. Chega a dar dó! Quem diria, o Conde Vlad Drácula triste com a morte de um dos seus? Achei que era um monstro sem coração. Agora eu tenho certeza, pois você o preferiu a sua própria filha! A seu próprio sangue!

Drácula se levantou e passou a mão em seus cabelos que agora estavam desarrumados, ele mordia seus lábios de nervosismo e ao invés de encarar a filha, preferiu encarar o chão. Isso não era típico de Drácula. Diane conseguiu o irritar. Bingo!

– O que você está falando, Diane? Eu sempre te amei, e você sabe disso! Sempre comprei os melhores vestidos, os melhores móveis, você sempre teve do bom e do melhor neste castelo, está reclamando do que?

E não fale assim de um finado, o seu noivo e futuro marido, ele deve estar descansando no Céu. O anjo mais precioso de lá, com certeza.

– Poupe-me da sua hipocrisia! Você não comprava todas aquelas coisas por que me amava, mas sim pra comprar meu amor. Damien deve estar queimando no Inferno, guardando um lugar precioso pra você; O colo do capeta. Pra vocês brincarem de cavalinho igual você faz com as pobres camponesas... O que acha? Boa ideia, não?

– Não ouse me – Drácula não terminou a frase, logo veio um grito que mais parecia uma faca no meio dos dois.

– ME SOLTEM! VOCÊS NÃO SABEM DE NADA. DIANEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE. – No segundo que Diane reconheceu aquela voz, ela sentiu seu sangue fluir mais rápido.

Depois de vários barulhos de espada em seguida, finalmente ouviram paços ecoando, vindo até eles.

Sebastian passou para a frente de Diane, com uma espada em mãos. Ele estava com o rosto vermelho, antes de aparecer no castelo Diane pôde ver que ele estava chorando. Drácula sorriu ao ver o filho de seu finado inimigo na frente de sua filha. Ele começou a bater palmas, e o casal trocou olhares sem saber o que fazer, e principalmente, sem saber o que dizer.

– Parabéns pra vocês dois! Não acredito que vocês estejam... Sei lá como vocês chamam isso. Então ele quando ele fugiu não foi pura coincidência, que jovenzinhos safados que são, e você é a pior filha. Eis o real motivo pelo qual você se recusava a casar com Damien?

– Cala a boca, você não sabe de nada. - Diane falou na defensiva.

– EU SEI DE TUDO! E não ouse me desafiar. – Drácula gritou com aquela voz que mais parecia um trovão. – E você, Sebastian Jones? Por que está com a minha filha? Deixa me adivinhar.. É por causa do dinheiro, não é? É por causa do título que ela vai ganhar? Ou será que é por causa do grande patrimônio que deixarei a ela? Essa paixão repentina me despertou muita curiosidade da minha parte. Antes de te matar, vou lhe dar uma chance pra me explicar isso tudo.

Sebastian respirou fundo antes de responder.

– Não é por nenhum desses motivos. Eu a amo, de verdade.

Num gesto rápido, Drácula pegou a arma que tinha em seu bolso e atirou contra Sebastian. O tiro acertou em seu abdômen. Tudo parecia estar em câmera lenta, o tiro, Sebastian caindo num chão, o sangue que fluía do machucado parecia que não tinha fim, e principalmente, provocando um baque do qual Diane jamais esqueceria.

– O quê você fez? – Diane perguntou com lágrimas nos olhos.

– Te fiz um favor. – Drácula respondeu, virando de costas.

– Agora eu vou te fazer outro. Deveria ter aprendido que nunca pode virar as costas pra uma dama. – E mais rápida do que nunca, Diane pegou a estaca que tinha improvisado e empurrou contra o coração do pai.

Enquanto Drácula ficava de joelhos, arfando de dor, Diane correu em encontro ao seu marido. A respiração dele estava lenta, como se estivesse lutando pra viver. Cada segundo era precioso, e ela não poderia perder nenhum sequer. Com as unhas grandes e afiadas, ela cortou seu pulso e colocou em cima da boca de Sebastian.

Parecia inútil, mas ela tinha que tentar. Ele segurou seu braço com mais força, e começou a sugar seu sangue com força. Ela começou a beber o sangue dele, para que assim, ela passasse na Transformação e ele viraria vampiro.

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Depois daquilo, eles finalmente casaram num campo, onde Kristen foi a mestre da cerimônia. Eles se mudaram para a Austrália, onde viveriam numa casa no campo. Diane tentava todo dia esquecer o seu passado, e ela também esqueceu seu sobrenome que trazia tantas lembranças ruins, ficando apenas como senhorita Diane Jones. Ela se orgulhava por ter tamanha coragem.

Lembrando aquela noite, Diane ria sozinha. Ela sentiu um cheiro de queimado e lembrou que esquecera o bolo no forno. Ela olhou Sebastian pela janela, e ele já estava rindo.

– Queimou o bolo de novo, é?

– Claro que não. – Disse Diane com um sorriso nervoso.

– Aham, explica isso pra Rachel. – Sebastian carregava a filha sobre o ombro. – Rachel, e agora?

Rachel era a filha adotiva dos dois. Quando Kristen engravidou, não podia ficar com a filha, pois era contra os ensinamentos da Igreja – apesar que alguns padres já esbanjavam 8, 9 filhos -, então pediu para que o casal a adotasse, e eles aceitaram. Com apenas quatro anos de idade, Rachel já se destacava entre as crianças de sua idade – além de bonita, ela tinha uma inteligência fora do comum.

– Ahhhhh... Mamãããããeee... De novo! – Rachel a encarou com aqueles grandes olhos azuis, enquanto os cabelos marrons voavam e caiam-lhe sobre o rosto. - Agora vamos ter que fazer outro!

– Vamos filha, vamos. - Sorridente, Diane apertava o colar que Kristen a deu.

THE END.