Damien estava decidido a matar Sebastian, mas não precisou ir até ele, pois Sebastian chegou primeiro. O suor escorria de sua testa, e seus olhos estavam o perfurando, sua mão estava trêmula, e poderia apostar que sua voz também estava, por isso evitou a falar. Os dois estavam no meio de uma praça, e rapidamente já foi juntando gente pra assistir o combate.

Sebastian foi o primeiro que tirou sua espada, e Damien repetiu o gesto. As pessoas ao redor do combate começaram a gritar e apostar em seu preferido. Antes de atacar, Sebastian olhou no fundo daqueles olhos sem vida, e começou a se perguntar se ele era pior que Drácula. Não sabia dizer ao certo, os dois pareciam igualmente diabólicos.

– Você tem certeza de quer isso, Damien? - Perguntou Sebastian. - Eu não pouparei minhas energias, mas acho que a melhor forma de resolver isso é conversando com você, quero que saiba que independente de quem ganhe aqui, eu sempre amarei Diane; sua raiva por mim não vai fazer eu ama-la menos, apenas me faz amar mais e mais. Ela é o principal motivo por estar aqui hoje. E em segundo lugar, podemos ressaltar meu falecido pai, o homem mais justo que você matou.

Damien curvou uma sobrancelha.

– Olha quem resolveu finalmente falar comigo! Estou impressionado com tamanha coragem, Jones. Nunca esperava isso de você! Depois de matar seu pai, eu fiquei pensando no quão satisfatório seria matar você. – Ele deu um sorriso diabólico. – Diane nunca será sua, plebeu. Ela é minha, totalmente minha. Tenho um contrato pra provar.

– Você pode ter ela escrita no papel, mas na realidade, ela é totalmente minha. Nós nos pertencemos, dói menos se você resolver aceitar.

Sem avisar, Sebastian voou pra cima dele, e num golpe falho de acertar o pescoço, acertou o ombro de seu inimigo. A ferida de Damien logo de fechou, e vendo a expressão confusa de Sebastian, ele sorriu e começou a maior batalha de espada da sua vida. Sebastian era bom, até melhor que Damien, mas Damien era rápido. Rápido demais.

Cada tentativa de golpe era falha, pois Damien defendia rápido e já estava atacando novamente. Até que Sebastian notou que ele tinha olheiras, e o significado disso ele aprendeu com seu pai: Damien não vinha se alimentado no mínimo de três dias, e isso significava que ele estava fraco. E, com qualquer cheiro de sangue, certamente ele cederia.

Sebastian cortou seu pulso, e viu seu inimigo se transformar num monstro. Os lábios logo revelaram dois pares de presas, seus olhos ficaram com um vermelho intenso, e suas veias, que antes estavam da coloração de um humano normal, estavam roxas. Ele desejava o sangue mais que tudo, e com certeza morreria por ele. Ao olhar naqueles olhos frios, Sebastian enxergou a mais pura malícia, raiva, desejo e o que mais Damien valorizava: o poder.

– Não posso acreditar que você fez isso, Jones. Se vendeu como um porco, como seu próprio pai. Eu esperava mais de você, mas vi que são farinhas do mesmo saco. Afinal, são pai e filho. Vocês são uma vergonha pra raça humana! – Damien exibiu um sorriso satisfatório.

Sebastian apertou seu pulso com mais intensidade, e ele fez uma cara de dor. Mas, ao olhar a cara de Damien, louco pelo sangue, deixou escapar um sorriso.

– Você está errado, Damien. Eu sou melhor que você, sempre fui, e você sabe disso, só não quer aceitar. Eis o verdadeiro motivo pelo qual a Diane me prefere, você sempre será o fracassado, o renegado. É por isso que você recorreu ao vampirismo, não é? Pra ver se tinha algum poder, pra ver se assim ficava ‘melhor’ que eu. Desculpe meu companheiro, mas não foi desta vez, e nunca vai ser.

O corpo inteiro de Damien estava tremendo. Raiva, desejo, medo, todas essas emoções se encontravam ali, presentes. Ele deixou sua espada cair no chão, e a olhou pela última vez. O público cochichava, aplaudia e gritava, deixando Damien cada vez mais confuso do que estava prestes a fazer. Todas aquelas palavras que Sebastian falou eram verdades, ele sempre fora o fracassado, o último dos últimos. Tentando organizar seus pensamentos ele colocou uma mão na sua cabeça, e a outra começou a estralar seus dedos. Quando finalmente conseguiu se concentrar em Sebastian, viu que ele exibia um sorriso metido, o sorriso que todo vencedor tinha.

Aquilo o deixou irado, e correu de encontro com ele. Com uma mão ele agarrou seu pescoço, e com a outra segurava o pulso para que assim pudesse jorrar mais sangue. Beber sangue enquanto ouvia aqueles gritos de dor era incrível, até mesmo pra um fracassado. Mas enquanto estava se deliciando com o sangue alheio, não percebeu que Sebastian segurava uma estaca na mão direita. O golpe o atingiu em cheio, provocando uma dor insuportável. Mais insuportável que aquela que ele passou na Transformação.

Ele largou Sebastian, que caiu no chão. E começou a olhar em volta. Tudo parecia estar rodando, e uma enxaqueca veio em seguida. O corpo sem vida de Damien caiu no chão, e o público voltou a gritar de felicidade, finalmente um dos maiores vilões de toda a história tinha morrido de forma lenta e dolorosa. Mas em meio aquela gritaria toda se ouvia um choro constante e doloroso. Quando Sebastian ficou em pé pôde ver quem estava chorando.

Ele se dirigiu em meio a multidão recebendo vários “parabéns” enquanto passava até conseguir ver a dona do choro. A moça cobria seu rosto com as duas mãos, e seu cabelo estava preso num coque alto. Pelas roupas que vestia, deveria ser uma camponesa.

–Ei, minha dama, por que está chorando? – Ele colocou a mão em seu ombro, na tentativa de conforta-la - Finalmente pude acabar com o sofrimento de todos os camponeses daqui.

Ela tirou as mãos do rosto, e Sebastian pôde ver seu rosto. Ela tinha os olhos marrons mais grandes que ele já tinha visto na vida, seu rosto estava manchado de tanto chorar, e ela não aparentava ter mais do que 19 anos.

– Você só fez com que o nosso sofrimento começasse de uma vez por todas, senhor. Agora o Inferno poderá reinar sobre a Terra.

– Como? Não entendi, minha cara dama.

– Você sabe muito bem do que eu estou falando. Não se faça de bobo, Sebastian. – Ela enxugou suas lágrimas.

– Não sei de nada. Poderia me explicar?

– Estou falando do motivo da guerra. Essa guerra vai matar Transilvânia inteira, não vai perdoar nem mesmo crianças, idosos, pobres camponeses. Ele matou seu pai e você fez com que ele pagasse na mesma moeda, mas você sabe que Drácula não vai ver assim. Ele vai ver como uma desculpa pra essa briga mesquinha entre vocês, caçadores e vampiros. – O olhar da moça fez com que ele tivesse calafrios. Ela estava realmente falando sério.

Sebastian pensou um pouco, e começou a olhar em volta, todas aquelas pessoas iam morrer? Ele não ia deixar que isso acontecesse.

– E o que vai acontecer nessa guerra?

– Bem, se você quiser realmente salvar esta cidade, e como eu te conheço, você quer, tua missão será a seguinte: Você, Sebastian, vai ter que virar vampiro e matar Drácula. Se não ele vai matar tudo que você tem, tudo que você conhece.

– E se eu não quiser?

– Então será o fim para todos.

– E quem é você? E como sabe tanto sobre essa guerra?

– Wendy Brooksville. Como eu sei? Acharam que só vampiros existiam, não é mesmo? Sinto lhe informar, mas também existem bruxos, lobisomens.. Fadas e elfos não existem, se serve de consolo.

– Você está me dizendo que... – Ele ficou sem palavras, não conseguia terminar.

– Sim, é isso mesmo que você está pensando. Eu, Wendy Brooksville sou uma bruxa. Da mais pura linhagem de Salem. Eu tenho poderes dos quais você não imagina. Só queria te alertar sobre isso, Jones. Boa sorte com isso.

– Espera, você não vai me ajudar? – Ele praticamente implorou para Wendy.

– Não fui eu que causei a guerra, não é mesmo?!

Diane

Seu quarto parecia mais sombrio que qualquer cômodo do castelo. Ela se amaldiçoava só por estar ali, deitada, sem poder fazer nada. A tosse não dava trégua, e parecia que a febre não iria deixa-la tão cedo. Diane ouviu três batidas na porta e não teve força pra gritar entre, suas cordas vocais a traíram.

Entrou uma jovem dos cabelos caramelados e presos num coque, e pelos olhos verdes brilhantes que tinha, Diane logo a reconheceu. Era Kristen Heffer, sua melhor amiga de infância.

– Diiiiiiiiiiiiiiiii!!!!! Você não tem noção das saudades que estava de vossa senhoria. Parece que a cada dia que passa você fica mais bela, não é a toa que tem vários príncipes e lordes te disputando. – Kristen sentou numa cadeira ao lado da cama da amiga.

– Você continua um amor, Kristen. Desculpe por você me ver assim, estou passando pela Transformação. Mas o que tem feito nesses 17 anos? Casou?

– Sinto muito pela Transformação, deve ser um processo doloroso. Não posso casar, Di. Sou freira. Sirvo apenas á Jesus e Deus, vivo pra fazer as vontades do nosso Senhor.

Di, quando cheguei aqui vi um homem morto. Parece que os dois estavam tendo uma batalha, não sei por que, mas parece que era por causa de mulher. Um tal de Damien acabara de morrer. Ele era importante pra essa cidade, não?

Diane arregalou os olhos.

– E você sabe quem o matou?

– Um tal de Jones, você o conhecia?

Sem avisos, Diane se levantou, ainda meio tonta. Ela se apoiava nas paredes e nos móveis para conseguir andar.

– Você sabe se meu pai está aqui?

– Sim, vi ele na biblioteca. O que está acontecendo?

Como Drácula tinha contado a Diane, na Transformação ela tinha mais força e mais agilidade que qualquer vampiro, até mesmo seu pai. Ela arrancou um pé de sua cama, e fez esforço para conseguir andar com aquilo nos ombros. Quando chegou na porta de seu quarto, ela olhou pra Kristen que continuava no mesmo lugar em que deixara, Kristen a olhava com medo.

– Você pode me prometer que vai fazer o que eu te mandar? Que quando eu sair dessa porta você vai sair correndo e vai faze-lo? Independente das emoções e de todo mundo que vai falar que você é louca. – Diane perguntou, encarando o pedaço de pau que acabara de arrancar.

– Claro, Di. O que você quiser. Conte comigo.

– Não quero que faça nada por medo, você é a única pessoa que eu confio, Kristen. – Kristen concordou com a cabeça a medida que Diane foi falando. – Bem, eis o seguinte: Quero que fale pra Sebastian Jones, o cara que você viu hoje mais cedo, que eu estou bem. E, que, é pra ele fugir o quanto antes daqui. Por que o que eu vou fazer... Talvez haja uma guerra, e não quero perde-lo. Quero que ele viva, que case e tenha filhos, por que isso, infelizmente não posso concede-lo. Promete que vai fazer isso por mim?

– Prometo, Di. – Kristen estava com lágrimas nos olhos.

– Diga que eu o amo. Muito.

Diane pegou o pedaço de pau e com uma velocidade incrível, ela percorreu todo o castelo do Conde. Ela sabia exatamente o que fazer. Ela estava treinando pra isso o tempo todo. Diane ia matar seu pior inimigo: seu pai.