Quando acordou no dia seguinte Yahiko estranhou o silêncio. Ele se levantou e trocou de roupa. Saiu do quarto a procura de seus amigos. Após vasculhar a casa descobriu Kaoru roncando em seu quarto, e Kenshin apagado no quarto dele.

“Quem mandou beber tanto saquê” pensou. Ele olhou as horas e viu que já estava muito tarde. Ele comeu alguma coisa na cozinha, deixou um bilhete e saiu. Precisava colocar seu plano em prática.

Algum tempo depois ele entrou no restaurante Akabeko. Achou Tsubame servindo uma mesa.

- Olá Tsubame.

- Olá Yahiko. Como vai?

- Estou muito bem. E você?

- Tudo bem também. O que faz por aqui? Pergunta, se afastando da mesa que acabou de servir.

- Hã.. eu gostaria de lhe fazer um convite, responde, sentido seu rosto corando.

- Um convite?

- Gostaria de ir comigo hoje a noite assistir as apresentações do festival?

Ao ouvir o convite o rosto de Tsubame também ficou vermelho. Afinal, seria um encontro, não seria?

- Não sei se poderei ir. Com festival, o restaurante tem ficado muito cheio, e por isso temos fechado mais tarde que o normal. Tae não quer perder a oportunidade de ter um lucro extra. Além disso, preciso fazer algumas coisas que ela me pediu.

- E se eu ajudar você com suas tarefas hoje? E arrumar alguém pra ficar no seu lugar na hora que sairmos? Disse ele, esperançoso.

- Eu não sei.. eu

- Não vejo nenhum problema, diz Tae surgindo atrás deles. Será bom você se divertir um pouco Tsubame.

- Legal! Diz Yahiko não contendo o entusiasmo. Vamos fazer o seguinte. Ajudo você na parte da manhã. No almoço eu vou me encontrar com o Sano pra avisar a ele o horário que deve chegar, e também para preparar algumas coisas. Então volto para te ajudar um pouco mais, e de tarde dou um pulo em casa, e passo aqui na sua casa para te pegar. O que acha?

- Acho que você vai ter muito trabalho Yahiko.

- Não tem problema. Eu..

- Porque não combinam melhor no almoço? Tsubame, leve este para a mesa 3. Yahiko, já que vai nos ajudar, leve este para a mesa 4, e depois me encontre na cozinha. Disse já entregando os pratos para eles e voltando para a cozinha.

- Yahiko, você vai ter muito trabalho. Não precisa fazer isso.

- Precisar não preciso mesmo não. Mas eu quero Tsubame. Afinal, será nosso primeiro encontro. Diz para ela encerrando a conversa e indo para a mesa indicada por Tae para servir a comida.

***

- É isso ai cara.

Sano disse para um de seus alunos, que estava realizando os exercícios que ele havia passado para a turma. Ele andava pela sala, supervisionando e orientando. Sua cabeça ainda estava um pouco dolorida, mas não muito. Seu corpo já estava acostumado a beber, e não havia bebido tanto na casa da Kaoru.

- Ei você, vamos lá, mais força. Não é como se você estivesse batendo em uma mulher. Não que você vá bater em uma é claro. Há, você entendeu. Mais força.

Ele olhou o relógio, já estava quase terminando a aula. Depois ele iria almoçar e descansar um pouco. Foi quando ouviu uma voz conhecida falando com ele.

- Ora, ora. Quem vê você assim até acha que esta trabalhando.

- Mas é claro que estou trabalhando. Ao contrário de você Yahiko, que fica andando a toa por ai. Disse, se virando para o garoto. O que faz aqui?

- Ora Sano, o que é isso. Só vim visitar você.

Sano parou o que estava fazendo e se voltou totalmente para Yahiko. Ele o conhecia muito bem. Alguma coisa ai tinha.

- Você está aprontando alguma.

- Não estou aprontando nada. Só vim ver você... e.. e.. dar um recado. Isso, dar um recado.

- Um recado? De quem?

- Da Megumi. Eu me encontrei com ela na rua hoje cedo, perto do consultório.

- E o que ela quer comigo?

- O que ela quer eu não sei, mas ela me pediu para te dizer que a encontrasse no final do dia, lá pelas 17 horas, no Akabeko.

- Megumi me pedindo pra encontrá-la em um restaurante? Isso está muito estranho.

- Eu também achei. Mas ela falou que precisava conversar com você sobre algo importante, e que era pra você encontra-la lá. Ela não me falou o que era, mas parece que tem a ver com ontem, bom não sei. De qualquer forma parecia importante.

- Eu não sei não. Isso não está me cheirando bem.

- Bom, o recado está dado. Se você vai ou não ai é problema seu.

- Não seja mal educado seu moleque.

- Aprendi com você. Bom, já vou indo. Mas você a conhece muito bem para saber como ela vai ficar se a deixar plantada no restaurante.

- Ai droga, é verdade. Ela vai me matar.

- Às 17 horas Sano. Não se esqueça. E não se atrase. Até mais. Despede-se Yahiko, já saindo pela porta.

- Professor, nós já terminamos os exercícios que você passou.

Sano se vira e vê um de seus alunos próximo a eles. Os outros estavam esperando mais atrás.

- Certo. Sentem em círculo. Nós já vamos começar.

- Sim, responde o aluno.

- Mais que droga, pragueja Sano enquanto olha por onde Yahiko saiu. “O que será que ela quer comigo. Vou ter que ir” pensa balançando a cabeça. Com esses pensamentos ele se volta para seus alunos, socando uma mão na outra.

- Quem vai ser o primeiro?

***

O dia transcorreu sem maiores surpresas. Na hora combinada, Sano estava em frente ao restaurante Akabeko. Após alguns momentos tentando adivinhar o que o esperava, ele desistiu e entrou no estabelecimento.

Olhou ao redor. O lugar estava lotado. “Com certeza são turistas. Tae deve estar faturando”. Ele começou a andar, procurando por Megumi.

- Olá Sano. Finalmente você chegou.

Sano se virou e viu Tae com dois pratos sujos na mão, falando com ele enquanto se encaminhava para a cozinha.

- Olá Tae, como vai? Há Megumi reclamou do meu atraso é? Você sabe onde ela está? Eu dei uma olhada pelo restaurante, mas não a vi.

- Megumi? Bom, ela não apareceu por aqui hoje. Venha, vou lhe mostrar o que você vai fazer.

- Hã? Acho que não entendi. Como assim me mostrar o que vou fazer?

- Sim, Tsubame já saiu então eu vou mostrar pra você, mas não se preocupe não é nada complicado. Basta servir as mesas, quando não estiver servindo, circule um pouco para ver se alguém quer fazer algum pedido, se não volte para a cozinha para me ajudar. Depois que os clientes pagarem e saírem você vai e recolhe os pratos e copos, e limpa a mesa.

Sano olhava para ela um pouco assustado, sem entender muita coisa.

- Me diga uma coisa Tae. Onde está Tsubame mesmo?

- Ela foi ao festival com Yahiko.

- Ao festival.. com o Yahiko. Repetiu o que ela disse, já com uma ideia do que estava acontecendo se formando em sua mente.

- Sim. Ela não ia poder ir, mas como você se ofereceu para ficar no lugar dela, não vi problema.

- Eu me ofereci.. pra ficar no lugar dela..

- Sim, como uma forma de pagar a comida que você esta devendo. Bom, ao menos uma parte dela não é? Mas por que está repetindo o que estou falando? Vamos, vou lhe dar um avental para colocar por cima da roupa. Falou já entrando na cozinha.

Sano olhou para o restaurante novamente, olhou para a porta de saída e depois para a porta da cozinha. O lugar estava cheio e é claro que Tae não iria dar conta sozinha. “Eu vou te matar Yahiko” pensou, soltando um suspiro. Entrou na cozinha pronto para ficar ali até tarde da noite.

***

Yahiko estava passeando pela cidade com Tsubame. Ele havia pegado Tsubame em casa, e eles passaram rapidamente pelo restaurante. Ele acalmou Tae dizendo que Sano já estava chegando, e saiu com Tsubame o mais rápido possível. Ele não queria correr o risco de se encontrarem com Sano. Adoraria ver a cara dele, é verdade, mas definitivamente não queria correr o risco.

- Do que está rindo, Yahiko?

- Não é nada. Só uma coisa que me lembrei.

Ele a olhou novamente. Ela estava linda. Usava um quimono alaranjado com flores de sakuras brancas, e obi era azul. Os cabelos estavam presos em um coque frouxo, mas ela deixou a franja caindo sobre sua testa. Estava encantadora.

“Encantadora? De onde eu tirei isso? É Yahiko, você está ferrado” pensou.

Ele pediu para pararem em uma loja de flores e pegou o pequeno buquê de flores brancas que havia encomendado mais cedo. Quando entregou a ela o buque percebeu seu rosto ficando vermelho. Corou mais ainda quando ele deu um beijo em seu rosto. Na verdade, os dois coraram nessa parte.

Agora estavam andando pela cidade de mãos dadas, em direção ao palco. Ela segurava o buquê com a outra mão e às vezes o levava ao nariz para sentir o perfume das flores.

- Esta gostando do passeio?

- Claro! Estou gostando muito! Aqui fica muito bonito nessa época do ano, você não acha?

- É verdade, é uma das épocas mais bonitas. Tenho certeza que você vai gostar muito das danças também.

- Você veio ontem não é?

- Sim. Dessa vez eles se superaram. Bom, vamos comprar algumas coisas para comer, e depois procurar um lugar? Já está bem cheio aqui.

- Tem uma barraca ali na frente, respondeu ela, olhando para um lugar mais à frente de onde eles estavam.

- Vamos lá então.

Eles caminharam em direção à barraca que ela havia falado. Preferiram comprar dois bentôs e depois passaram em outra barraca para comprarem algo para beber. Andaram em direção ao palco e acharam um lugar. Não era tão próximo como o lugar que ele estava ontem, mas era possível ter uma boa visão do palco.

Sentaram e enquanto aguardavam o início das apresentações, eles conversavam, comiam e observavam o lugar, aproveitando ao máximo a companhia um do outro.

***

Já era muito tarde quando finalmente o restaurante Akabeko fechou. Ele nunca havia servido e limpado tantas mesas assim, anotado tantos pedidos, e principalmente, dito tantas vezes ‘boa noite’ e ‘volte sempre’ como disse aos clientes.

Eles já haviam limpado o restaurante e a cozinha. Ele se despediu de Tae e começou a ir para casa. Ele estava muito irritado com Yahiko. Mais que irritado, ele estava furioso. Daria uma surra em Yahiko assim que o visse.

Andando pelas ruas percebeu que aquela multidão de pessoas que estava na rua mais cedo já havia dispersado, indo para suas casas ou hospedarias. As barracas que foram montadas para vender seus produtos aos turistas e quem mais quisesse comprar já estavam sendo desmontadas também.

Continuou andando quando viu ao longe duas figuras conhecidas e tratou de se esconder. Quando passaram por ele, ele pôde ouvir algumas risadas. Ele olhou e viu que Yahiko e Tsubame estavam de mãos dadas, e ela estava segurando um buquê de flores brancas. Eles pareciam bem alegres.

Quando eles viraram a esquina ele saiu de onde havia se escondido, e continuou indo para sua casa. “Acho que dessa vez vou deixar passar” pensou, com um sorriso no canto da boca, enquanto lembrava a cena.

***

O festival havia chegado ao fim e os turistas foram embora. Alguns dias se passaram e a cidade voltou ao seu ritmo normal.

Kenshin estava varrendo o dojo, quando o doutor Oguni chegou, trazendo suas netas.

- Kenshin!! Ayame e Suzume gritaram juntas, enquanto corriam em sua direção e pulavam em seu pescoço, o derrubando.

- Olá meninas! Como estão?

- Estamos bem.

- Olá Kenshin. Desculpe por elas terem te derrubado.

- Olá doutor Oguni. Não se preocupe. Já estou acostumado.

Ambos riram desse comentário.

- Há, boa tarde doutor. Como tem passado? E olá meninas!

- Olá Kaoru, estou bem obrigado. Ele respondeu, enquanto ouvia suas netas responderem entre risos, já que Kenshin estava fazendo cócegas nas duas. Passei para ver se todos estavam bem, afinal já faz alguns dias que não nos vemos.

- É verdade, o senhor andou bastante ocupado.

- Sim, com o festival a clínica ficou muito cheia e não tive muito tempo.

- O senhor não chegou a ver alguma das apresentações de dança que eles fizeram?

- Somente um pouco. Eu cheguei a fazer um piquenique com as meninas, mas nada muito demorado.

- Entendo.

- Bom eu já estou indo, só passei mesmo pra ver se estava tudo bem.

- Eu acompanho vocês. Disse Kenshin. Estava indo ao centro para comprar algumas coisas que Kaoru me pediu.

- Legal!! Disse Ayame.

- Eu quero ir de cavalinho!! Gritou Suzume

- Aqui está a lista e o dinheiro Kenshin. Não vá esquecer-se de nada hein.

- Não se preocupe senhorita Kaoru.

- Até mais Kaoru.

- Até mais doutor. Tchau meninas.

- Tchau Kaoru. Respondeu Ayame enquanto que Suzume só acenou, entretida em cima de Kenshin.

Após eles saírem ela foi se preparar para aula que daria.

***

Ele viu quando o médico, as duas crianças e um homem saíram do dojo. Após os dias que se sucederam ao festival, ele recolheu informações suficientes sobre o dojo e seus moradores. Já sabia um pouco a rotina de todos que moravam ali. E também de quem os visitava com alguma frequência.

Quando ele viu o médico chegar ao dojo ele quase desistiu, mas resolveu esperar alguns minutos. O que valeu a pena. Agora ela estava sozinha e seus alunos só chegariam dali a 45 minutos. Tempo suficiente para uma visita.

Ele acompanhou como o olhar as pessoas que saíram do dojo até que estas virassem a esquina. Esperou mais alguns instantes e atravessou a rua, entrando no dojo.