Elena acordou em uma praia totalmente deserta. Sua cabeça latejava, ela sentia dor apenas para respirar de tanto sal que engolira. Havia diversos cortes em seu corpo. Uma das pernas estava quebrada.
Começava a anoitecer, mas a garota não tinha idéia do que acontecera depois do acidente, ou de quanto tempo se passara. Tudo o que se lembrava era do rosto do irmão pouco antes do acidente.
Tentou levantar e procurar ajuda, mas não havia absolutamente ninguém naquela praia. Só areia, mar e uma floresta. "Será que não tem nenhuma civilização aqui?", pensou. Depois de muito pensar, decidiu tentar passar pela floresta e encontrar alguém.
Conseguiu mancar até perto das árvores, mas ouviu o som de passos atras de si. Primeiramente, se sentiu aliviada, porém assim que se virou, o pavor que sentia só aumentou.
Havia o que poderia ser um exército de loucos meio espalhados pela praia. Iam até onde a vista Elena alcançava. Um pouco a frente do enorme grupo, estava uma garota loira, um pouco recurvada para frente. Seus olhos azuis não demonstravam expressão alguma, como se estivesse morta. Os cabelos estavam jogados para frente, muito embaraçados e sujos.
Totalmente desesperada, Elena recuou. Caiu sentada e nisso aquele ser loiro deu alguns passos para frente, arrastando os pés. Agora seu medo foi mais forte que ela mesma, e Elena conseguiu correr floresta adentro. Não demorou muito para seus pulmões começaram a doer, mas ela não poderia parar.
Quando já estava distante da praia, acabou tropeçando e cortando um dos pés numa raiz de árvore. Ferida, ela ficou no chão para tentar tomar fôlego.
– Precisa de ajuda? – ouviu alguém atrás dela dizer. Sua voz era muito aguda.
– AI, CARA... – o berro de Elena morreu em meio a frase. A garota ergueu as sombrancelhas, um pouco surpresa. Seu rosto, corpo e até sua estatura eram idênticas aos de Elena, porém ela era loira, e seus olhos, os quais tinham uma expressão infantil, eram vermelhos.
Claro que Elena teve medo, mas estava sozinha e perdida no meio da floresta. Ela assentiu. A garota lhe estendeu a mão, e quando Elena a segurou, foi puxada de pé com uma força descomunal. Quando arregalou os olhos para a garota, ela apenas sorriu de lado.
A de olhos vermelhos passou um dos braços de Elena pelos ombros, e a ajudou a cambalear pela floresta. Esta nem via direito onde era levada. Era dor demais, medo demais.
Finalmente, percebeu que chegaram a um lugar com alguma civilização. Era uma cidade enorme, que se estendia até muito além. Elena suspirou, aliviada. A garota de olhos vermelhos a soltou e recuou.
Ela ouviu um barulho atrás de si, algo como o rastejar de uma cobra no chão. Surpresa, Elena se virou, mas não havia ninguém ali. A garota de olhos vermelhos simplesmente desaparecera.
Respirando fundo e tentando ignorar o que acabara de acontecer, ela se voltou para a cidade e começou a caminhar naquela direção.
Por mais adentro que estivesse da cidade, Elena não encontrava ninguém. Estava totalmente deserta. Seus pés doíam cada vez mais. Havia muitos carros na rua, vazios e parados. Diversos outdoors com papeis rasgados, e os eletrônicos desligados. Lojas de eletrônicos, entre outros, até mesmo shoppings, sem ninguém. Produtos empoeirados e na maioria das vezes quebrados.
Elena continuou caminhando. "Droga, não tem uma alma aqui! Alias, pelos menos não tem almas, já que não tem ninguém", pensou.
Ela percorreu mais e mais ruas vazias. Quando já não aquentava mais andar, parou, encostando-se num muro, onde havia uma propaganda política já muito antiga. A garota baixou a cabeça e fechou os olhos. Enquanto estava nesta posição, ouviu um enorme PACK!, bem ao seu lado. O berro de Elena ecoou na cidade vazia.
Quando olhou para o muro, percebeu que havia uma marca de mão, feita com tinta vermelha escura, sobre o cartaz. Ela não soube se simplesmente não reparara naquilo antes por estar realmente escuro ali, ou se aparecera agora. A mão definitivamente não era humana. Os dedos eram realmente longos e parecia haver garras nas pontas. Com os dentes batendo de tanto medo, Elena passou dois dedos sobre a marca. Quando os olhou, percebeu que a tinta na verdade era sangue.
E sangue fresco.
Ela soluçou de pavor, e lagrimas se formaram em seus olhos. Esquecendo de toda a dor, Elena começou a correr desesperadamente.
Parou em outra rua, mas nem se arriscou a encostar em alguma parede. Só sentou no chão e pôs-se a chorar. Como poderia voltar para casa? Será que Jeremy estava bem? Teria ele se perdido naquela mesma ilha? Teria ele sobrevivido ao acidente?
Elena ouviu o som de passos, vindo em sua direção. Ela ergueu a cabeça e tomou outro susto.
Um garoto, de uns vinte e dois anos, estava bem ao seu lado. Estava todo vestido de preto: camiseta preta, jaqueta de couro preta, calca jeans preta e botas pretas. Seus cabelos, também negros, estavam bagunçados. O que chamou a atenção da garota foram os olhos dele. Não eram vermelhos, como os da menina no meio da floresta, mas eram igualmente incomuns. Ele tinha olhos azuis claros lindos, brilhantes em seu rosto pálido.
– Q-quem é você? – indagou Elena, tentando não demonstrar seu medo.
– Meu nome é Damon - disse ele.