O caminho de volta a Artena foi regado a risos. Rodolfo, Lucrécia e Catarina quando chegaram ao reino não viram nenhum sinal da estadia do rei de Montemor ou de sua plebeia. Isso foi bom para Catarina.

—O que você fará agora? -perguntou Lucrécia.

—Sobre o que?

—Sobre Afonso. -Foi direta.

—O que eu poderia fazer? Não há nada a ser feito, criaturinha. -Disse com pesar.

Mesmo depois de semanas, ainda doía pensar nele... No que poderia ter acontecido. Ela se recriminou e parou de pensar nele. Era chegada a hora de esquecer.

—Soube da gravidez da plebeia. -Comentou.

—Ele é um burro, sejamos sinceras, que Rodolfo não me ouça, mas é. Engravidar logo uma plebeia! Pior, uma plebeia abusada! Imagine o trauma da criança que nascerá.

Catarina riu das expressões de Lucrécia.

—Ela terá você e Rodolfo também, não esqueça.

—E isso, minha cara, irá salva-la da loucura!

Ou endoida-lá por completo. -Sussurrou.

—O que disse?

—Nada!

Semanas se passaram, Rodolfo voltou as suas tarefas, Lucrécia e Catarina voltaram a frequentar o orfanato. Tudo estava bem. Até um dia, quando, ao voltar do orfanato, Catarina observou cerca de 10 carruagens na entrada do castelo, com servos tirando as coisas delas.

Ela entrou no castelo e foi até a sala do trono, não encontrou ninguém. Foi para a sala de jantar e encontrou seu pai sentado na sua pronta da mesa.

—Meu pai, vai viajar?

Augusto sorriu, o rosto de Catarina estava um pouco vermelho, graças as cavalgadas.

—Não, minha querida, temos visitas.

—E quem seria?

Como se o tempo passasse mais devagar, ela sentiu a presença de alguém nas suas costas. E sentiu todos os seus pelos se arrepiarem ao som daquela voz.

Eu.

—Henrique está aqui, o príncipe de Brunis.

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—Santa, mãe Santa, que Rodolfo não me ouça, mas, você já viu aquela corpo? Cristo Miserircordioso! Olha aquilo! Deveria ser proibido um homem tão... Viril andar livremente.

—Céus, Lucrécia, se comporte!

Ele parecia querer testa-la. Ver o quanto ela aguentava. Eram lutas sem camisa, corridas que o deixavam incrivelmente apetitoso. E, por Deus, quando ele abria a boca para argumentar sobre algo, Catarina podia sentir seu deusa interior se mexer. Aquele homem era o próprio diabo, querendo leva-la para o caminho sombrio. No qual, ela adoraria ir. Aquele diabólico príncipe.

—Me diga, Lucíola, por que ele persiste em fazer isso?

—Senhora? -Questionou a serva confusa.

—Esse maldito... Eu...

Ela não pôde continuar com as reclamações, pois o tal maldito entrou no mesmo corredor que ela.

—Alteza. -Disso com um tom de malicia em sua voz.

Catarina jurava que em todos os anos de convívio nunca tinha ouvido-o falar com ela naquele tom.

—Henrique. -Cumprimentou com a cabeça. -Como tem passado?

Eles caminharam lado a lado.

—Muito bem, obrigada. Assumo sentir falta da companhia da princesa.

—Minha?

Ele assentiu.

—Bom, pensei que o príncipe estava muito ocupado com seus tarefas e exercícios. 7

Ele sorriu.

—Aquilo? Não chega nem perto dos treinos de Brunis... Deveria ir ver.

—Não preciso, frequentei por muitos anos a academia de Artena, lá nossos soldados são treinados. Por esse motivo, não chamei de treino, mas de exercício. -Ela alfinetou.

—Opa, está afiada hoje, alteza.

Catarina sorriu com deboche.

—Imagine então a minha espada.

—Por que não tornamos real? -Ele parou de andar. -Vossa alteza está, oficialmente, convidada para um duelo.

—Duelo?

—Sim, vejamos se os treinos de Artena são tão bons, como disse.

Catarina o encarou, com atenção. E voltou a andar, sendo seguida por seu dama de companhia e deixando o príncipe para atrás.

—Amanhã, prepare-se, depois do almoço. -Disse antes de virar o corredor.

Henrique mal pôde conter o sorriso.

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O som do atrito das espadas era ouvido a metros. Catarina estava com sua armadura e Henrique com a dele.

Eles estava na floresta, perto da cachoeira, tinha chegado a pouco mais de 1 horas.

—Pronto para desistir? -Perguntou desafiadoramente.

Henrique sorrio.

—Só nos seus sonhos, querida.

—Será nos seus.

E ela atacou, e acabou ferindo-o no braço. Ele largou a espada, com o susto do machucado que não esperava.

—Droga. -Disseram ambos.

Ela ficou do lado dele e olhou o ferimento com atenção.

—Venha, vamos lava-lo.

Ela o guiou até a cachoeira. Estava tão concentrada na tarefa de limpar o corte que não percebeu o quanto estava próxima dele. Até que levantou o rosto e corou ao percebeu que estava a centímetros do rosto dele. O clima rapidamente mudou.

Tudo ficou quente, afrodisíaco.

E antes que um dos dois pudessem dizer algo, ninguém sabe quem, mas as bocas se colaram e os olhos se fecharam.

Depois daquele dia se tornou complicado manter seus olhos e mãos longe dele.

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Seus olhos sorriram e ela tentou ficar seria.

—Você está rindo? -Perguntou ele com uma fingida seriedade.

Céus, ele estava tão vermelho que Catarina não conseguia se controlar.

—Eu? -Perguntou com a voz mais fina (consequência da força que fazia para não gargalhar).

Henrique virou o rosto para rir.

—Sim. -Disse com a voz seria e com um grande sorriso no rosto, de costas para ela.

—Por que não se vira e me olha, príncipe? -Ela se aproximou dele e colocou suas mãos nos ombros dele. -Ou você está rindo? -Perguntou soltando uma doce gargalhada.

Do algo de uma janela Augusto observava a interação entre eles. O rei se alegrava em ver sua pequena princesa feliz. Mais feliz do que ele testemunhou ver ao lado de rei de Montemor. Augusto se sentou e continuou observando-os. Seu falecida rainha iria rir da cena. Catarina virou Henrique e o viu mais vermelho que antes, de rir, e a princesa gargalhava.

—Desista! -Disse a moça, encarnando-o com desafio.

Ele, agora serio, segurou a cintura dela com possessividade e a trouxe ao encontro do seu corpo.

—Por que eu faria isso?

O riso cessou e Catarina encarou o rosto dele, logo desceu o olhar para os lábios. E, maldição, ela desejava que ele a toma-se. Que a ele a beija-se até o ar acabar.

—Por que? -perguntou, com um nova dificuldade em pronunciar as palavras, uma estranha falta de ar.

—Sim, por que?

—Eu...

—Você... -Ele encarava os lábios dela, quase babando. -O que você quer?

—Eu quero... -Era como um feitiço. -Eu quero você.

E foi o necessário para ele puxar o pescoço dela e trazer os lábios da mesma de entro aos seus.

Augusto observava a cena com um estranho e calma sorriso. O sol se punha no horizonte e o casal se beijava, como um paradoxo. Calam e pressa. Desejo e carinho. Ele não ouviu Catarina suspirar ao deixar a língua dele tomar sua boca. Não, mas ele sabia que a sua filha estava feliz. Bem. E isso, isso o alegrava. Seu olhar migrou para o labirinto, dando privacidade ao casal.

Ah, o rei estava cansado. Tinha sido uma longa e a bela vida. Cheia de medos, alegrias e aventuras. Repleta de amor. E agora, ele sentia que poderia ir de encontro a sua rainha, era chegada a hora de permitir que seu doce águia voasse. Para o mais além dos céus.

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Música

Nos dias que se seguiram, o reino permaneceu em paz. O rei estava adoentado e longe dos olhos curiosos. Quando chegou a noticia que os reinos do Oeste, fora da Cália, tentavam tomar Vale de Laios novamente, o corajoso príncipe de Brunis, junto a uma grande escolta, foi defender o território de Artena. E Catarina ficou. Tomando de conta do reino e do seu pai. Graças as festividades que se aproximavam, todos esperavam a chegada de alguns nobres de outros reinos.

Saindo da sala de reuniões, com alguns nobres, ele foi até o quarto do pai, mas ele não estava lá. Andou por entre salas e foi até a cozinha, não achou o rei. Preocupada perguntou a soldados que negaram e a serviçais, ninguém sabia onde o rei se encontrava. Até que, já cansada, ele foi até o labirinto e, ao chegar no centro, encontrou seu pai sentado em uma cadeira com a coroa de Artena em suas mãos.

—O que o rei de Artena faz fora da cama a essa hora? -perguntou sorrindo. -Meu pai, procurei pelo senhor por todo o castelo.

Augusto riu da sua criança.

—Peço perdão. Aproxime-se. -Ela foi até ele e se sentou n chão ao lado da cadeira do pai. Ele fez um leve carinho na cabeça dela. -Venha, Catarina, se ajoelhe na minha frente. -Assim ela o fez e fechou os olhos, foi quando sentiu um peso na sua cabeça. -Quando a luz em meus olhos se for e meu ultimo suspiro for dado, quero ter a memoria desse momento. O momento em que a princesa de Artena se torna rainha. -Lagrimas banhavam os olhos, ainda fechados, dela. -Eu permanecerei contigo até o final dos vossos dias. Anos de gloria e ouro virão para Artena pois você será a líder. Governe com sabedoria, minha criança, e voe com cuidado, pequena águia.

Ela chorou ali e mal podia imaginar que choraria mais no dia seguinte.

Havia dor em Artena.

Não, o tempo estava muito bonito, havia cor e nuvens brancas no céu, pássaros cantavam e voavam pelo belo castelo, parando, de vez em quando, nos seus ninhos.

Pareceu apenas um belo dia de primavera, sem chuvas ou nevoa.

Não para Catarina.

Não quando ela entrou no quarto do pai para desejar bom dia e o encontrou dormindo serenamente. Não quando ele tentou acorda-lo. E ele estava frio. Nem mesmo quando ela tentou sentir a respiração dele e não encontrou nada. Não sentiu nada... Não... Não conseguia agir, nem falar. Apenas chorar. Pois aquele era o seu pai, o homem que mais amava.

E então saiu. O grito mais agoniante que os soldados já tinham ouvido sair dos lábios da princesa. Desespero. Ela gritou novamente e suplicou, abraçou aquele corpo sem vida. A porta foi aberta rapidamente, por ela entraram soldados, servos e alguns nobres. Dentro eles alguns conhecidos, como Rodolfo, Lucrécia, Afonso, Beatriz e Felipe.

Seus olhos se encheram de lagrimas, para ela era desesperador sentir toda aquela dor. E tinha tanta. Parecia que ela se afogava e entrava mais e mais agua. Faltava ar.

Por favor, por favor. Eu lhe suplico, fique comigo. -Ela dizia, abraçando o corpo sem vida.

Mas, não havia o que ser feito. O doce rei tinha partido e com ele tinha levado um importante pedaço da princesa e do seu povo.

Por favor... Não me deixe aqui sozinha... Eu tenho tanto medo... Por favor, papai. Não vá.

Por favor...—Afonso se aproximou e tentou fazer com que ela se afastasse. -NÃO! Não, saia daqui, não tire-o de mim! SAIAM DAQUI! -Ela gritava em desespero. -Papai, o que está acontecendo? Acorde, por favor, acorde.

Deixe-o ir.-Disse Afonso.

Não, não, não, acorde, por favor. -Disse o abraçando. -Afonso? -Ela olhou o rei. -O que está acontecendo? Eu....

—Deixe-o ir. -Repetiu.

Mais lagrimas saíram dos olhos dela que persistiu em negar.

O rei de Montemor se aproximou e pegou na mão dela.

—Deixe-o ir, Catarina, deixe que ele voe, que fique livre. - Ele apertou a mão dela. -Solte-o.

E, aos poucos ela foi soltando o pai, o sentimento de abandono estava mais e mais presente.

Eles se abraçaram e ela chorou mais.

Por favor, Afonso, traga-o de volta. Por favor. Não deixe-o ir embora.

O jovem rei de Montemor tentava se conter. Contudo, ver toda a dor que ela sentia o destruía ainda mais. Então, ele seguiu o seu coração. Aproximou a princesa, aquele que quase fora sua futura esposa, e a confortou. Não disse nada, mas a abraçou como se fosse um bebê.

Uma criança que não sabia o que fazer, que tinha perdido seu grande líder. A confortou com a certeza que ele gostaria de ter sido confortado, como fora.

—Você não esta sozinha. -Sussurrou. -Eu estou aqui. -Disse com firmeza. -Chore, querida, chore muito, pois você terá que passar força para o reino.

E Catarina chorou.