Deus Salve a Rainha.
Corrupção
—Catarina. -Pronunciou surpreso. -O que faz aqui?
—Acredito que na sua real condição deveria saber que sou uma velha amiga dos monarcas. Os reis de Montemor. -Frisou. -Soube que ouve um pequeno... Impar-se... Logo, vim saber que meu queridos amigos precisam de ajuda.
—Creio que ouve um engano.
—É mesmo? Onde está o erro?
—Não há nenhum impar-se, está acontecendo o que deveria ter acontecido a muito.
Catarina riu.
—Deixe-me adivinhar, esse era o desejo da doce rainha Crisélia, sua avó?
—De fato.
Ela gargalhou, friamente, sendo seguida por uma Lucrécia confusa e por Rodolfo, que ria ou chorava ao receber um beliscão da esposa. Afonso sorriu sem entender, até que Catarina parou de rir, mas com um sorriso prosseguiu.
—Ilário. Acredito que a rainha ficaria feliz ao ver seu reinado Afonso, contudo, suas escolhas não permitiram tal ato, assim como, a trágica morte da rainha. Acredita que é melhor que Rodolfo? Pense, alteza. Acredita mesmo? Rodolfo teve a coragem que lhe faltou, ele governou mesmo sem está preparado, vingou o nome dos Monferrato, enquanto você... Você não vingou nem as próprias escolhas.
O sorriso de Afonso foi se acabando ao ouvir cada palavra.
—Minhas escolhas não lhe dizem respeito. -Disse sério.
—Alguns dias como plebeu lhe fizeram esquecer do sistema no qual a Cália é regida, mas deve lhe recordar, que sim, me importa. O reino tem diversos contratos e acordos com Artena e, pessoalmente, como amiga da família. As escolhas de monarcas não influenciam só a eles, mas a vida de milhares de pessoas.
Lucrécia bateu palmas animada, sua alegria era um choque com a tensão que pairava na sala. Catarina sorriu.
—Contudo, você tem razão, não vim discutir suas escolhas ou governo, vim para ajudar a amigos. -Virou-se para o casal. -Podemos conversar? De preferencia um local calmo, estou um pouco cansada...-Virou-se para Afonso.- Isso, é claro, se sua alteza permitir.
Afonso assentiu, concordando.
—Meu quarto está desocupado? Confesso que vim despreparada.
—Claro que sim! No mesmo lugar, com a mesma roupa de cama e o mesmo ar! -Disse Lucrécia rapidamente.
Catarina sorriu.
—Obrigada. Os criados já devem ter levado a pequena bagagem que trouxe.
—Perdão, seu quarto? -Questionou Afonso.
—Sim, a rainha Crisélia sempre foi muito gentil e me ofereceu um quarto fixo.
—Após a morte de vovó mantemos o quarto e a sua limpeza.
—Peço licença, vamos?
—Vamos. -Apresso-lhes Rodolfo.
Catarina virou-se para sair, mas não antes de ver o rosto de Afonso, irritado.
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—Como isso aconteceu? -Questionou incrédula.
—Uma grande rebelião formou-se tendo Afonso como líder.
—Os problemas do reino continuavam os mesmos?
Rodolfo suspirou.
—A situação está complicada. Após a explosão da mina, o aumento dos impostos foram propostos para tentar cobrir a grande lacuna. Entretanto, não deu!
—Não deu? Quem fazia a contagem e repassava o dinheiro?- Perguntou desconfiada.
—Dois homens de confiança.
—Confiança, pode me afirmar com certeza?
Rodolfo engoliu em seco.
—Temos que descobrir o que ouve com esse dinheiro.
O fim de tarde fazia com que o castelo ficasse um pouco sombrio, as tochas iluminavam e criavam sombras. Petrônio e Orlando andavam pelo correr que levava ao jardim satisfeitos. A inexperiência de Rodolfo tinha feito com que diversas oportunidades surgissem, dentre elas, o enriquecimento individual. A corrupção na contagem e distribuição de impostos era tanta que deu para encher os 4 colchões de lã que cada um tinha em seus aposentos. Entretanto, eles estavam um pouco preocupados com o novo rei.
—O que faremos? Afonso percebera se pegarmos mais ouro.
—Será? -Questionou Petrônio. -Ele pode ser tão burro quanto o irmão.
—Não acredito nisso.
—Por que? -Questionou Petrônio, confuso.
—Pois ninguém pode ser mais burro que você majestade real o estupido oficial de Montemor... -Respondeu, gargalhando.
—O bobo da corte!
Lucrécia e Catarina tiveram que segurar Rodolfo para ele não avançar nos homens. Os monarcas estavam escondidos por trás de uma porta. Quando os homens passaram, Catarina se virou para o casal.
—Temos que descobrir onde é o quarto deles!
—Essa é fácil.
—Amanhã, bem cedo, sairei e irei até o jardim, imagino que eles vão lá, fingirei um desmaio... Irei distrai-los. Enquanto isso, vocês iram nos aposentos deles e, juntamente com os meus soldados, pegaram todo o ouro e prata que encontrem. Vocês têm 3 horas para concluir essa missão.
—O que faremos com o dinheiro?
—Você verá.
—Faremos com que o povo “lhes perdoe” pelo mal governo. Faremos com que vocês sejam aclamados.
—Por que? Recuperarei o trono?
Catarina suspirou.
—Você quer isso? Para você, para Lucrécia e para Montemor? Sabe que não gosta de reinar.
—Concordo com Catarina.
—Mas, o que faremos?
—Vocês iram comigo para Artena, lá lhe darei um bom cargo como ministro do povo. Vamos ver como se saíra... Mas, o importante é que não os deixarei. Confiam em mim?
—Até cega!
—Vamos jantar. -Propôs Rodolfo.
—Estou faminta.
—E eu, parece que tem uma lombriga comendo minha tripas!
A mesa de jantar estava farta, infelizmente, para o desgosto de Catarina, Afonso e Amália já estavam sentados. Sentados nas cadeiras que pertenciam ao rei e sua rainha. Ela sorriu.
—Boa noite a todos. -Os cumprimentou.
—Está bem instalado, Catarina?
—Acredito que sim, ainda não pude comprovar, mas logo irei.
O jantar começou e, ao sentir o tempero na boca Catarina fechou os olhos de prazer.
—Que delícia! -Exclamou Lucrécia.
—Devo concordar, está esplendoroso. Quem cozinhou?
—O novo chefe da cozinha real. Respondeu Rodolfo.
—Chefe? Um homem? Diferente, mas não nego o talento.
O jantar transcorreu, apenas Rodolfo, Lucrécia e Catarina trocavam palavras. Afonso e Amália observavam silenciosamente. A plebeia estava receosa em dizer algo.
Após o jantar todos se retiraram para seus aposentos.
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O plano foi seguido com maestria.
Antes do almoço real Catarina pediu aos funcionários que reunissem o máximo de pessoas possível que, após o almoço, faria um importante pronunciamento, que alegraria o povo.
—Ela disse isso? -Perguntou Amália.
—Sim, pediu.
—O que a Catarina pretende?
A ex-camponesa correu para avisar a Afonso.
—Ela pode está armando algo contra nós? Pelo que você me disse ela é uma grande amiga do seu irmão, pode querer o trono de volta.
—Estaremos preparados.
O povo estava amontoado na frente do castelo, todos estavam lá. O comercio estava fechado, não havia ninguém nas ruas. Quando as portas do castelo se abriram Catarina surgiu.
—Boa tarde, a todos vocês. Devem estar se perguntando o porquê deu lhes ter convocado. Aconteceu uma grande confusão e espero ajudar a corrigir. -Ela acenou e uma carruagem surgiu, cheio de ouro e prata, o povo foi a loucura, confuso. -Após a explosão da mina um projeto que acarretou no aumento dos impostos foi poso em prática no governo de Rodolfo. Contudo, graças a maldade de dois homens nada estava funcionando e vocês, povo, só pagavam mais e mais.
Rodolfo e Lucrécia surgiram com Petrônio e Orlando sendo segurados por guardas.
—Estes foram os homens que roubaram e enganaram a vocês e a nós. -Disse Rodolfo. -Temos provas e todo esse tesouro lhes pertence.
—Portanto, antes de irmos, iremos devolver. -Completou Lucrécia.
Todos estavam surpresos. Até mesmo Afonso, que observava todo da janela do seu escritório e Amália, que estava entre o povo.
—Nunca iriamos querer o mal de ninguém.
Catarina olhou para o ouro e do ouro para as pessoas, sorriu, olhou para os soldados de Montemor.
—Poderiam ajudar?
Os homens assentiram, achando graças na graça da princesa. Ao todo, cada cidadão recebeu 8 moedas de ouro e 20 de prata, no fim daquela tarde, o dinheiro que sobrou foi para o único orfanato da cidade. Todos estavam contentes e faziam festa, sua alegria era sentida pelo novo rei, que mesmo não assumindo, prezava a atitude de Catarina, Rodolfo e Lucrécia.
—DEUS SALVE O REI RODOLFO E A RAINHA LUCRÉCIA, OS JUSTOS! -Na multidão, alguém gritou.
—DEUS SALVE O REI RODOLFO E A RAINHA LUCRÉCIA, OS JUSTOS!- O povo repetiu.
—DEUS SALVE A PRINCESA CATARINA!
Catarina se arrepiou ao ouvir seu nome.
—DEUS SALVE A PRINCESA CATARINA!
Assentiu em agradecimento.
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