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Tuesday's Gone


–Como foi o funeral? – a voz forte da mulher se pronunciou.

John engoliu um soluço de maneira dolorida, pensando em como aquela pergunta era ridícula. Seu peito doía e o corpo pesava contra a poltrona desconfortavelmente confortável da sala de terapia. Mas como podia pesar se sentia-se vazio por dentro?

“Era terça-feira. A garoa caía, fraca, sobre os guarda-chuvas postados contra o céu. A manhã era nublada e o vento frio não tinha piedade nenhuma com nenhum de nós. Uma cena dramática para uma saída dramática.

Minha mente era um turbilhão de pensamentos confusos e enquanto aquela cerimônia – sem sentido nenhum para a minha mente que não conseguia acreditar que ele havia morrido. – acontecia eu ficava ali parado. Estático, procurando entender porque não tinha mais ele ao meu lado.

E eu senti raiva. Raiva por ele ter pulado daquele bendito telhado. Raiva por ele não ter me escutado, mesmo naquela situação. Raiva por ele ser tão idiota... Tão idiota. O gosto amargo ainda estava encrustado em minha língua e, acima da raiva, senti medo. Medo do silêncio que tomaria conta daquele apartamento. Medo da presença dele em todos os lugares e, principalmente, medo de descobrir que não conseguiria viver sem ele.

Minha mão tocava aquela lápide como se ela pudesse magicamente desaparecer. Como se meu amigo pudesse ressurgir dos mortos com apenas um toque de meus dedos.

Segurei lágrimas e engoli soluços. Implorei para que ele voltasse, mas nada aconteceu. Quando eu ficara tão patético? Não importa. Eu imploraria por ele todas as noites, e eu de fato o faço. Mesmo que o silêncio ainda seja a minha única resposta.”

John pensou em dizer todas essas coisas. Pensou em como conversar com alguém sobre isso ajudaria a superar a morte de Sherlock, mas ele apenas percebeu que não estava pronto pra superar aquilo. Percebeu que não estava pronto pra parar de pedir que ele voltasse, mesmo que soubesse que talvez nunca estaria.

Suspirou, apertando os olhos com as mãos, tentando impedir a si próprio de começar a chorar.

–Foi como os funerais devem ser – disse apenas, controlando a voz para que ela não tremesse. – Eu me despedi.