E então eles estavam ali. O barulho do vento enchia seus ouvidos e o sol pálido acariciava seu rosto. Havia um céu surpreendentemente azul sobre as suas cabeças e um ar de despedida quase insuportável entre eles.

Tiveram quase três minutos para essa despedida. Como se três minutos fossem o suficiente para que dissessem o que haviam deixado de falar durante todos aqueles anos. Poderia ser ridículo.

Olhou aqueles olhos a sua frente, procurando as palavras certas naquele mar de coisas não ditas. Queria perguntar o porquê. O porquê de Sherlock ter atirado em Magnussen. O porquê de ter tirado a vida daquele homem.

Não era idiota. Sabia exatamente o porquê de Sherlock ter feito aquilo. Por ele. Por Mary. Mas agora ele estava sendo levado embora, pra longe de ambos. Valera a pena? Valera mesmo a pena pagar aquele preço de ir pra tão longe assim? Talvez. Não seja idiota, John.

John o perdera uma vez, há dois anos. Ele voltara a poucos meses, como um milagre em sua vida, mas estava sendo tirado dele novamente. O que fizera para que merecesse aquilo? Pra que tivesse que aguentar a dor de ter Sherlock arrancado de si dessa forma, tantas e tantas vezes.

Sua vida parecia uma roda inconstante. Sempre girando e girando sem que pudesse fazer algo além de assistir calado. Quando tinha o que desejava o destino tratava de o tirar de si com uma eficiência assustadora. Quando subia era atirado para baixo, quando corria seus pés ficavam pesados e quando tentava respirar parecia estar se afogando. Era assim que as coisas eram pra ele.

–O Vento Leste leva a todos...

De fato, era aquilo. Aquela força que levava quem importava para longe. Por que tinha que ser assim?

E enquanto se despediam, John só conseguia pensar nas coisas que haviam vivido. Não em suas grandes aventuras ou no sucesso com o blog, mas sim nas coisas mais insignificantes. O chá durante a madrugada, os acordes doces do violino nas ocasiões especiais, a bagunça na cozinha, seus olhos absurdamente claros que pareciam sempre o observar, seu sorriso único e a personalidade insuportável. Só conseguia pensar nos detalhes. Essas coisas corriqueiras que passavam despercebidas. “Detalhes, John, eles nos dizem tudo”, a voz grave de Sherlock sussurrou em sua cabeça e ele soube que seria essas coisas que ele guardaria pra sempre.

Não usaram as palavras certas. Não fizeram o que deveriam. Não agiram como queriam. Talvez não por vergonha ou insegurança, mas sim por simplesmente não quererem acreditar que aquela era a última oportunidade de fazer todas essas coisas. Queriam acreditar que voltariam a estar juntos logo. Afinal – não importava o quanto a roda que era seu destino girasse. -, Sherlock sempre encontrava um caminho de volta para John.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.