Violet se olhava no espelho e tudo que conseguia pensar era que estava feliz por ser tão parecida com sua mãe. Os cabelos negros dela caiam delicadamente sobre a nuca e estavam presos por sua fita de cetim negro favorita, o vestido azul que Beatrice havia feito não parecia obra de uma pequena garotinha, mas sim de um grande criador. Era um vestido solto, formado pela sobreposição de vários pedaços de tecido e dando a impressão de que Violet flutuava. Haviam também asas em sua fantasia, quatro belas asas azuis delicadas, que combinavam com sua mascara e seu pingente com safiras.

- Linda, tão linda. – dizia Sunny – fico feliz que você seja tão parecida com mamãe, assim nunca vou me esquecer do rosto dela apesar de não termos nem uma foto.

Sunny podia ter os mesmos olhos e cabelos negros da mãe dos Baudelaire, mas era mais parecida com o pai. Tinha o mesmo sorriso fácil e gentil, o mesmo olhar quente e a mesma forma de franzir o cenho quando estava concentrada, era tão linda quanto Violet.

- Realmente, você está linda Violet. – concordou Klaus – aqui, deixe-me ajeitar sua máscara.

Depois que Violet ficou pronta seus irmãos a levaram até a entrada e ficaram lá parados, absorvendo cada segundo que podiam da imagem de Violet. Eles sabiam muito bem que cada vez que diziam ‘até logo’ poderiam nunca mais dizer ‘olá’. Mas o sorriso de Violet era tranquilizador, e ela beijou o topo da cabeça de todos os seus irmãos antes de sair, até mesmo a cabeça de Klaus, que agora era mais alto que ela.

- Não me olhem assim, é somente um baile. – disse ela, antes de sair para entrar no taxi que a esperava em frente de casa. O taxi havia sido cortesia dos organizadores do baile. – volto antes do amanhecer.

- Vamos esperar acordados. – disse Beatrice, com um olhar sério. Violet sabia que esperariam.

Ela entrou no taxi e seguiu para o centro, deixando Klaus abraçando as duas meninas preocupadas.

*** Na mansão Baudelaire***

Depois de Violet sair Klaus tentou de todo modo tranquilizar Beatrice, que estava sentada em frente a lareira olhando fixamente para o fogo. Sunny havia saído da sala para fazer chá, pois sabia que cozinhar era algo que a acalmava, ela estava com uma sensação péssima quanto a esse baile e, ao mesmo tempo, sabia que era extremamente necessário que Violet comparecesse ao evento. Quando estava voltando para a sala com uma bandeja de colinhos e chá ouviu Beatrice perguntar:

- O que foi esse barulho lá fora?

Sunny entrou e depositou a bandeja em cima de uma mesa, depois olhou para Klaus, que também olhava para ela. Barulhos lá fora nunca significavam ‘nada’, ao menos não para os que estavam envolvidos com a C.S.C. Aquilo era preocupante, mas Sunny segurou Klaus pela manga quando ele fez menção de sair para ver o que era.

- Vai ir embora, provavelmente só veio espionar. – disse Sunny, se sentando ao lado de Beatrice com uma xícara de chá na mão. – sente-se e finja que não há nada de errado, eles irão embora. Não se preocupe tanto, o açucareiro está bem á vista.

E estava mesmo, o açucareiro estava depositado em cima da bandeja de chá em uma parte onde a luz da lareira e das lâmpadas não batia. Klaus suspirou e se sentou também, de costas para o açucareiro.

Depois de um tempo, eles ouviram novamente um barulho.

- Está tudo bem agora, eu acho. – disse Sunny, olhando para a bandeja atrás de Klaus.

Ele se virou, fitando o local onde o açucareiro tinha estado antes. Agora só havia o bule de chá e o prato de biscoitos. O açucareiro tinha sumido.

- Havia alguma coisa dentro? – perguntou Beatrice, temerosa.

- Nada que nós tenhamos achado, então se tinha alguma coisa ou não a mensagem não era para nós. – disse Klaus, afinal todos sabiam que açucareiros eram conhecidos por portarem mensagens secretas e muito importantes. – acho que foi melhor assim.

Beatrice havia levantado e agora estava abraçando Klaus pelas pernas, a pequena era um pouco mais alta que a cintura dele.

- Eu fiquei com medo. – disse a pequena, apertando Klaus mais fortemente – Violet demora a voltar?

Klaus erguei a pequena para o colo, ajeitando a cabeça dela sobre seu ombro.

- Não, ela volta logo. – disse ele, puxando Sunny para o seu lado e abraçando a irmã também. – não fiquem tão preocupadas, Violet sempre soube se cuidar, porque agora seria diferente?

- Porque estamos longe. – disse Sunny, aconchegando-se ao lado de Klaus.

- Porque está sozinha. – concordou Beatrice.

Klaus simplesmente suspirou.

- Não é a primeira vez que nos separamos em situações difíceis, e nem temos certeza se Violet corre mesmo algum perigo. Tenho certeza que se acontecer alguma coisa nos três conseguiremos tirar ela de qualquer problema, certo? – Klaus se separou de Sunny e colocou Beatrice no chão. – não sejam tão pessimistas, aposto que se fosse eu que tivesse ido ao baile vocês e Violet estariam dando uma festa do pijama, ao invés de se preocupar comigo!

- Não diga bobagens! – disse Beatrice indignada, Sunny apenas soltou um risinho.

Bom, pelo menos consegui acalmá-las, pensou Klaus, mas quem irá me acalmar?

Silenciosamente ele desejou que Violet voltasse logo para casa.

*** no baile ***

Violet havia chegado ao endereço marcado pontualmente, assim como seus pais ensinaram a fazer. A pontualidade dizia muito sobre as pessoas, se elas não davam importância para os horários provavelmente eram irresponsáveis. Mas claro que essa regra não se aplicava a todo mundo, sua mãe sempre dizia que as circunstancias movem o mundo, para bem ou para mal.

O restaurante Cinco Sais Cantantes era um lugar temático, decorado com cinco pilares coloridos com pequenos vidros repletos do que parecia ser sais coloridos, casa vez que os sais caiam sobre os pequenos vidros um som era liberado. A junção do som dos cinco pilares era uma agradável melodia sem ritmo, constante e talvez até um pouco hipnótica.

- Senhora – chamou um rapaz vestido com um terno simples e com uma venda ao invés de uma máscara – bem vinda ao baile, senhora. Pode me dar seu casado?

- Não levo casaco, mas obrigada. – ela não tinha porque vir de casaco para o baile, pois estava quente demais lá fora, mas mesmo assim avistou algumas damas com grandes casacos de peles e penas, cheios de arranjos. Algumas até usavam chapéus, mesmo sendo de noite.

- Uma senhorita inteligente. – comentou o rapaz, antes de desaparecer em direção ao novos convidados que chegavam.

Violet decidiu andar pelo grande salão enfeitado. Era uma decoração bonita, delicada até. Pequenas flores de papel verde claro decoravam todo o lugar, juntamente com borboletinhas amarelas que pareciam quase se mover na luz fraca do salão. Depois de caminhar um pouco por lá Violet decidiu que o local era abafado e seguiu para uma sacada, onde poderia respirar um pouco do ar cheiroso de verão.

- É tão agradável aqui, não acha? – perguntou um rapaz, era um tanto mais velho que Violet e usava uma mascara negra, mas ela podia ver seus olhos castanhos mesmo assim. Violet tentou segurar a decepção, esperava ver Quingleyi ali, mas não encontrou os olhos azuis característicos de todos os Quagmire, olhos de safiras.

- Sim, realmente agradável. – respondeu Violet, sem muita animação.

- Você me parece triste – comentou o rapaz – sou Sirius Barella, meus pais são as pessoas que estão dando esse baile, eles me pediram para achar você.

Violet olhou para ele surpresa.

- Seus pais? O que eles querem comigo? – perguntou ela um tanto amedrontada.

- Não se preocupe, parece que alguém ficou sabendo que você estava de volta a cidade e pediu para minha mãe convidá-la. Esse alguém vai estar te esperando em uma sala. – disse o rapaz, Sirius. – porque não me acompanha?

Violet assentiu com a cabeça e seguiu Sirius para dentro do restaurante, indo para uma área reservada apenas para funcionários. A partir daí eles subiram umas escadas que apreciam não ter fim e mudavam o tempo todo de direção, mas logo chegaram ao suposto lugar. Havia o símbolo da C.S.C. na porta.

- Chegamos – disse Sirius, abrindo a porta e dando passagem para que Violet entrasse.

Nesse momento três brilhantes pares de olhos azuis se voltaram para ela. Um deles pertencia a uma menina que Violet se lembrava de ter os cabelos muito curtos e se vestir como um garoto, idêntica ao irmão, mas agora o que ela via era uma garota com longos cabelos castanhos e sorriso leve, usando um vestido vermelho longo que a deixava muito bonita. Ela era, sem dúvida, Isadora Quagmire.

O segundo par de olhos pertencia a outra pessoa que ela também havia conhecido há muito tempo, quando fora mandada para o colégio interno. Duncan usava o cabelo raspado agora, embora seu rosto ainda fosse muito parecido com o de Isadora ele não era mais tão delicado, mas ele sorria para Violet do mesmo modo que tantos anos atrás.

Por ultimo vinha a pessoa que ela esperava ver durante toda a noite. Quingleyi usava os cabelos um pouco a baixo dos ombros presos por uma fita vermelha, o que diferenciava ele do irmão Duncan. Ele também parecia mais velho, mais bonito e seus olhos pareciam mais escuros do que Violet se lembrava. O coração de Violet parecia que ia sair pela boca.

- Trigêmeos Quagmire. – disse ela, com um sorriso tão grande que fazia seus rosto doer.

- Violet Baudelaire. – responderam os três juntos, com os sorrisos idênticos se abrindo ainda mais.

Violet abraçou cada um deles, explicou os anos que passou escondida com seus irmãos e dada como morta e jurou não falar nada a ninguém, exceto seus irmãos, sobre ter visto os Quagmire, afinal os três demorariam ainda quase um ano para completar vinte e um anos e poderem sair por ai sem serem empurrados para tutores que quisessem roubar sua fortuna. Ainda contou para eles sobre Beatrice, a menina de Kat. Os três ficaram tristes em saber que Kat tinha morrido, afinal, fora ela quem tirara Isadora e Duncan do colégio interno. Depois de um tempo Isadora e Duncan falaram que iriam descer para o baile, afinal um baile de máscaras era um dos poucos lugares onde eles poderiam circular sem a preocupação de serem reconhecidos, Sirius foi com eles.

- Você esta usando o colar que eu mandei. – disse Quingleyi, depois de um tempo que os dois passaram em silencio simplesmente abraçados.

- Sim, achei que usaria isso para me reconhecer. – respondeu Violet tocando o colar.

- E eu usei, quando vi você com o colar no pescoço pedi para Sirius te chamar, fiquei com medo que fosse pular nos meus braços e fazer um escândalo. – disse ele, rindo.

- Quando foi que se tornou tão engraçadinho? – Violet riu – bom, você foi prudente, eu estava com tanta saudade que provavelmente pularia mesmo em você.

O tempo que Violet e Quingleyi passaram juntos foi um momento bonito, eles compartilharam a parte da vida deles em que estiveram separados, contaram segredos e fizeram confissões. E, ouso dizer, até mesmo trocaram um ou outro beijo tímido, mas como esse é um momento especial para os dois não vou relatá-lo e, se vocês um dia encontrarem os dois, podem perguntar exatamente o que aconteceu.

*** no salão de baile ***

- Aceita dançar, senhorita? – perguntou Sirius para Isadora, que bufou.

- Vamos Isadora, dê uma chance para ele. – cutucou Duncan, ao seu lado. Sirius continuava com a mão estendida.

- Se gosta tanto dele quanto aparenta, porque dançar com ele você não tenta? – perguntou Isadora, rabugenta.

Sirius insistia em implicar com Isadora desde que mãe dele trouxera os trigêmeos para casa, para que ficassem seguros sobre sua proteção. Aparentemente ele ficava o tempo todo caçoando dos dísticos de Isadora, assim como retrucava tudo que ela dizia. Para Duncan era claro que Sirius gostava de Isadora, mas ela não parecia entender que a implicância dele era uma maneira de chamar a atenção.

- Não seja mal educada. – disse Duncan, empurrando levemente Isadora para os braços de Sirius, que deu um sorriso perverso. Se ele não soubesse que aquele sorrido servia apenas para deixar a irmã sem jeito Duncan teria imediatamente tirado a irmã de perto do amigo, mas ele sabia que no fundo Sirius não passava de um garotinho apaixonado.

- Divirtam-se – disse Duncan, se afastando dos dois. Isadora provavelmente pegaria no seu pé mais tarde por aquilo, mas ele não se importava, sabia como lidar com a irmã. O que ele queria agora era andar um pouco, a música sinistra dos cincos sais cantantes estava deixando ele com dor de cabeça.

Isadora estava muito vermelha e sabia disso, pois sentia o rosto e o pescoço quentes. Sirius sorria para ela de uma maneira estranha que fazia ela querer bater em sua cabeça com a badeja mais próxima e correr para de baixo de uma mesa para se esconder. Tudo ao mesmo tempo. Além disso, ele ficava girando ela no salão rápido demais, fazendo com que ela ficasse tonta e esbarrasse constante mente contra ele, que ficava dizendo que era ela quem não sabia dançar.

- Você dança muito mal. – comentou ele, depois de mais uma esbarrada dela.

- Pare de me girar desse jeito, quer que eu vomite em você? – respondeu ela irritada.

- Que coisa mais romântica para dizer enquanto dança com um belo cavalheiro – comentou ele, olhando para ela com aqueles enormes olhos castanhos. Isadora ficou ainda mais vermelha.

- Pare com isso! – disse ela, pisando propositalmente no pé de Sirius.

- Parar com o que? Ei! – chamou ele, pois Isadora já estava saindo para a área aberta do salão. Ela precisava refrescar a cabeça e aquele salão quente não era o melhor lugar. Ela soltou um gemido quando notou que Sirius a seguia.

- Parar com o que? – repetiu ele, caminhando ao lado de Isadora. Ela se esforçava para andar mais rápido, mas ele tinha pernas longas e suas tentativas de fuga não surtiam efeito. Sirius pareceu se irritar com ela e a segurou pelo braço, virando ela de frente para si e repetindo mais uma vez a pergunta – para com o que, Isadora?

- Com isso! – disse ela, cutucando o peito dele.

- O que? Você não gosta da minha gravata?

- Gravata? Não ligo nem um pouco para sua gravata! Estava falando do jeito que você me olha... – Isadora foi perdendo o fôlego, arrependida de ter dito aquilo.

- Do jeito que eu te olho? – perguntou ele, confuso.

- Cala a boca – resmungou Isadora.

- Isadora, o que há com você? – disse ele, olhando mais uma vez nos olhos dela.

- Porque está me olhando desse jeito de novo? Porque diabos seu rosto está tão perto do meu? Eu não gosto disso, Sirius. – Isadora agora estava muito mais vermelha, sentindo uma mistura de raiva de si mesma e vergonha.

- Eu só estava analisando seus olhos, eles parecem safiras mesmo. – disse Sirius, aproximando ainda mais o rosto do de Isadora. – quanto será que eles valem no mercado negro?

- Qual é o seu problema? – perguntou Isadora, encostando a testa na de Sirius e olhando para ele com raiva. Sirius somente sorriu.

- Problema? – ele disse, passando os braços por Isadora e apertando, o que fez com que ela ficasse confusa e ainda mais raivosa.

- Me solte – ordenou Isadora enquanto se retorcia nos braços de Sirius, o que só fez com que ele sorrisse mais.

- Acho que não. – e com isso, para a surpresa de Isadora, ele a beijou.