Simon

Nenhuma das duas despertou durante quinze minutos.

O completo silêncio do cemitério é carregado de tensão. Wanda mantém os olhos fechados, concentrada no ritual que se sucede diante de nossos olhos.

Zack pigarreia completamente desconfortável, atraindo nossas atenções.

— Elas vão demorar para voltar? — pergunta arrastando os pés ruidosamente na terra que cobre o chão.

A Feiticeira Escarlate abre os olhos e suspira, colocando-se de pé.

— Não sinto as almas delas. — diz com uma expressão pesada. — Acho que estão submersas.

— O que isso quer dizer? — questiona Charlie agitadamente.

— Que elas estão presas entre o inferno e a liberdade. Provavelmente em alguma tentação. É a parte mais difícil.

Respiro fundo. Não, não. Vamos Soph. Acorde...

— Não toque nela — alerta Wanda quando minha mão paira sobre a cabeça da Soph. — Você pode afetar o processo e aí sim ela não irá acordar.

Recolho minha mão como se tivesse levado um choque.

— Elas vão ter que voltar sozinhas — explica Wanda suspirando. — O que podemos fazer é protegê-las.

Cerro os punhos. Não posso perder a Soph. Não posso!

Temos companhia e a percepção disso me enfurece. O barulho de carros se aproxima de nós, cada vez mais alto.

— Preparem-se. — falo colocando-me em posição de ataque.

Homens armados adentram o cemitério e as figuras do Bane e Morgana Le Fey surge.

— Mas que beleza — o homenzarrão com máscara para, os homens atrás de si miram em nós. — Um ritual.

— Wanda querida — Morgana diz semicerrando os olhos. — Quanta burrice. Achou mesmo que ninguém sentiria essa carga de poder?

A Feiticeira Escarlate parece preocupada. E é fácil compreender o motivo: se alguém tocar em Clary ou Soph, elas podem ficar presas para sempre.

— Vocês dois — Wanda diz para Stella e eu. — Não podem sair de perto das duas. São a proteção delas!

Meneio a cabeça positivamente. Stella respira fundo.

— Vai ser do jeito mais difícil então — Bane fala fazendo sinal.

Seus homens apertam os gatilhos e suas metralhadoras disparam. Antes que eu possa reagir, Stella meneia uma das mãos e as balas retornam aos seus donos violentamente, acertando suas testas e corações. Uma explosão de sangue antes dos soldados caírem pateticamente.

Bane vem contra mim com fúria e força, e consigo devolver sem dificuldade seus golpes, defendendo-me com toda raiva que consigo reunir. Ele é vários palmo mais alto e tem o dobro de massa corporal, o que acaba se tornando uma tarefa exaustiva.

O grito da Wanda me distrai. Viro o rosto a tempo de ver Dylan arrancar o coração da bruxa, que cai com uma expressão de medo em seus olhos.

— NÃO! — Zack avança com seus raios contra Morgana, enquanto Stella investe contra Dylan.

Uma fração de segundos de distração e Bane acerta minha face, fazendo-me cair. Sua bota atinge meu peito, e minha respiração falha. O gosto de sangue impregna minha boca logo que uma série de socos golpeia meu rosto, e uma mistura de dor e raiva me atinge.

— STELLA! — o grito de Charlie vem aos meus ouvidos. Consigo virar o rosto em meio à dor e tenho o vislumbre da Richard caindo no chão, com uma estaca de madeira presa ao peito.

Zack caí diante de mim com um olhar vidrado em seu rosto. Isso só pode ser um pesadelo!

Bane me arrasta para longe de Soph e Clary, enquanto tento resistir furiosamente.

— NÃO A TOQUE! — grito ofegando.

Minha força se torna inútil agora. Meus músculos doem. Minha cabeça dói. E meus ferimentos parecem fornalhas em meu corpo.

Dylan está parado diante das duas. O desespero vem logo que sua mão se fecha no pescoço da Clarissa.

— NÃO!

As mãos de Dylan repousam uma em minha nuca e outra na frente do meu rosto. Tento me livrar com golpes carregados de agonia. Não, não. Eu tenho que protegê-las.

— Acabou garoto herói. Adeus!

Ele vira ambas as mãos bruscamente, e tenho um último vislumbre de seu rosto mascarado antes de cair após um terrível estalo do meu pescoço que segue afetando todos os meus membros lentamente. Respiro com dificuldade por alguns segundos, minha mente mergulhando em confusão e imagens desconexas.

Estou morrendo.

(...)

— Simon...

Viro-me e vejo Sophia. Uma névoa encobre nosso redor e me sinto completamente... Leve.

— Sophia... Onde estou? — pergunto com o cenho franzido.

Ela se aproxima e me abraça. Envolvo seu corpo com meus braços, sentindo seu perfume tão intenso.

— Eu sinto muito — Soph se distancia o suficiente para que eu vislumbre seus olhos angustiados. — Eu não consigo... Sair daqui!

A realidade me atinge como um tiro. Estou morto. E Soph está morta. E todos os outros estão mortos. Então isso é o outro lado de tudo? Um mundo carregado de névoa? Para sempre?

— Acabou — digo com o peito pesado. Desvio o olhar para um ponto distante. — Acabou para todos...

Sophia respira fundo, antes de enterrar seu rosto em meu peito e chorar. Abraço-a novamente.

— É culpa minha!

— Não. Não é culpa sua — sussurro acariciando seus cabelos. — Eu não a protegi. Se alguém tem que se culpar sou eu.

O silêncio nos oprime, e imagino se estou prestes a encarar a eternidade ou o inferno. Porque eu mereço facilmente o inferno.

— Não sejam tão dramáticos.

Separo-me subitamente de Sophia, olhando para um ponto da névoa que parece se abrir em um túnel. Semicerro os olhos.

O primeiro que aparece é Zack, em seguida Stella com Clarissa, e logo atrás James e Aurora. Meus lábios se repartem em surpresa. Não é possível.

— Meu Deus! — exclama Sophia correndo até Aurora e a abraçando.

Ambas riem. James vem até mim com uma expressão séria.

— Caramba. Seu cabelo cresceu. Você está com mais cara de homem agora — afirma, apertando meu ombro. Emito uma risada e o abraço.

— Eu não sabia que ficaria tão feliz de estar morto — digo pateticamente, ainda sorrindo. Vê-los tão bem aqui é... Incrível.

— É realmente bom estarmos nos amando aqui, mas — Clarissa coloca as mãos na cintura, um sorrisinho surgindo em seus lábios. — Vamos sair daqui.

— O quê? Estamos mortos! Você e a Soph... — Stella começa, mas é interrompida bruscamente por Aurora.

— Clary já estava livre antes de vocês chegarem. E ela não pode morrer — dá de ombros, cruzando os braços. — Tecnicamente voltamos ao páreo.

— Certo. Então o que estamos esperando? — questiona Zack com impaciência. — Eu não aguento tanta névoa! E preciso ajudar a Ashley!

James coloca a mão no ombro dele.

— Caro cunhado, eu passei mais tempo do que você nessa névoa toda. Então apaga esse fogo aí — revira os olhos. — Além do mais, é por isso que vamos enrolar um pouco. Por causa da Ashley.

— Você sabe onde ela está? — indaga Zack, ansiosamente.

O Turner suspira.

— Sei. Eu consegui fazer uma ligação com ela antes de vir para cá. Ela está presa em Asgard. E suponho que seja graças aos nossos queridos pais. Já que descobri recentemente que minha mãe é uma bruxa também.

— Essa história de bruxaria está me deixando maluca! Dá para pararem com essas revelações bombásticas? — Stella bufa, cruzando os braços.

Dou um passo à frente.

— Como podemos resgatar a Ashley?

Clarissa praticamente dá pulinhos ao falar.

— Matando os pais dela com a mesma arma deles: bruxaria!