Simon

— Você é resistente para um nerd — a versão bela e perversa de Sophia Tompson diz com escárnio. Merda. Detesto esse lance de bater em mulher e mesmo sendo um clone mal da Soph, possui as mesmas feições angelicais dela.

Cada mísero detalhe.

Estamos no topo de um cassino luxuoso, e os gritos das pessoas lá embaixo indicam o que está acontecendo de fato. Um pânico geral causado por clones nossos.

Coloco-me em posição de defesa, evitando qualquer golpe que a machuque. Essa Sophia possui cabelos longos e lisos, o mínimo de maquiagem cobrindo sua face, e traja um uniforme terrivelmente incrível (uma saia vermelha com um top de mangas da mesma cor, botas pretas e capa também preta).

Entretanto, mesmo com tanta beleza ela não é a Sophia que eu amo.

Concentro meus poderes e fico atento ao céu. A chuva cai sem qualquer pausa, causada pelo “Zack-maligno”. Supondo que ele tenha ido atrás de algum dos meus amigos, mantenho também a atenção voltada para Sophia.

Suas mãos estão carregadas de energia, um sorriso desbotando em seus lábios.

— Você não quer me machucar... — Ela caminha alguns passos com as mãos erguidas acima da cabeça carregadas por aquela energia. — Mas eu quero machucar você!

Então ela fica invisível, uma habilidade que se torna maldita agora. Tento ficar prevenido, no entanto o golpe me atinge de chofre, seguido de um brilho. Uma explosão queima meus pulmões, meu corpo e tem o poder de me lançar para longe.

Minhas costas batem contra o chão, próximo à uma porta de ferro que protege a saída. Coloco-me de pé, as queimaduras e a dor passando aos poucos e arranco a porta das dobradiças sem dificuldade.

Sophia dá uma risada irônica, surgindo a alguns metros.

— Você não vai me bater, vai? — questiona, reunindo mais energia em suas mãos. Aquela energia usada para fazer escudos de força que ela utiliza como ataque.

Não é como o raio do Zack. É diferente. Então talvez...

— Você me ama Zack. Por que simplesmente não se deixa morrer por mim? — Sophia diz de uma maneira inocente, que por pouco me faz hesitar. Mas ela lança seu ataque quase na mesma hora... E eu ergo a porta à minha frente como defesa.

Fecho os olhos, esperando que meu plano dê errado. Ergo o rosto, apenas para ver Sophia com um rosto impregnado de horror. Ela recua uns passos, cuspindo sangue, enquanto leva as mãos ao peito perfurado por seu próprio poder refletido contra a porta de ferro em minhas mãos. Então tropeça na beira do prédio e cai como uma pena, os cabelos loiros esvoaçando ao vento.

Corro até a beirada do prédio, meu coração falhando várias batidas.

Eu matei a Sophia. Eu matei a Sophia. Eu matei a...

— Simon!

A voz dela preenche meus ouvidos ao mesmo tempo que as lágrimas molham minha face. Ver o corpo de Sophia Tompson na calçada lá embaixo, cercado de pessoas, é algo insuportável. Mas essa não é a minha Soph, pois a verdadeira me envolve em seus braços, ofegante de uma corrida desenfreada com Stella, que nos fita com alívio.

— Pensei que... — sussurra Soph, mas a interrompo ao selar nossos lábios, algo que me traz de volta à realidade e parece fazer o mesmo com ela.

— Estou bem agora. Com você — digo por fim, me colocando de pé.

Sophia segura minha mão. Stella sorri fracamente. Evito olhar para a calçada lá embaixo e afasto as memórias do meu pai morto. Ainda temos uma longa noite para enfrentar.