Destroyers
Capítulo 47
Clarissa
Caminho pela rua abarrotada de pessoas, com luzes por todos os lados. A noite em Vegas é mais intensa que o dia.
Entro no hotel onde granfinos se dirigem aos cassinos para gastarem uma pequena fortuna a fim de ganhar uma maior, provando serem verdadeiros tolos.
Adentro o meu quarto e acendo as luzes. Abro a mochila em cima da cama, apreciando o silêncio. É uma das poucas vezes que realmente estou sozinha e posso fazer o que realmente quero fazer. Encho a banheira e coloco sais. O banheiro tem detalhes que devem valer uma fortuna, e torrar o dinheiro do Stark aqui é um grande prazer.
Logo que entro na banheira sinto um alívio percorrer cada poro do meu corpo.
Nunca tomei um banho como esse, que parece revigorar o corpo e a mente. Fecho os olhos.
Estou em Gotham, destruída por Bane e os terroristas anos atrás. Vejo a nave carregando um cilindro e se distanciando cada vez mais da cidade.
— Clarissa.
Selina Kyle está à minha frente, trajando sua roupa de Mulher Gato, no entanto sem máscara dessa vez.
— O que você quer? - pergunto com aspereza.
A Mulher Gato olha ao redor, os olhos arregalados em horror.
— Saia de Vegas! Agora! Eles estão estabelecendo essa conexão...
Então tudo é sugado para a escuridão repentinamente, junto do grito dela.
Abro os olhos assustada. Minha cabeça começa a doer pelo susto, então respiro profundamente antes de olhar ao redor, tentando me acalmar.
Saio da banheira e me enrolo no roupão, repentinamente desgostando do banho.
Coloco um vestido roxo que vai até os joelhos, deixado em cima da minha cama (provavelmente pela maluca da Ashley) e coloco os saltos pretos que estão ao lado da cama, depois de vestir as meias arrastão.
Isso tudo é terrivelmente ridículo e fora do meu estilo, mas acabo aceitando. Afinal, mereço uma noite de diversão em Vegas.
Saio do quarto e dou de cara com Dylan. Pisco repetidas vezes. Pera, esse é o Dylan?
Sua camisa está entreaberta na altura do peito e seu cabelo está úmido, acentuando o ruivo. Sinto seu perfume daqui, forte e bom. Ele está sutil e atraente.
Seus olhos indicam sua surpresa ao me ver vestida desse jeito, e tento manter a postura de durona, no entanto as lembranças do beijo há alguns dias corroem minha mente e me torturam.
Eu não consigo esquecê-lo.
— Oi — ele diz primeiro, um sorriso surgindo em seus lábios.
Meneio a cabeça positivamente e tento caminhar pelo corredor e me afastar das sensações boas que Dylan me traz, no entanto sua mão segura meu braço e me puxa.
— Precisamos conversar.
— Precisamos? — finjo-me desentendida, mas sei que ele está certo. Precisamos mesmo conversar.
— Sim. E você sabe porque - replica de uma forma surpreendentemente gentil. Respiro fundo.
— Okay. Vamos descer.
Felizmente ele concorda. Estarmos sozinhos em um corredor é ainda pior.
O cassino do hotel se encontra ainda mais movimentado que há duas horas atrás. Chegamos ao bar e Dylan pede dois drinques. Não temos idade suficiente para beber em Nova York, mas Vegas parece pensar exatamente o contrário.
O barman serve-nos habilidosamente e sentada de frente a Dylan, tomo um gole da bebida colorida. Nos fitamos por um longo período, até eu desviar o olhar. Não posso me prender a ele. Não posso. É tecnicamente inaceitável diante dos meus objetivos. Entretanto, é ridículo negar que algo mudou em nossa relação de igual antipatia. Não é apenas raiva ou hostilidades que nos une.
— Então...
— Não nos falamos desde que te beijei. Sinceramente sinto falta dos seus insultos típicos...
— Que meigo - ironizo, bebendo mais um pouco. - Você quer que eu volte a te xingar.
— Clary — Ele me encara de uma forma fixa, e paro de falar. Seu tom é calmo assim como seu olhar. — Eu sei que você não quer isso. Sei que você tem medo de se perder ou de sofrer. Eu entendo você. Mas... Eu gosto de você, Clary. E isso está se tornando mais forte a cada dia.
Pisco repetidas vezes, atordoada. Algo se aquece dentro de mim, algo que não sei o que é. Uma sensação completamente desconhecida.
— Dylan... — sussurro, pela primeira vez frágil diante de seu olhar, e sem ter o que dizer. Tenho vontade de me entregar a essa loucura e cair de para quedas em um acúmulo de sensações novas, mas não consigo. Eu não posso. Respiro fundo, tentando voltar ao normal. — Você está louco. Não deveria beber tanto assim.
— Clary... — Ele me chama pacientemente, mas já me levanto e o deixo para traz antes que mude de ideia.
A possibilidade de viver como uma garota normal, deixar tudo para trás e ser feliz me sufoca. Eu quero isso mais do que tudo. Mas eu não posso.
Soco uma parede ao sair do hotel correndo, e reprimo tais emoções confusas.
Olho ao redor, e vejo apenas luzes.
Ouço um barulho e ao olhar para o lado vejo um segurança do tamanho de um armário, com olhos mórbidos e vazios. Dou um passo para trás, mas antes de processar o que está acontecendo, ele bate em minhas têmporas com suas mãos e eu caio no chão, perdendo a consciência aos poucos.
(...)
Gritos animados ecoam aos meus ouvidos, vindos de algum lugar distante. Uma voz feminina anuncia algo que faz os gritos aumentarem ainda mais.
— Clary. Acorda.
Abro os olhos e vejo Dylan me fitando. Pisco, enquanto me levanto, levando as mãos às têmporas onde ainda dói.
Reconheço o local como uma solitária, tendo apenas uma fresta na porta que nos ilumina.
— Onde estamos? — pergunto com a voz rouca. Dylan me observa atentamente antes de responder.
— Na casa de lutas da Roleta. — responde, e logo me lembro dela em uma vaga e distante memória enterrada fielmente pelo tempo.
Roleta. A vaca das apostas que certa vez perdeu para o James em um cassino qualquer. Nada muito relevante, mas eu não esqueceria sua tatuagem de serpente e os seus óculos redondos.
— Como você chegou aqui? — sou um tanto brusca ao questionar.
Dylan cora um pouco, e mesmo sob tantas sombras consigo notar isso.
— Vi o cara nocautear você e te jogar dentro de um carro. Então não pensei e fui tentar impedir, mas Roleta apareceu e me dopou.
— Você não deveria ter sido tão tolo! Se meter na frente desse jeito. Deveria ter apenas seguido e...
— Foi impulso, okay? — Dylan se aproxima com seus olhos passando o mesmo nervosismo que há em sua voz. — Sinto muito, mas eu gosto de você...
Cerro os punhos, desviando o olhar.
— Pare de dizer isso. Você nem me conhece direito...
— Então me deixe te conhecer mais - Ele segura uma de minhas mãos, entrelaçando seus dedos aos meus. — Pode demorar uma semana, um mês, ou anos, mas tenho certeza do que quero.
Atordoada, desvio o olhar mais uma vez. Um barulho no corredor interrompe meus pensamentos e faz Dylan soltar minha mão.
A porta é aberta de chofre, e Roleta aparece com seu capanga.
— Que meigos! Os dois pombinhos. Clarissa é um prazer revê-la novamente. E você Dylan, vai pagar caro por ter destruído meu antigo trabalho.
Dylan dá uma risadinha de deboche.
— Aposta quanto que vou destruir esse lugar também?
Roleta dá uma risada, enquanto seu capanga "armário" está com um controle em mãos.
— Eu acho que não, Dylan. Vocês serão meu lucro.
Assim que o capanga gira o botão do controle, sinto uma dor lancinante em minhas têmporas, como se aos poucos meu cérebro fosse explodir.
Caio no chão, em frente a Dylan, nossas mãos a poucos centímetros de distância.
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