Simon

Senti a inexorável aproximação da morte, e mesmo com todos os anceios, me mantive de pé... Até o presente momento.

A tempestade prossegue, enquanto meus ofegos continuam martelando em meus ouvidos.

– Mãe – o sangue brota de meus lábios, o amargo gosto percorrendo minha boca.

Verônica ri, uma risada que não combina nem um pouco com a presente situação.

– Simon – As chamas continuam marcando sua pele, seguindo um mesmo caminho dentro de seu corpo.

Eles mentiram.

Os vilões não planejavam nos deixar em paz.

Ergo-me, ignorando as queimaduras em meu peito, que impossibilitam o distanciamento completo da dor.

A sra.Walker se aproxima novamente, e sei exatamente o que virá a seguir. Com sua mente alterada, e a certeza de que me matar é a melhor opção, não tenho outro caminho senão o de ceder.

– Avise aos outros, Simon – o grito de Steve Rogers me acordou da paralisia causada pelo choque. – Vá!

O corpo de Nick Fury jazia no carpete do pequeno apartamento de Rogers. O assassino – um novo vilão que efetuou um ataque na movimentada Times Square – fugiu depois do disparo bem-sucedido.

Eu tinha ido até ali como um amigo, como alguém que precisava do conselho de um veterano de guerras, mas sai como testemunha de um crime bárbaro e sem nexo.

Eu estava na rua quando o mascarado surgiu, e lançou uma bomba abaixo do carro do Fury, que era perseguido incansavelmente por policiais malucos. O pior é que eu não pude ajudar por conta do trato.

E o mesmo aconteceu na casa do Capitão; eu simplesmente fugi.

Meus músculos queimam assim que giro para o lado, obrigando-me a reagir. As chamas atingiram o carpete no ponto onde estive segundos antes, sendo comandadas pela coisa que era minha mãe.

– Não tente fugir da sua morte – Verônica murmura reunindo novas chamas em suas mãos, os olhos faiscando em fúria.

Cerro os dentes antes de puxar o fio do abajur cuidadosamente empoleirado na mesinha ao lado do sofá. Com uma velocidade digna do Relâmpago, lanço-o contra minha mãe, reunindo toda a força que possuo.

O impacto faz Verônica atingir o carpete e esse é o tempo necessário para eu mancar até a porta do hall, pegando as chaves da velha caminhonete da minha mãe.

A chuva torrencial me atinge instantaneamente, em segundos encharcando meus cabelos. Ouço os passos arrastados da sra.Walker assim que adentro a garagem e destravo a porta da caminhonete.

– Simon! – seu grito ecoa em minha mente.

Giro a chave da ingnição, engatando a marcha. Verônica está parada na entrada da garagem, uma expressão vazia percorrendo seu semblante.

– Me ajude – o inesperado pedido me faz hesitar.

Porra, ela é minha mãe. Não posso abandoná-la. O que meu pai teria feito em meu lugar? Deixado-a para trás?

“Ela tentou te matar”, uma voz diz em minha cabeça. “E você tem de ajudar seus amigos”.

Fecho os olhos, apertando o volante. Verônica avança cambaleante, porém ela não tem chances de me alcançar.

– Desculpe, mãe.

Piso no acelerador, e a caminhonete deixa a garagem. Mantendo os olhos fechados, sinto a colisão do veículo contra o obstáculo, passando por cima com suas rodas desgastadas.

Olhando pelo retrovisor, tenho um último vislumbre do corpo inerte de Verônica Walker, antes de cair na rua deserta sentindo-me mais vazio do que nunca.