Dylan

– Para confiar eu preciso receber confiança – Fury explicou sem que eu o questionasse. – Então, sr.Allen? Qual seu medo?

Anui com um breve aceno de cabeça, fitando a longa vidraça impecavelmente limpa logo atrás da mesa do diretor da S.H.I.E.L.D. Embora a questão em si seja, aparentemente, tensa demais, consigo pensar na resposta em poucos segundos (talvez isso se deva ao meu metabolismo extremamente ágil).

– Descobrir por acaso quem é minha mãe e que ela está perto, presa em algum lugar, sem poder ajudá-la ou conhecê-la.

(...)

Eu não estava certo da inocência da Wayne, mas os argumentos do James foram bons o bastante para me convencer temporariamente.

Além do mais, eu tinha preocupações maiores com o colégio e com o time para sequer me lembrar da Clarissa.

A primeira semana em NovaHead passou voando, e mesmo com tantos alunos faltando (como a Lexi) os professores não tiveram piedade alguma de nós.

Dia após dia eu fazia uma nova tentativa de falar com minha namorada, porém ela não estava na casa da prima, tampouco com as melhores amigas – Jenna e Bridgit.

– Ela deve estar bem – Bridgit Spence me tranquilizara, enquanto subíamos as arquibancadas depois de um treino exaustivo.

“Sou a Rainha do Baile. Deixe seu recado”.

– Oi Lexi – digo, com o celular em minha mão, enquanto permaneço largado em minha cama. – Sei que tá me evitando, mas eu preciso falar com você. Eu... – Faço uma pausa, fechando meus olhos. – Estou preocupado. Retorne assim que der.

Desligo, jogando o celular para o lado.

Eu queria estar de volta, me sentindo livre e normal de novo, mas a única razão para que eu tenha retornado, simplesmente sumiu.

Lexi não estava no hospital, pois recebera alta, dias antes de eu voltar. E agora fico imaginando o que vai acontecer quando a Riddle ressurgir sabe-se lá de onde.

Para piorar é que meu pai não têm dado notícias, o que me leva a crer que está em alguma missão importante para a Liga – talvez em outra galáxia ou algo assim.

Um barulho no andar de baixo me deixa em alerta. Sento na cama. O céu já escureceu, indicando que devem ser umas sete ou oito da noite, horário considerado proveitoso para alguém invadir sua casa.

Com minha velocidade, saio do quarto e desço as escadas que levam ao hall, sem fazer qualquer barulho. Identifico a sombra do vagabundo, esgueirando-se em direção à cozinha.

Avanço até ele rapidamente, porém, logo que vou derrubá-lo o infeliz desaparece e eu quem sou pego pela nuca e lançado ao chão.

– Calminha aí, Dylan – A voz faz com que eu arregale os olhos, surpreso. – Não reconhece mais seu pai? – Sua risada ecoa em meus ouvidos, tipicamente zombeteira. Ele me solta e rapidamente me coloco de pé.

Barry Allen continua o mesmo de quase dois meses atrás, e eu permaneço sendo sua cópia fiel.

Trocamos um forte abraço, o alívio tirando parte das minhas preocupações de cena. Quando meu pai está por perto, as coisas ficam mais simples e melhores.

– Você continua rápido – Ele segura meu ombro, e posso ver o sorriso iluminando seu semblante.

Meneio a cabeça negativamente.

– E você continua esquecendo as chaves de casa, pai.

Barry acende as luzes e dá uma olhada ao redor, parecendo tão aliviado quanto eu por finalmente estar em seu lar.

– Ah, eu não posso me lembrar de tudo – Ele dá de ombros, um sorrisinho de canto percorrendo seus lábios ao olhar em derredor. – Essa casa não tá arrumada demais não?

Definitivamente, meu pai não mudou nada. Um suspiro de desânimo escapa de meus lábios, e o sr. Allen parece perceber isso.

– Ihh, estou vendo que você não anda muito bem – Me avalia atentamente. – Vou pedir uma pizza e você me coloca a par do mundo de novo.

Concordo, e meu pai já pega o telefone para fazer o pedido. Largo-me no sofá, um tanto ansioso para explicar tudo.

Assim que a pizza chega, abrimos uma Coca-Cola e começamos nossa seção “mamãe e filhinho”, com meu pai fazendo o papel de mãe da vez (como sempre).

Conto sobre o ataque à NovaHead, a S.H.I.E.L.D e os Destruidores. Logo, já estou mencionando o irmão da Wayne e o sumiço da Lexi.

– Pensei que você quisesse entrar para a Liga da Justiça – comenta Barry, virando seu copo com o refrigerante.

– E eu queria, mas essa oportunidade surgiu mais cedo – encolho os ombros, encarando-o. – Espero que não se importe.

Ele nega totalmente despreocupado.

– Faça o que achar melhor, Dylan. Apoio você em qualquer coisa – Uma breve pausa, enquanto Barry reflete seriamente. – Exceto no seu namoro com aquela Riddle.

Uma careta se forma em meu semblante.

– Por que você implica tanto com a Lexi?

– Porque ela existe – Ele solta uma risada, divertindo-se com a minha cara. – Só você não percebe que essa garota é uma oportunista?

Arqueio uma das sobrancelhas e o meu pai suspira.

– Da última vez que vim para casa, à única coisa que a Lexi soube fazer foi perguntar sobre a Liga da Justiça – limpa a garganta, tentando imitar a voz da minha namorada em seguida. – Ai, sr. Allen, quando o Dylan vai entrar para a Liga? Oh, sr. Allen, como é estar entre tantos heróis? – Revira os olhos. – Sem falar que ela só sabe falar do time de líderes de torcida e de ter ganhado o prêmio de “Rainha do Baile”, três vezes consecutivas...

O interrompo, poupando seu trabalho de continuar.

– Só que eu gosto dela – digo unindo as mãos. – Mesmo com seus defeitos e suas manias... Sei que estou parecendo uma menininha, mas os meus sentimentos pela Lexi são verdadeiros.

– Hum – É a única coisa que meu pai diz. Ele deposita o copo na mesa de centro. – Vem cá – me encara, tão sério que me assusto um pouco. – Falando sério agora. Quando foi a última vez que vocês juraram estarem apaixonados?

Franzo o cenho, e Barry solta um alto e enérgico “Ahá!”.

– Se eu te perguntasse um mês atrás, você responderia na lata! Mas pelo jeito as coisas mudaram! – Ele pressiona meu ombro, me encarando com solidariedade. – E isso é ótimo. Logo, logo, você desencana.

Pisco algumas vezes, incrédulo com suas palavras.

– Ela não é a garota certa para você – O ruivo balança a cabeça em reprovação. – Tem que ser uma pessoa que te impulsione a se manter vivo – Percebo que meu pai está devaneando de novo. – Tem que ser uma garota que te irrite, que vá contra tudo o que você quer, mas que no fim consegue manter tudo bem. E principalmente, tem que ser uma garota que entenda sua vida, filho, e que apoie o que você decidir.

Deixo escapar uma risada um pouco irônica.

– E quem seria essa garota?

Barry Allen se faz de pensativo.

– Hum... E aquela tal de Clarissa, que te algemou outro dia?

Sua insinuação não passa despercebida por mim. Estreito os olhos, indignado e até mesmo enojado.

– Você não tá falando sério, pai.

Barry solta uma de suas risadas maliciosas.

– Ah, nunca falei tão sério, filho.

(...)

Chego ao colégio desanimado. A conversa com meu pai só serviu para me manter acordado como um zumbi.

Solto um bocejo, abrindo meu armário para guardar alguns livros e pegar os que vou usar nas aulas de Biologia e Física.

– Ei, Dylan! – James se aproxima, tirando os óculos escuros, enquanto as garotas passam por ele suspirando indiscretamente. – Como você está?

Bato a porta do armário, encarando-o.

– Bem, na medida do possível. – Começamos a caminhar pelo corredor, lado a lado. – A Lexi ainda está desaparecida. O bom é que meu pai retornou, e tem me aconselhado...

– É eu sei – comenta James, e o fito com confusão. – Fui até sua casa ontem, para falar com você sobre uns assuntos. Mas percebi que você tinha visita, então fui embora.

Seu tom de divertimento me deixa curioso e incomodado.

– O que você queria falar comigo? – pergunto, segurando as alças da mochila.

Ele dá de ombros, totalmente despreocupado.

– Nada demais.

Sua resposta não me convence, entretanto, deixo a questão de lado.

– Dylan! – Stella surge do nada, um sorriso iluminando seu rosto. – Adivinha quem chegou! Adivinha, adivinha, adivinha! – E começa a pular de animação, arrancando uma risada do James.

– Você está andando muito com a Ashley – Arqueio uma das sobrancelhas. Stella continua sorridente. – Então, quem chegou?

– A – di – vi – nha! – Ela diz, como se eu fosse um retardado.

– A Lexi? – pergunto um tanto esperançoso.

James solta um resmungo, e Stella bufa audivelmente.

– Não chega nem perto!

Alcançamos a sala de Biologia, uma das poucas aulas que realizamos juntos.

– Fala logo quem chegou – Jogo minha em uma cadeira, e Stella e James fazem o mesmo.

– Adivinha, Dylan! – Stella faz birra, e é fácil compará-la a uma criança de cinco anos neste momento. – Não é tão difícil assim!

– É Dylan – Uma voz soa às minhas costas, e enrijeço na mesma hora. – Adivinha.

Viro-me, dando de cara com a pessoa que eu menos esperava (desejava) para hoje.

Seus cabelos ruivos escuros estão lisos, e uma franja cobre de sua testa até as sobrancelhas. Seus olhos azuis estão contornados por lápis preto, e suas bochechas estão levemente coradas. Mantendo um copo do Starbucks firme em uma de suas mãos cobertas de anéis, ela mantém a postura determinada e superior a qualquer um. Jeans, botas na altura das coxas, e uma jaqueta de couro preta completam seu novo visual.

– Wayne – falo entredentes.

Stella continua com o mesmo sorriso na cara, e James exibe os lábios repuxados de canto, em um breve sorriso.

– Clarissa! – Aurora chega com Sophia em seu encalço, uma expressão de surpresa estampada em sua cara. – Onde você estava?

Clarissa larga sua bolsa em seu lugar e toma mais alguns goles de seu café.

– Por aí – responde vagamente. – Como estão as coisas?

Entreolhamo-nos. Clarissa continua bebendo seu cappuccino, uma calma anormal percorrendo seu semblante.

– Tudo ficou muito... Bem – Aurora fala a última palavra com um fio de voz.

James se aproxima de Clarissa, sussurrando algo que apenas ela ouve.

– Ok – Ela concorda, lançando o copo vazio na lata de lixo.

Ambos saem da sala, e Stella vai atrás como uma fiel escudeira. Outros alunos começam a chegar, e não tenho tempo de perguntar a Aurora se James e Stella foram contar à Wayne sobre o Charlie; o professor entra na sala antes disso.

Quando o sinal soa, Aurora pega a mochila do James, enquanto Sophia carrega as bolsas da Stella e da Clarissa.

– Será que eles foram contar a ela? – Sophia indaga, referindo-se ao “demônio” que acabou de retornar para nos infernizar.

Se a Wayne descobrir que o irmão está na cidade, vai ferrar com todos que estiverem em seu caminho, certamente.

Apenas uma coisa admito (e nunca falarei isso em voz alta); a Clarissa voltou mais... Bonitinha do que o normal.

– Ashley! – Aurora interrompe meus pensamentos malucos, e volto meus olhos para a figura que se aproxima de nós, arrancando olhares dos garotos que atravessam o corredor.

– Por que você não me contou? – A patricinha da turma me encara de um modo acusatório. – Agora que sou diretora do jornal da escola...

– Contar o quê? – pergunto, franzindo o cenho. Essa garota é doidinha de pedra, só pode.

Ela bufa, cruzando os braços, batendo a ponta de seus saltos no piso exibindo impaciência.

– Que a Lexi está indo para Londres, e que vocês dois terminaram!