Mulher-Gavião

Dois meses depois...

Acaricio os cabelos ruivos do meu filho. Filho. É tão bom poder dizer isso...

Dylan Allen ainda contém cicatrizes que provavelmente não vão deixar seu corpo. Contudo, a beleza herdada de seu pai permanece intacta. Os aparelhos ainda registram seus batimentos cardíacos, e é possível sentir sua respiração.

A UTI deixou de ser seu lar cerca de duas semanas após o acidente. A cirurgia quase o levou, mas eu sabia que ele seria forte. Afinal, é o meu filho. Meu maior tesouro que foi arrancado de mim tão novo... Eu não pude acompanhar seu desenvolvimento graças à maldição que percorre Lexi Riddle e Clarissa Wayne.

Deposito um beijo na testa de Dylan, mexendo em seus cabelos uma última vez antes de sair do quarto.

Saio do quarto de hospital fechando os olhos com força. Barry mantém as mãos nos bolsos, seu semblante exibindo preocupação.

— Shayera... — sinto seus dedos passarem por meu braço até se firmarem em minha cintura. Ele me abraça e rapidamente as lágrimas deixam meus olhos.

— Eu quero Clarissa Wayne presa — digo friamente.

Barry suspira fitando-me. Ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto.

— Estamos conversando com o Batman quanto a isso. — fala calmamente. — Clarissa cometeu muitos crimes, mas se redimiu...

— Ela criou o veneno que agora está no corpo do meu filho! — grito com fúria. — Ela arrancou a única chance de eu ser mãe do Dylan! De estar com meu filho depois de anos!

Barry fecha os olhos. Me afasto bruscamente.

— Eu quero que ela pague!

Deixo o corredor cega pela raiva. Eu tive minha vida completamente alterada pelos planos de Lexi Riddle e a irresponsabilidade evidente de Clarissa Wayne... Mas agora já chega! Eu não vou continuar esperando por uma justiça que não virá.

Bruce Wayne pode ter feito parte da nossa equipe no passado, mas hoje não passa de um protetor de bandidas. Um mero obstáculo.

(...)

Seguro minha clava impregnada de energia observando do alto o movimento da cidade. Minhas asas pairam com o vento e chego a respirar mais aliviadamente.

Gotham City exibe os mesmos tons soturnos, atravessando a destruição que as batalhas causaram em suas ruas e construções dois meses atrás com sua principal característica: suas trevas.

Perdi a noção do tempo que levei para atravessar Nova York e chegar até aqui. Talvez a intensidade da minha raiva tenha-me feito superar os limites em tão pouco tempo.

Reconheço a Mansão Wayne após dez ou quinze minutos seguindo pela cidade. O casarão com detalhes antigos e elegantes, além de vitrais em saus janelas, expõem a personalidade do Batman por completo.

Ergo minha arma lançando-me contra a janela em que vejo tão claramente Clarissa Wayne.

A explosão de vidro estilhaçado vem contra o meu rosto, arranhando-me. Minha clava age cheia de energia contra a garota, que arregala os olhos antes de desviar com um salto para o lado de um golpe certeiro capaz de matá-la.

— Mas o que? — Ela questiona atordoada.

— Você destruiu a vida do meu filho! — grito erguendo a clava novamente.

Dessa vez Clarissa salta para trás da cama novamente fugindo do meu segundo ataque.

— Dylan saiu do coma! — contesta Clarissa aos gritos. — Meu pai me disse isso!

Giro a clava cerrando os dentes diante das suas palavras tão mentirosas.

— Isso... É uma mentira, sua idiota! — grito observando a sua pele adquirir uma tonalidade ainda mais esbranquiçada. — Seu pai mentiu para te proteger! Mas eu não vou deixar que você fique impune!

Sem chances de escapatória, Clarissa se encolhe contra a parede, os olhos desfocados e a pele pálida demais para parecer se importar com a morte que lhe será servida em breve. A clava está à metros de seu rosto agora, e posso sentir o prazer descomunal em cumprir o que é certo...

— SHAYERA!

Sinto um puxão em meu estômago e meu corpo é lançado contra a parede do quarto. Atordoada com a queda, a clava escorrega por meus dedos.

— Barry — sussurro observando-o em seus trajes de Flash.

Há essa altura, Selina e Bruce estão no quarto acompanhados de seu outro filho que corre para a irmã desnorteada.

— ELA TEM QUE PAGAR! — grito quando os braços do ruivo envolvem meu corpo trêmulo. — ELA ACABOU COM A VIDA DO MEU FILHO!

Bruce fita-me com a típica seriedade existente na face de alguém que tenta resolver tudo da melhor maneira possível. Já Selina, mantém os punhos cerrados com algum tipo de raiva destinada a mim.

— COMO OUSA VIR ATACAR A MINHA FILHA, SUA VADIA? — Ela grita prestes a me atacar.

Ao mesmo tempo as vozes do garoto e do Bruce ecoam pelo quarto respectivamente:

— Mãe!

— Selina!

A mulher se afasta com relutância. Respiro fundo, enquanto o abraço de Barry permanece forte.

— Não venha aqui novamente — ouço a ameaça explícita no tom de voz de Bruce, que me fita com tranquilidade no olhar. — A menos que queira conversar. Se tocar mais um dedo na minha filha, as coisas não serão tão amistosas.

— Ela não vai fazer isso novamente — Barry garante por mim, o que de fato me irrita. — Não vamos começar algo estúpido aqui, Bruce.

Ouço a voz de Clarissa, um murmúrio perturbado que atrai minha atenção de imediato. Desvencilho-me de Barry, que parece tão atento quanto eu ao que a jovem Wayne diz.

— Clary... — o garoto abraça a irmã, que me encara com dor expressa em seu olhar.

— Eu estou disposta a me entregar.

Suas palavras ecoam aos meus ouvidos, e por um instante todos ficam em silêncio, absorvendo lentamente o que foi dito.

— Clarissa... Não... — Selina gagueja aproximando-se da filha, exibindo mãos trêmulas e um semblante tenso. — Não...

— É uma escolha minha, mãe — a garota diz com firmeza, fitando-me então. Seus olhos exibem o avermelhado de um choro contido. Não sei se devo acreditar ou levar como uma encenação. Até onde vai o sentimento dela pelo meu filho? — Pode falar com quem quer que seja. Eu aceito ser presa.

No final das contas, conquistei o que tanto queria. O sofrimento de Dylan terá seu preço.