Destinys Joke

Capítulo 1 - A Swan's Dream


Respirei calmamente, tentando lembrar exatamente tudo que eu faria ao chegar lá. Como a viagem demoraria até a manhã do dia seguinte, eu não teria como descansar bem, a não ser que considere uma cadeira de ônibus confortável. Quando chegasse lá, iria até o hotel que Yuri tinha me indicado e tomaria um belo café da manhã! Comida de Seoul! A quanto tempo que eu não esperava para provar! Descansaria até meio dia e iria para minha audição.


Podia parecer estranho para qualquer um naquele ônibus, mas meu sonho era me tornar uma grande atriz. Não importava se eu tivesse que começar por peças de colégio (sim, eu tinha começado por peças de colégio). O máximo que eu tinha feito até agora era uma ponta em um dorama tosco e fracassado, onde meu personagem morria no meio e ninguém nem reparara, além de uma peça em que eu era a protagonista e que, mesmo não tendo um sucesso de público, ajudou a pagar as contas de casa por muito tempo.


Meu pai agora estava em uma cama, com previsão de vida de 6 meses e meu avô era velho demais pra conseguir um trabalho. Restava eu. Porém, eu não era a filha/neta que eles tanto pediram a Deus. Não consegui me manter em nenhum dos empregos de meio período que me eram oferecidos e nem arranjar um bom marido. Eu era um fardo em casa. Apenas mais uma cabeça pra sustentar com a aposentadoria escassa de meu avô.


Esse era o principal motivo da minha ida a Seoul. Eu precisava de algo maior. Eu precisava me tornar uma grande estrela e viver tudo isso da melhor forma possível. Mentiria se eu dissesse que não quero o dinheiro, na verdade, ele é o mais importante. Eu preciso de algo para trazer orgulho ao meu pai, mesmo que seja da forma que eles sempre abominaram.


Procurei na bolsa, pela vigésima vez naquele dia, o papel da minha audição. “Midnight Moon”. Era um musical sobre uma garota que tocava nas praças à meia noite e acaba encontrando seu grande amor. Era um romance trágico, onde a garota morria no final. Porém, já havia sido lançado no Japão e tinha sido o maior sucesso de crítica do ano. Era minha chance. Mesmo que eu não cantasse tão bem, tinha uma oportunidade de testar meus talentos em uma audição gigantesca e, quem sabe, me destacar nas audições e conseguir muito mais que o musical. Muitos dizem que atrizes bonitas e talentosas sempre conseguem patrocínio de grandes empresas quando são escaladas para algo de sucesso. Essa era minha chance!


Me pego sorrindo involuntariamente. Era estranho pensar que eu iria conseguir realizar meu sonho. A única pessoa que apoiara era Taec, mas nem sei mais onde ele estava e nem tinha como entrar em contato com ele para comemorar.


O melhor a fazer agora era dormir. Talvez se eu dormisse bastante, poderia passar por toda aquela viagem sem ser notada. Encostei a cabeça no vidro da janela, desejei boa noite para o jovem que estava sentado ao meu lado e fechei os olhos. Mal sabia eu que aquela seria uma noite de sonhos. Sonhos com um passado que não estava tão esquecido assim.


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Voltar para Seoul era algo bom? Só Deus sabe! O avião estava quase saindo, mas meus pensamentos ainda não tinha se acostumado com aquela idéia. Talvez seja bom relembrar sua infância. Mas eu saí de lá muito cedo, nem sabia se realmente existia algo para lembrar.


Claro que existia uma pessoa, mas depois de tanto tempo sem contato com ela, provavelmente ela nem sabia mais quem ele era. Minha existência já devia ter sido apagada de sua vida. Pra falar a verdade, nem eu lembrava como ela era. A única foto que eu tinha foi perdida durante a mudança e, por um grande azar no destino, era essa foto em que estavam escritos todos os contatos dela. Ele não a culpara por não ter entrado em contato por tanto tempo, afinal, quando ele foi embora, não sabia nenhuma informação sobre onde ia morar e não pôde passar nada pra ela. Entrar em contato era pra ter sido uma obrigação dele.


E ele falhara.


– Sun, What’s up? – Sua mãe estava concentrada em uma revista de moda e, provavelmente aquela pergunta era retórica. Há anos ela não se importava realmente em como ele estava.


– Estou bem. Você sabe que não precisa falar em inglês comigo, estamos indo pra Seoul não é mesmo? Vamos nos acostumar com o coreano logo. – Meu tom podia parecer ríspido, mas o simples fato de lembrar-se do passado me fazia sentir a raiva crescer de novo. Por que o divórcio tinha que me afetar?!


– Excuse me sir, your plane is taking off in a half hour. Can you come with me? – Dessa vez era uma aeromoça que vinha angustiada por ainda estarmos no salão de espera.


Peguei minhas malar e a segui, deixando minha mãe para trás. Ela parecia tão feliz com essa situação quanto eu. Mas precisávamos voltar. Com a morte do vovô, ela precisava voltar e controlar as empresas se quisesse continuar ter aquela vida de luxuria.


E lá estávamos nós, voltando a Seoul.


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Acordei uma hora antes de o ônibus chegar, mas isso foi até bom. Deu tempo de colocar tudo em ordem e fazer uma oração rápida. Aquela era minha oportunidade, eu não podia deixar passar em branco.


O quarto do hotel era confortável e eu tinha tido tempo de me estabelecer perfeitamente. Quando cheguei lá, pude ligar pra Yuri e ter uma grande surto de felicidade. Enfim, eu estava em Seoul. O local onde todos os sonhos se realizam.


– Mas não esqueça, sempre haverá outra chance! Se não der certo agora, não pense em desistir! Você sabe que pode contar comigo!


Mesmo com aquelas palavras, eu não queria contar com Yuri. Não do jeito que eu tinha contado até agora. Todo o dinheiro que ela me emprestara, desde a passagem até a hospedagem. Tudo pago por ela. Eu não me sentiria confortável em pedir mais. Ela já tinha me dado dinheiro suficiente para passar um mês inteiro em Seoul e era nesse mês que eu tinha que conseguir um emprego para me manter, pagar ela e mandar dinheiro para o meu pai. Tantas coisas pra fazer e tão poucas oportunidades.


Mas não era o momento de se decepcionar e pensar no pior. Eu estava aqui, sentada na sala de espera de uma das maiores agências de entretenimento de toda a Coréia. Claro que a situação seria melhor se eu tivesse sido uma trainee ou algo do tipo, pois meu diploma em artes e atuação não serviria muito nessa cidade tão grande. Eu precisava mostrar meu melhor.


– Com licença, esse lugar está ocupado? – Perguntou uma garota de longos cabelos loiros que estava parada na minha frente. Confesso que nem sabia como ela tinha chego ali. Estava ocupada demais perdida em meus pensamentos.


– Não não, pode sentar – Tentei dar um sorriso simpático e a cumprimentei enquanto ela sentava do meu lado.


Ela parecia a típica garota de Seoul. Loira, cabelos chegando, praticamente, até a cintura, magra demais e com um rosto extremamente bonito. Tão bonito que muitos dos staffs, que estavam organizando a audição, estavam agora olhando fixamente para nós. Ops! Para ela! Não era pra menos. Além do rosto bonito e do corpo escultural, ela estava usando uma calça de coro, provavelmente teria perdido a manhã inteira se tivesse tentado entrar uma calça daquelas, e uma blusa que mal cobria seus seios avantajados, deixando sua barriga completamente à mostra.


– Perdeu alguma coisa – Seu tom era de desprezo e seu olhar era frio. Ela devia ter percebido que eu estava olhando pra ela com uma cara de poucos amigos.


– Não! Desculpe! – tentei manter meu nível e não ficar vermelha. Não me deixaria ser intimidada por uma Barbie daquelas. – Veio fazer a audição para o musical?


A risada dela foi tão alta e estridente que me desagradou, ainda mais por ser perceptivelmente falsa. Ela não parecia o tipo de pessoa que tem milhares de amigos e é adorada. Parecia mais uma princesinha mimada. Uma princesa de gelo.


– Você realmente acha que eu perderia meu tempo em um musical? – Ela olhou pra mim como se eu fosse uma grande piada. Me segurei para não meter a mão na cara dela! – Já sou contratada da agência. Vim aqui porque minha empresária vai avaliar os candidatos e eu tenho compromissos mais tarde. Só estou esperando ela desocupar. Tem algo pra ler?


– Não. – Tentei reconhecer ela, mas seu rosto não me era familiar. Não me lembrava de tê-la visto em nenhum dorama e nem em peças apresentadas na minha cidade. – Você é atriz?


– Não, sou modelo. – Ela puxou uma revista qualquer da pilha que tinha na mesa da frente. – também sou cantora nas horas vagas, mas só gravei alguns osts de uns doramas. Nada muito importante. Você conhece “My destiny is you?” Pois é... eu gravei a música dos protagonistas.


Qualquer pessoa conhecia aquele dorama, visto que ele era um dos mais conhecidos de toda a nossa geração. Eu até tinha o CD do OST! Como uma voz tão bonita vinha de uma pessoa tão vazia?!


– Jessica Jung – Ela estendeu a mão como forma de comprimento, relutei, mas por fim apertei sua mão. Se sua empresária era uma das “juradas”, com certeza nãos seria certo fazer inimizade. Fingi até um grande sorriso para completar. – Você é?


– Im Yoona, o prazer é todo meu. – Continue a sorrir. Continue a sorrir.


– Boa sorte, espero que consiga o papel. Você sabe mesmo cantar não é? Se precisar de algumas dicas...


– Não, obrigada. Tenho que dar uma saidinha... você sabe.... banheiro... – Eu precisava sair de lá. Era só o que me faltava, uma sub-celebridade tentando me dar dicas de como cantar. Mesmo que sua voz fosse realmente boa, não tinha a mínima intenção de ouvir seus ensinamentos. Eu estava muito bem sozinha.


– Acho que você não vai agora. Acho que é sua vez. – Ela estava apontando para um staff que acenava pra mim do outro lado da sala. – Quebre a perna.


– Obrigada, eu acho. – Me levantei e dei beijinhos na bochecha dela. Era mais uma despedida que não me faria realmente muita falta. Mas eu devia me acostumar a esse estilo de pessoa. Era desse tipo que Seoul estava cheio. Eu não podia me tornar aquilo.


Me levantei e segui o staff até a sala onde seria meu teste. Aquele era o meu momento, eu conseguiria fazer meu melhor. Eu seria o novo rosto da Coréia. Eu seria Im Yoona, a primeira atriz coreana a ganhar um Oscar, a lenda entre as atrizes.


E aquela era minha chance de começar.


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Ver aquela garota ir até o local da audição me doía um pouco. Eu lembrava exatamente de como eu me sentia em cada audição que eu fizera desde os sete anos. Ainda não entendia direito como eu chegara ali. Como conseguira alcançar um ponto tão alto na sua carreira.


Toda a infância feliz na Califórnia, a mudança com os pais e os incontáveis testes. Sempre as mesmas respostas: “Você não é boa suficiente”, “você não sabe nem o que está fazendo!” ou “tirem ISSO daqui imediatamente”. Os júris tinham sangue frio e não se importavam se estava prestes a destruir um sonho. Não importava a história do candidato e sim o dinheiro que eles podiam ganhar com aquele produto novo.


Era isso que eu me tornara. Um produto.


Podia parecer triste no começo, mas agora eu era uma pessoa nova. Sou a princesa de gelo. Sou a rainha dos photoshoots de Seoul e uma das principais cantoras de OSTs. Não havia limites para onde meu talento pudesse alcançar. Eu estava prestes a desbancar muitos outros artistas coreanos, preparando um álbum inteiro para minha futura carreira como cantora idol. Eu teria o público na palma de minha mão. Eles fariam o que eu mandasse.


Ver aquela garota tentando chegar até onde eu cheguei, naquela idade e com aquela aparência era digno de pena. Era apenas uma menina inocente do interior. Ela não sabia o quanto esforço era preciso para se destacar nesse mercado. Nem mesmo sabia quem era o homem certo para dormir caso você precise de um contrato bom.


Mas ela aprenderia que esse mundo não era para os fracos, mais cedo do que esperava. E aprenderia da pior forma.