Destiny

Quanto tudo vira de ponta a cabeça


Atena respirou fundo diante das portas do palácio do pai, reunindo coragem antes de bater e esperar, queria que as ninfas não fossem tão eficientes, pois menos de um minuto depois ela já estava a caminho de seu encontro com sua madrasta.

O fato de Hera querer vê-la era preocupante, a sós ainda mais, não imaginava o que a rainha dos deuses poderia querer lhe dizer em particular. Se Atena analisasse bem o que sentia diria que estava com medo. Contudo, era orgulhosa demais para admitir tal coisa, e quando se viu diante de Hera a sensação se ampliou em mil.

A rainha dos deuses era linda, não de uma forma estonteante como Afrodite, mas de uma forma sutil e serena, Hera nascera para reinar. Era uma infelicidade que seu marido fosse Zeus, até a filha do deus sabia disso, não imaginava o que se passara na cabeça dela ao casar com um cafajeste como ele. Talvez pensasse que poderia leva-lo ao bom caminho, fazê-lo fiel, porém nada disso fazia sentido. Eram apenas especulações.

― Fico feliz que esteja aqui, Atena. Sinto muito por tê-la convidado de forma tão repentina. ― apesar da suavidade em sua voz, Atena sabia que Hera não “sentia muito” por aquilo. Não era como se a deusa tivesse opção de recusar aquele ‘convite’.

― Eu tinha um tempo livre, e fiquei curiosa sobre o que gostaria de falar comigo.

― Pois bem, acompanhe-me.

A deusa da sabedoria seguiu a rainha pelos corredores, indo em direção ao jardim de Hera, onde ela costumava passar as tardes, - e onde se isolava pelas traições de Zeus. Era um lugar belíssimo aquele, protegido por magia, as flores e plantas que cresciam naquele jardim eram dignas do templo de Perséfone, e pareceram ganhar ainda mais vivacidade com a presença de Hera. A rainha sentou junto a fonte, e Atena, por alguns instantes, admirou aquela imagem como se fosse um quadro.

― Eu e seu pai tivemos uma conversa importante. Certas coisas aconteceram, Atena. E isso coloca em risco muitos de nós.

― Estamos sob ameaça de ataque? ― a loira perguntou, sem compreender. As coisas no Olimpo pareciam tranquilas nos últimos tempos, até demais, para falar a verdade.

― Não, não estamos. E essa não é a questão ou o motivo pelo qual a chamei aqui. ― Hera indicou que a deusa sentasse a seu lado, o que ela fez prontamente e a encarou com atenção, só então notando o quanto a rainha parecia cansada. ― Zeus acredita que se soubesse por mim aceitaria melhor.

― Aceitar o que?

― Atena... você e Poseidon vão se casar.

Um riso melodioso e divertido escapou da deusa da sabedoria, transformando-se numa risada, daquelas que fazem a barriga doer, Atena sentia os olhos lacrimejando e ainda assim não conseguia controlar-se. Ela e Poseidon? Casados? Imagine! Quem diria que Hera tinha um humor tão peculiar.

A rainha, por sua vez, observou a enteada em meio a crise de riso. Seu semblante permaneceu sereno, e talvez isso tenha feito com que Atena percebesse a situação. Não era uma piada? O olhar de Hera trazia a tona toda a gravidade do momento, e pouco a pouco a ficha caiu.

Ela ia casar com Poseidon.

― Não. ― foi sua resposta. ― Hera, não. Eu não quero, não posso. Ele não, nunca.

― Sei que é algo inesperado...

― Inesperado?! Eu sou uma deusa casta, tenho um juramento, eu não posso me casar. ― Atena explodiu em palavras, dividida entre a raiva e o pânico. Como Zeus ousava fazer aquilo? Ela tinha jurado diante dele, em nome dele, sua castidade. Ele, melhor do que ninguém sabia o quanto aquilo significava para a deusa.

A turbulência nos olhos cinza fizeram com que Hera suspirasse antes de tomar as mãos dela entre as suas, impedindo que Atena começasse a gesticular sem parar, como acontecia quando o nervosismo a tomava.

― Eu sei, Atena. Essa não foi uma decisão fácil para seu pai, ou mesmo para mim. No entanto, é necessária. Você e Poseidon devem ficar juntos.

― O que você está escondendo de mim? ― perguntou, pois era óbvio que havia algo por trás de tudo aquilo, e em meio a seu pânico Atena pensava o que poderia ter feito o pai tomar tal decisão? Será que Poseidon o estava ameaçando? Aquela conversa na biblioteca tinha algo a ver com isso?

― Você saberá, talvez essa noite, depois da reunião possa conversar com Zeus. Eu sinto muito que seja dessa forma, meu bem. Vocês já contam com minha benção, e quanto ao juramento... Tudo será esclarecido, eu prometo.

Eles já contavam com a benção de Hera? Então era oficial, ela seria esposa de Poseidon. Esposa de seu pior inimigo. Não demonstrou metade da angustia que a tomou com aqueles pensamentos, mas também não reclamou em receber no abraço da madrasta o consolo e a calma necessária para enfrentar o que viria. Ela não aceitaria aquilo tão facilmente, nem mesmo Zeus poderia a faria, resistiria ao ‘casamento arranjado’ até o último segundo.