Destiny

Prólogo


― Por que me odeia?

A voz do deus a fez encara-lo, estava ignorando intencionalmente sua presença enquanto remexia nas prateleiras abarrotada de livros. Ele tinha chegado ali minutos antes, e embora a deusa detestasse sua presença, não podia expulsa-lo dali, e era obrigada a atura-lo.

― Por favor, Poseidon. Você sabe o por que.

― Ainda é pela Medusa?

Os olhos dela se fecharam por alguns instantes, sua mente foi tomada de imagens daquela noite: As roupas espalhadas pelo chão, os corpos se movendo juntos, os sons... Deuses, aqueles malditos sons, ela jamais conseguira esquecer. Assim como jamais esquecera a sensação que se apoderou de si, a dor.

― Se sabe a resposta, não deveria perguntar.

Com isso caminhou até a outra prateleira, estava perdendo tempo, ela conhecia cada livro daquela biblioteca e sabia como cada uma daquelas prateleiras estava organizada. O livro não estava ali, nem nas prateleiras próximas, apenas estava enrolando. Não, não pergunte por que.

― Eu já pedi desculpas.

Era assim, Atena pensou, ele sempre acreditava que tudo se resolvia com tamanha facilidade. Sim, desculpas faziam diferença, mas não apagavam o fato ou consertava o erro. Ele ainda tinha transado com a Medusa em seu templo, ela ainda tinha aquelas imagens em sua mente, e seu coração permaneceria partido de qualquer maneira.

― Sim, você pediu. O que não altera em nada o que aconteceu, Poseidon. ― virou-se e deu de cara com ele, próximo demais, seus corpos quase se tocando. Podia simplesmente afastar-se, mas sabia que ele usaria isso contra ela em algum momento. Por isso encarou os olhos dele, aqueles olhos verdes que pareciam carregar o mar em si, atraindo todos a seu redor, encantando, e afogando ao destruir todos suas ilusões. Tal como ele tinha feito com ela. ― Tenho meus motivos para odiá-lo. Motivos esse que você deu ao longo de milênios, então, por favor, não pergunte; você sabe o porquê.

Ele a encarou, por alguns instantes que pareciam durar uma eternidade, antes que assentisse e se afastasse, deixando-a livre, mas ao mesmo tempo com a sensação de que algo lhe faltava.

― Acho que entendi.

E com isso ele saiu da biblioteca, deixando para trás uma Atena confusa e trêmula, sobrecarregada pelas memórias e sentimentos do passado.