—Era eu.

—Hã?

—Naquela noite, sala precisa, não era Regulus. Assumi o lugar dele com polissuco porque ele ia te dar o toco por Voldemort, não quis que, sei lá, você ficasse chateada por ele não ter aparecido.

Ela ficou em silêncio por alguns minutos, se esticou, deu um beijo demorado e molhado nos meus lábios, murmurou um agradecimento e depois estalou um tapa com os cinco dedos bem abertos na minha cara.

O tapa doeu – Merlim, a menina era forte! -, mas o pior foi vê-la chorando, e saber que a culpa era minha. Eu a fizera chorar depois que ela prometeu me ajudar. Parabéns Black, você é oficialmente um canalha de marca maior. Dali para frente, fiquei isolado no meu canto da cela, onde eles não iam e de onde estava proibido de sair, conforme diziam os olhares hostis que volta e meia me lançavam, vendo Bianca ser confortada por Juliana e Newt.

Por pior que me sentisse, sabia que um dia a dor diminuiria, porque mais cedo ou mais tarde os Avery seriam avisados que suas filhas estavam presas na América e viriam libertá-las. Quanto a mim, ainda tinha muito tempo de cadeia pela frente, fosse por animais mágicos ou um assassinato injustiçado. É, depois do que causei a ela, acho que mereço ficar um tempo preso, e nunca mais chegar perto dela, é claro.

Bianca

11 de julho, cela do MACUSA

Um farolete de varinha na cara me acordou de manhã. Distingui Serafina nas sombras, ela destrancou a cela e fez sinal para que me aproximasse. O fiz com cuidado, para não acordar Sirius que dormira com a cabeça no meu colo. Caminhei atrás dela até seu escritório. A mesa estava cheia de comida. Ela puxou uma cadeira para mim e sentou ao meu lado.

—Coma – disse ela. - É melhor que a comida dos prisioneiros.

—Por que me trouxe aqui? – perguntei, pegando um pão de mel.

—Quero conversar com você. Sei que não tem culpa alguma. A maleta tem as iniciais NS gravadas. Acredito que seja de Newt Scamander.

—Se sabiam de quem era, porque prenderam os quatro?

—A lei pede um julgamento, onde a palavra dos suspeitos deve ser considerada. Se você, Juliana e o outro tivessem negado seu envolvimento, teriam sido liberados na hora, visto que tínhamos provas concretas que eram inocentes, mas pela sua palavra e vontade, assumiram a culpa com Scamander e agora devem cumprir pena. A menos que aceite minha proposta.

—Que proposta?

—Libero os quatro se recuperarem as criaturas o quanto antes.

—Para evitar problemas com os trouxas? - falei, encarando-a. Ele ergueu a sobrancelha. - Não-maj. É assim que chamam gente que não tem magia, não é?

Serafina assentiu e mandou Kowalski me levar de volta, depois de eu prometer conversar com eles até o almoço. Sirius ainda estava dormindo, a havia uma bandeja com comida perto dele, acho que era para nós dois, mas eu deixei tudo para ele, o café da manhã na sala de Serafina já me satisfizera, de uma forma ou de outra.

De repente Sirius acordou de um salto, com a cara pasma que Juliana fazia ao despertar de um sonho ruim.

—Ah, você acordou – peguei a bandeja e passei-lhe. - Café da manhã.

Ele comeu em silêncio, pensativo. Evitei olhar para ele, porque não queria que ele me oferecesse comida, o que de fato ele fez, me estendendo um pão duro, que eu neguei com a cabeça.

—Eu já comi Six.

—Vamos lá, Mal. Só uma fatia de pão não vai matá-la.

Bom, geralmente ele me chamava de Maligna em Hogwarts, e Mal era um apelido do apelido bem bonitinho, até. Aceitei o pão, sentindo um pesinho na consciência, por comer a pouca comida que ele tinha.

—Juh, Newt – chamei-os para mais perto. - Serafina disse que nos liberaria se recolhêssemos as criaturas bem rápido.

—Vamos lá, não é? - disse Newt, devidamente animado.

Enquanto programávamos nossas buscas, Sirius ofegou:

—Era eu.

—Hã?

—Naquela noite, sala precisa, não era Regulus. Assumi o lugar dele com polissuco porque ele ia te dar o toco por Voldemort, não quis que, sei lá, você ficasse chateada por ele não ter aparecido.

Fiquei em silêncio por alguns minutos, bem, eu queria fazer sexo com Regulus naquela noite, então Sirius não fez nada que fosse contra a minha vontade, nem me forçou a nada. Então me estiquei, dei um beijo demorado e molhado nos seus lábios, murmurei um agradecimento e depois estalei um tapa com os cinco dedos bem abertos na cara dele.

Minha mente maligna – às vezes eu fazia valer o apelido que eles me deram – já planejava uma vingança. Talvez não fosse algo tipicamente Slytherin – para isso, teria de matá-lo, e já tivera experiência de prisão o bastante para não querer repetir -, mas seria eficaz, ah, sim.

Logo Kowalski e sua equipe vieram nos buscar para a liberação. Entregaram a maleta a Newt – que a recebeu com um enorme sorriso -, explicaram que um auror monitoraria nosso progresso, e então, nos deixaram ir, certos que terminaríamos logo – o amor de Newt por suas criaturas mágicas estava estampado em seu rosto.

Juliana e eu fomos primeiro ao nosso hotel pegar algumas coisas que seriam necessárias para as buscas em campo. Peguei cem dólares na minha carteira, e desci para o saguão onde Newt e Sirius esperavam, enquanto Juliana lutava para enfiar tudo na mala. Chamei Sirius para um canto, coloquei a nota em sua mão e falei:

—Eu preciso de um tempo para pensar, e não vai dar certo se andarmos juntos para todos os lados, então se esconde onde nenhum auror possa te achar e fica lá até que eu te procure, ok?

—Ok.

Sirius

11 de julho, saguão do Mandarim Oriental New York

Bianca me deu as costas sem falar nada e pegou o elevador de novo. Newt assistia tudo sentado em um futton afastado, a maleta no colo, o olhar embasbacado.

—Mas que diabos aconteceu aqui? - ele perguntou, incrédulo.

—Eu estou vivendo o inferno na terra. Simplesmente isso. Eu fiz uma coisa ano passado que deixou a Bianca bem nervosa, e agora ela não quer me ver nem pintado de ouro…

—Porém ela te deu dinheiro, o que quer dizer que se importa com você por mais brava que esteja, então se eu estivesse no seu lugar, usaria esse dinheiro para comprar um presente para se ela quiser te ver de novo algum dia.

—Merlim queira que você nunca esteja, parceiro.

Ficamos em silêncio por uns momentos. Fui à mesa da recepção, peguei um papel de carta e escrevi uma carta. Dobrei-a e guardei num envelope.

—Você poderia jogar na bolsa dela, por favor? Vou voltar para Londres. Sinceramente os aurores de lá me preocupam mais que os daqui. Ah, e esse é o meu endereço – rabisquei o endereço de Godric’s Hollow na mão dele -, me escreva se ela precisar de mim e esteja muito orgulhosa para me pedir.

Ele assentiu e se voltou para o elevador, de onde Juliana e Bianca saíram. Nenhuma das irmãs olhou para mim enquanto eu saia. Uma fração da minha mente ainda tinha esperanças que Bianca me chamaria, mas seu silêncio me disse muito.

Newt

11 de julho, saguão do Mandarim Oriental New York

Juliana sugeriu que eu verificasse quais criaturas estavam faltando antes de começarmos a procurar. Levamos nossas malas para o lobby vazio àquela hora, colocamos todas amontoadas e destranquei a minha.

—Senhoritas – falei, estendendo a mão para ajudá-las a entrar.

Juliana foi a primeira a segurar minha mão e entrar na mala, seguida por Bianca. Elas se maravilharam com o que viam. Caminhamos pelos diversos habitats que eu construíra com os anos, elas fazendo perguntas sobre as criaturas, eu as respondendo e conferindo a ausência de algumas criaturas. Meia hora depois, tínhamos andado por tudo e percebi que estavam faltando o Erumpente, o Pelúcio, Seminviso, Occami e Nundu.

O Tronquilho estava enrolado frouxamente no pescoço de Bianca, que sentia cócegas com as folhas que lhe roçavam a pele.

—Own… ele gostou de mim – disse ela, rindo graciosamente enquanto eu o tirava dela. - Quantos faltam?

—Cinco. Erumpente, Pelúcio, Seminviso, Occami e Nundu.

—Ok, qual desses é mais fácil de achar? - perguntou Juliana, acariciando o Tronquilho.

—O Pelúcio, eu acho. Ele parece um ornitorrinco, sem a cauda de castor, mas com o bico de pato e os pelos. Adora objetos brilhantes, então podemos começar pelas joalherias do centro, o que acham?

—Perfeito – disse Bianca, acenando para seu amigo Tronquilho.

Voltamos para a superfície, e saímos para o ponto de táxi. Bianca ativou sua “hipnose Slytherin” e disse ao motorista para nos levar a melhor joalheria da cidade. Chegamos lá e resolvemos matar um tempo até que a loja estivesse prestes a fechar.

Bianca foi para a livraria e Juliana e eu ficamos na cafeteria de frente para a joalheria, experimentando todos os tipos de café que podíamos. Com leite, chantilly, expresso, light, árabe… passamos a tarde toda bebendo aquilo, e eu tinha certeza que poderíamos passar a semana toda acordados.

—Não é tão ruim – disse ela, e eu concordei. - Obrigada.

—Pelo quê?

—Por ser meu amigo. E por isso.

Sem que eu esperasse – óbvio -, ela se inclinou na mesa e me beijou. Correspondi ao contato, colocando minhas mãos em sua nuca e fazendo carinho em seus cabelos com a ponta dos dedos. Ficamos ali por muitos minutos, beijando e sorrindo. Tudo o que tenho a dizer sobre isso é que estava adorando, simplesmente.

Juliana

11 de julho, Queenie Coffee

Ah, meu Merlim. Eu estou beijando Newt Scamander. O rato de biblioteca mais bonito da Lufa-Lufa. O mundo vai acabar agora.

Mas enfim, nos livramos bem depressa da barreira que a mesinha representava, e me sentei ao lado dele, enquanto trocávamos grandes sorrisos. Quando estávamos no meio da pegação, uma bolinha de papel atingiu minha cabeça. Me virei e encontrei uma furiosa Bianca, de sobrancelhas franzidas, chamando-nos.

—A loja vai fechar para a hora de almoço. Acha que dá tempo de checar se ele está aqui? - perguntou para Newt.

—O lugar não é grande, então sim.

Ela nos puxou para um beco e deu uma batida na cabeça de cada um com sua varinha, aplicando um feitiço de desilusão, obviamente. Entramos na loja e passamos para os fundos, esperando sem fazer barulho até que a funcionária terminou de atender o último cliente, fechou as cortinas e saiu, trancando a porta. Revistamos as vitrines e balcões primeiro, mas nenhum sinal do ornitorrinco com atração por ouro.

—Hey, a gente não precisa procurar por ele. Ele pode nos procurar – disse Bianca.

Não entendemos. Ela não explicou, apenas tirou os brincos de ouro maciço que usava e colocou sobre o balcão. Na velocidade da luz, o referido Pelúcio surgiu, e Newt o agarrou.

—Achamos você! - ele comemorou, colocando o bichinho de volta à maleta. - Obrigado, Bianca.

—Disponha – ela respondeu piscando e pondo os brincos. - Qual é o próximo?