— Ok, para quem escrevemos primeiro?

— Lily, James, Newt e Juliana, óbvio.

— E depois disso? O que faremos?

— Eles ficam no meu apartamento enquanto seguimos com os preparativos, e então, durante a festa, vocês o resgatam e damos o fora.

— Genial — ele apanhou papel e pena. — Você escreve, afinal o casamento é seu.

— E o funeral também — dei risada e ele me acompanhou.

Era um casamento, mas podia muito bem acabar em um funeral. Contávamos que tudo daria certo, mas se não desse, eu acabaria casada com Regulus Black pelo resto da vida, e essa era uma perspectiva horrível.

Mas eu não queria pensar nisso. Havia me agarrado à esperança pela primeira vez em muito tempo. Acho que a última vez em que isso aconteceu foi quando Serafina me levou à Azkaban, quando as coisas ainda pareciam sob controle. Era um tempo confortável.

Sacudi a mão, como se com ela pudesse afastar os pensamentos que me distraiam. Remus ditou para mim os dizeres do convite, nada mais que palavras genéricas.

Bianca Avery e Regulus Black lhe convidam para o enlace de nosso matrimônio, a realizar-se no dia 25 de dezembro de 1979. Contamos com a sua presença.

Como eu só queria convidar quatro pessoas, multiplicaria os convites mais tarde. Agora começava a parte difícil. Precisava explicar para a minha família que eu não tinha morrido naquele incêndio. Dei um longo suspiro e recomecei a escrever, lutando para colocar o que sentia no papel.

Amados Juliana e Newt,

Remus disse que devia ter escrito antes, mas à luz dos acontecimentos, acabou que este é o momento certo mesmo.

Sei que lhes devo explicações. A primeira delas: como eu não morri no incêndio? Eu não estava lá, pura e simplesmente. Serafina disse que morri porque já tinha fugido para cá, e esse foi o jeito que ela encontrou para me dizer para não voltar — não que fosse voltar, de qualquer forma.

Segunda: o que deu na minha cabeça para casar com Regulus? Um plano para salvar Sirius delicado demais para ser explicado numa carta, mas se aceitarem o convite, juro solenemente contar-lhes todos os detalhes.

Bianca.

***

Juliana, apartamento do casal Scamander, 9 de dezembro

— Amor!— Newt chamou na sala de estar.

— O quê?— gritei em resposta, saindo do quarto.

— Vem ver. Ela mandou uma carta.

— Newt, Bianca está morta. Como…

— Ela vai casar.

— Peraí, quê?

Apanhei o envelope de suas mãos e encontrei um convite para o casamento de Bianca Avery e Regulus Black e uma carta a punho próprio dela. Conforme lia, cheguei bem perto de explodir de felicidade. Ela estava viva e prestes a ter Sirius de volta.

Ai você me pergunta: como sabe que é sua irmã e não uma impostora? A letra dela era tão cheia de rabiscos e frescuras que ninguém conseguia copiar — acredite, eu tentei bastante — e essa era a prova cabal que era ela.

— Ela precisa de nós — falei, me apressando para fazer a mala.

— E nós nunca deixamos um dos nossos para trás — eu ri.— Qual é, piegas, mas fofo.

— Às vezes, eu só queria viver num mundo onde “piegas, mas fofo” fosse a solução para tudo.

— Eu também.

Nosso mundo não era muito complicado. Não tínhamos conspirações de família, sequestros, Nossos problemas eram mais normais, como as contas a pagar e trabalhos a fazer. Desde sempre, Bianca era quem parecia viver num mundo fantasioso e de sonhos.

Viveu no sonho de jogar quadribol e se tornar capitã, conseguiu. Queria ver o mundo além dos muros de Hogwarts, conseguiu. E agora mais uma vez, lutava para conseguir o que queria. É, ninguém podia dizer que ela não tinha lutado para ser a protagonista de sua vida.

***

Lily, casa dos Potter, 9 de dezembro

Quando eu acordei, James não estava ao meu lado na cama. Fui ao banheiro, ouvindo o som de atividade na cozinha. Ele provavelmente estava fazendo o nosso café.

— Bom dia! — beijei seus lábios, olhando para a frigideira em suas mãos. — Vire o bacon para não queimar.

— Estou tentando, amor.

— E está fazendo um bom trabalho — garanti, beijando sua bochecha e estendendo um prato.

Tirei a chaleira que se esgoelava do fogo. Servi o chá nas xícaras e passei o açucareiro para a mesa. James colocou o prato com bacon à minha frente — pela minha esquerda, como Euphemia ensinou um milhão de vezes — e eu adocei seu chá com duas colheres de açúcar. Nem mais, nem menos, nem adoçante.

Não contive o sorriso ao garfar o bacon. Dava para sentir que tinha passado do ponto e estava seco, mas era minha comida favorita de café da manhã e minha pessoa favorita no mundo tinha feito, o que apesar de tudo, deixava o bacon perfeito.

— Sabe — disse ele, com a boca cheia de bacon. — Amanhã, ovos.

Ri, quase engasgando com o chá. Uma coruja atravessou a cozinha, deixando seus pacotes caírem na mesa. Paguei pela entrega enquanto ele analisava o que recebemos.

— Profeta Diário, panfletos, propagandas e… ah, meu Merlim.

— O quê? — me estiquei para ver o que era.

— Bianca vai casar com Regulus.

— Mas hein? Ela perdeu o juízo?

— Ou isso, ou ela é um gênio. Não temos tempo a perder, ainda podemos tirá-la dessa furada.

— Quando começou a se importar tanto com quem odiava na escola?

— Quando meus melhores amigos acharam que seria uma boa ideia se apaixonarem por ela. Vamos logo, com sorte, ninguém sairá ferido.

Improvável, pensei. Em triângulos amorosos, alguém sempre sai ferido, e nós dois sabemos com quem a vantagem está. Tomamos um trem especial para Paris naquela tarde. Ao desembarcarmos na estação francesa, encontramos Remus e Bianca lendo juntos, e sorrindo para os livros.

— Boa tarde, vocês dois. Ou devo dizer Bonjour? — saudei, recebendo um abraço de Bianca. — Você é louca.

— Eu sei, mas a chance de funcionar é grande.

— Quando começamos? — James estava realmente entusiasmado com o plano (se é que havia um plano)

— Assim que minha irmã chegar. Oh, lá estão eles. Lily, James, Remus, estes são Juliana e Newt.

— Prazer — dissemos, com pequenos sorrisos.

— Agora que estamos juntos, começa a Operação: Preparativos! — Remus anunciou.

— Da próxima vez, eu escolho o nome — Bianca revirou os olhos. — Vamos acomodá-los no meu apartamento. Lá poderemos conversar mais à vontade.

Viajamos via floo e durante o chá, Bianca detalhou a história enfadonha de como Regulus enclausurou o próprio irmão — por razões desconhecidas para qualquer um — e como ela planejava usar o casamento para resgatá-lo.

— Por que não simplesmente entramos na mansão, que muito em breve será sua, e o tiramos de lá?

— Por dois motivos — Bianca levantou dois dedos. —Primeiro: a fechadura é complexa demais para isso, e segundo: Mary Lou Barebone está na casa e não podemos usar magia, sob o risco de expor a bruxandade.

— Ah, por favor, quem é essa mulher na fila do pão, gente? — Newt se manifestou pela primeira vez.

— Ninguém muito importante, só a líder do maior grupo anti-bruxo do mundo, os Segundos Salemianos — ela respondeu. O nome fez com que todos se arrepiassem. — Por isso, todos devem se comportar como trouxas. Entenderam?

— Sim, senhora Black — falei e ela me deu língua.

***

Bianca, 9 de dezembro, mansão Black

O casamento fez com que Regulus olhasse Remus com outros olhos. E há duas razões para isso, creio eu. A) Mary Lou estava por perto, e desavença levanta desconfiança; e B) Remus havia passado de adversário a simpatizante do nosso “relacionamento”— se é que dá para chamar de relacionamento algumas transas e bebidas. Isso dava a Remus certas liberdades, como circular pela casa sem que Regulus fizesse perguntas. Ou seja: seria muito mais fácil chegar até Sirius.

Sirius. Eu não pensava tanto nele desde a “Época da Obsessão”, como James apelidou. Naquela noite, deixei que Sirius ocupasse meus pensamentos antes e durante o sono, e ainda assim, dormi bem.

***

Eu sonhei. E gostei.

Estava na cama, a brisa matinal soprava meus cabelos para cima do rosto, me impedindo de ver quem estava ao meu lado. Sentei, ajeitei os cabelos e vi um homem, deitado de costas para mim, sem camisa, dormindo a sono solto. Sirius.

Brinquei com os dedos no cabelo dele, sentindo os cachinhos se enrolarem em minhas unhas.

— Bom dia — disse, baixinho, virando-se para me beijar.

— Bom dia. Dormiu bem?

— Sim, mas acordei melhor ainda.

Ele saltou da cama, se espreguiçando.

— Eu preciso ir.

— Pra onde?

— Sei lá. Qualquer lugar onde você possa me encontrar.