Claire torcia para que o caminho para casa fosse tranquilo, que nada desse errado. Mas como sempre, ela estava completamente enganada!

A sensação de que eram seguidos não abandonava a garota em momento algum, sua intuição dizia que algo aconteceria, e seria muito importante.

O som do carro fundia-se com a chuva de verão que caía sobre Londres. Ir à escola, quando todos estão de férias deixava Claire contrariada e com mais raiva do maldito acidente. Ainda como nada na vida dela era fácil, as estudantes estrangeiras que vinham para o programa de intercâmbio que sua escola fornecia, ficavam encantadas com os garotos, resultado: risadinhas, suspiros, e uma Claire incomodada pelo fato de que elas estavam olhando para o Petter.

“Nem vou começar pensar, não sei onde vou parar.”

Claire foi tomada por uma onda de sentimentos estranhos, como uma pontada em seu estômago, e a indignação de talvez estar com ciúmes do Summers. Enquanto isso, os meninos cantavam uma música loucamente. Sem querer, sorria pelos cantos da boca. Petter batia os dedos no volante no ritmo da música, e sorria... sorria... sorria.

Seu sorriso parecia não querer sair da cabeça de Claire, como se ela colocasse para repetir todas as vezes que ele ameaçava sumir. Segundo depois desse pensamento, a garota sentiu sua testa arder.

-Que droga Blent!!! – esbravejou a garota. – Por que você fez isso?

Nick ria das caretas que a loira em sua frente fazia, ele tinha acertado em cheio. Ele tinha dado um tapa na testa de Claire, e estava se achando um máximo por isso.

-Ah Loira, eu precisava evitar que você engolisse meu pobre amigo com os olhos!

-Evitar o que?!

Claire não sabia mentir, e Nick sabia disso. Ele havia notado que ela estava com os olhos fixos em Petter.

“Droga! O que o Petter vai pensar de mim agora?!” “Não, não, eu não pensei isso!!! Saí da minha cabeça!! ANDA!!”

Até então, Petter assistia a cena risonho, ele sabia que Nick era um completa idiota. Mas a cara de pavor que Claire não conseguiu evitar, a entregou. Petter sabia exatamente o que ela estava pensando, e ela não podia deixar de ficar completamente transtornada.

Ela iria começar uma discussão, a qual ela ganharia, mas algo a interrompeu.

BAM

Lisa pegou o primeiro portal, na verdade seu favorito. Os portais serviam como a única entrada e saída de Lucem. O que ficava da Clareira da Serpente, se tornara o favorito da morena. Foi naquele local que ela havia sido nomeada guardiã, o maior tributo para um guerreiro, depois de ser efetivamente da Ordem. A Ordem consistia em um grupo de guerreiros que lutavam pela segurança do Mundo da Luz, e do Livro dos Segredos de Merlim. Merlim era a inspiração para qualquer ordeniano, era sinônimo de coragem e inteligência. Dizia à tradição que a cada nascer da Lua Escura, nascia também uma herdeira de Merlim. E a última lua nasceu no dia dezesseis de julho de 1995. No dia do aniversário de Claire. Lisa sabia o que isso significava: sangue. Nenhuma herdeira sobreviveu depois de descobrir o que era, e nenhum protetor continuou nesse mundo para contar a história. Se Claire saísse ilesa do que estava por vir, seria pura sorte, porque a morte tornara-se inegável para qualquer um desafiasse os Mercenários.

A sensação de estar se transformando em areia tomou conta do corpo de Lisa quando entraram no Portal. Estava acompanhada de cinquenta ordenianos, e a família de Claire e de Petter. Olhava ansiosa para todos os rostos que estavam a sua volta, rezava internamente de que todos voltassem vivos. E com esse pensamento eles foram atingidos pelo primeiro ataque.

Algo grande e pesado havia sido jogado na porta do carro. Ou se jogou contra o carro. Uma luz azul cegou a visão de Claire pela segunda vez em sua vida. Claire ficou estática. O acidente. Os avôs. Petter caído. Um urso polar. Petter caído. Ela pensou que ele estivesse morto quando o viu. Esses foram os últimos pensamentos de Claire, antes de ser arranca de dentro do carro. Antes de ser jogada para fora, conseguiu pegar sua mochila. Algo lhe dizia que ela finalmente ia usar a herança da sua mãe.

Suas mãos queimavam, e a mochila ficava cada vez mais pesada. Petter e Nick haviam sido pegos, mas haviam conseguido derrubar dois homens de preto, Petter trocou um olhar com Claire. A mente da garota trabalhava a mil, como se ela soubesse o que fazer, como se estivesse em seu sangue.

O olhar de Petter deixava claro qual era o plano. Eles não deixariam que mentissem para eles outra vez. Iam derrubar aqueles caras.

“Eu derrubo-o, você pega a faca, e viramos assassinos, ok?”

Claire apenas concordou. Petter foi ao encontro do encapuzado que a segurava. A garota conseguiu ver pelos cantos dos olhos, que Nick estava aos socos com outro homem, que tentava o acertar com uma faca longa e curvada com uma garça preta desenhada no cabo. Ela reconheceu o símbolo. Seu pai usava um anel com aquele símbolo. Anos atrás ela havia encontrado as fotos de solteiro do seu pai, e lá estava o anel. Ela foi arrancada dos seus devaneios quando Petter atingiu o homem com uma força indescritível, ela nunca havia notado que ele era tão forte, e pela cara dele, nem ele sabia.

Rapidamente ela pegou a mochila, tirou a caixa. Quando a abriu ela sabia exatamente como usá-la. Suas entranhas formigavam, ela tinha certeza do que iria fazer e de como fazer. Era da sua natureza.

Em menos de cinco segundos, ela já estava desviando das luzes azuis que tentavam atingi-la, e com apenas um golpe perfeitamente delicado ela derrubou o que estava sobre Nick.

Ela e o garoto tocaram um olhar e um sorriso. Eles não sabiam o que estavam fazendo, e o porquê, mas preferiam caçar, a serem caçados.

Dos quinze atacantes, três permaneciam de pé. A cada investida, Claire ficava mais habilidosa, e os meninos mais fortes. O sentimento de que tudo aquilo havia sido reprimido por tantos anos, tomava conta dos corações dos jovens. Eles faziam parte de algo muito maior, e todos haviam mentido. Suas vidas era uma farsa.

Petter se questionava, porque não haviam agido assim no primeiro ataque. Dessa vez parece que a energia que liberaram estava contida há muito tempo em pouco espaço. Ele estava esgotado, atingira todos apenas com sua força, mas estava mais preocupado em ver como os amigos estavam do que com seus ferimentos. Claire parecia cansada, mais ilesa, e acabara de derrubas os últimos três que sobraram. Nick não tinha sequer um único ferimento. Ele nunca havia visto Claire tão decidida de algo, a destreza com que ela controlava a adaga era completamente mágica, ela parecia reluzir. Ela desabou ao seu lado, analisando-o de cima abaixo constatou que estava muito machucado. Ela o olhou nos olhos, e Petter esqueceu-se de pensar. Os olhos verdes dela, eram mais que belos, eram perigosos e poderosos.

-Você está muito machucado Petter. – disse ela com a voz baixa e tocando sua testa que sangrava.

Petter se encolheu pela dor, e pela sensação de formigamento no local que ela tocara. Continuaram se olhando, enquanto a garota analisava a gravidade dos ferimentos. Nick estava quieto, até que ele reparasse algo que Claire e Petter não estavam olhando.

-Mulher Maravilha e Super-Homem, acho que não vamos ter problemas em explicar os corpos para policia!

Petter olhou para sua frente, e viu que todos os corpos estavam evaporando como água. Era uma poeira escura e densa, e sussurros passavam como um sibilo de uma cobra. De onde eles vinham, existiam muito mais.

Onde as faíscas das luzes azuis pegaram em Petter ardia, como se fosse veneno, sua cabeça começara a pesar. Claire e Nick conversavam com ele, os amigos estavam com medo de que se ele dormisse não voltasse a acordar. Nunca mais.

Lisa contara dez baixas no primeiro ataque. Os avôs de Claire, e os pais de Petter (que são tios do Nick), estavam bem. O que mantinha a morena em pé era a necessidade de encontrar os amigos. Ela torcia para que se os Mercenários os tivessem encontrado, eles conseguissem pelo menos atrasar o ataque. Era da natureza dos ordenianos e protetores, mas então seu lado pessimista lembrava-lhe de que eles não haviam sido treinados, e o medo tomava seu coração.

O grupo de Lisa entrou na rua movimentada de Londres, o rastreador avisava que eles estavam pertos, e os olhares curiosos dos humanos diziam que tinha acontecido uma batalha.

“Sem mortes, sem mortes. Meu Merlim, que ninguém esteja ferido.”

E foi com esse pedido que Lisa avistou três jovens sentados no meio fio. Petter estava com machucados por todo o corpo. Mas Claire e Nick estavam ilesos. Nick era como Lisa, ela sabia que só havia uma maneira de mata-lo, e os Mercenários não eram tão inteligentes para supor isso. Os pais dos meninos correram para eles, e os avôs de Claire fizeram o mesmo em relação à Claire. Porém eles se retesaram, e com os olhos em chamas, disseram em uníssono.

-Vão deixar sermos caçados outra vez, ou vão nos contar a verdade?